NIKOS BELOGIANNIS: Ele sempre viverá em nossos corações e mentes

É compreensível que os impressionantes 93 anos de história do KKE – um partido que manteve-se firme por quase um século, que tem se mantido consistente e decididamente ao lado do povo, mesmo que o preço desta postura tenha sido as vidas e o sangue de seus membros e quadros – provoquem o interesse de toda pessoa bem-intencionada. Deste ponto de vista, a divulgação da história do KKE, especialmente nas difíceis condições que o país experimenta hoje, contribui para o surgimento de um patriotismo genuíno e do internacionalismo proletário.

Sessenta anos se passaram desde o assassinato de Nikos Belogiannis e seus camaradas em 30 de março de 1952. O jornal diário “Rizospastis”, órgão do CC do KKE, dedicou várias páginas ao seu aniversário.

Belogiannis, na ocasião em que o KKE era ilegal e severamente perseguido, utilizou o julgamento contra si próprio no tribunal militar para denunciar e ridicularizar seus acusadores. O diálogo, durante o julgamento, com o policial Aggelopoulos, um dos seus acusadores principais, é um exemplo característico:

Belogiannis: – Você alega que eu vim aqui aqui para implementar as decisões das sessões plenárias do CC do KKE?

Aggelopoulos: – Sim, alego.

Belogiannis: – Estas decisões definem que a base da atividade do KKE é a luta por pão, liberdades democráticas e paz. Não é este o caso?

Aggelopoulos: – É verdade.

Belogiannis: – Por conseguinte, a luta pelo pão, pelas as liberdades democráticas e pela paz é uma conspiração contra a Grécia, não é?

Aggelopoulos: – Não.

Belogiannis: – Obrigado. Isso era tudo que eu queria esclarecer.

“Em seu próprio caminho”

O KKE honra e é honrado pela postura militante de Nikos Belogiannis. Nikos Zachariades, Secretário Gearal do CC do KKE, observou em um artigo sobre Nikos Belogiannis, que foi publicado em abril de 1952 em uma edição especial do ilegal “Rizospastis”:

“Se quisermos brevemente definir o tipo de pessoa que era Belogiannis, poderíamos dizer que em toda a sua vida militante

ele foi um membro valoroso do KKE,

uma águia,

um verdadeiro bolchevique,

um guia e um líder (…).

E exatamente porque a sua vida inteira foi dedicada à luta, sempre a serviço do povo, do movimento, do KKE, exatamente porque ele sempre foi um membro valoroso, exemplar, do KKE, a melhor e mais digna homenagem à sua memória, a ser dada por todos nós e por todos os jovens homens e mulheres, por nossas crianças, é que nos inspiremos em sua vida e em seu exemplo, sigamos de forma destemida e corajosa pelo caminho que ele trilhou, que nos tornemos membros dignos do KKE assim como ele foi, militantes e líderes do povo, e que possamos dar o exemplo que ele deu.”

“Minha vida está conectada à história do KKE”

Hoje a Grécia se encontra em período eleitoral, em face de eleições antecipadas que provavelmente serão realizadas no dia 6 de maio. Neste momento, as forças do oportunismo (SYN/SYRIZA) anunciaram que irão realizar um evento em homenagem a Nikos Belogiannis e seus camaradas.

No entanto, como o “Rizospastis”, escreveu, “Belogiannis e seus companheiros acreditaram e lutaram por ideais e valores que não têm a menor relação com o que o espectro político do SYN/SYRIZA representa hoje. Eles defenderam ferozmente a União Soviética, o primeiro Estado Operário do mundo, em contraste com o espectro político do oportunismo, que foi transformado em veículos para o mais raivoso e vergonhoso anti-sovietismo (…)

“Bellogiannis e seus camaradas travaram uma luta constante contra o imperialismo alemão, britânico e estadunidense. E foi por esta razão que os executaram. Então, que tipo de relação eles poderiam ter com correntes políticas que apóiam abertamente o imperialismo europeu, esta grande prisão dos povos europeus? Com aqueles que assinaram o tratado que estabeleceu as bases para a ofensiva mais feroz contra os povos europeus? Falamos aqui do Tratado de Maastricht. Que relação eles poderiam possivelmente ter com os partidos que durante o período dos bombardeios imperialistas na Sérvia haviam transformado seus jornais na sala de imprensa da OTAN? Nós poderíamos mencionar dezenas de episódios que provam que esta corrente política não só não tem relação com os ideais e os valores do movimento comunista, mas também constitui um aspecto do moderno anticomunismo, um posto avançado da classe burguesa “.

