‘Pacotes’ não adiantam: indústria continuará sentindo efeitos do modelo neoliberal

A política neoliberal iniciada na década de 90 causou estragos severos ao parque industrial brasileiro, com o sucateamento de vários setores industriais como o de auto-peças, calçados, brinquedos, bem como o desmantelamento de várias elos das cadeias industriais, como eletro-eletrônicos. Essa política, implementada mediante a abertura radical da economia, arrocho salarial, elevadas taxas de juros, privatizações e sobrevalorização do real, tornou mais baratos máquinas, equipamentos e produtos em geral oriundos do exterior, o que se refletiu num aumento acelerado das exportações, déficit na balança comercial durante todo o governo FHC, aumento do desemprego, queda no consumo e sucateamento do parque industrial.

A substituição de FHC por Lula e depois Dilma não mudou no essencial esse política: os juros continuaram os mais altos do mundo, a abertura da economia não apresentou mudanças substantivas, o real continuou sobrevalorizado, muito embora num patamar inferior ao do governo FHC, o que permitiu um alívio no setor exportador. Já a dívida interna, que aumentou de maneira extraordinária no governo anterior, continuou sendo instrumento chave para a administração da economia e cobrando um percentual cada vez maior do orçamento para o pagamento dos juros.

A economia brasileira e, especialmente, seu parque industrial, que já vinha sofrendo os efeitos negativos em função da década perdida dos anos 80, passou a apresentar elevados índices de defasagem em relação ao resto do mundo, especialmente no que se refere aos elementos mais dinâmicos da terceira revolução industrial, como as tecnologias da informação, engenharia genética, biotecnologia, robótica, microeletrônica, novos materiais, entre outros, mas também o próprio parque industrial interno sofreu as conseqüências dessa política de terra arrasada.

Cai o peso do setor industrial no PIB

O reflexo mais expressivo dessa conjuntura pode ser medido por uma redução da participação do setor industrial na formação do Produto Interno Bruto (PIB), avanço do agronegócio e uma lenta mais permanente reprimarização sofisticada da economia e do setor exportador, o que os especialistas estão denominando de desindustrialização. Por exemplo, em 2004, ano do início do governo FHC, a participação do setor industrial no PIB era de 19,2%, percentual que foi caindo sucessivamente até atingir os 14,6% em 2011.

Se avaliarmos mais especificamente o desempenho do setor industrial, veremos que, após a crise sistêmica global, essa situação veio a se agravar ainda mais: antes da crise (2002-2008), o PIB industrial cresceu a uma média de 3,5% ao ano, mas no período correspondente a 2009-2011 o crescimento médio do PIB industrial foi de apenas 1,9%. O desempenho na indústria de transformação foi ainda mais dramático: antes da crise o PIB da indústria de transformação cresceu em média 3,3%, performance que regrediu após a crise para magros 0,2% (Exame, No. 47, abril de 2012).

Outro dado que demonstra a regressão industrial do País, pode ser constatado pelo desempenho do setor exportador. Entre 2007 e 2011: a participação dos produtos agropecuários no conjunto das exportações aumentou de 32% para 48% , enquanto as exportações do setor produtor de manufaturados caiu de 52% para 36% no mesmo período, o que demonstra claramente o processo de reprimarização que está sendo verificado na economia brasileira.

Esse desempenho, é verdade, não deve ser creditado exclusivamente à política interna. Alguns fatores externos também contribuíram para essa conjuntura. As políticas de facilidade quantitativas dos países centrais, o protecionismo, aliado às barreiras tarifárias e não tarifárias, as políticas de desvalorizações monetárias dos Estados Unidos e China, o aumento dos preços das commodities e redução dos valores dos produtos manufaturados, entre outros pontos, também são responsáveis, muito embora a política governamental de submissão ao neoliberalismo a às estratégias do capital financeiro internacional podem ser consideradas os vetores principais da crise na indústria brasileira.

Os ‘pacotes’ de Dilma

Diante dessa situação, o governo Dilma vem lançando vários “pacotes” de estímulo à economia e, especialmente, à indústria, que envolvem repasses do Tesouro para o BNDES e a “desoneração da folha de pagamentos” de vários setores industriais, redução do IPI e créditos para a exportação.

Nenhuma medida foi anunciada no sentido de favorecer os trabalhadores. O governo nem exigiu das empresas beneficiadas o compromisso de garantia do emprego.

Na verdade, o governo está apenas enxugando gelo, uma vez que a política econômica em geral continua, em sua essência, ligada às políticas neoliberais. Mesmo com as recentes medidas para baixar os juros, as taxas praticadas no Brasil ainda estão entre as maiores do mundo e a economia continua sendo administrada em função do pagamento dos serviços da dívida interna. Somente nos dois últimos anos, o País pagou, só de juros dessa dívida, mais de R$ 400 bilhões, recursos suficientes para resolver a maior parte dos problemas sociais do País, o que significa uma cavalar transferência de riqueza do setor público para os principais grupos privados.