E agora Obama, o plano “Erupção em Damasco, terremoto na Síria” falhou?

Aos 12 de março o chefe da CIA, general David Petrus chegava à Turquia para acertar com o primeiro ministro Erdogan a segunda fase do plano de desestabilização da Síria. Depois, no fim de junho, 20.000 combatentes jiddaistas, vindos da Líbia, se juntavam aos outros 10.000 “voluntários” do Líbano, Iraque, Jordânia e Cecênia que desde maio de 2011, praticavam uma sangrenta guerra civil, ao lado dos 3000 combatentes de Al Qaeda, sabiamente manipulada pela TV árabe e as ocidentais. Em meados de julho veio o ataque pára desarticular o governo: os foguetes destruíam o Posto de Comando do Exercito, enquanto selvagens ataques terrorizavam a capital Damasco para permitir as brigadas do ELS de ocupar a estratégica cidade de Aleppo. Porem algo falhou……!

Achille Lollo (Roma) — Não há mais dúvidas de que algo falhou no plano “Erupção em Damasco, terremoto na Síria”, do momento que o corpo dos oficiais sírios se manteve fiel ao governo e desde dia 28 os blindados e os helicópteros do exército, após ter posto em debandada os “combatentes” do ELS na periferia de Damasco, reforçaram os pontos estratégicos que controlam as fronteiras com Jordânia, Turquia e Iraque. Feito isso, a contra-ofensiva prosseguiu em direção de Aleppo, onde foi montado um grande cerco para derrubar, a estrutura logística do ELS e infringir uma pesada derrota ao exército rebelde. Na prática, um sangrento acerto de contas contra os fomentadores da “Jiddah (guerra santa) na Síria”, isto é salafitas, Al Qaeda e Irmandade Muçulmana.

Defecções na Al-Jazeera e Al Arabya

O principal suporte midiático para o sucesso do plano de desestabilização era representado pelas televisões árabes, a famosa Al-Jazeera do emir do Qatar, Hamad Bem Khalifa al Thani, e Al Arabya da família real saudita. De fato as reportagens dessas televisões eram determinantes para repassar às TV do Ocidente as imagens do início da derrubada do regime de Bashar El Assad por parte do ELS, no momento em que os técnicos da CIA pirateavam o sinal dos satélites Arabsat e Nilesat para obscurecer as transmissões da televisão síria, Ad-Doumia, inclusive o Twitter da própria emissora, bem como todos os sistemas de telecomunicações na Síria, durante 30 minutos.

Neste intervalo as referidas televisões árabes, além de “inventar” a deserção em massa de várias unidades do exército e a união com as tropas libertadores do ELS, tentavam de gerar o pânico nas populações de Damasco e de Aleppo (majoritariamente ligadas ao governo) anunciando a bancarrota Síria!

Apesar do domínio tecnológico o ato de pirataria da CIA falhou porque a televisão síria, pouco antes o bloqueio de seu sinal, conseguiu avisar os telespectadores que no caso de black-out os aparelhos deviam ser sintonizados no canal do satélite Atlantic Bird.

E foi assim que os sírios e grande parte do público árabe, bem como os ouvintes das TV ocidentais, descobriu as manipulações e as mentiras que as TV Al-Jazeera e Al Arábia realizaram para apoiar o plano de desestabilização dos Estados Unidos.

Tudo isto determinou uma profunda reação no seio da TV Al-jazeera e de Al Arábia que provocou a defecção dos principais quadros das redações dessas emissoras. Um acontecimento que Reuter, AFP, CNN, AP, RAI, TV Globo, etc., etc. praticamente silenciaram para dar credibilidade às duas televisões árabes.

Mesmo assim, ficou confirmado que a TV Arabiya perdeu a virtuosa jornalista Zeina Al Yazij, enquanto Al-Jazeera sofria mais defecções com a saída do diretor da redação síria, Abdel Harid Tawfiq, do famoso diretor da redação em Beirute, Ghassan bem Jiddo, enquanto na redação central abandonavam o barco os editores Wadah Khanfar, Louna Chebel, Eman Ayad.

