A narrativa ocidental sobre a Síria está em desintegração

P: Tem escrito muito sobre a intranquilidade na Síria. Os oponentes do governo do presidente Assad afirmam que este recorreu à violência e matou muitos manifestantes e civis, ao passo que Damasco afirma que certos países ocidentais estão a abastecer os insurgentes com armas e dinheiro. É favor comentar acerca disto.

R: A violência começou desde o próprio princípio das chamadas manifestações. Havia sem dúvida manifestantes bem intencionados nas ruas. Infelizmente, muitas das organizações que os reuniram tinham intenções sinistras.

Actos de vandalismo, fogo posto e assaltos estavam a ser relatados pelas próprias agências de notícias ocidentais desde Março de 2011. Isto, necessariamente, traria forças de segurança armadas às ruas em qualquer país do mundo – como foi o caso em Los Angeles durante os tumultos de 1992. Em Los Angeles, os manifestantes estavam mais ligeiramente armados e a presença esmagadora de milhares de soldados da Guarda Nacional e de Fuzileiros Navais suprimiu a violência em poucos dias. Mas as forças do governo mataram várias pessoas e, no total, 53 morreram devido à violência.

A diferença na Síria é que o tumulto foi concebido para ser constante e cada vez mais violento. Para iniciar este ciclo de violência crescente, grupos externos começaram a alvejar manifestantes inocentes bem como forças de segurança encarregadas de fiscalizar os manifestantes. Estes “pistoleiros misteriosos”, a dispararem habitualmente de telhados, foram relatados não só por responsáveis do governo sírio como também pelos manifestantes e espectadores. O objectivo era radicalizar os manifestantes e justificar o aumento da violência e o seu apoio subsequente pelos patrocinadores ocidentais.

Nós vimos acontecer o mesmo em Banguecoque, Tailândia, em 2010 quando estes “pistoleiros misteriosos” alvejaram tanto manifestantes como forças de segurança a partir de telhados numa tentativa de agravar a violência e aumentar as apostas. Em Banguecoque, tal como na Síria, seguiram-se fogos cruzados mortais, dando a grupos da oposição e seus patrocinadores estrangeiros a propaganda de que precisavam para demonizar o governo, tentando ao mesmo tempo justificar uma oposição cada vez mais militante.

Agora, sem dúvida, esta violência escalou ao ponto de operações de combate estarem a ser executadas por grupos militantes organizados apoiados pelo estrangeiro. Os EUA, Qatar, Arábia Saudita e Turquia fizeram, todos,  admissões sem rodeios de apoio com financiamento, logística e armamento destes militantes. O que é evidente é que o Ocidente e os estados do Golfo Pérsico também entraram ilegalmente na Síria com “jornalistas” a servirem como propagandistas no terreno. O que não é  admitido, nem abertamente evidente, mas mais do que certo, é que forças de operações especiais da OTAN e do Golfo Pérsico estão sobre o terreno dentro da Síria juntamente com agentes das suas respectivas agências de inteligência.

Este ambiente táctico era exatamente o que o ocidente procurava e era o objectivo da violência encoberta no princípio de 2011, bem como o aumento gradual do volume de armas e combatentes enviados para o cenário da crise.

P: Alguns comentadores políticos dizem que o ataque sobre a Síria será um prelúdio para um ataque militar total contra o Irã. Como vê isso?

R: Comentadores estão a dizer isso precisamente porque está escrito, há quase 10 anos atrás, em documentos sobre a política dos EUA. Citando alguns exemplos: há o artigo de Seymour Hersh em 2007 no New Yorker intitulado “The Redirection”. A conclusão de Hersh de que os EUA estavam a tentar minar a Síria a fim de, em seguida, minar e executar uma mudança de regime no Irã, não foi inventada por ele próprio, era claramente uma política  que membros da administração Bush lhe haviam confiado; uma política que aquela altura,  estava em movimento.

