Marcas do nazismo chamam a atenção no interior de São Paulo
A principal organização era em SP, mas outros núcleos existiam.
Márcio Pissócaro Do G1 Itapetininga e Região
Um achado histórico em Campina do Monte Alegre, no interior de São Paulo, está gerando uma grande polêmica entre os moradores da cidade. A suástica nazista, símbolo que representou um dos períodos mais negros da vida mundial, aparece agora em tijolos e até na marca dos bois de uma propriedade rural.
A descoberta aconteceu em um sítio que pertence há 20 anos à família do tropeiro José Ricardo Maciel. A surpresa apareceu no dia em que ele deciciu reforma o chiqueiro da propriedade. “Os porcos derrubaram a parece e eu vi aquele símbolo. Pensei na desgraça que ocorreu no passado”, revela.
Imagens antigas de animais marcados a ferro com a suástica nazista evidenciam a presença de partidários do ditador Adolf Hitler na região. Depois da primeira descoberta, José Ricardo decidiu buscar outras marcas na fazenda Cruzeiro do Sul e ficou novamente impressionado ao encontrar o mesmo símbolo em várias construções. “Tem uma capela que hoje está abandonada. Basta você cavar a terra para encontrar a suástica marcada nos tijolos”, revela.
Durante a 2º Guerra Mundial, a fazenda pertencia a uma família muito poderosa no Rio de Janeiro, que mantinha negócios em São Paulo. A fama dos proprietarios não era marcada só pela riqueza, mas também porque traziam crianças negras de orfanatos cariocas para viver e trabalhar na área. Esses meninos não tinham nome, era chamados por números. A dona de casa, Divanir de Almeida, que é viúva do homem que passou a vida toda conhecido como ‘Dois’, conta que os meninos não sofriam maus tratos. “Os garotos chegavam do Rio e ficavam na fazenda por anos, morando com os funcionários”, explica.
Fotos antigas da casa sede mostram que as crianças às vezes desfrutavam da piscina da fazenda, que hoje serve de chiqueiro. O aposentado Aluizio Silva, era um desses meninos. Conhecido como ‘Sete’, foi trazidido para Campina do Monte Alegre aos 10 anos de idade. “Jogavam balas para a gente. Encantaram a gente dizendo que ia ser isso e aquilo. Quando chegamos na fazenda, nos deram enchadas para trabalhar”. relembra.
A presença de simpatizantes do nazismo no estado de São Paulo, desperta tanto interesse que um grupo da USP (Universidade de São Paulo) estuda o assunto há mais de 15 anos. A professora Ana Maria Dietrich, doutora em história, fala que a maior célula nazista no Brasil ficava no estado de São Paulo. “A principal organização era na capital, mas outros núcleos existiram em Santo André, Santos, Campinas, Jundiaí, Presidente Bernardes, Presidente Venceslau e Assis”, fala.
Apesar dessa presença marcante com esses núcleos, Dietrich explica que a pior parte da ideologia nazista não atravessou o oceano Atlântico. “No Brasil só existia o fascínio. Não tinha o terror que acontecia na Alemanha”, finaliza.