A Cúpula de Teerã, do Movimento dos Não Alinhados
Resistir – Portugal 29/08/2012
A cúpula do Movimento dos Não Alinhados (MNA) será efectuada em Teerã de 26 a 31 de Agosto. O MNA e sua cimeira são sobretudo ignorados no mundo atlantista dos Estados Unidos e da NATO, mas a reunião deste ano chamou a atenção dos mesmos e da sua imprensa. A razão é que o local da cimeira do MNA inquietou a elite política em Washington, DC.
O governo dos EUA ficou com as suas penas eriçadas e até perdeu a compostura para ralhar aos líderes do MNA por se reunirem no Irã. A porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland – a esposa do co-fundador neocon do Project for the New American Century (PNAC), o arqui-imperialista Robert Kagan – pediu ao novo presidente do Egipto, Mohamed Morsi, e mesmo ao secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, o próprio comissário de bordo de Washington nas Nações Unidas, para não viajarem a Teerã. Nuland e o Departamento de Estado declararam amargamente que o Irã não está a merecer tais “presenças de alto nível”. Os EUA, contudo, são forçados a aguentar de cara alegre a reunião de líderes mundiais em Teerã.
O que se verificará é um acto espectacular a nível internacional, sem a OTAN e os seus membros chave de facto – Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul – na Ásia-Pacífico e sem Israel. Responsáveis africanos, asiáticos, caribenhos e latino-americanos estarão ali sem diluição. Os chineses, que têm o estatuto de observadores no MAN, estarão ali. Os russos, que não fazem parte do MAN, foram convidados como hóspedes especiais do Irã e serão representados por Konstantin Shuvalov, embaixador russo itinerante e enviado de Vladimir Putin. Mesmo a Turquia, não membro do MAM, recebeu um convite de Teerã. Para ajudar os palestinos, ao Hamas também será dado um assento especial na mesa de acordo com um convite enviado do Irã ao primeiro-ministro palestino Ismail Haniyeh para participar na cimeira lado a lado com o fantoche estadunidense-israelense Mahmoud Abbas. Juntamente com a Federação Russa, a maior parte dos membros da Comunidade de Estados Independentes (CEI) comparecerá ou como membros plenos ou como observadores. Ao lado dos chineses e russos, os outros três membros do grupo dos BRICs – Brasil, Índia e África do Sul – que está a tornar-se o novo motor que molda o mundo, também estarão presentes.
Um golpe contra o ocidente?
A reunião será sem dúvida um evento importante para o prestígio e o status internacional do Irã. Durante quase uma semana será um centro chave do mundo, ao lado dos escritórios da ONU em Nova York e Genebra. Não só o Irã será o ponto de encontro para um dos maiores encontros de líderes mundiais como também será entregue a presidência da organização à grande potência árabe, o Egipto. O Irã manterá esta posição como o líder do MNA durante os próximos poucos anos e será capaz de falar em nome da organização internacional. Até um certo grau esta posição permitirá a Teerã ter mais influência nos assuntos mundiais. Pelo menos esta é a visão em Teerão onde nada do significado do MNA foi perdido para os políticos e responsáveis iranianos que um após o outro destacam a importância da cimeira do MNA para o seu país.
O MNA é a segunda maior organização internacional do mundo, após as Nações Unidas. Com 120 membros plenos e 17 membros observadores, inclui a maior parte dos países e governos do mundo. Cerca de dois terços dos estados membros da ONU são membros plenos do MNA. A União Africana, a Organização de Solidariedade do Povo Afro-Asiático, a Commonwealth de Nações, o Movimento Independentista Nacionalhostosiano , a Frente de Libertação Socialista Nacional Kanak, a Liga Árabe, a Organização de Cooperação Islâmica, o South Center, as Nações Unidas e o Conselho Mundial da Paz também são observadores.
Os EUA e a OTAN, que muito generosa e enganosamente utilizam a expressão “comunidade internacional” quando se referem a si próprios são realmente uma minoria global que se eclipsa em comparação com o agrupamento internacional formado pelo MNA. Quaisquer acordos ou consensos do MNA representam não só o grosso da comunidade internacional como também a maioria internacional não imperialista ou aqueles países que tradicionalmente têm sido encarados como os “pobres”. Ao contrário da ONU, a “maioria silenciosa” terá a sua voz ouvida com pouca adulteração e perversão dos confederados do NATOstão.
A reunião do MNA em Teerã significa um evento importante. Demonstra que o Irão na verdade não está isolado internacionalmente como as imagens que os Estados Unidos e grandes potências da União Europeia, tais como o Reino Unido e a França, gostam de projectar continuamente. Os media atlantistas estão embaralhados para explicar esta situação e os israelenses estão claramente inquietos.
Não há dúvida de que o Irã utilizará a reunião internacional em seu benefício e aproveitará o MNA para reforçar o apoio às suas posições internacionais e para ajudar a tentar finalizar a crise na Síria. O assédio à Síria apoiado pelos EUA será denunciado na conferência do MNA e bofetadas diplomáticas serão dadas nos EUA e seus clientes e satélites. Já a apressada conferência ministerial acerca dos combates na Síria organizada em Teerão pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano antes da cimeira de emergência efectuada pela Organização de Cooperação Islâmica em Meca foi um prelúdio para o apoio diplomático que o Irão dará à República Árabe Síria na cimeira de 2012 do MNA.
Apesar da oposição argelina e iraniana, a Síria foi expulsa da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) a pedido da Arábia Saudita e das petro-monarquias. Se bem que a cimeira de emergência da OCI em Meca pode ter sido uma bofetada política e diplomática para Damasco, espera-se que a situação seja muito diferente na cimeira do MNA em Teerão. Os sírios também estarão presentes em Teerã e aptos a enfrentar seus antagonistas árabes da petro-monarquias do Golfo Pérsico. (…)