Um governo “de esquerda” é um bote furado para o povo que sofre

O dirigente do Syriza, A. Tsipras, que em 8 de Maio recebeu o mandato exploratório do Presidente da República para formar um governo e iniciar contactos com os dirigentes dos partidos, está a recorrer a travessuras tácticas e actuações para obter manchetes.

O dirigente do Syriza contactou a secretária-geral do CC do KKE, Aleka Papariga, por telefone e pediu uma reunião no quadro dos seus contactos com os líderes de partidos respeitantes à formação de um governo. Aleka Papariga respondeu que não há assunto a discutir numa tal reunião.

Na sua declaração, A. Tsipras repetiu a proposta de um governo “de esquerda” com o objectivo de “redistribuir os fardos fiscais, tratar dos problemas fiscais em termos de justiça social, da reconstrução produtiva do país e do planeamento ecológico do desenvolvimento”.

As condições mínimas que o SYN/Syriza estabeleceu para a cooperação são:

“A necessidade do cancelamento imediato da implementação das medidas do memorando e especialmente aquelas leis vergonhosas que cortaram salários e pensões ainda mais”.

O cancelamento das leis que aboliram direitos básicos do trabalho e em particular a lei que determina que após 15 de Maio a extensão dos existentes acordos de negociação colectiva serão abolidos e que os próprios acordos colectivos cessarão.

A promoção de mudanças imediatas do sistema político para o aprofundamento da democracia e justiça social, acima de tudo pela mudança da lei eleitoral, pela introdução da representação proporcional plena, bem como a abolição da lei respeitante às responsabilidades de ministros.

O controle público do sistema bancário, o qual hoje, apesar de ter recebido aproximadamente 200 mil milhões de euros em liquidez e garantias de fundos estatais, permanece nas mãos dos executivos que o levaram à bancarrota. Pedimos que o relatório do Black Rockseja publicado imediatamente. Os bancos devem ser transformados em instrumentos para o desenvolvimento da economia e para o reforço dos pequenos e médios negócios.

A criação de uma Comissão de Auditoria para explorar o sector odioso da dívida do Estado, uma moratória no seu reembolso e a busca de uma solução europeia justa e viável”.

Na sua declaração, o Gabinete de Imprensa do CC do KKE observa o seguinte quanto às declarações de Alexis Tsipras:

Na sua declaração de hoje A. Tsipras utilizou o mandato recebido para ajudar a sua próxima campanha eleitoral, fazendo propostas parciais que têm o carácter de uma declaração de campanha pré-eleitoral destinada às pessoas mais desesperadas a fim de enganá-las e roubar votos.

Apesar do facto básico de que um governo deve tratar de mais do que 4 ou 5 questões – deve tratar de todas as questões – A. Tsipras passou por cima desta realidade como se ela não existisse. O KKE destaca o seguinte:

O memorando e o acordo de empréstimo não estão em vias de serem abolidos pelas propostas de A. Tsipra. Apesar deste facto, ele apresentou certas propostas, como saída pró povo, as quais escondem a generalizada ofensiva anti-povo dos monopólios e seus partidos, os compromissos que todos os estados-membros da UE assumiram, tais como a “Estratégia Europa 2020”, políticas que estão incorporadas no memorando e no acordo de empréstimo.

As propostas de A. Tsipras declaram claramente que os trabalhadores serão chamados a pagar outra vez por um grande sector da dívida pelo qual não são responsáveis, enquanto o povo necessita do cancelamento da dívida. Ao mesmo tempo estas propostas deixam o caminho aberto para privatizações e para a implementação de novas medidas anti-trabalhador por parte dos capitalistas (salários de 400 euros, relações de trabalho flexíveis, etc). Elas deixam intactas as mudanças reaccionárias em educação, cuidados de saúde e bem-estar.

As declarações respeitantes ao controle público dos bancos em benefício dos pequenos e médios negócios são um esforço consciente de engano, pois elas os condenam a assumir novos empréstimos nas condições do seu cerco sufocante por parte dos monopólios.

As proclamações de A. Tsipras respeitantes à “reconstrução produtiva com sensibilidade para matérias ecológicas” estão relacionadas com o mesmo caminho de desenvolvimento que já levou à crise profunda e à bancarrota do povo, enquanto ignora a Política Agrícola Comum e suas consequências para os agricultores pobres.