É necessário lembrar que estas defecções não foram casuais, mas ocorreram após um duro debate interno que se deu quando a censura da TV cortou as reportagens de Ali Hasherm, que em abril de 2011 registrava as infiltrações na Síria dos “combatentes Jiddaistas” a partir do Líbano. Na realidade tratava-se de militares vindos da Líbia, do Iraque e da Jordânia e pagos com o dinheiro do Qatar e da Arábia Saudita.

As reportagens de Ali Hasherm foram censuradas porque revelavam os valores dos contratos em dólares assinados por cada combatente; o monitoramento dos agentes dos serviços secretos dos EUA e da França no Líbano, o uso de equipamento militar da OTAN transferido de Trípoli para a base aérea turca de Ysterik. Algo que em condições normais seria definido um “plano subversivo com uso de mercenários”.

Aleppo não é Bengase

Para o chefe da CIA, David Petrus, os pontos vitais do plano de desestabilização do governo de Bashar El Assad eram: 1) provocar a dispersão das unidades sírias ao longo da fronteira com Iraque e Jordânia; 2) promover em todo o país uma guerra civil latente e sangrenta dando aos combatentes jiddaistas – inclusive os salafitas de Al-Qaeda – a completa liberdade para os “ajustes de contas” com quem apoiava o regime; 3) conseguir a todo custo a “libertação” da cidade de Aleppo que, além de ser a segunda cidade da Síria com 2,5 milhões de habitantes e uma arrojada estrutura industrial, era também a cidade mais perto da fronteira com a Turquia. De fato, a importância da “libertação de Aleppo” por parte do ELS, era fundamental para recriar as condições que na Líbia transformaram a cidade de Bengase no epicentro estratégico da guerra. É oportuno lembrar que os rebeldes líbios sediados em Bengase podiam receber todo tipo de armamentos e de apóio logístico porque tinha livre acesso à fronteira com o Egito, enquanto no seu aeroporto chegavam os técnicos da OTAN com seus computadores e foguetes e no porto desembarcavam os 5.000 fuzileiros do exército do Qatar, que os redatores da TV Al-Jazeera e da CNN transformavam em “combatentes voluntários do CNT”.

Se, a partir de dia 28, o exército regular da Síria recomeçou a projetar uma contra-ofensiva em toda a região de Aleppo os motivos foram essencialmente os seguintes:

a) no dia 22, logo após o assassinato da cúpula das Forças Armadas (general Daoud Rajha, ex-Ministro da Defesa, general Assef Shawkat, vice-ministro da Defesa, general Hassan Turkmani, assistente do Vice-presidente da República para segurança, além do grave ferimento de outros ministros e oficiais superiores) não houve defecções em massa no seio do exército, tal como aconteceu na Líbia, logo após o ataque aéreo ao palácio presidencial em Trípoli;

b) o povo de Damasco, apesar da manipulação das TV árabes – que por um momento disseram que o presidente Bashar podia estar entre as vítimas do atentado – não festejou o ataque dos 10.000 “voluntários” do ELS à capital, que tiveram que entrincheirar-se no bairro de Mezzech até poder fugir em direção das fronteiras com a Turquia e a Jordânia.

c) Os Estados Unidos e Israel escreveram a Síria na lista negra dos “Estados Canalhas” porque o governo da Síria se mantém solidário com o movimento Hazbollah do Líbano e, sobretudo com as organizações que representam os 500.000 refugiados palestinos, além de garantir o direito de manter abertos em Damasco e Aleppo os escritórios políticos dos movimento de libertação da Palestina, etiquetados por Hillary Clinton de “terroristas”. Na prática isso significa que a mesma sociedade síria fortaleceu o conceito do nacionalismo e do pan-arabismo mantendo-se coesa diante do possível ataque vindo do exterior.

