Grande participação na greve de 26 de Setembro – resposta significativa às bárbaras medidas anti-laborais
Realizou-se na Grécia, quarta-feira, 26 de Setembro, uma importante greve maciça. Milhares de trabalhadores venceram as intimidações e as ameaças do patronato, as dificuldades que as medidas bárbaras têm criado à vida dos trabalhadores e às famílias da população, e também as suas ilusões, e entraram em greve. Dezenas de milhares de trabalhadores participaram nas manifestações da PAME que se realizaram em 70 cidades por todo o país.
Em Atenas e em Salónica as manifestações da PAME foram impressionantes devido a uma militância digna de registo e à enorme participação da população, uma coisa que nem os piores inimigos da PAME podem negar. O desfile demorou muitas horas a passar pela Praça Sintagma. Dezenas de milhares de trabalhadores, desempregados, pensionistas, imigrantes, trabalhadores por conta própria e pequenos comerciantes participaram nas manifestações da greve da PAME por todo o país. O elevado nível da participação da juventude também foi sintomático.
A impressionante manifestação da PAME em Atenas foi resultado do trabalho dos sindicatos, das comissões de luta em diversos locais de trabalho, das comissões populares que previamente organizaram assembleias, encontros e debates sectoriais, em diversas fábricas, nos locais de trabalho e nos bairros. Isto é um facto que demonstra o fortalecimento da actual orientação de classe no movimento laboral; aponta para o caminho que devemos seguir.
“Podemos viver sem memorandos e sem a UE”
Antes da manifestação, os piquetes da PAME venceram a intimidação em muitos locais de trabalho, em guetos dos locais de trabalho e contribuíram decisivamente para a greve. Os slogans mais ouvidos foram: “Não a mais sacrifícios a favor da plutocracia – podemos viver sem memorandos e sem a UE”. Esta greve é uma resposta significativa dado que, neste período, a coligação governamental ND/PASOK/Esquerda Democrática juntamente com a Troika, está a finalizar um novo massacre da população em nome dos anteriores cortes alegadamente salvadores.
Em simultâneo, a UE e o FMI discutem quem virá a se beneficiar dos possíveis novos cortes enquanto observam unanimemente a violência sobre a população. Com o novo pacote de medidas, que se destina a garantir a recuperação capitalista e a sua rentabilidade no futuro, os capitalistas e a UE estão a exigir a total abolição dos acordos colectivos negociados. Exigem que salários e ordenados sejam decididos unilateralmente pelo patronato e pelo governo. A abolição do salário mínimo afecta os trabalhadores tanto do sector privado como do público e conduz a uma redução geral de salários e pensões.
O aumento de 33% no número de senhas (stamps) da segurança social que são necessárias para a reforma significa que a idade da reforma não será aos 67 anos, como oficialmente se proclama, mas muito mais alta, i.e., aos 72 anos, de modo a obedecer à expectativa média de vida, conforme está previsto no Tratado de Maastricht. Os que possuem uma casa ou uma loja pagarão impostos sem piedade. Mais ainda, promovem-se cortes dramáticos nos benefícios e nas despesas com os cuidados de saúde, encerrando ou fundindo hospitais. Impõem-se novos e pesados impostos para além dos antigos, corta-se a electricidade a quem não pode pagar as contas, impõem-se multas, cortam-se salários, pensões, subsídios e aumentam-se os preços de todas as coisas.
“Nunca dissemos que íamos virar as coisas ao contrário com uma simples greve. As lutas eficazes exigem acima de tudo o conflito com o patronato capitalista nos sectores básicos. É disso que eles têm medo”, disse, entre outras coisas, Giorgos Perros, membro do secretariado executivo da PAME no seu discurso na manifestação da greve da PAME.
“Lutas eficazes significam o conflito e a ruptura com a UE. Eles não querem isso porque não serve aos interesses dos monopólios. Quando esses cavalheiros afirmam que os memorandos são uma política ineficaz estão a ser hipócritas e a mentir. Lutas eficazes significam condenar a perspectiva racista-nazi da “Aurora Dourada” [NT] .
Os sindicalistas “independentes”
Para além dos bem conhecidos burocratas sindicais temos agora uma nova geração de burocratas que provêm do mesmo terreno fértil do compromisso e do recuo perante os grandes interesses, mas que usam uma nova máscara e têm outros hábitos. Estamos a falar dos sindicalistas da “intervenção independente” que pertence à SYRIZA. Agora que se aperceberam tardiamente da falência da maioria da GSEE e da ADEDY, é que erguem a bandeira da luta. Luta sem qualquer custo. Luta sem sacrifícios. Acham que as greves são apenas mais um dia de salário perdido e clamam que devemos procurar novas formas de luta fora das fábricas, dos serviços, dos locais de trabalho.
Uma grande delegação do CC do KKE, encabeçada por Aleka Papariga, secretária-geral do CC do KKE, participou na manifestação da PAME. A secretária-geral do CC fez a seguinte declaração:
“O que é preciso é um novo começo no agrupamento de forças, de elevadas formas de luta e de reivindicações radicais para que as lutas sejam eficazes. O povo tem que acreditar que uma Grécia, desligada da UE, uma Grécia em que seja o povo a mandar, pode garantir a prosperidade social e evitar o pior. Se as pessoas não acreditarem nisso, então os partidos do poder ficarão em vantagem, assim como os plutocratas e os diversos gestores do sistema que troçam deles sem qualquer vergonha”.
Os limitados incidentes, que os meios de comunicação, em especial os internacionais, exageraram, destinaram-se a esconder a dimensão e as reivindicações das mobilizações para a greve. O KKE fez o seguinte comentário:
“A enorme mobilização da polícia para lidar com meia dúzia de encapuçados, as detenções até de estudantes secundaristas muito longe do centro de Atenas, logo a partir da manhã, a perseguição e o jogo de “bater e correr” até à praça Omonia, mostram bem o desejo do governo e os diversos mecanismos para intimidar a população. Provam também que prepararam um plano para a repressão do movimento do povo, apesar de ele não ter sido totalmente implementado hoje na greve geral e nas gigantescas manifestações da PAME em toda a Grécia”.
Logo após a greve começaram a ser preparados os próximos passos, numa disposição militante para novas mobilizações em todos os sectores e locais de trabalho a fim de impedir as medidas que levam à miséria da população. O povo tem que destemidamente reforçar ainda mais as suas lutas; não podem aceitar a escravatura contemporânea.
[NT] Aurora Dourada: organização política grega de extrema-direita liderada por Nikoláos Michaloliákos
Siglas:
ADEDY – Confederação dos Funcionários Públicos
GSEE – Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos
KKE – Partido Comunista Grego
ND – Nova Democracia
PAME – Frente Militante de Todos os Trabalhadores
PASOK – Movimento Socialista Pan-Helénico
SYRIZA – Coligação da Esquerda Radical
UE – União Europeia
A versão em inglês encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-09-27-apergia/
Tradução de Margarida Ferreira.
Esta notícia encontra-se em http://resistir.info/ .