Em 2009, no relatório “Which Path do Persia?” da Brookings Institution, a Síria é mais uma vez mencionada como um fator necessário que deve ser neutralizado antes de passar ao Irã. O documento pormenoriza a utilização de organizações violentas, listadas como terroristas, para minar o Irã, nomeadamente a MKO, meios de provocar uma guerra com o Irã, que este país não quer nem o beneficiará, e de mitigar a percepção da cumplicidade dos EUA se Israel atacasse o Irã. Se bem que todas estas estratégicas, no relatório de 2009, sejam dirigidas contra o Irã, vemos muitas delas agora a serem usadas contra a Síria.

Tendo isto em mente, podemos esperar ver os mecanismos em atuação que minam, dividem e destroem a Síria, em seguida atuarem contra o Líbano e o Irã, se e quando for alcançada massa crítica para derrubar o governo da Síria. Além disso, um interessante tema recorrente no relatório “Which Path do Persia?” do relatório Brookings é como os EUA podem atrair o Irã para um conflito armado. A destruição da Síria parece ser um meio potencial para conseguir isto, embora o Irã tenha sido muito cuidadoso e exímio no evitar desta armadilha.

Ao ocidente falta o capital político interno e externo para lançar um ataque ao Irã. Um ataque unificaria o povo iraniano ainda mais, teria pouca possibilidade de destruir o programa nuclear civil do Irã ou travar as forças armadas do Irã e deixar aberta a possibilidade de que o Irã não conseguirá sequer retaliar – isto para enfatizar a depravação moral de um não provocado ato ocidental de agressão militar. Sem que o ocidente se comprometa com a guerra total, algo que eles não podem justificar, nem politicamente permitir-se, o Irã continuará a existir como uma força de equilíbrio no Médio Oriente.

O ocidente está sem dúvida a procurar minar o Irã politicamente, socialmente, moralmente, economicamente, bem como destruí-lo militarmente. Fazer isto, contudo, está a tornar-se cada vez mais complicado. Mesmo a perspectiva de justificar uma “invasão” utilizando um evento catastrófico forjado (false-flag) está a desvanecer na medida em que a consciência pública global dessa trama se amplia. A bomba no autocarro na Bulgária, cuja culpa foi imediatamente atribuída ao Irã e ao Hezbollah do Líbano – mesmo ainda de as chamas estarem extintas – foi recebida globalmente com dúvidas e indignação com a pressa dos EUA e de Israel em acusações dúbias e politicamente motivadas.

Como o conflito na Síria se arrasta, os atores regionais da hegemonia ocidental, nomeadamente o (P)GCC  e a Turquia, podem querer começar a afastar-se desta estratégia  perdedora e a preparar-se para coexistirem com o Irã. Quando isso começar a acontecer, a perspectiva de um ataque com êxito ou de uma invasão do Irã tornar-se-á ainda mais improvável.

P: Notou que o recente relatório das Nações Unidas sobre a Síria, publicado quando Kofi Annan era o enviado da ONU-Liga Árabe à Síria, foi produzido por um certo número de pessoas que têm atitudes neoconservadoras e estavam aliadas às monarquias reacionárias do Golfo Pérsico? Quem selecionou estas pessoas para elaborarem relatórios sobre a Síria?

R: Representantes de interesses corporativo-financeiros ocidentais permeiam toda as Nações Unidas. O próprio Kofi Annan é administrador (trustee) do International Crisis Group financiado pela Fortune 500 e membro do JP Morgan International Council juntamente com muitos dos próprios maquinadores da atual perturbação da Síria. Além disso, um relatório de 2011 do Conselho de Direitos Humanos da ONU e o recente (Agosto/2012) relatório do “painel de peritos” respeitante à Síria foi compilado por uma comissão encabeçada por Karen Koning Abu Zayd, director do Middle East Policy Council com sede em Washington. Na verdade, a Exxon, o Saudi Bin Laden Group, antigos embaixadores junto a membros do (P)GCC, a CIA, os militares estado-unidenses e conluiados que representam os interesses colectivos da Al Jazeera, Boeing, Chevron e muitos mais têm todos representação no Conselho de Diretores junto à Sra. Abu Zayd.