Eleições e direitos das mulheres

O principal fator político que fugiu ao general David Petrus é que o governo de Bashar El Assad, após ter realizado uma reforma liberal da economia que repassou vários setores públicos as empresas da burguesia de Damasco e de Aleppo e apesar da ofensiva bombistas nas principais cidades sírias, realizava a reforma eleitoral, onde o partido de governo Bath, perdia a hegemonia e vinha a compor um novo governo com cinco dos novo partidos. Uma coalizão que, na prática responde a todas as reivindicações políticas e econômicas que os Irmãos Muçulmanos da Síria lançaram em seu primeiro manifesto (março de 2011) para acender a chama da revolta. Por outro lado o presidente Bashar, manteve como vice-presidente uma mulher que não usa o velo e que fala abertamente contra o machismo sírio. Algo que para os fundamentalistas e, sobretudo os salafitas da frente jiddaista é pecado mortal.

De fato, o ELS e os grupos armados ligados a Al-Qaeda começaram a atacar duramente o exército e os civis comprometidos com o governo, depois das eleições, quando 56% da população síria foi às urnas. É oportuno lembrar que na França – país onde não há guerra civil em curso – foi votar somente 53% dos eleitores.

Diante disso todos os grupos jiddaista, sejam eles os salafitas ou as células de Al-Qaeda, bem como os Irmãos Muçulmanos da Síria tiraram a mascara e proclamaram a Jihddad, isto é “a guerra santa contra a ditadura alawita de Bashar El Assad, por ser uma tendência criadas pelos profano xiitas, além de permitir a massiva presencia das igrejas dos infiéis (cristãos)”.

Neste contexto, o que está acontecendo na Líbia e no Egito, onde os salafitas e os Irmãos Muçulmanos querem transformar o sistema institucional leigo em um regime definido pelos princípios do islamismo, é outro motivo que mobiliza grande parte dos sunitas da Síria em favor de Bashar El Assad para manter o histórico equilíbrio étnico e religioso. Um equilíbrio que, nos últimos 40 anos, garantiu a convivência entre 12 etnias e seis religiões e permitiu a manutenção de antigas tradições culturais sem, por isso, reprimir os jovens e, sobretudo as mulheres nas prisões dos preconceito raciais e confessionais.

Todo o mundo sabe que Bashar El Assad não é o “máximo” da democracia, porém, a grande maioria dos sírios sabe que a queda desse governo, além de favorecer o controle político dos Sudeiris (a família real da Arábia Saudita) em toda a península árabe, vai reforçar o poder das multinacionais ocidentais, além de dever sustentar os privilégios de Israel e rebaixar-se diante dos interesses estratégicos do imperialismo estadunidense e de seus associados europeus da OTAN.

Até hoje, dia 31 de julho, o conflito na Síria, que os jiddaistas transformaram em guerra civil latente para desarticular o governo de Bashar El Assad, se mantém em um impasse, apesar da retomada, por parte do exército regular, de Damasco e Aleppo. O ELS não conseguiu seus objetivos políticos e estratégicos e Bashar El Assad continua detestado por todos os governantes fieis ao Tio Sam o que inviabiliza todo tipo de solução diplomática. Isso significa que, infelizmente, a guerra civil vai continuar.

Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente do Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.

Este vai sair na  sexta-feira nas bancas, por favor liga para o Nilton Viana e confirma  com ele  título, pois muitas vezes eles mudam.

Um saludo Achille


Por que na Síria o governo de Bashar el-Assad ainda resiste?

Esta foi o argumento central do encontro entre a secretária dó Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton e o Ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu em Istambul no dia 12. Um encontro que consolidou o eixo político, militar e estratégico entre EUA, Turquia, Israel, Arábia Saudita e Qatar. De fato a guerra civil na Síria, além de promover um eventual ataque contra o Irã e a completa desmobilização do Hezbnollah no Líbano enterrou, de vez a questão palestina e o futuro desse povo.

