Partido Comunista é a força oposicionista mais forte da Rússia
No ultimo domingo (04/12/11) foram realizadas eleições parlamentares na Rússia.
O grande perdedor foi o Rússia Unida, partido do Presidente Medvedev e do Premier Putin, que obteve 49,45% dos votos no domingo, em comparação aos 64% de quatro anos atrás. A legenda garantiu 238 dos 450 assentos na Duma, a câmara baixa do Parlamento. Os números representam uma perda de 77 vagas e da maioria de dois terços que o partido havia conseguido em 2007 e que permitia promover mudanças na Constituição sem grandes problemas. Os governistas receberam quase um terço de votos a menos do que em 2007, no pior revés eleitoral para Putin desde assumiu o poder em 1999. Foram 15 milhões a menos de votos.
O Partido Comunista, considerado o grande vencedor do pleito, ficou em segundo lugar nas eleições, com 19,2% dos votos e 92 cadeiras. Ou seja, são mais ou menos 20% dos votos, constituindo assim a segunda força política do país. O Rússia Justa ficou em terceiro com 13,2% dos votos e 64 cadeiras, enquanto o nacionalista Partido Liberal Democrático conquistou 11,7% da votação e 56 lugares no Parlamento.
A eleição está sob suspeita de fraude em favor do Rússia Unida, conforme depoimento de observadores internacionais. Há uma grande mobilização popular, por toda a Rússia, para denunciar as fraudes e exigir a recontagem dos votos ou mesmo uma nova eleição.
Desde as legislativas de domingo, milhares de pessoas protestam nas ruas de Moscou e São Petersburgo contra os governistas e fraude eleitoral. Mickail Gorbachev, o indivíduo que deu a cartada final no socialismo soviético, também condenou o processo eleitoral e pediu realização de novas eleições.
Comunistas são segunda força no parlamento
Os comunistas também fazem parte daqueles que estão fazendo as denúncias. Em entrevista coletiva Gennady Zyuganov, que será candidato ano que vem a presidência pelo PC russo, disse que a eleição foi a mais suja desde a desintegração da URSS e que pelo menos 15% dos votos foram fraudados em favor dos governistas.
Zyuganov acrescentou também que o Partido Comunista da Rússia vai defender “na rua e no âmbito jurídico” a votação obtida por sua formação no pleito. Ele anunciou que recorrerão dos resultados de pelo menos 1.600 colégios eleitorais, onde as atas não correspondem com o cômputo paralelo realizado pelos observadores comunistas.
“Apesar do roubo de votos, dobramos nossa representação parlamentar. Os 90 mandatos nos dão a possibilidade de colocar uma série de iniciativas, incluindo a apresentação de uma moção de censura ao governo”, afirma.
Líder comunista será candidato às presidencias do ano que vem
Como a força oposicionista mais forte atualmente, o Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), pretende lançar candidatura para as eleições presidenciais que ocorrerão em 2012.
O projeto já foi lançado. Entre as principais propostas estão: garantir a soberania nacional, iniciar a transição da decadência econômica para um desenvolvimento acelerado e superar a pobreza e a degradação social que atinge amplos setores da população.
A frente liderada pelo Partido Comunista defende uma política econômica independente, que assegure o desenvolvimento sustentado e acelerado da Rússia. “Para isso há que libertar-se das destrutivas leis de mercado e restaurar a regulamentação da vida econômica pelo Estado. A condição mais importante para a reconstrução da economia será a propriedade estatal de todos os setores estratégicos. Vamos levar a cabo a nacionalização das matérias primas e outras indústrias principais. Essa medida se concentrará em mãos do Estado. Entre os setores que o PCFR planeja nacionalizar ganhando as eleições se encontram o petróleo, o gás, a energia elétrica, a metalurgia, a indústria de construção de máquinas e equipamentos, a construção de aviões, além de outros setores chaves na produção industrial”, detalhou.
O plano do PCFR pretende assim restabelecer a justiça social e garantir a capacidade de produção da alimentação de toda a população do país. Para isso, os comunistas apoiarão a restauração das fazendas coletivas, pondo fim à especulação do solo.
“Sob a nossa liderança, o governo nacional vai criar um novo clima social e sociocultural. No país se imporá a amizade entre os povos desta nação. Devolveremos às pessoas a alegria de um trabalho criativo e socialmente significativo, pelo bem da pátria e da família. O governo levará uma luta decisiva contra o desemprego; garantirá a seguridade social e a preservação do desenvolvimento humano, o que será determinado pelas prioridades da política social do governo”, concluiu Ziugánov.
Situação pós-desintegração da URSS
O resultado das eleições parlamentares da Rússia, no último domingo, revelou a crescente insatisfação da grande maioria da população com o elevado desemprego, a crescente desigualdade social, a perda de inúmeros direitos sociais e trabalhistas e a corrupção que domina boa parte da máquina estatal e suas ligações com os grandes grupos econômicos.
Este é o mesmo cenário que se encontra no leste europeu depois que o capitalismo foi reintroduzido a partir dos anos 90, logo após crise do chamado “socialismo real”.