O silêncio em relação às obrigações permanentes do tratado assumidas pelos governos gregos dentro da estrutura da NATO e os planos imperialistas para intervir no Mediterrâneo Oriental é extremamente característico da submissão do SYN/Syriza à classe dominante e seus aliados internacionais. Um tal governo complicará e agravará os problemas do povo.

O povo deve divorciar-se de todos aqueles que os convocam para continuar o longo pesadelo do “caminho único UE”, quer tenha ou não uma fachada pró ou anti-memorando.

A batalha será determinada acima de tudo dentro da Grécia e não apenas dentro da UE. Além disso, o notório “vento de mudança europeia” que Hollande alegadamente está a trazer não é em função dos povos mas sim da luta dos monopólios de todos os países pela dominação.

09/Maio/2012

O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-05-09-aristeri-kyvernisi

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .

Acerca do resultado eleitoral de 6 de Maio de 2012

por KKE

O CC do KKE reuniu-se a fim de fazer uma avaliação inicial do resultado da eleição de 6 de Maio de 2012. Esta avaliação será discutida nos organismos e nas organizações de base do Partido bem como nos organismos e nas organizações de base da Juventude Comunista (KNE). Além disso, o partido discutirá o resultado da eleição com o povo que trabalha ao lado do partido, seus apoiantes e amigos. Após esta primeira volta de discussão e manifestações de opinião o CC concluirá sua avaliação.

1. O resultado da eleição leva ao reforço da tendência para a renovação da cena política, tal como foi formado durante três décadas com a rotação da ND e do PASOK no governo uma vez que estes partidos sofreram uma pesada derrota. A reversão da cena política, na forma que assumiu com o resultado da eleição, não constitui qualquer viragem (overthrow) política. Nas condições de justificada cólera e indignação, prevaleceu a lógica da punição e a ilusão de que existem soluções imediatas a partir de cima e através de negociações. No entanto, o resultado da eleição mostra a tendência positiva que está a ser esboçada, a tendência para uma viragem radical ao nível de força contra as ilusões de uma solução fácil. Apesar do declínio espectacular da ND e do PASOK o resultado da eleição não constitui uma nova era na correlação de forças entre o povo e os monopólios, uma viragem ou uma “revolução pacífica” como tem sido dito.

2. A reforma da cena política burguesa, a qual ainda se encontra numa fase de transição, está ao serviço da tentativa de inibir a tendência de radicalização e a libertação da influência burguesa e política. Sua principal característica é a restauração do centro-direita e centro-esquerda, a recomposição da social-democracia com as forças do Syriza inicialmente como seu núcleo. O poder dos monopólios necessita do sistema política burguês renovado, e possivelmente com a criação de novos partidos, para proporcionar as respectivas alianças e governos de coligação. Esta possibilidade de tentar a renovação do sistema é baseada no facto de que as forças do “caminho único UE”, as forças que servem os interesses do capital, do sistema capitalista, não foram reduzidas em termos da sua votação geral.

3. A vasta maioria dos eleitores dos dois partidos burgueses foi dispersa principalmente para forças políticas com uma ideologia semelhante que apoia a política do “caminho único UE”. Numa extensão muito menor elas foram dirigidas para o KKE. Neste quadro a variada dispersão de votos foi direccionada para partidos reaccionários e nacionalistas tais como os “Gregos Independentes” e o nazi-fascista “Aurora Dourada” (Chrisi Avgi).Além disso, o resultado da eleição é assinalado pela baixa participação que também exprime uma indignação irremediável (dead-end) bem como as dificuldades financeiras dos eleitores que tinham de viajar. A ascensão do “Aurora Dourada” é mais uma prova de que nas condições de uma crise profunda e de empobrecimento do povo, enquanto o movimento dos trabalhadores e do povo não passou a um contra-ataque e a maioria dos partidos apoia o sistema capitalista ou recorrem à ilusão da sua humanização, o perigo da influência de pontos de vista nacionalistas e neo-fascistas aumenta. Na verdade, [isso acontece] quando a UE e todos os estados-membros adoptaram como uma ideologia de estado igualar o fascismo ao comunismo. Só um movimento forte dos trabalhadores e do povo e um KKE poderoso podem enfrentar estas visões perigosas e torná-las marginais e inofensivas. A “Aurora Dourada” não pode ser tratada com sermões anti-fascistas nem mais apelo à unidade nacional e ao consenso anti-fascista.

