Veteranos do Iraque e Afeganistão devolvem medalhas em protesto contra OTAN

CHICAGO – Veteranos norte-americanos das guerras do Iraque e Afeganistão arremessaram suas medalhas no local onde ocorria a Cúpula da OTAN em 20 de maio, no que foi a mais dramática ação anti-guerra de ex-soldados desde o Vietnã. Um por um, mais de 40 membros do serviço de todos os ramos das Forças Armadas subiram ao palco para contar suas histórias enquanto milhares de manifestantes anti-OTAN ouviam e aplaudiam.

“Quero dizer para aqueles atrás de nós, nestes muros fechados onde constroem mais políticas baseadas em mentiras e medo, que não estamos mais com eles e em suas guerras injustas. Tragam nossas tropas para casa”, disse Iris Feliciano, da Marinha dos EUA, que serviu no Afeganistão em 2002. Feliciano virou-se e arremessou suas medalhas para a McCormick Place, onde a Cúpula da OTAN foi realizada em 20-21 de maio.

(A história continua depois dos slides)

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Lado a lado dos veteranos no palco estavam três representantes da Afegãos pela Paz (sediada no Canadá), cujos oradores condenaram a guerra dos EUA-OTAN, as perdas de vidas humanas e ao mesmo tempo expressaram solidariedade com os veteranos norte-americanos.

Suraia Sahar disse que tinha uma mensagem para os representantes da OTAN reunidos em Chicago: “Pelo que vocês têm feito para o meu país, eu estou furiosa. Pelo que vocês têm feito para o meu povo, estou enojada. Pelo que vocês fizeram para esses veteranos, estou de coração partido. “

Ao contrário da Guerra do Iraque, que recebeu oposição significativa antes e depois da invasão de 2003, a oposição à guerra no Afeganistão, agora em seu 11º ano, tem sido mais lenta para se construir entre os americanos. Com a fadiga da guerra, uma crise econômica e os cortes orçamentais draconianos para programas públicos vitais, pesquisas recentes mostram que quase 70 % dos americanos dizendo que os EUA não deveriam estar em guerra no Afeganistão.

Vestidos com uniformes, Veteranos do Iraque Contra a Guerra com uma seção recém-formada dos Veteranos Contra a Guerra no Afeganistão, levaram em marcha o protesto anti-OTAN, que se estendeu por várias quadras enquanto a polícia, em número quase igual – muitos em trajes anti-motim – foi às ruas ou esperava em ônibus que piscavam “My Kind of Town Chicago is” em letreiros. Atrás dos veteranos estavam líderes da CANg8 (Coalizão contra a OTAN-G8) de braços dados, marcando um espaço pré-acordado entre os contingentes das duas marchas organizadas. O reverendo Jesse Jackson acompanhou os veteranos.

Os veteranos levantaram várias questões durante sua cerimônia de medalhas e testemunhos. Chamados para libertar Bradley Manning, dedicatórias para crianças iraquianas, afegãs e dos EUA, condenações das mentiras, da ganância corporativa e do imperialismo e pedidos para ações a respeito das taxas de suicídio dos veteranos, do transtorno de estresse pós-traumático generalizado e sobre o “direito de curar” moldaram as narrativas pessoais dos veteranos.

Pedidos para cortar gastos militares e investir em educação, trabalhos e saúde foram também feitos. (Assista aqui o vídeo)

Ao mesmo tempo, demonstrou-se respeito por todos os soldados ativos em serviço, pelos veteranos e mesmo pela polícia.

Em um momento particularmente emocionante, o organizador do IVAW [Veteranos do Iraque Contra a Guerra] e guarda de Illinois Aaron Hughes dedicou suas três medalhas a “Anthony Wagner, que morreu ano passado” e para “um terço das mulheres nas forças armadas que são sexualmente agredidas por seus pares; falamos para nos levantarmos pelas nossas irmãs no Afeganistão e não podemos nem mesmo cuidar de nossas irmãs aqui”, afirmou.

Com a última medalha, a voz de Hughes começou a tremer de emoção. “Esta medalha … bem … aqui, é porque peço desculpas. Peço desculpas para todos vocês… Peço desculpas”, disse.

Os veteranos vieram de todo o país, incluindo Arkansas, Ohio, Wisconsin e Nova Iorque. Quando Scott Olsen, ativista veterano do Iraque e do Occupy Oakland, subiu ao palco com um capacete, a multidão demonstrou seu reconhecimento. Olsen quase foi morto no último ano pela polícia de Oakland quando dispararam gás lacrimogêneo na multidão e Olsen foi atingido na cabeça.

“Meu nome é Scott Olsen”, disse. “Estas medalhas um dia me fizeram sentir-me bem sobre o que eu estava fazendo. Elas me fizeram sentir que eu estava fazendo a coisa certa. Então eu voltei para a realidade, e eu não as quero mais.” Olsen jogou no chão suas medalhas Guerra Global contra o Terror, Operação Liberdade Iraquiana, Defesa Nacional e Boa Conduta.

No início da cerimônia os veteranos presentearam Mary Kirkland com a bandeira americana, a mãe de um soldado que cometeu suicídio depois de várias tentativas e que ficou bem conhecido pelos militares.

Kirkland disse que, depois de duas tentativas, os militares consideraram seu filho Derrick como estando em “risco baixo para moderado” para o suicídio, prescrevendo medicamentos e dando aconselhamentos sobre drogas e álcool. Ele fez ainda outra tentativa frustrada, ela disse, e então, em sua quarta tentativa, ele se enforcou.

No dia em que Kirkland enterrou o filho em Marion, Indiana, ela parou em um posto de gasolina, pegou um jornal e encontrou uma declaração surpreendente do Pentágono. “O Departamento da Defesa disse que o meu filho foi morto em ação”, disse ela. Eles também disseram que “a família não quis comentar”, afirmou.

“Eles começam com mentiras e continuam com as mentiras”, disse ela, acrescentando que se sentia honrada em fazer parte do protesto.

Esta é a primeira vez, desde a Guerra do Vietnã – quando os veteranos contra a guerra atiraram suas medalhas no Capitólio dos EUA, em Washington – que um número tão grande de veteranos de guerra protestou de tal forma dramática.

Apesar da chamada dos veteranos para uma saída pacífica do local do ato, um punhado de manifestantes enfrentou a polícia, resultando em uma demonstração de força e de violência pelas autoridades, com manifestantes se machucando e com numerosas detenções efetuadas.

Foto: Veteranos preparam-se para lançar suas medalhas na Cimeira da OTAN, em Chicago, 20 de maio de 2012. Teresa Albano / PW