Maurício e João, dois comunistas
Nesta terça-feira, 2 de outubro, comemorou-se o centenário de nascimento de Maurício Grabois, completando um ciclo de lembranças iniciado com o também centenário de nascimento de João Amazonas (1º de janeiro de 1912) e os 90 anos de fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) (25 de março) no corrente ano.
O PCB se orgulha de ter contado com a presença desses dois militantes comunistas entre nossos quadros até 1962. A trajetória de ambos como dirigentes do PCB, em destacadas tarefas organizativas, coincide inclusive com momento de grande penetração do Partido no seio da sociedade brasileira, num recorte histórico delimitado pela Conferência da Mantiqueira e a eleição da bancada comunista para a Assembléia Constituinte – para a qual tanto Mauricio quanto João foram eleitos deputados.
Saudamos a memória de Grabois, assim como a de Amazonas, mesmo que os dois não estivessem em nossas fileiras nos seus momentos finais. Afinal de contas, o primeiro morreu como verdadeiro e inequívoco combatente do povo brasileiro, tombando diante das forças repressivas da ditadura empresarial-militar. O segundo, falecido em 2002, lutou até seu último dia contra a política neoliberal do governo FHC. Portanto, não passou pela decepção de ver o PT e seus aliados governarem o Brasil com os mesmos fundamentos de política econômica e fiscal, reformas regressivas, privatizações. o Brasil sob a mesma orientação política.
Os personagens e a cisão de 1962
Como dirigentes com destacadas tarefas no PCB, Mauricio e João foram co-responsáveis por nossos maiores acertos – as campanhas O Petróleo é Nosso, Contra a Carestia, Contra a Proliferação de Armas Atômicas, contra o envio de tropas brasileiras à península coreana, dentre outras – quanto por nossos equívocos – como no sectarismo da linha política do PCB expressa nos dois “manifestos de agosto” (1950 e 1953) – até sua saída, em 1962.
A saída dos dois, portanto, não poderia – como não foi – por questões menores. O Partido Comunista Brasileiro (PCB), assim como o próprio movimento comunista internacional, sofreu diversas cisões durante seus 90 anos. Muitas marcadas por divergências táticas, e algumas até por estratégicas.
Na esteira dos debates iniciados após a divulgação do relatório Krushev, em 18 de fevereiro de 1962, Grabois, Amazonas e um conjunto de ex-militantes do PCB funda um novo partido, o PCdoB, que procurava manter como eixo programático o stalinismo (se colocando na oposição às críticas feitas por Nikita Kruschev durante o XX Congresso do PCUS), alinhando-se ao maoísmo,e depois com a vertente albanesa de construção do socialismo.
Era um momento onde as cisões e organizações se pautavam em debates densos, divergências sérias e projetos políticos revolucionários, os dois optaram por construir no Brasil outro partido para comunistas – mesmo que equivocados, sinceros comunistas.
Na nossa avaliação, o grande equívoco dos camaradas que abandonaram o PCB em 1962 foi transpor mecanicamente a realidade chinesa para a brasileira. Apesar de todo o heroísmo e abnegação, foi um caro erro considerar que, já nos anos 60, a revolução viria do campo para a cidade, num país em que o capitalismo já apresentava claras evidências de desenvolvimento e em que a classe operária já era o sujeito revolucionário principal.
Não renegaram o marxismo, não perderam de vista a construção do socialismo. Ao contrário de outros personagens da história do PCB, como Agildo Barata e Roberto Freire, saíram do Partido mas não saíram do lado dos trabalhadores na luta de classes. Por isso merecem nosso respeito.
*Heitor Cesar e Paulo Schueler são membros do Comitê Central do PCB