Entrevista de James Petras à Radio Centenário (Uruguai)

Entrevistador: Nas últimas reuniões que Lula teve com as autoridades norte-americanas, falaram sobre a compra de armamento; dos F18, da Boeing, em suma, armamento de primeira geração dos Estados Unidos. O que você opina dessa atitude que Lula quer jogar permanentemente desde aqui, do continente latino-americano, para o mundo?

Petras: Há duas coisas. Lula e todos os governos brasileiros dos últimos tempos, querem ser sócios, os patrões compartilhando o poder na América Latina. Ou melhor dizendo, o Brasil quer ser reconhecido pela Casa Branca como o principal poder hegemônico e porta-voz para a América Latina, que seja tratado como um império sócio dos Estados Unidos na América Latina, tanto em nível econômico quanto militar. E até agora, e durante muitos anos, os líderes norte-americanos não queriam compartilhar o poder com o Brasil, mas recentemente, por causa da fraqueza do império pela guerra no Afeganistão e Iraque, estão mais dispostos a negociar os diferentes pontos de coincidência com as aspirações hegemônicas do Brasil.

Em segundo lugar, o Brasil tem ambições globais de projetar seu poder, principalmente na África e, recentemente, na Ásia, incluindo o Oriente Médio. Obviamente, não está em condições de se estabelecer como uma potência mundial, mas tem aspirações e partindo disso Lula particularmente quer ser membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, entre as grandes potências, assim como a China, incluindo a Índia e Brasil um novo poder emergente de escala global.

Por estas razões existe uma política exterior complicada no Brasil. Primeiro, por tomar medidas independentes de reconhecer o Irã, como mediador entre a Venezuela e os Estados Unidos, mostram uma certa autonomia para negociar melhor alguns acordos. É como dizer a Washington “nós somos independentes, tomamos medidas com mais autonomia e se você quiser ser uma potência aqui, têm de lidar com gente”. Nesse sentido, estes passos de independência são medidas destinadas a compartilhar o poder, em vez de declarar-se independente. Por esta razão, nós temos o jogo duplo do Brasil. Por um lado a independência, do outro lado concordar com os Estados Unidos sobre bases militares e outras medidas para aumentar a presença norte-americana no continente do sul.

Categoria