Estas pessoas são “selecionadas” pelos membros da ONU que dominam os seus vários conselhos – e naturalmente a coleção de interesses corporativo-financeiros que domina cada membro respectivo. As maiores corporações sobre a Terra, emanadas da Wall Street e de Londres acumulam iniciativas com as suas próprias pessoas, minando consequentemente a credibilidade e a autoridade da ONU.

Claramente, não só existe um imenso conflito de interesses com as nomeações de Kofi Annan ou Kraen Koning Abu Zayd como enormes incongruências delas decorrem. Quanto ao mais recente relatório da ONU sobre “crimes de guerra” executados pelo governo sírio, somos mais uma vez remetidos a “entrevistas”, muitas das quais não foram sequer efetuadas dentro da Síria, mas em Genebra, Suíça. E quem eram os entrevistados? Opositores do governo, alegados desertores e assim por diante.

Não é que entrevistas como estas não tenham qualquer valor. Contudo, só entrevistas não fazem um processo. Elas constituem um ponto de partida para uma investigação real, uma investigação que a comissão de Abu Zayed deixou de efetuar. E porque ela fracassou em efetuar uma investigação adequada, o resultado das suas “entrevistas” é um relatório apto apenas como valor de propaganda, propaganda imediatamente capitalizada pelo ocidente para vários novos ciclos e que continuará a ser citada para efeitos dramáticos até o espetáculo seguinte da Sra. Abu Zayd.

P: Qual é o seu ponto de vista quanto ao papel do Irã na resolução da crise síria? Você louvou a iniciativa do Irã em hospedar 30 países numa reunião consultiva sobre a Síria. Será o Irã capaz de neutralizar os esforços feitos pelos Estados Unidos e seus aliados para isolar a Síria?

R: Como o conflito se arrasta e aumenta o custo para o ocidente, seus atores devem pagar pelo que parece ser uma estratégia perdedora, beneficiará estes atores considerarem o afastamento da hegemonia ocidental e considerar uma coexistência multipolar uns com os outros e com o Irã.

O Irã, ao proporcionar um fórum para cerca de 30 países que representam a metade da população mundial, mostra que – ao contrário da propaganda ocidental – não está interessado em exercer sua influência unilateralmente. Ao reconhecer a necessidade da reforma na Síria, mas reconhecendo que a atual violência é uma manifestação de terrorismo estrangeiro, não de rebelião, a Conferência Consultiva Internacional sobre a Síria, com 30 países, procura proporcionar um fórum resguardado para as partes genuínas na Síria resolverem o conflito.

Em teoria, esta era a intenção da ONU e de Kofi Annan. Mas as ações de Annan bem como suas conexões tentaram minar estes esforços desde o princípio e a ONU demonstrou estar inteiramente comprometida. O Irã, ao organizar esta reunião, está a tentar criar uma verdadeira alternativa multipolar à ONU em relação à Síria. O Irã, Rússia e outros, com verdadeira perspicácia geopolítica, procuram medidas não invasivas para resolver a situação síria fora da ONU, ao passo que os EUA e seus apaniguados tentam justificar atos de agressão militar ultrapassando qualquer simulacro de direito internacional.

Quanto aos esforços do ocidente para isolar a Síria, está a funcionar. O Movimento dos Não Alinhados (MAN) tenciona promover a minagem dos esforços para isolar a Síria no tribunal da opinião pública e dar opções alternativas aos atores atualmente envolvidos no assalto desencadeado pelo ocidente.

Naturalmente, isto é um bom primeiro passo, mas para acabar finalmente a subversão estrangeira da Síria, as armas, o dinheiro e os combatentes estrangeiros que entram no país têm de ser travados. Esperançosamente, os esforços do Irã em romper o isolamento da Síria podem levar à crescente condenação internacional do financiamento de terroristas estrangeiros feito pelo ocidente, um primeiro passo necessário na implementação de novas medidas para bloquear politicamente e fisicamente a intrusão estrangeira.