O “Rizospastis” responde aqueles que querem negociar a respeito de N. Belogiannis e fazer uma distinção entre ele e o KKE, a partir das palavras de N. Belogiannis:

“se eu tivesse renunciado ao KKE, provavelmente eu teria sido declarado inocente com grandes honras… Mas minha vida está conectada com a história do KKE e sua atividade… Dezenas de vezes eu encarei o seguinte dilema: ‘viver e trair minhas crenças, minha ideologia ou morrer e permanecer fiel a elas.’ Eu sempre escolhi o segundo e hoje estou fazendo isso novamente.”

Estas palavras que Belogiannis disse aos juízes do tribunal militar em novembro de 1951 vão sempre inspirar aqueles que se recusam a fazer uma “declaração de arrependimento”, aqueles que, vendo a indignidade dos que buscam “se apropriar” de Belogiannis a fim de justificar suas próprias “declarações de arrependimento”, respondem como Belogiannis fez: com desprezo.

Abaixo segue uma breve biografia da vida e da atividade de Nikos Belogiannis.

Sessenta anos da execução de Nikos Belogiannis – herói do povo, membro do Partido Comunista da Grécia – e seus camaradas.

“Nós acreditamos na mais correta teoria que foi concebida pelas mais progressivas mentes da humanidade. E nosso esforço, nossa luta, é pra que esta teoria se torne realidade na Grécia e no mundo inteiro (…) Nós amamos a Grécia e seu povo mais do que nossos acusadores (…) Precisamente porque nós lutamos para que nosso país veja dias melhores, sem fome nem guerra (…) e quando for necessário, sacrificaremos nossas vidas.” (Nikos Belogiannis, parte de sua fala de defesa no tribunal militar)

Nikos Belogiannis nasceu em 1915 na cidade  de Amalia (Peloponeso), filho de um artesão pobre. Como estudante do ensino médio e mais tarde estudante da Universidade de Atenas, aproximou-se de movimentos progressistas de juventude. N. Belogiannis integrou-se à Organização da Juventude Comunista da Grécia (OKNE) e em 1934 ao Partido Comunista da Grécia (KKE). Ele foi expulso da Faculdade de Direito da Universidade de Atenas por suas atividades revolucionárias. Em 1934-36 foi o organizador e líder de algumas organizações do partido no Peloponeso. Em março e agosto de 1936, foi preso por atividade revolucionária. Em julho de 1937 ele fugiu da prisão. Em maio de 1938 ele foi novamente preso e sentenciado a cinco anos na prisão e dois anos de exílio.

O período da ocupação nazista

A autoridade grega pró-fascista depois da ocupação da Grécia entregou Nikos Belogiannis e outros prisioneiros comunistas para fascistas alemães e italianos. Deve-se destacar que, dos 17 mil comunistas, não mais do que 4 mil sobreviveram até o início da ocupação alemã e 2 mil deles estavam em prisões e campos de concentração nas ilhas do Mar Egeu. Contudo, algumas poucas centenas de comunistas, tomando vantagem da confusão das autoridades, conseguiram escapar da prisão em 1941. Entre eles estavam membros do Comitê Central do Partido, mas N. Belogiannis não conseguiu escapar para a liberdade.

Deve-se destacar que, antes da ocupação, o rei e os líderes dos partidos burgueses haviam deixado a Grécia. Apesar do fato de que havia apenas alguns milhares de pessoas nas fileiras do KKE e a maioria delas estava nas prisões e nos campos, o partido tomou a iniciativa e criou a primeira organização de libertação nacional “Solidariedade Nacional”, que teve como objetivo prestar assistência às vítimas da guerra e da ocupação nazista. Ele incluiu a organização da Cruz Vermelha grega, intelectuais progressistas, parte do clero e um grande número de mulheres. Ignorando as ordens rigorosas das autoridades de ocupação e do governo marionete, membros da organização ajudaram os soldados feridos e fizeram um esforço especial para salvar as pessoas, e especialmente as crianças, da fome. Antes do final da guerra, por meio de doações, foram criados centenas de centros de saúde, mais de 1.200 farmácias populares, 90 centros de convalescentes, 73 hospitais populares, um grande número de jardins de infância, creches e orfanatos. Mais de 1 milhão de pessoas receberam assistência da organização de “Solidariedade Nacional”.