Achille Lollo (Roma) — Antes de entrar no meio da crise síria é preciso confrontar a evolução da guerra civil síria com outros conflitos que receberam por parte da Mídia ocidental, do Conselho de Segurança da ONU, da União Européia e, sobretudo, da Casa Branca, um tratamento completamente diferente.

Um dos motivos por Barak Obama dizer no dia 8 de fevereiro deste ano que os EUA haviam perdido a paciência com o governo sírio é porque nos últimos dez meses a policia síria havia preso 1600 suspeitos, que mais de 2000 civis teriam morrido nos confrontos com o exercito e que cerca de 5.000 sírios estavam abrigados nos campos de refugiados, construídos pela Turquia ao longo da fronteira norte.

Os insurgentes do ELS – inclusive os grupinhos ligados e monitorados por Al Qaeda – já foram considerados pelo Ministro das Relações Exteriores da Grã Bretanha “combatentes pela liberdade”, a quem o governo de Londres, nos primeiros 12 meses de guerra entregou cerca de 43 milhões de euro, que devem ser somados aos 60 milhões de Euro que o governo turco depositou nas caixas do ELS nos primeiros seis meses de 2012.

Na Colômbia o numero de prisioneiros políticos é cinco vezes mais – 8.500 segundo as ultimas estimativas – mas disso não se fala na ONU. A quantidade de assassinados, em 2011, de “terroristas e amigos de terroristas” já passou o numero de 5.500, enquanto o numero de “desplasados”, isto é os camponeses pobres obrigados pelo Exércitos a abandonar suas terras a pretexto de ser um potencial apóio para as FARC e o ELN, já chegam a quase 60.000. Por sua parte os grupos insurgentes: FARC e ELN são considerados “terroristas” enquanto o governo Santos e o exército colombiano recebem a etiqueta de “defensores da democracia” apesar de ser sócios dos principais clãs do narcotráfico colombiano.

Para Hillary Clinton e Ângela Merkel, o Hamas é uma organização terrorista que deve permanecer inscrita na lista negra redigida pelos EUA. Por ter ganhado as eleições no território de Gaza e por não ceder às imposições de Israel os EUA e a União Européia aplicaram um vergonhoso boicote econômico que empobreceu a população civil de Gaza (1,5 milhões de pessoas). .

Por outro lado os grupos salafitas que militam no ELS e que são os responsáveis dos sangrentos atentados nos bairros de Damasco contra a etnia alauita, drusa o ismaelita e que desde janeiro seqüestraram e assassinaram seis jornalistas (Mohammed Saed da TV Síria; Marie Colvin do Sunday Times; Remi Ochlik de IP3 Press; Gilles Jacquier de France 2; Shoukri Abu Bourghol de Al-Thawra; Ali Abbas de Sana); e 29 e free-lance, por “escrever em favor da ditadura alauita”, são apresentados pela mídia ocidental como os “heróicos combatentes da primavera síria”.

Hillary em Istambul

No fim de 2011, o governo de Bashar el-Assad, para evitar que as manifestações organizadas pelo Conselho Nacional Sírio fossem a alavanca política de uma rebelião monitorada pela Irmandade Muçulmana, aceitou as reivindicações dos manifestantes e fez as reformas além de mandar libertar todos os suspeitos presos pela polícia. Foi neste âmbito que Bashar assinou o decreto lei para fazer novas eleições com a participação de outros partidos. Desta maneira o tradicional partido Baath acabou de exercer seu poder hegemônico no cenário político do momento que para governar devia compor coalizões. Além disso, o presidente Bashar declarou ao Sunday Times – o único jornal ocidental que quis fazer-lhe uma entrevista depois das eleições – “…Estas reformas são o início de um processo que eu estou promovendo para construir um novo dialogo entre os diferentes setores da sociedade síria, visto que em 2010 toda a economia síria foi objeto de uma profunda reestruturação transferindo a maior parte das empresas públicas para os privados.”