P: A cúpula do Movimento Não Alinhado acaba de ser concluída em Teerão e responsáveis de alto nível de 120 estados membros, bem como o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, compareceram ao evento. Qual o seu ponto de vista quanto aos esforços feitos por Israel e EUA para minar a cúpula e dissuadir os líderes mundiais e Ban Ki-moon de comparecerem?

R: É claro que toda a narrativa ocidental a respeito da Síria está a desintegrar-se. A utilização de Israel para tentar “embaraçar” o chefe da ONU Ban Ki-moon de comparecer à conferência MAN 2012 cheira a desespero. A ideia é minar tanto o MAN como os seus membros principais, mais especificamente Irã, Rússia e China, que se opõem firmemente aos esforços para dividir e destruir a Síria. Também isto, parece ser uma estratégia perdedora para o ocidente.

Por exemplo: a última votação na Assembleia-Geral da ONU sobre a Síria ocorreu com alguns resultados significativos. Um número crescente de países começam a abster-se ou ignorar votos sobre resoluções propostas pelo ocidente e lavadas através do (P)GCC. Isto incluiu a Índia que pode agora estar a perceber que os EUA tem apenas interesses, não amigos, e a desestabilização que a Síria hoje sofre pode facilmente ocorrer sobre qualquer das fronteiras indianas bem como profundamente dentro dela. A prosperidade econômica sustentável e o progresso, para não mencionar a auto-preservação viável, decorrem só da estabilidade interna e externa. A estabilidade não exclui reforma, mas exige que ela seja feita com sensibilidade, pacificamente e gradualmente.

Acredito que muitos países estejam a começar a perceber que ao promover subversão violenta do exterior estão a dar possibilidade para a sua utilização contra si em casa, e estão agora assustados a afastar-se da promoção desta metodologia do ocidente. Penso que estados do Golfo Pérsico, em particular, estão realmente a começar a entender isto nos últimos meses.

P: Num dos seus artigos destacava alguns fatos auto-censurados e verdades que  a imprensa ocidental “de referência” oculta acerca da Arábia Saudita, incluindo o fato de às mulheres não ser permitido dirigir, que a mais famosa organização terrorista do mundo, Al-Qaeda, é uma aliada furtiva do governo saudita, que os prisioneiros políticos são  brutalmente torturados, etc. Contudo, os Estados Unidos, que pregam constantemente direitos humanos e valores da democracia ocidental a outros países, nunca protestaram contra estas flagrantes violações de direitos humanos naquela nação árabe. Por que?

R: Interesses corporativo-financeiros nos EUA gastam uma exorbitante quantia de dinheiro e tempo investindo em ONGs que promovem “direitos humanos”. Isto não é porque acreditem em direitos humanos, mas porque é um ponto de alavancagem política conveniente quando tentam mobilizar opinião pública contra seus adversários geopolíticos.

Amnistia Internacional, o Human Rights Watch, a Freedom House, a National Endowment for Democracy e muitas mais são todas financiadas e encabeçadas por alguns dos mais notórios advogados a favor da guerra e de atrocidades e, ao contrário do que seria de esperar, muitas destas personalidade são neoconservadores de carteirinha.

Consequentemente, este ponto de alavancagem política é utilizado só quando interesses geopolíticos estão em causa, ao passo que se forma um “buraco negro na imprensa” em torno de violadores de direitos humanos notórios como a Arábia Saudita que atualmente serve e está entrelaçada a interesses estado-unidenses. Outro bom exemplo disto é como os EUA estão a alavancar “direitos humanos” contra a Síria enquanto o deposto primeiro-ministro tailandês Thaksin Shinawatra, apoiado pelos EUA, está atualmente em excursão naquele país. As pessoas podem recordar a sua notória “Guerra às drogas” de 2003 que assistiu a mais de 2800 pessoas mortas extra-judicialmente num período de 90 dias.