Em 31 de maio de 1941, o Comité Central do KKE convocou uma frente popular contra os invasores. Os grandes partidos burgueses gregos imediatamente rejeitaram o apelo do KKE e declararam que a melhor maneira de salvar o povo seria com uma postura de “esperar pra ver”. Os primeiros a responderem ao apelo do Partido Comunista foram as organizações de massa da classe trabalhadora – os sindicatos. Em 16 de julho de 1941, a  Frente de Libertação Nacional dos Trabalhadores (EEAM) foi fundada, e em 28 de setembro de 1941, com a participação do KKE e vários pequenos partidos, a Frente Nacional de Libertação (EAM) foi formada. Durante vários anos, a EAM foi transformada na maior organização de massa que já existiu na Grécia. Apesar da proibição e das centenas de vítimas, a EAM organizou, durante a ocupação nazista, uma série de greves muito grandes e manifestações de massa, em maior escala do que em qualquer país sob ocupação alemã-nazista.

Em janeiro de 1942 o Comité Central do KKE e o Comitê Central da EAM emitiram a decisão de estabelecer um exército de guerrilha regular, o Exército de Libertação Popular da Grécia (ELAS).

A EAM e o ELAS lutaram contra fascistas alemães, italianos e búlgaros.. Os últimos operaram no norte da Grécia e ameaçaram a integridade do território nacional.

Em setembro de 1943 Nikos Belogiannis escapou. Em 1943-44 envolveu-se no partido e fez trabalhos partidários na área de Patras, como comissário político da terceira divisão do Exército de Libertação Popular da Grécia (ELAS). No mesmo período (antes de 1944) o ELAS libertou muitas áreas nas montanhas do país, onde o Governo do Povo (PEEA) foi estabelecido, os órgãos do poder popular, os comitês e tribunais. Em agosto e no início de setembro de 1944, quando o vitorioso Exército Vermelho avançou sobre os Balcãs, o ELAS passou a uma ofensiva geral contra as forças fascistas. Neste momento o exército regular do ELAS tinha em suas fileiras 78 mil oficiais e homens que estavam em dura batalha. Em adição a estas forças havia uma organização de reservistas, cerca de 50 mil pessoas, e a milícia nacional de 6 mil pessoas. Havia mais de 1,5 milhão de membros organizados na EAM, dos quais 400 mil eram membros do KKE e cerca de 400 mil eram membros da organização anti-fascista de juventude EPON.

O ELAS libertou completamente a Grécia. Após a libertação da Grécia, Nikos Belogiannis tornou-se chefe do departamento de trabalho ideológico da organização partidária do KKE no Peloponeso. Ele editou a revista “Free Morias” e simultaneamente trabalhou em dois livros “Capital estrangeiro na Grécia” (apenas publicado em 1998 por “Sinchroni Epohi”) e “História da Literatura Grega Moderna”.

Na Grécia, a chegada de tropas estrangeiras, principalmente britânicas, começava.

Guerra Civil

A guerra civil foi imposta ao povo grego pelos círculos imperialistas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, bem como por forças reacionárias da Grécia, a fim de manter a ordem política e sócio-econômica existente na Grécia antes da Segunda Guerra Mundial. Isto teve consequências desastrosas para o país.

Nesta luta desigual as forças populares foram representados pelo Exército Popular Democrático da Grécia (DSE). O Exército Democrático da Grécia (DSE) foi criado em outubro de 1946, em resposta a um terrorismo sangrento que foi lançado sobre a Grécia em dezembro de 1944 pelas forças reacionárias da burguesia e as tropas estrangeiras contra os combatentes do movimento anti-fascista nacional.

Até o final de 1947, o DSE manteve a iniciativa na luta. No verão de 1947 a operação do exército “nacional” não conseguiu destruir o DSE. As forças do DSE repeliram o inimigo e infligiu-lhe uma sucessão de sérias derrotas militares. Em geral, o “exército nacional” foi forçado para a defensiva. A classe dirigente estava preocupada que seus planos pudessem falhar, pois a Inglaterra não estava preparada para continuar a sua intervenção na Grécia. Os Estados Unidos chegaram para fazer assistência.

Em 20 de junho de 1947 foi assinado um acordo entre a Grécia e os Estados Unidos, segundo o qual o poder supremo na Grécia foi transferido para o presidente dos EUA. Ele afirmava que o governo grego iria implementar qualquer pedido do presidente dos Estados Unidos, é claro, em nome da “segurança” do país.

Na Grécia, centenas de navios com equipamento militares moderno chegaram para atualizar o “exército nacional”. Em 24 de fevereiro de 1948 os General dos EUA Van Fleet chegou em Atenas. Ele se tornou o chefe do “exército nacional”. Cinco mil oficiais militares americanos e assessores começaram a supervisionar o “exército nacional” e expulsaram funcionários e soldados de suas fileiras.

Eles criaram uma “zona morta” nas regiões onde o DSE operava, onde um milhão de camponeses foram expulsos à força de suas casas para que os partidários do DSE não pudessem recorrer à sua ajuda. O “exército nacional” tinha sido novamente treinado e preparado para “guerra de montanha”. Por outro lado, os esforços do DSE e sua adequação à nova situação não poderiam mudar a situação: no verão de 1948, quando a batalha principal começou, a correlação de forças entre o DSE e o “exército nacional” era de 1 pra 10, com relação ao contingente humano, e de 1 para 50 com respeito ao equipamento militar. Uma vantagem esmagadora a favor do inimigo. O DSE não tinha aviões ou blindados. Além disso, os americanos primeiramente usaram bombas de napalm, as quais foram mais amplamente utilizadas durante a Guerra do Vietnã. Apenas em uma batalha em Grammos caíram 338 bombas de napalm sobre as posições do DSE.

Apesar de a correlação desigual de forças, a batalha definitiva (Grammos e Vitsi) foi feroz, e não é por acaso que ainda é ensinada hoje nas academias militares na Grécia e nos Estados Unidos.

Quando a batalha ainda estava em andamento, Nikos Belogiannis escreveu: “Uma característica básica da batalha de Grammos foi a enorme diferença em recursos humanos e materiais entre os dois oponentes Os imperialistas estrangeiros fortaleceram os monarco-fascistas com abundantes canhões e aviões… essa diferença foi apagada pela superioridade política e moral dos combatentes e quadros do DSE, que hoje estão escrevendo as páginas mais gloriosas da nossa história lutando por uma nova Grécia da democracia popular.”

Durante a Guerra Civil (1946-1949), Nikos Belogiannis estava realizando um trabalho político no exército do Exército Democrático da Grécia (DSE). Em 1947 ele se tornou chefe do Departamento de Propaganda do DSE. Em 1948-49 era comissário político da 10 ª divisão do DSE. Ele foi ferido em batalha em 1948.

A guerra civil durou até agosto de 1949. A luta do DSE foi heróica e foi a primeira luta anti-imperialista do mundo após a Segunda Guerra Mundial. Apesar do heroísmo dos soldados do DSE, devido à desigualdade dos combates as forças, a guerra terminou em derrota para o exército do povo.

Durante as batalhas da Guerra Civil, 50 mil pessoas foram mortas. 6500 comunistas e democratas foram fuzilados depois de terem sido sentenciados por tribunais militares. 50 mil anti-fascistas foram presos e exilados, muitos sendo submetidos a terríveis torturas. 100 mil gregos, combatentes do DSE e suas famílias, foram forçados a deixar o país após a derrota do exército popular. A maior parte deles recebeu asilo político na União Soviética e outros em países socialistas europeus.

Após a derrota do DSE, em setembro de 1949, N. Belogiannis, juntamente com milhares de homens armados, foram para os países socialistas da Europa Central e Oriental. Na Grécia, um violento regime anti-democrático foi instalado,  completamente dependente do imperialismo anglo-americano: politicamente, economicamente e militarmente.

