UMA TRÁGICA ILUSÃO
Imagem: Partido Comunista do México
“Acabarei com a prática de pegar e soltar, e enviarei tropas para a fronteira sul para repelir a desastrosa invasão do nosso país” (Trump)
A política adotada pelo governo Trump de deportação dos imigrantes considerados ilegais nos Estados Unidos revela a face mais abertamente racista e xenófoba das classes dominantes daquele país, dando sequência a ações já postas em prática pelos governos anteriores, como o muro construído na fronteira com o México, dentre outras medidas.
As primeiras atitudes de Trump como presidente conduzido para um novo mandato revelam, em meio a bravatas já conhecidas, a ideologia do “Destino Manifesto”, que no passado justificou o expansionismo dos EUA na América e no mundo e agora segue embasando a lógica belicista e imperialista, que sempre trata como inferiores os povos dos países periféricos do capitalismo.
A América Latina é a região com a maior desigualdade de renda do mundo, segundo a ONU, e os números trazidos pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) confirmam isso. No continente, os 10% mais ricos concentram 66% da riqueza total, enquanto só o 1% mais rico abocanha 33%. Porém, mesmo diante desse catastrófico quadro socioeconômico, o silêncio conivente da grande mídia mundial em relação a esse cenário é ensurdecedor.
Se por um lado algumas populações resistem para manter seus direitos, por outro há os que capitulam e se subordinam ao poder dos poderosos. Esse é o caso, por exemplo, de parcelas consideráveis da população latino-americana que, ao invés de lutar, se encontram anestesiadas politicamente e sem perspectiva de mudança radical de sua realidade. Se não bastasse, há ainda os que enaltecem o modo de vida nos Estados Unidos como se fosse o “paraíso na terra”.
Enquanto, porém, parcelas dos latinos-americanos idolatram esse “paraíso”, o preconceito contra todo tipo de imigrante pobre emerge com força nos EUA. Preconceito esse que age com tenaz coesão para o discurso da extrema direita. Difunde a ideia de que as correntes migratórias atuam como uma forma de invasão territorial e que, por isso, comprometem a soberania nacional e afetam a qualidade de vida norte-americana.
Somente para situar o problema, até setembro de 2024, na fronteira do México com os EUA, foram registrados 2.135.005 imigrantes. Um volume que não tem paralelo em nenhum outro país do continente. São correntes migratórias que atravessam praticamente todos os países da América Central até a fronteira norte do México.
Mas por que essas milhares de pessoas se arriscam a todo o tipo de adversidade para entrar nos EUA todos os anos?
O combustível dessa conjuntura, podemos dizer, é a instabilidade política e econômica que tem reflexos diretos na esfera social. Suas bases, logicamente, estão fincadas na histórica exploração capitalista que assume formas estruturais na sociedade. É uma exploração que tem laços fortes com a corrupção política e alimenta a vida nababesca de uma minoria tradicionalmente encastelada no poder.
Valendo-se, então, das estruturas corruptas do Estado, cuja naturalização dessas relações acaba por favorecer a sua ramificação pela sociedade, as classes dominantes vêm se perpetuando no controle político desses países onde a proximidade delas com o submundo do crime age, por assim dizer, como mais uma estratégia de controle da população também pelo signo do terror permanente.
Com isso, o fortalecimento de organizações criminosas se estabelece como o verdadeiro poder cotidiano nas ruas das cidades desses países. Dominam territórios onde o Estado não chega, e assim implantam o terrorismo de suas “leis”. Esta situação é mais um dos componentes que tem levado milhares e milhares de pessoas a fugirem em busca de uma vida melhor.
Sim, o cenário na América Latina é de tragédia humanitária, pois estamos falando da região mais violenta do mundo, que concentra 37% dos homicídios de todo o planeta e que, em 2022, por exemplo, teve uma taxa de 21,5 assassinatos por 100.000 habitantes. Mais de três vezes a média global.
É certo que a barbárie promovida pelas potências ocidentais ao longo de séculos fincou raízes, não se pode negar. Contudo, o perfil da violência se alterou nas últimas três décadas. Se no passado não muito distante os conflitos de caráter ideológico se constituíram no eixo central da contradição política, na atualidade as gangues de todo o tipo, o crime organizado internacional e, em alguns territórios, a brutal repressão estatal assumiram o protagonismo.
Sem encontrar um caminho capaz de pôr fim à violência, a fuga em direção ao norte tem orientado milhares de famílias. Elas se arriscam a atravessar a inóspita região de Darién, que liga a Colômbia ao Panamá, para dar então início aos seus calvários rumo à fronteira do México com os EUA. Um caminho que as leva a se incorporarem ao grande contingente de força de trabalho barata da maior economia do planeta.
São imigrantes, portanto, em busca de uma vida melhor que o capitalismo, porém, não lhes pode oferecer seja qual for o lugar. Eles vêm da América do Sul, do Caribe e dos demais países da América Central. É um turbilhão de desesperados na esperança de chegarem e serem acolhidos solidariamente na maior economia do mundo. Trágica ilusão!
Brasil, janeiro de 2025
Secretaria Nacional de Solidariedade Internacionalista do PCB