Contudo, isto não significa que extensos catálogos de atrocidades estejam sendo reunidos contra os estados do Golfo Pérsico. Ao contrário, assim como foi o caso com Saddam Hussein que cometeu as suas mais chocantes atrocidades com o apoio dos EUA e de um arsenal disponibilizado por comerciantes de armas dos EUA, os Estados do Golfo Pérsico serão retroativamente condenados quando, não se, chegar o seu tempo.

A chantagem dos “direitos humanos” mantida pelo Departamento de Estado dos EUA é não só uma forma de extorsão política como também mina a advocacia real de direitos humanos, levando muitas pessoas bem intencionadas em direção a um falso sentido de segurança, acreditando falsamente que “alguém” está a observar.

A erradicação de africanos da Líbia, particularmente o esvaziamento de toda a cidade de Tawarga, exemplifica isto melhor do que qualquer outro exemplo recente. Aqui, o Refugees Internacional financiado pela Fortune 500, registou as atrocidades verificadas em Tawarga e, ao invés de utilizar a sua imensa influência para fazer manchetes noticiosas disto, simplesmente publicou um vídeo no You Tube que só foi vista umas poucas centenas de vezes. Por que? Porque os militantes que cometeram as atrocidades agora fazem parte do governo de Trípoli apoiado pela OTAN. O mesmo se pode dizer do apoio estado-unidense ao terrorismo patrocinado pelo Estado. Estas são ferramentas claramente à sua disposição e objecções morais quanto a tais táticas são apenas para consumo público.

P: Em outro artigo afirmou que a BBC havia acabado de receber uma considerável quantia de dinheiro do Congresso dos EUA para lançar ataques mediáticos a países independentes e não alinhados tais como o Irã e Cuba. Qual é o seu ponto de vista quanto à cobertura pela BBC e outros medias de referência quanto aos assuntos do Irã? Não será a sua atitude em relação ao Irã uma espécie de campanha de desinformação e propaganda?

R: A BBC, bem como milhares de outras agências de notícias e ONGs pseudo noticiosas, são todas subscritoras e representantes dos interesses corporativo-financeiros do ocidente. Interesses poderosos a comprarem os media para controlar a percepção pública é um tema recorrente através da história da imprensa e agora da rádio e TV.

Estes interesses corporativo-financeiros, muitas companhias habituais na Fortune 500, financiam os think-tanks que produzem temas da política nacional e diários para os noticiários. Estes são disseminados entre os políticos para aprovação e para as mesas das grandes redes corporativas de notícias a fim de serem apresentadas ao público. O que é pior é que muitas destas novas organizações participam da representação entre os próprios think-tanks que produzem a política e os seus correspondentes pontos de conversação. Literalmente,  há tremendos conflitos de interesse em jogo.

Assim, é claro que se interesses corporativo-financeiros procuram minar e eliminar aqueles que se opõem à sua hegemonia geopolítica-econômica global, utilizarão as empresas de media que possuem para difundirem a sua propaganda. A BBC é culpada de muitos incidentes graves de fraude absoluta e deturpação, mas é a sua dissimulação diária e muito persistente que gradualmente envenena a percepção de audiências ocidentais contra países como a Síria e o Irã.

O Irão, não importa o que faça na realidade, será retratado pelo ocidente como uma ameaça beligerante e irracional para a humanidade. A consciência crescente do público e o êxito da imprensa alternativa  desafiando o monopólio da mídia  corroí a efetividade desta propaganda. Além disso, os próprios esforços do Irã, muito persistentes, para contrariar esta propaganda, não só através da utilização esmerada das suas próprias organizações de mídia como também através das suas próprias ações internas e externas, também tem ajudado a restringir a gestão de percepção do ocidente.

O maior impulso para a guerra é a ignorância pública. Organizações como a BBC trabalham incessantemente para manter e agravar essa ignorância. No entanto, como a ignorância se desvanece na era da informação, assim ocorre também com as perspectivas dos belicistas habituais.