Em 1950 N. Belogiannis foi eleito membro do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE).

A prisão e execução de N. Belogiannis

As 6ª e 7ª sessões plenárias do CC, que tiveram lugar no mesmo ano, decidiram adaptar as táticas do partido para a nova situação, ou seja, a derrota na Guerra Civil. Assim, a resolução do plenário salientou a necessidade de transferir o núcleo de trabalho do partido da luta armada para a atividade política de massa pacífica. Promoveu-se a tarefa política de reconciliação e da luta por “pão para o povo” e contra a prisão da Grécia nas novas algemas imperialistas dos EUA e da OTAN. Ao mesmo tempo, as sessões sublinharam que o partido deveria estabelecer um mecanismo robusto para um trabalho clandestino na Grécia e, ao mesmo tempo, para utilizar todos os meios legais possíveis de luta.

Em junho de 1950, Nikos Belogiannis, após a decisão do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia, chegou à Grécia ilegalmente, usando documentos e passaportes falsos. Ele ficou de informar às forças partidárias na Grécia a respeito da nova linha do  partido e reorganizar a rede clandestina das organizações partidárias no país. Deve-se notar que N. Belogiannis não era então o único quadro do partido a entrar ilegalmente na Grécia. Centenas de comunistas entraram na Grécia, com objetivos diferentes,  nesse período. Muitas pessoas, após a realização das suas tarefas, novamente deixaram o país, mas muitas outras foram presas pelas autoridades. Estas missões foram considerados uma honra no partido e havia muitas cartas para o Comité Central  pedindo orientações quanto às atividades clandestinas na Grécia.

Em uma das primeiras mensagens que Nikos Belogiannis enviou ao exterior para a liderança do partido, ele escreveu: “Eu estou limpando e reorganizando o que já temos, e ao mesmo tempo criando uma nova organização Muitas possibilidades, perspectivas otimistas.”

Nikos Belogiannis foi preso em dezembro de 1950 e um papel especial foi desempenhado pela recém-fundada organização estadunidense – a CIA. A polícia anunciou a sua detenção em 5 de janeiro de 1951. Não é por acaso que o único jornal da legal da esquerda, “Democrata”, foi proibido um pouco antes. Ele era publicado com a ajuda do clandestino Partido Comunista.

Apesar da prisão, seu trabalho e todo o trabalho da organização partidária clandestina deu frutos: no país, um movimento geral para uma anistia ampla, para a eliminação dos “campos da morte” e pela abolição da legislação de “emergência” foi se espalhando. O movimento de greve da classe operária começou a se desenvolver.

Cem mil gregos haviam assinado o Apelo de Estocolmo do Conselho Mundial da Paz, apesar do terror e do assassinato, em 5 de março de 1951, na Tessalônica, do comunista Nikiforidis Nikos, que estava a recolher assinaturas.

Em julho de 1951, por iniciativa do KKE clandestino, a coalizão Esquerda Unida Democrática (EDA) foi fundada. É emblemático que, quando as eleições parlamentares ocorreram em 9 de setembro de 1951, dos dez membros do parlamento eleitos nas listas do EDA, sete eram presos políticos e exilados democratas, dentre eles o Comandante Geral do ELAS C. Sarafis, o conhecido líder sindical e comunista Ambatielos  e outros. Após estes resultados, as autoridades cancelaram os cargos parlamentares dos presos políticos democráticos.

Em 19 outubro de 1951, em um tribunal extraordinário, o primeiro processo contra N. Belogiannis teve início. Havia outros 92 membros do Partido Comunista da Grécia (KKE) ao seu lado no banco dos réus. Foram todos acusados ​​de terem violado a lei número 509, aprovada em dezembro de 1947, que proibia o KKE e a “propaganda comunista”. Deve-se notar que, neste momento, no governo da Grécia não estavam forças de direita, mas “centristas”. Em 16 de novembro, um tribunal extraordinário (do qual G. Papadopoulos participou – o futuro chefe da então Junta dos Coronéis, 1967-1974) condenou Belogiannis e outros 11 comunistas à morte. No entanto, a sentença não foi executada porque estava claro que o processo e o veredicto foram puramente políticos.

