Aliança para a morte
A visita do secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, ao Brasil, no último dia 24, merece especial atenção. Não apenas pelo espantoso teor de camaradagem com o governo brasileiro em seu discurso oficial e em suas declarações à imprensa, mas principalmente por poder representar o “desatar de nós” dos interesses comerciais que dificultam o escancaramento dos verdadeiros interesses de longo prazo da burguesia brasileira na América Latina.
Suas declarações de que “o Brasil é um poder global, uma força positiva para a estabilidade não só nas Américas, mas no mundo” e de que, com as restrições orçamentárias dos EUA, a melhor forma de lidar com a conjuntura é “desenvolver parcerias, alianças, dividir informações” deve ter agradado aos mercadores da morte verde-amarelos.
Se a visita em si não gerou nenhum documento oficial significativo, isso não é motivo para nos tranquilizarmos. O “serviço” foi feito em abril de 2010, quando o PCB denunciou em primeira mão o que estaria porvir ao publicar os artigos Acordo Militar Brasil/Estados Unidos e O misterioso e vergonhoso acordo militar Brasil-Estados Unidos, assinado por seu secretário-geral.
E o que vimos desde então? O Brasil estabelecer relações comerciais cada vez mais íntimas com estados como Israel e Colômbia no âmbito militar, além de ter assinado acordo com Bogotá para a região amazônica que nada mais é do que a garantia dos interesses da extrema-direita mundial sobre aquela região, inclusive com a meta declarada de extermínio de forças revolucionárias beligerantes.
Por isso podemos afirmar que a presença de Pallen no Brasil foi a visita de um mercador da morte, mesmo que revestido pela finesse do puro business. E quando o business se dá entre estados nacionais em busca de mercados, podemos cravar sem medo: é arranjo interimperialista.
Arranjo bem mais sutil que o ocorrido nos dois outros países da região que receberam Pallen: Colômbia e Chile. Creio ser desnecessário tecer qualquer comentário sobre o caráter dos governos colombiano e chileno e sua forma de lidar com os movimentos sociais de seus respectivos países.
Mas no caso chileno, um registro merece ser feito: recentemente (em 5 de abril) o Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos inaugurou naquele país uma base militar, rechaçado pela população local. Portanto, a estadia do secretário de Defesa dos EUA na capital Santiago foi uma demonstração de força, de domínio imperial, pois obviamente inoportuna para o momento.
Nesse teatro global de interesses de rapina, cujo principal ator – e também o mais canastrão – reveste-se de Tio Sam, o Brasil tem buscado seu lugar ao Sol, fundamentalmente na América Latina. Construímos pontes, abrimos agências bancárias, extraímos petróleo e gás natural, vendemos armas.
Nossa burguesia, por conseguinte, precisa ter seus “investimentos” garantidos nos países vizinhos. Se até o presente momento temos feito isso através do chamado soft power, não caiamos na ilusão: as movimentações do cenário recente são de que estamos entrando para valer numa global e asquerosa “aliança para a morte”. Palestinos e colombianos já sabem disso, aliás.
*Paulo Schueler é membro do Comitê Central do PCB