Os governos do Ocidente e as monarquias árabes do Golfe, em particular a Arábia Saudita, não aceitaram o espírito pacificador da reforma política de Bashar el-Assad, visto que com a eventual consolidação do sistema multipartidário e uma mais ampla participação no gerenciamento dos poderes e da administração pública o bloco opositor dos islâmicos moderados podia dissociar-se do radicalismo étnico-religioso da Irmandade Muçulmana.

Foi neste âmbito que os EUA – avaliada a posição da Liga Árabe e conhecendo a proposta de Kofi Annam de criar um governo de transição com Bashar el-Assad – optou pela solução que hoje inferniza o povo sírio. Isto é criar as condições para a implosão de uma sangrenta guerra civil para obrigar o Conselho de Segurança da ONU a impor Fly Zone na Síria. Um contexto que diante do desastre da guerra civil teria facilitado a negociação com a Rússia e a China para uma “intervenção por motivos humanitários na Síria”.

Praticamente foi o que a jornalista da CNN, Bárbara Starr, revelou no seu blogue, sublinhando que o presidente Obama havia encarregou o Chefe do Comando Central das Forças dos EUA, general James Mattis de começar a estudar que tipo de missões podiam ser realizadas pelas forças armadas dos EUA e quais riscos elas corriam ao enfrentar o exército sírio.

Paralelamente, a Secretaria do Departamento de Estado, Hillary Clinton começava a promover a mobilização entre os aliados europeus, apresentando em Geneve o “Grupo de Ação pela Síria” que abertamente apostava na “imediata destituição de Bashar el-Assad”.

Com os aliados árabes, Hillary Clinton não teve dificuldades em obter o apóio incondicional para promover a derrota militar do governo sírio. E foi nessa base que as unidades especiais do Exército da Arábia Saudita, com seus assessores estadunidenses, passaram financiar o recrutamento e o treinamento dos “combatentes” do futuro ELS (Exército de Libertação da Síria), enquanto o Qatar comprava equipamentos militares que eram transportados até a fronteira turca com a Síria. Por sua parte o exército turco se preparava para uma eventual intervenção militar para “proteger a fuga dos civis da Síria”, enquanto os serviços secretos militares – monitorados pela CIA – organizavam a rede de agentes de informação que deviam garantir a infiltração dos “combatentes do ELS”; as informações sobre os objetivos militares e os civis pro-governo que deviam ser assassinados e por fim garantir os “paióis clandestinos” com as munições e as armas pesadas, sobretudo os lança foguetes RPG7 e os foguetes antitanque.

Fly Zone no Kurdistan?

Até julho o ELS já havia gasto em material de guerra cerca de 80 milhões de Euro e segundo o próprio Issam Mohammed, um dos comandantes mais influentes do ELS, os EUA e seus aliados deviam dar mais apoio financeiro para permitir ao ELS de enfrentar diretamente o exército fiel ao governo.  Um pedido que foi logo acolhido pelo governo britânico que através do seu ministro das Relações Exteriores, William Hague, destinou (sem a autorização do Parlamento) 6,3 milhões de euro ao pessoal do ELS, chegando a declarar “….Não se trata de assumir posições diante da guerra civil, pois com este financiamento nos queremos evitar um vazio de poder no post-Assad, de forma que os primeiros beneficiários foram os desertores do exército regular que compõem o Exercito Livre Sírio…”. Quer dizer: a Grã Bretanha, hoje, paga bons salários aos soldados e oficiais do ELS, da mesma forma como as multinacionais, na década de setenta, pagavam os mercenários para dar o golpe contra os presidentes africanos demasiado nacionalistas!

Apesar da montanha de dinheiro, de armas e dos “voluntários” vindos até do Paquistão, o ELS não conseguiu quebrar as defesas do exército regular sírio. De fato, após os poderosos ataques do ELS em Damasco e sobretudo em Aleppo, o exército regular armou uma grande armadilha fechando sob o fogo cruzado dos morteiros e dos helicópteros milhares os combatentes do ELS na região de Aleppo.