As autoridades tiveram de “sustentar” um novo julgamento-paródia, com novas acusações, “para provar a sabotagem” dos comunistas, que supostamente trabalharam contra e trairam os interesses da Grécia, servindo a um poder “terceiro”.

O KKE clandestino costumava se comunicar com as lideranças do partido localizadas no exterior usando o rádio. A polícia descobriu dois destes mencionados em Atenas e, assim, um novo “caso Belogiannis” foi forjado num novo julgamento, desta vez em um tribunal regular e com a falsa acusação de “espionagem” (violação da lei 375 de 1936). O segundo julgamento-paródia começou em 15 de fevereiro de 1952. Em 1 de março de 1952 foi um veredicto foi emitido, condenando Nikos Belogiannis e 7 outros comunistas à morte.

Imediatamente na Grécia e no mundo inteiro um movimento surgiu contra as novas sentenças de morte. Os advogados pediram ao rei que perdoasse seus clientes. Ao mesmo tempo, os EUA exigiram que o governo e o rei mantivessem a execução da sentença. No sábado, 29 março de1952, o Rei Pavlos rejeitou um pedido de clemência para N. Belogiannis e seus companheiros. Depois da meia-noite do domingo, dia 30, dezenas de pessoas que estavam “de plantão” na entrada da prisão para impedir a transferência dos condenados à morte para o local da execução partiram, pois não tinham conhecimento da decisão do rei e do governo. Eles partiram porque mesmo os alemães nazistas não realizaram execuções planejadas aos domingos. Os executores chegaram à prisão e levaram quatro pessoas para o fuzilamento. Eles eram: Nikos Belogiannis, Dimitris Batsis, Nikos Kaloumenos, Ilias Argiriadis. Eles foram levados para o local da execução e alvejados sob as luzes dos caminhões e jipes militares, pois ainda estava escuro e tudo teve que ser realizado rapidamente, antes que a notícia se espalhasse por Atenas.

03/30/2012


Balada

Lila Ripoll

Fuzilaram Beloyannis,

Beloyannis fuzilaram.

No muro escuro de pedra

recostaram o seu corpo

que batalhas enfrentou.

Quiseram cobrir seus olhos.

Beloyannis recusou.

Seu rosto ficou mais branco,

Mas nem um traço alterou.

Não se fecharam seus olhos,

seu corpo erguido ficou.

Avançava a madrugada,

a sombra envolvia a terra,

o crime se consumava,

ninguém soube ou suspeitou.

Quiseram cobrir seus olhos,

Beloyannis recusou.

Os verdugos hesitavam

agarrados aos fuzis.

Olhar de frente o seu rosto,

quem podia, quem ousava,

se o rosto ficou mais branco,

mas nem um traço alterou?

Quiseram cobrir seus olhos,

Beloyannis recusou.

Apagavam-se as estrelas,

a aurora já despontava.

O vento da primavera

sobre o muro suspirou.

Cinco fuzis apontaram,

cinco estampidos se ouviram,

uma voz cortou os ares

e as fronteiras alcançou.

Beloyannis indomável

levanta um canto de glória

ao ideal porque tombou.

“Camaradas, camaradas,

nosso Partido não morre… “

E a voz heróica findou.

As palavras eram flores

que o vento despetalou.

O crime se consumara

ninguém soube ou suspeitou.

No muro escuro de pedras

o sangue do heróis ficou.

Seu nome de comunista, o mundo inteiro guardou.

Fria estava a primavera

que o seu corpo amortalhou.

– Beloyannis, Beloyannis,

virão outras primaveras,

teu nome o povo guardou.

As palavras que disseste

a brisa despetalou.

O vento da primavera

sobre o mundo as atirou.


Nota dos Editores:

Por uma questão de justiça  e como resgate da nossa memória , à época dos fatos que resultaram no fuzilamento de Nikos Beloyannis, nosso Partido, com a solidariedade que já o caracterizava, também acompanhou os eventos, fez campanha pela sua  libertação e o homenageou  através do poema intitulado Balada, escrito pela poetisa  e comunista Lila Ripoll.