O OSCAR COMO UMA ARMA APONTADA CONTRA O IRÃ

Carlos Latuff, o melhor chargista brasileiro, retratou a cerimônia do Oscar com perfeição. Michelle Obama, que anunciou o prêmio de melhor filme para Argo, aponta a estatueta contra Teerã

25 DE FEVEREIRO DE 2013 ÀS 18:51

247 – Definitivamente, Carlos Latuff, do Opera Mundi, é o chargista mais inteligente e mais instigante da mídia brasileira. Um dia depois que Michelle Obama anunciou, da Casa Branca, a vitória de Argo, como melhor filme, ele desenhou a estatueta como uma arma apontada contra Teerã. A vitória do filme de Ben Affleck, que distorce a história e transforma um agente da CIA em herói, ocorre no momento em que os Estados Unidos discutem atacar o Irã.

http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/94597/O-Oscar-como-uma-arma-apontada-contra-o-Ir%C3%A3.htm


ARTE OU PROPAGANDA PARA A GUERRA CONTRA O IRÃ?

Premiado com o Oscar de melhor filme numa cerimônia transmitida diretamente da Casa Branca, o longa Argo, de Ben Affleck, apresenta um agente da CIA como herói, no exato momento em que setores da sociedade americana discutem uma possível ação militar contra o Irã, que avança em seu programa nuclear; do outro lado, Teerã promete filmar sua própria versão sobre a tomada da embaixada americana após a revolução de 1979 e qualifica o filme como islamofóbico; o trabalho de Ben Affleck é arte ou uma peça política?

25 DE FEVEREIRO DE 2013 ÀS 06:26

247 – Em 1953, um agente americano chamando Vernon Walters, que viria a ter papel decisivo no golpe militar de 1964 no Brasil, ajudou a planejar uma das primeiras intervenções internacionais tramadas pela CIA: a derrubada do iraniano Mohammed Mossadegh, que cometeu o “pecado”, para ingleses e norte-americanos, de nacionalizar o setor de petróleo. Em seu lugar, Estados Unidos e Reino Unido impuseram ao Irã um dos regimes políticos mais corruptos que o mundo já conheceu: o do xá Reza Pahlevi. Este é o pano de fundo que levou à Revolução Iraniana, em 1979, e à tomada da embaixada dos Estados Unidos por estudantes, tema do filme Argo que, ontem à noite, levou o Oscar de Melhor filme, numa cerimônia transmitida diretamente da Casa Branca (leia mais aqui sobre os antecedentes da crise em Teerã no Diário do Centro do Mundo).

O que terá levado a academia de Hollywood a, pela primeira vez na história, a associar cinema e política de forma tão explícita? Afinal, quem entregou o prêmio a Ben Affleck, diretor e ator em Argo, em que interpreta um agente da CIA, retratado como herói, foi ninguém menos que a primeira-dama Michelle Obama. Dois dias atrás, na véspera da entrega do Oscar, Teerã anunciou que descobriu novas reservas de urânio – o que torna seu programa nuclear e, portanto, sua bomba atômica, algo quase irreversível (leia mais aqui).

Há, neste momento, nos Estados Unidos, uma pressão intensa para que o governo americano tome alguma posição contra o Irã. Em 2008, na primeira eleição vencida por Barack Obama, seu rival John McCain já anunciava como plataforma de campanha o bombardeio a Teerã. E Obama, que retirou soldados do Iraque e do Afeganistão, poderia estar se preparando para uma ação militar muito mais complexa.

Argo, na visão de muitos críticos, é uma fraude histórica. Não apenas porque exalta o papel da CIA e apresenta iranianos como hordas de fanáticos, mas porque também distorce diversos fatos históricos (leia mais aqui, na análise de Harold van Kursk, no Diário do Centro do Mundo). Por isso mesmo, o governo de Teerã decidiu financiar uma superprodução local para apresentar sua própria narrativa sobre os acontecimentos. No mundo moderno, os Estados Unidos e Hollywood ainda têm imenso poder, mas não o monopólio da verdade.

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