Praticamente o macabro cenário da guerra civil ficou estável com os ataques bombistas do ELS no centro da capital Damasco e os combates de rua nas periferias das cidades, seguidos pela destruidoras contra-ofensivas do exército regular. Diante disso Hillary Clinton e o ministro turco das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, tiveram que passar ao Plano B, que segundo o general James Mattis passa pela dilatação do conflito na região para provocar a desagregação do exército regular sírio e, consequentemente o enfraquecimento das relações políticas com a Rússia e a China que ainda sustentam os governo de Bashar el-Assad.

Na prática isso permitirá ao governo turco de acabar com a guerrilha do PKK (Partido dos Trabalhadores Turcos) realizando uma progressão de suas tropa até a fronteira com o Kurdistan iraquiano, onde com o apoio do líder do governo autônomo do Kurdistan, Mustafá Barzani, será fechada a ratoeira para os guerrilheiros do PKK e as populações civis que o apóiam.

O silencioso massacre dos curdos turcos permitirá aos emissários da CIA de convencer os líderes dos curdos sírios de que finalmente chegou a hora para o PYD (Partido pela União Democrática dos Curdos) de insurgir contra o governo de Damasco e, assim, com o apoio dos EUA, da União Européia e da Arábia Saudita fazer avançar suas propostas separatistas. É oportuno lembrar que os curdos sírios ocupam uma inteira província no norte do país e muitas vezes criticaram os EUA por não apoiar suas reivindicações separatistas.

Segundo o general James Mattis a dita “salvação dos curdos do Kurdistan sírio” pode modificar as posições da Rússia e da China no Conselho de Segurança e obter o voto para a criação de uma “região almofada” onde os curdos sírios ficam protegidos da guerra civil na Síria.

Se passar esta proposta “humanitária” , imediatamente o Conselho de Segurança vai aprovar, também, a implantação de dois “Fly Zone” para proteger a referida “região almofada dos curdos”. Na realidade, tudo isso irá permitir ao ELS e aos outros grupos rebeldes, inclusive os associados a Al Qaeda de ter um reduto seguro protegido pela ONU.

Se considerarmos que a guerra civil, em seus primeiros dez meses de atividade, já elevou o numero de vitimas, (civis e militares) para mais de 25.000, é evidente que os países do “Grupo de Ação pela Síria” vai pedir ao Conselho de Seguranças a imposição de mais “Fly Zone” no interior da Síria, aos redores da capital Damasco e das grandes cidades (Aleppo, Homs etc.), de forma retirar ao governo de Bashar el-Assad o uso de sua força aérea.

É bom lembrar que com a implantação das Fly Zones os aviões ou e helicópteros sírios que violarão as mesmas serão logo interceptados e abatidos pelos foguetes ou os jatos da Turquia.  Enfim foi o que aconteceu no Iraque e depois na Líbia.

Aliás não é casual que no dia 8 de agosto o ministro das Relações Exteriores da França, Lorenz Fabious, anunciava que o governo francês estava pronto para pedir ao Conselho de Segurança da ONU a implantação de duas Fly Zone no norte da Síria. Como justamente admite o historiador sírio Zubaida “…Estadunidenses, franceses e britânicos, mas também a Arábia Saudita e os países do Golfe fizeram uma previsão estratégica, segundo a qual o fim de Assad poderá determinar o enfraquecimento do Irã e de seu aliado ideológico libanês o Hezbollah. Por isso não há espaço para soluções diplomáticas na Síria. Há muitos interesses regionais em jogo, de forma que não haverá soluções pacificas para a crise. Por outro lado Bashar el-Assad nunca deixará de ser presidente por sua espontânea vontade....”

Em poucas palavras: na Síria começou a nova temporada dos massacres!

Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente do Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.