Entrevista do Momento: Renata Regina Abreu

imagemPor Milton Pinheiro

Jornal O MOMENTO – PCB da Bahia

Renata Regina tem 31 anos, é militante feminista, mãe adepta de uma maternagem ativa, trabalhadora, doula e estudante de enfermagem na UFMG. Sua militância no PCB começou há 18 anos, no movimento estudantil secundarista. Foi diretora da UBES (2003 a 2005), vice-presidente da UCMG (2004 a 2006). Na universidade, foi da gestão do DCE (2015/2016) e do GT de Mães e Pais estudantes. Participou do processo de aprovação e derrubada do veto à lei da doula em Belo Horizonte, e do projeto de lei que garante às mulheres o direito de amamentar onde e quando quiserem.

O MOMENTO – Você é uma importante militante social no estado de Minas Gerais. Poderia nos falar um pouco da sua trajetória?

Renata – Moro e atuo politicamente em BH, sou doula, mãe solo da Alice, fotógrafa e jornalista em formação. Comecei minha atuação política muito cedo, organizando o grêmio estudantil na escola onde estudava, já estive candidata a deputada estadual em 2014, e a deputada federal (2018). Tenho uma trajetória de luta que começa no
movimento estudantil secundarista, universitário e nos movimentos feministas, sempre atuei ativamente nas lutas em defesa da educação pública, em defesa do SUS, pela humanização do parto e nascimento, em defesa do aleitamento materno, dos direitos das mulheres e das crianças e de toda a classe trabalhadora.
Sou uma das fundadoras e estou diretora de comunicação da Minas de Doulas, associação estadual de Doulas de MG. Também sou fundadora e hoje integro a Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (CFCAM). Faço parte da organização do 8 de março unificado RMBH e dos atos feministas ao longo do ano em nossa cidade.

O MOMENTO – Na última eleição você concorreu para governadora. Como foi essa experiência numa quadra política tão tensa?

Renata – Foi uma experiência desafiadora! Tão difícil quanto necessária. Num processo eleitoral no qual setores da esquerda apresentavam o também neoliberal Kalil, do PSD, como “alternativa” ao governo ultraliberal de Zema, entendemos como fundamental lançar candidatura própria e apresentar uma alternativa popular e revolucionária para os trabalhadores mineiros. Começamos nossa pré-campanha em fevereiro, foram quase 8 meses de intensa agenda, passando por mais de 30 cidades e por todas as macrorregiões do nosso estado. Apresentamos o projeto político do PCB para Minas, nosso programa trouxe um conjunto de propostas com o objetivo de melhorar efetivamente as condições de vida do nosso povo, com a construção do poder popular e medidas efetivas de combate à fome com reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar e promoção da agroecologia, reforma urbana e programa de habitação para avançar para o déficit habitacional zero, propostas para geração de emprego e renda e para o fortalecimento e expansão dos serviços públicos, com valorização dos servidores, nomeação de aprovados e abertura de novos concursos públicos, para garantir condições de trabalho e o acesso a direitos com atendimento de qualidade para população.
Fizemos uma bonita campanha, coletiva, com muita luta e compromisso da nossa militância, com recursos financeiros limitados, sem tempo no horário eleitoral gratuito e enfrentando o bloqueio da mídia burguesa. Mesmo com todas as dificuldades, chegamos a pontuar na maioria das pesquisas eleitorais e conseguimos alcançar muitas pessoas que estão em processo de aproximação e organização no PCB e seus coletivos. O PCB saiu fortalecido e consolidado nesse processo eleitoral em quase todas as regiões de Minas Gerais.

O MOMENTO – Como é hoje o panorama político e social de Minas Gerais governada pelo ultraliberalismo?

Renata – Em Minas Gerais, o Governador Zema (Novo) foi reeleito no primeiro turno, o que significa uma derrota para o povo trabalhador mineiro. Os ataques contra os servidores públicos estaduais, o processo de privatização das empresas públicas mineiras, a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), o processo de criminalização dos movimentos populares, dentre outras coisas, devem se intensificar. Zema é empresário e dobrou seu patrimônio desde que assumiu o governo. Atua, desde o seu primeiro dia de governo, no desmonte e precarização dos serviços e servidores públicos enquanto avançava na sua ofensiva pela privatização. Foram várias investidas contra a educação, a saúde, as empresas públicas como CEMIG, COPASA, vale destacar, empresas altamente lucrativas que são apontadas pelo governo como deficitárias. Um governador que descumpre a lei Mar de Lama Nunca Mais, aprovada na ALMG, após os primeiros dias de seu primeiro governo, quando aconteceu um dos maiores crimes ambientais do nosso país.
O governador atua favorecendo as mineradoras, facilitando licenciamentos, deixando de fiscalizar e ignorando toda sorte de irregularidades. Menos de um mês após ser reeleito, o governador bolsonarista já publicou edital para concessão de dois parques estaduais para iniciativa privada, com leilão previsto para ser realizado no dia 21 de dezembro. No último dia 24, declarou publicamente em entrevista, que vai entregar os hospitais da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais para a iniciativa privada por meio das OS. Zema se fortaleceu ao ser reeleito com quase 60% dos votos e já deixa evidente que no seu segundo mandato vai intensificar os processos de privatização e transferência de recursos públicos para a iniciativa privada.

O MOMENTO – Hoje, você é uma dirigente comunista. Qual foi seu percurso no PCB?

Renata – Tenho mais de 20 anos de atuação política, todos eles como militante no PCB. Conheci a UJC e o PCB no processo de construção do grêmio estudantil onde estudava e, após participar do congresso da UBES em 2001 e ver a atuação da juventude nesse espaço, me identifiquei e decidi que era a organização onde deveria atuar. Quando fui recrutada, me organizava na célula secundarista do Partido. Participei do processo de reorganização da UJC e do congresso que foi realizado em BH, em 2006, no qual fui eleita para coordenação nacional. No mesmo ano, começamos o processo de organização do Coletivo Ana Montenegro em Belo Horizonte, participei de todo o processo de organização nacional que culminou no encontro nacional realizado em 2015, quando aprovamos as primeiras resoluções do CFCAM. Hoje, componho a secretaria de agitação e propaganda da coordenação nacional. Fui diretora de mulheres da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), presidenta da União Colegial de Minas Gerais (UCMG), no movimento estudantil universitário fui do DCE UFMG e do GT de mães e pais estudantes.
Ao longo desses anos de organização no partido, fui me formando enquanto quadro e dirigente. Hoje, sou secretária política do PCB em BH, componho o Comitê Regional e desde o último congresso do partido componho também o Comitê Central. O PCB é o partido de maior longevidade em nosso país e, ao longo do seu centenário, se destacou por formar e atrair para suas fileiras importantes militantes e é motivo de muito orgulho poder fazer parte dessa história e hoje estar na direção do partido junto a tantos camaradas valorosos.

O MOMENTO – Como examina a conjuntura da crise brasileira, da queda de Bolsonaro e da vitória de Lula?

Renata – Atravessamos um momento muito difícil, a crise do capitalismo que se aprofundou em nosso país com o golpe em 2016, a eleição de Bolsonaro em 2018 e a pandemia do Covid-19 desde de 2020. O congelamento dos recursos públicos, a retirada de direitos da classe trabalhadora, o aumento da fome, do desemprego, os elevados preços dos alimentos e combustíveis tornam as condições de vida da classe trabalhadora cada vez mais precárias.
A vitória de Lula no segundo turno foi um passo importante para a garantia das liberdades democráticas em nosso país, mas setores conservadores e reacionários de caráter fascista ganharam força na câmara e no senado, enquanto sua base de apoio se fortaleceu. Mesmo após uma política desastrosa de combate a pandemia que fez com que nosso país fosse o segundo com maior número de mortos pela covid no mundo e os ataques sistemáticos aos nossos direitos, Bolsonaro alcançou 49,1% dos votos. O momento exige que se intensifique os processos de mobilização e ocupação das ruas, na defesa das liberdades democráticas, para derrotar o bolsonarismo fascista, enfrentar os retrocessos que sofremos nos últimos anos.

O MOMENTO – Bolsonaro foi derrotado nas urnas, mas o bolsonarismo encontra-se nas ruas. Como enfrentá-lo?

Renata – Frente à atual conjuntura de fome, retirada de direitos e ameaças golpistas, é preciso aglutinar as lutas dos movimentos, sindical, estudantil e populares em torno da revogação do teto de gastos e das contrarreformas que retiraram direitos e precarizaram ainda mais as relações de trabalho. Somente uma mobilização ampla, contínua e organizada dos trabalhadores, que vai muito além do processo eleitoral, poderá barrar e reverter privatizações, contrarreformas e todos os ataques aos nossos direitos. Devemos fortalecer a organização e resistência do movimento sindical, popular e da juventude. A unidade da esquerda radical também é importante na derrota do bolsonarismo. Precisamos seguir firmes no processo de mobilização e ocupação das ruas para fazer o devido enfrentamento ao fascismo e também pautando as necessidades de nossa classe de modo a não deixar que uma nova política de conciliação de classes determine nossas pautas e enfraqueça o processo de organização e luta do nosso povo.

O MOMENTO – Quais são as tarefas dos comunistas no atual estágio da luta de classes em nosso país?

Renata – Nós, comunistas, lutamos pela transformação radical da sociedade atual, visando a superação do sistema capitalista pelo socialismo, na perspectiva da construção da sociedade comunista. Somente a intensa luta política e
ideológica e a participação ativa das massas trabalhadoras será capaz de promover os embates sociais e a ampla mobilização em torno do projeto socialista e de uma nova visão de mundo que destrua a lógica capitalista e perversa que hoje nos domina e avance para a emancipação de toda a humanidade.
Ao longo dos cem anos do nosso partido, sempre estivemos presentes nas lutas em defesa da classe trabalhadora, fomos protagonistas em muitas mobilizações e conquistas da nossa classe e seguimos dando continuidade e construindo o legado de todos os camaradas que construíram nosso partido. Precisamos seguir avançando no fortalecimento do partido e no processo de organização e luta da classe trabalhadora, pelo poder popular no rumo do socialismo.