EUA cometem crimes de lesa humanidade contra a Venezuela
“Washington atua no país sulamericano como torturador e salvador ao mesmo tempo”.
Dois dias depois da tensa jornada vivida na fronteira colombiano-venezuelana, no passado 23 de fevereiro, o autodenominado Grupo de Lima decidiu aprovar a designação, por parte do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, de um especialista independente para avaliar o que qualificam como uma “crise humanitária” na Venezuela.
O conclave, que agrupa as nações alinhadas ao projeto dos EUA de depor o Governo do presidente Nicolás Maduro, qualificou como um “crime de lesa humanidade” que se impedisse o ingresso pela força de um lote de “ajuda humanitária” proveniente da Colômbia, que tentou entrar por ordens do autoproclamado “presidente encarregado” Juan Guaidó.
Sobre o tema, Alfred-Maurice de Zayas, especialista em Direitos Humanos designado pelas Nações Unidas para a promoção de uma ordem internacional democrática e igualitária (2012-2018), disponibilizou em sua conta no Twitter a assinatura de um documento para que a Alta Comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet, visite a Venezuela e constate a verdadeira situação do país. A mesma petição foi feita em novembro passado pelo presidente Nicolás Maduro.
“O Governo dos EUA e outros países que impõem sanções são os que cometem crimes de lesa humanidade”.
O também ex secretário do Comitê de Direitos da ONU oferece sua perspectiva logo após ter visitado a Venezuela para entrevistar-se com autoridades oficiais, especialistas e dirigentes de oposição e instituições públicas e privadas do país caribenho.
Rusia Today (RT): há uma crise humanitária na Venezuela?
Alfred-Maurice de Zayas (A.Z.): Quando estive na Venezuela em novembro – dezembro de 2017, certamente não havia crise humanitária. Qualquer comparação com Gaza, Iêmen, Síria, Líbia, Sudão é absurda. Porém, a situação tem piorado desde então por causa das sanções.
RT: Você crê que as sanções dos EUA estão dirigidas a afetar o governo de Nicolás Maduro?
A.Z.: As sanções são um fator importante que contribui para a crise. A desnutrição e a falta de medicamentos podem ser atribuídas diretamente às sanções e constituem delitos geopolíticos na categoria de crimes de lesa humanidade.
“Os EUA não podem estrangular primeiro a economia venezuelana para depois reclamar que a Venezuela necessita de assistência humanitária”.
RT: Os EUA advertem que a Venezuela necessita de “ajuda humanitária”. Vive o país o mesmo cenário que Líbia, Iêmen, Malí, Somália, Sudão e Miamar?
A.Z.: A Venezuela apenas necessita pôr fim ao bloqueio financeiro e às sanções. A Venezuela tem agradecido a assistência internacional para resolver os problemas criados pelas sanções. Os EUA não pode m estrangular primeiro a economia venezuelana para depois reclamar que o país necessita de assistência humanitária. Isto é cínico, maquiavélico, de má fé ao extremo. Não podem ser o torturador e o salvador ao mesmo tempo.
RT: Os detratores de Maduro, incluindo os EUA, dizem que a Venezuela comete um “crime de lesa humanidade” ao não permitir que entre a “ajuda humanitária”. Que pensa sobre isso?
A.Z.: O Governo dos EUA e outros países que impõem sanções são os que cometem crimes de lesa humanidade. A Venezuela, por sinal, aceita qualquer assistência oferecida de boa fé e já recebeu 933 toneladas de alimentos e medicamentos da China, Índia e Turquia. Há alguns dias chegou um avião de carga da Rússia com toneladas de medicamentos e equipamento médico. A Venezuela aceita assistência da ONU e de outros organismos, mas não de seu principal torturador.
RT: A Corte Interamericana de Direitos Humanos diz que a Venezuela exige um “monitoramento especial” em Direitos Humanos. Como você avalia isso?
A.Z:. Nas últimas décadas, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) tem sido altamente politizada, tem sido seletiva e não tem acompanhado a situação em muitos Estados membros, onde as violações dos direitos humanos são mais graves do que os da Venezuela. Especialmente desde que Luis Almagro se tornou Secretário Geral da OEA, a Comissão tem sido mais arbitrária e parece servir aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos. Em outras palavras, a Comissão aplica arbitrariamente seu próprio Estatuto, sob demanda.
Antes da minha missão na Venezuela, li todos os relatórios relevantes da CIDH. Eu os considero fundamentalmente falhos porque eles dependem principalmente das informações fornecidas pela oposição política a Chávez e Maduro, por ONGs internacionais com suas próprias agendas. Essencialmente eles ignoram as informações e documentos fornecidos por ONGs locais venezuelanas como FUNDALATIN ou a Rede Nacional de Direitos Humanos. Além disso, a Comissão não dá o devido peso às respostas e documentos fornecidos pelo Governo da Venezuela.
RT: Como você avalia o papel da ONU na atual situação na Venezuela?
A.Z .: A ONU violaria sua própria Carta se reconhecesse Guaidó. O artigo 2 (7) da Carta, a resolução 2625 da Assembleia Geral e outros estatutos a proibiriam. Além disso, a ONU e suas agências já ajudam significativamente a Venezuela com serviços de consultoria e assistência técnica.
RT: Qual é a melhor contribuição que a comunidade internacional pode dar em relação à Venezuela?
A.Z .: A comunidade internacional deve mostrar solidariedade ao povo venezuelano e exigir a suspensão das sanções. Deve lutar contra as falsas notícias que Washington desencadeou e insistir que a Carta das Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA) sejam rigorosamente aplicadas.
RT: Os problemas econômicos e a crise política na Venezuela só serão resolvidos se o presidente Maduro deixar o cargo, como afirmam os Estados Unidos?
A.Z .: Maduro não irá renunciar. Será que ele tem de ser assassinado como foi Salvador Allende, após o que se seguirá um enorme retrocesso em matéria de Direitos Humanos, como em 2002, durante o golpe contra Hugo Chávez, quando Pedro Carmona emitiu um decreto que removeu 49 peças da legislação social? Claro, nesse cenário, os EUA levantariam as sanções e começariam a grande pilhagem dos recursos naturais da Venezuela. Tudo voltaria aos anos 80 e 90.
Fonte: RT http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/03/22/experto-en-derechos-humanos-de-la-onu-ee-uu-comete-crimenes-de-lesa-humanidad-contra-venezuela/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)