Pela Paz no Médio Oriente
Conselho Português para a Paz e a Cooperação
É com grande preocupação que assistimos ao alastramento da agitação política em grande número de países do Norte de África e Próximo e Médio Oriente, sendo essa agitação e violência apresentada como estando justificada, ou até falsamente determinada, por condições culturais, incluindo étnicas e religiosas.
A realidade é que o mapa de países que resultaram da descolonização desses espaços foi traçado pelas potências ocidentais colonizadoras, e que os respectivos regimes políticos foram aí inicialmente impostos. O potencial de conflitualidade é grande, e pode e está a ser manipulado, quer aberta quer dissimuladamente, pelas velhas e novas potências coloniais.
As riquezas naturais que se concentram nesta vasta região foram o principal objecto e motivo de cobiça desde há um século a esta parte, e continuam a ser hoje objecto de cobiça extrema.
As monarquias do Conselho de Cooperação do Golfo – Bahrein, Kuwait, Qatar, Oman, Arábia Saudita e Emiratos Árabes Unidos – que compram a subserviência dos seus súbditos com as receitas prodigiosas da exploração do petróleo, são os aliados tradicionais dos EUA – que impôs o dólar como moeda de referência para a respectiva transacção – e demais potências ocidentais. Os restantes países muçulmanos da região procuraram percursos de desenvolvimento autónomo, secular e republicano, enfrentando repetidamente a hostilidade, a subversão e até a agressão militar dessas potências.
Assistimos ao aprofundamento da inquietação social em muitos desses países, no que não são diferentes da generalidade dos países de outros continentes no quadro da presente crise mundial. Mas para o imperialismo essa é uma oportunidade para, através do suborno, da conspiração e da guerra, tentar submeter e controlar politicamente os demais países do Médio Oriente. Esta estratégia insere-se na linha de agressão que conduziu à primeira e segunda guerras do Golfo, que destroçou o Iraque e o deixou em estado de guerra civil; bem como à invasão e ocupação do Afeganistão, responsável pela prática e alastramento da violência extrema nesse país, até ao Paquistão; como também ainda à agressão à Líbia, igualmente destroçada e lançada em estado de guerra civil. Sempre em nome de invocada “luta pela democracia” ou “protecção humanitária” ou “proliferação de armas de destruição maciça” ou “guerra ao terrorismo” – pretextos falsos e selectivamente invocados.
A ameaça agora iminente de intervenção militar externa directa na Síria, após persistente alimentação da dissensão interna, bem como a longa preparação de intervenção militar no Irão, após guerra de desgaste económico e diplomático (boicote e sanções), são razão de grande e renovada apreensão.
O apetite do imperialismo é enorme, porque o Golfo Pérsico é o epicentro das reservas e da produção de hidrocarbonetos, e a rota maior do seu tráfego. Ele tudo tem feito e fará para, um a um, neutralizar ou submeter os países e os grandes produtores dessa região. Para poder dominar todo o mundo também.
Esta é razão acrescida de apreensão, pois que o que acaba por estar em causa é o próprio equilíbrio económico e a própria paz mundiais. A actividade diplomática recente e o presente confronto no Conselho de Segurança da ONU revelam que as potências orientais, representadas no Conselho de Cooperação de Shangai, e os BRICS, se opõem aos desígnios da NATO, dos EUA e da UE quanto ao rumo dos negócios mundiais e em particular no que se refere ao Médio Oriente.
Rejeitamos a intromissão nos assuntos internos à Síria, rejeitamos a guerra económica e mediática ao Irão, e a ameaça de qualquer acção militar sobre estes países. Repudiamos a ingerência e a preparação de agressões militares no Médio Oriente, pelo respeito devido à soberania desses povos, e pela ameaça gravíssima que tais políticas significam para a paz mundial.