4. O povo não deveria ter uma posição de “esperar e ver” em relação a estes processos que começam com a tentativa de formar um governo. O núcleo duro da classe burguesa, os grupos de negócios bem como os mecanismo e os corpos dirigentes da UE e do FMI desempenharão um papel activo na renovação do sistema político. Eles procuram proporcionar substitutos para o povo tão logo quanto possível antes que o radicalismo dos trabalhadores e do povo, a organização e a iniciativa do povo se torne mais forte e adquira características de massa. Independentemente do resultado destas tentativs a orientação principal é a aceleração das acções a fim de deter em tempo hábil o aguçamento da luta de classe e a congregação das forças sociais, cujos interesses são estar na oposição e na ruptura com os monopólios e o imperialismo, com a própria UE e as opções da NATO, fortalecendo a consciência anti-capitalista. O SYRIZA, que tem um programa social-democrata, arca com imensas responsabilidades em relação ao povo pelas mentiras desavergonhadas que propalou antes e durante o período eleitoral, pelas ilusões que promoveu e promove de que possa haver uma melhor situação para o povo sem uma confrontação com os monopólios, as uniões imperialistas.

5. A renovação do sistema político burguês deve ser confrontada pela vigilância e prontidão do povo bem como pela organização de massa e a luta no lugares de trabalho, nos sectores, nos escritórios, nos bairros populares, no mundo rural, nas escolas, universidades e escolas vocacionais com exigências imediatas para repelir as novas medidas que estão a caminho. Nenhuma tolerância para com os slogans de renegociação, o desligamento gradual do memorando e do acordo de empréstimo no quadro dos organismos da UE e do FMI.

6. O CC apela aos membros do partido, da KNE, aos amigos e apoiantes do partido, ao povo que trabalha lado a lado com o partido que combateu orgulhosamente nas lutas e na batalha eleitoral, para permanecer junto ao povo trabalhador e defender firmemente seus direitos e causas justas. O papel e as responsabilidades do partido aumentam. ELE É A FORÇA INSUBSTITUÍVEL E DECISVA PARA O MOVIMENTO POPULAR QUE LUTARÁ, CONTRA-ATACARÁ E TEM A PERSPECTIVA da conquista do poder e da economia pelos trabalhadores e o povo, o desligamento da UE e o cancelamento da dívida, a socialização dos meios de produção, as cooperativas produtivas do povo, o planeamento à escala nacional para a utilização do potencial de desenvolvimento do país com o controle dos trabalhadores e do povo de baixo para cima.

7. O CC avalia que o resultado eleitoral deu-se nas condições de cólera e indignação geral do povo, nas condições de uma aguda e prolongada crise capitalista e enquanto a UE, com o acordo do PASOK e da ND, optavam pelo caminho clássico e típico de saída em favor do capital e dos monopólios: bancarrota descontrolada para os trabalhadores e estratos populares e bancarrota controlada do capital. Os memorandos e o acordo de empréstimo incluem medidas que estão baseadas no Tratado de Maastricht, cuja implementação começou gradualmente em todos os estados membros da UE. Eles são baseados nas decisões que se seguiram e no tratado europeu que se prolonga até 2020. Por esta razão o KKE revelou o carácter falso da separação dos partidos do “caminho único UE” em partidos pró memorando e anti-memorando.

O KKE literalmente ultrapassou os obstáculos colocados em ambos os lados pelas forças do sistema e suas reservas, as quais estão unidas, apesar das suas diferenças, na sua insistência sobre a assimilação do país na UE, portanto o seu critério é a aquiescência dos povos às suas opções de classe a todo custo, em nome do euro. Por um lado havia uma indignação cega e por outro lado houve ilusões de que um governo das assim chamadas forças anti-memorando possam proporcionar alívio e uma solução para os problemas prementes. A maior parte dos trabalhadores e desempregados descontentes e coléricos submeteu-se à impaciência e à pressão da ilusão de um resultado positivo imediato, a solução imediata, sem ter adquirido a necessária experiência directa da participação na organização e no travar das lutas. Submeteu-se à propaganda generalizada de que não pode haver qualquer mudança radical ou de que isto ocorrerá na “segunda vinda” [1] , um slogan adorado pelo SYRIZA que é perigoso para o povo. O KKE avalia os resultados e tendências da eleição tendo como critério as condições objectivas, ele não determina a sua posição com base na força eleitoral ou na contracção eleitoral dos outros partidos políticos.

O KKE teve um pequeno aumento nestas eleições. No entanto, a avaliação final da qualidade da intervenção e da actividade do partido em relação ao resultado eleitoral será completada após reunir opiniões e dados das regiões e naturalmente após as opiniões colectivas das organizações do partido.