P: O que pensa do assassinato de cientistas nucleares do Irã? As famílias das vítimas acabam de abrir um processo contra a Mossad de Israel, o MI6 do Reino Unido e a CIA dos EUA pelo seu possível papel nessas mortes. Qual é o seu ponto de vista?

R: Os EUA e Israel admitiram tacitamente que estavam por trás desses assassinatos. Eles admitiram abertamente que estão a treinar, financiar, armar e posicionar regularmente os Mujahedeen e-Khalq (MKO). Políticos dos EUA fazem lobby abertamente a favor do MKO em colunas de página inteira compradas em grandes jornais estado-unidenses. Seria do interesse de muitos americanos saber que muitos destes lobbystas incluem apoiantes adeptos da chamada “Guerra ao terror”, incluindo Rudy Giuliani, Ed Rendell, Tom Ridge e mesmo o antigo comandante USMC James Jones. Os americanos deveriam notar que o seu próprio Departamento de Estado lista o MKO como uma organização terrorista estrangeira.

Também seria do interesse dos americanos saber exactamente porque o MKO é listado como uma organização terrorista. Ele executou uma série de ataques terroristas não só no Irã contra iranianos, mas também houve a tentativa de sequestrar o embaixador dos EUA Douglas MacArthur II, a tentativa de assassinar o brigadeiro da USAF general Harold Pirce, o assassínio com êxito do tenente-coronel Louis Lee Hawkins, os duplos assassínio do coronel Paul Shaffer e tenente-coronel Jack Turner e a emboscada com êxito e matança dos empregados da American Rockwell International William Cottrell, Donald Smith e Robert Krongard.

A Brookings Institution no relatório de 2009, “Whick Path to Persia?” admite, “inegavelmente, o grupo efetuou ataques terroristas” incluindo ataque a alvos civis. Hoje, o MKO é considerado mesmo pelos seus próprios apoiantes em Washington, uma “seita” com “tendências totalitárias”.

E tal como os duplos padrões do ocidente quanto a direitos humanos, a sua política sobre o terrorismo patrocinado pelo estado é determinada pela conveniência e o oportunismo. Por outras palavras, os EUA estão a utilizar terroristas contra os seus inimigos enquanto acusam os seus inimigos, em muitos casos, de apoiaram os próprios militantes que armaram e financiaram.

E, na verdade, se o Irã assassinasse cidadãos dos EUA sobre solo dos EUA, estalaria a guerra imediata. De fato, eventos forjados que correm acerca deste tema, mais notavelmente a alegada “trama assassina” contra um diplomata saudita alegadamente dirigido pelo Irã que se verificou ser mais outro bode expiatório conduzido por agentes federais dos EUA, foram tentados, mas fracassaram.

O MKO continuará suas atividades terroristas com ou sem uma indicação na lista de Organizações Terroristas Estrangeiras do Departamento de Estado dos EUA. Foi informado em Março de 2012, que o MKO foi levado pelo Departamento de Estado,  a controlar uma antiga base militar dos EUA no Iraque,  para operar a partir dali e isto estando o MKO, atualmente, na lista do terror do Departamento de Estado dos EUA.

Parece que as leis nos EUA e por toda a Europa são vestígios de uma era em que o Estado de Direito, ou pelo menos uma aparência disso, prevaleciam. Esses dias acabaram. Se o abandono do ocidente de suas  próprias regra da lei criou o atual enfraquecimento  da sua legitimidade global, ou se o declínio de sua legitimidade permitiu descartar as suas próprias leis é tema para debate. O que é certo é que a atual política externa e agenda do ocidente é insana em relação à aprovação da sua população e a qualquer senso de legitimidade.

18/Setembro/2012

Do mesmo autor:

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    [*] Americano, analista político residente em Banguecoque, Tailândia. Escreve para Global Research e Activist Post, é co-autor do livro Subverting Syria e editor do bloglanddestroyer.blogspot.com.au/

    [**] Jornalista do Tehran Times.

    O original encontra-se em www.tehrantimes.com/…

    Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .