ATOS PATRIÓTICOS – UMA GRANDE BANANADA
Na reunião que decidiu pela sanção do AI-5 o “intelectual” Jarbas Passarinho, ministro do governo e membro da Academia Paraense de Letras, lá pelas tantas, ao perceber as idas e vindas de Costa e Silva, aproveitou o momento que o marechal falou em “escrúpulos” para sintetizar a opinião da boçalidade que permeava a maioria do governo àquela época. – “as favas com os escrúpulos presidente”.
Quarenta e cinco dias após o ataque às torres gêmeas do World Trade Center o presidente dos EUA, então o terrorista George Bush, conseguiu arrancar do congresso o ATO PATRIÓTICO. A lei autorizava o governo como um todo, através de suas agências de segurança e inteligência, a prender sem mandados, promover escutas sem ordem judicial, seqüestrar cidadãos hostis fora do território norte-americano e técnicas de interrogatórios mais duras (tortura), para salvar o mundo da destruição.
Norte-americanos acreditam que não existe vida humana racional para além do seu território e pior, se acreditam humanos (é claro que existe uma pequena parcela ainda de humanos por ali, pode crer, existem).
Chamam a si a tarefa de salvar os povos inferiores. É o que se vê no Haiti.
Estão afundados no Afeganistão numa guerra que começa a incomodar a própria opinião pública do país, que percebe a derrota política e militar, guardadas as proporções, um novo Vietnã.
No final do governo de Bush, no afã de limpar a mesa, evitar deixar provas das barbáries cometidas, o Departamento de Justiça, em março de 2007, acusou o FBI (polícia federal) de “não informar oficialmente o uso ilegal do Ato Patriótico”.
O professor Williams Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense, apareceu hoje num dos noticiários do canal a cabo GLOBONEWS falando sobre a “arrogância dos norte-americanos” na questão do Haiti. Foi incisivo ao dizer que nessa hora ignoram a ONU, ignoram direitos fundamentais, passam por cima de tudo e todos com seu poder econômico e militar.
Para fazer o contraponto – a situação dos canais da GLOBO no que diz respeito ao Haiti é complicadíssima. A rede é financiada por empresas e pelo governo dos EUA e por outro lado não tem como criticar os militares brasileiros no Haiti. O jeito é a defesa disfarçada dos interesses que representa – os jornalistas globais têm dito que apesar dos pesares eles, os norte-americanos, resolvem.
Na trilogia O PODEROSO CHEFÃO, de Francis Ford Coppola, há um momento em que um comerciante do bairro pede um favor a D. Vito Corleone. No primeiro filme. Recebe o benefício solicitado e fica devedor para uma eventual necessidade do chefão num dado qualquer momento.
O momento surge e é mais ou menos como você pedir a um amigo dez reais emprestados e ele uma semana depois pedir a você para matar um desafeto, ou infringir uma determinada lei. Tudo em nome da amizade. Pediu, tem que aceitar as regras, caso contrário, ATO PATRIÓTICO nele ou o velho AI-5. Ingratidão punida pelas leis da Máfia. O que são os EUA além de grandes máfias reunidas em uma federação?
Barack Obama está se estrepando na incapacidade de ser alguma coisa, pelo menos até agora, que não um produto de marketing. Marca de sabão em pó. Leite que se dissolve instantaneamente. Perdeu eleições em Massachusetts onde os democratas não perdiam há 38 anos. Justo na vaga de um histórico liberal, o senador Ted Kennedy.
Se vai dar a volta por cima é outra história. Na verdade, visto de hoje, parece condenado a um mandato só, mas, como tudo é possível… Americanos do norte adoram cenários de Hollywood e nisso Obama é pole position.
O presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, foi escolhido pelos representantes dos países que formam o FÓRUM DE DAVOS como o ganhador do prêmio Estadista Global do Fórum Econômico Mundial. A entrega será feita no dia 29 de janeiro e é a primeira edição do prêmio.
Isso autentica a definição de Ivan Pinheiro, secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, sobre o “capitalismo a brasileira”, invenção de Lula. Do ponto de vista do modelo, no entanto, reforça o cacife eleitoral de Lula para outubro, cria uma baita saia justa para a mídia colonizada (E Obama, onde fica?) e deve ter provocado um ataque histérico em FHC, doutor com todos os doutorados em todos os cantos, relegado ao ostracismo de sua carne assada e cuscuz paulista.
Ramsés, se não terminou sua pirâmide ainda, corre o risco de terminar nas águas poluídas do Tietê.
O grande temor dos militares brasileiros com relação ao Plano Nacional de Direitos Humanos não é necessariamente a possibilidade de virem a ser presos por crime de tortura. O medo real é a revelação dos nomes de ilustres e respeitáveis canalhas transformados em patriotas no dever cumprido da boçalidade contra presos indefesos.
Aí é que mora o perigo. O cara que confessa e comunga toda semana, nas horas vagas tortura, estupra, assassina e diz que é em nome de Deus, da pátria e da família, para salvar a democracia.
O que os militares brasileiros têm a aprender no Haiti é simples. Ou são policiais subordinados aos EUA, ou cumprem um mandato da ONU e enxergam no governo do Brasil algo diferente de FHC. Em tempos tucanos já estariam incorporados aos serviços de limpeza dos acampamentos norte-americanos.
Davos é um fórum de banqueiros, feito para banqueiros, grandes empresários. O prêmio concedido a Lula tem um aspecto interessante. Está para além do reconhecimento dos méritos do presidente brasileiro (na lógica do “capitalismo a brasileira”). A maioria dos países que formam o fórum, das entidades, está dizendo a Obama que o prêmio Nobel da Paz deu para comprar, mas que como está ninguém agüenta a arrogância e prepotência dos EUA.
Os favores que estão sendo prestados ao Haiti na marra, sem qualquer respeito aos haitianos e à ONU, serão cobrados e pagos pelo povo do Haiti e pelo resto do mundo, na lógica do imperialismo. Dá com uma das mãos uma banana e tira com a outra toda a produção de bananas gerada sobre trabalho escravo.
São atos patrióticos. Uma grande bananada.