Com os números de hoje e as mudanças na arrumação das forças políticas as quais foram observadas, independentemente das avaliações finais que serão formadas através dos procedimentos colectivos do partido, o CC avalia mais uma vez que a posição do partido confirmou que o progresso e aguçamento da luta de classe determina a influência política do KKE e seu desempenho eleitoral. A avaliação do KKE, o qual declarou abertamente desde o princípio da crise também foi confirmada: que nas condições da crise económica capitalista, a qual agrava tanto a pobreza relativa como a absoluta do povo, há coexistência de dois elementos: que o movimento pode avançar e também que ele pode temporariamente retrair-se. Que os sectores mais pobres da classe trabalhadora, os desempregados e os semi-empregados, sectores dos estratos pequeno burgueses que subitamente perderam seu rendimento, estão sujeitos à influência e tendências que estão a desenvolver-se nos estratos pequeno burgueses insatisfeitos os quais ainda estão sofrendo do ponto de vista financeiro, mas não querem perder tudo, e que ainda são hostis à mudança radical porque acreditam na sua sobrevivência continuada. O KKE considera que o segundo elementos, o do recuo, ainda não foi determinado. Há possibilidades no período seguinte de a luta de classe aguçar-se e o movimento adquirir nova fortaleza de modo que há esperança e uma perspectiva positiva.

O CC saúda os milhares de trabalhadores e trabalhadoras e desempregados que apreciaram a militância, a firmeza e a clareza verdadeira das palavras do KKE, a militância e generosidade dos comunistas e que apoiaram-no na urna eleitoral, pouco importando o seu nível de acordo com a sua proposta política global. Um grande sector dos trabalhadores bem como um sector dos eleitores do partido, sob a pressão da exacerbação dos problemas populares, com os slogans enganosos referentes à renegociação do memorando e o alívio imediato para os trabalhadores, não puderam entender e considerar a diferença entre um governo e o poder real. O CC, resumindo as avaliações e conclusões das organizações do partido, examinará melhor as fraquezas que devem ser ultrapassadas acima de tudo na nossa actividade junto à classe trabalhadora e seus aliados e fará uma avaliação mais especializada do período eleitoral.

A proposta política do KKE quanto à luta da classe trabalhadora pelo poder encontrar-se-á no âmago do povo no próximo período, pois a diferença entre um governo e o poder real do povo tornar-se-á ainda mais clara, bem como a proposta geral referente às questões imediatas da sobrevivência do povo e do poder popular da classe trabalhadora. A partir deste ponto de vista a actividade político eleitoral do KKE em harmonia com a sua estratégia, como deve ser, constitui um legado importante para os próximos anos.

O KK não apoiará qualquer governo, não importa qual a sua composição, que emerja da colaboração pós eleitoral dos partidos, seja qual for o título que possam ter. Este governo não proporcionará nada de positivo para o povo. Ao contrário, responderá às necessidades e interesses do capital, às opções da UE e do FMI. Para o KKE concordar em participar de um governo, o partido não teria de efectuar simplesmente um pequeno recuo, mas teria de virar seu programa e linha política de cabeça para baixo e efectuar compromissos inaceitáveis quanto ao presente e futuro dos interesses do povo. O povo não precisa de um tal KKE.

7. O KKE e a KNE estarão desde o primeiro momento e todos os dias na linha de frente da luta. O CC do KKE apela ao povo trabalhador que está a sofrer, aos desempregados e pensionistas, aos auto-empregados nas cidades e zonas rurais, para acompanharem mais uma vez os comunistas e membros da KNE, aqueles que trabalham ao lado do KKE e a classe trabalhadora radical e as forças populares na lutar para aliviar os problemas agudos, repelir as piores medidas que estão a caminho. Nenhum slogan por negociação e renegociação pode suportar minimamente as necessidades agudas dos trabalhadores e desempregados. Estado de alerta e ajustamentos precisos em toda viragem da luta é o que é preciso. Acima de tudo é necessária actividade imediata se um governo de coligação não emergir e forem convocadas novas eleições, as quais trarão à tona mais uma vez os mesmos intensos dilemas eleitorais e ilusões mais poderosas.

Atenas/07/Maio/2012

O CC do KKE

[1] “Segunda vinda”, a expressão teológica que designa um retorno de Jesus Cristo à Terra.

O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-05-08-cc-statement

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .