14 de Abril, a última grande batalha de Chávez

Este domingo, dia 14, a Venezuela terá sua terceira eleição popular em menos de 7 meses. Esta eleição presidencial se realiza a menos de 39 dias do falecimento do líder da Revolução Bolivariana, Comandante Hugo Chávez Frías, em meio a um estado emocional de dor e compromisso com sua figura e projeto de transformações econômicas e sociais, que durante os últimos 14 anos mudaram a cara da Venezuela. Um projeto que desde os momentos mais iniciais, com a Assembleia Nacional Constituinte, representou uma virada na história deste país, dando origem a um marco novo e democrático de participação popular, de democracia participativa e protagônica, que foi avançando em profundidade e definição de classe até se declarar uma revolução anti-imperialista e socialista.

Como já é publico e notório em Nuestra América, este projeto sofreu, desde seu nascimento, a pressão das oligarquias internas e externas, pressão que se transformou em ataques diretos conforme o processo ia tomando posições mais radicais e rumando à esquerda. Nisso as transnacionais da comunicação, tanto nacionais como estrangeiras, ocuparam o centro do palco, tomando parte ativa numa guerra psicológica dos meios de “desinformação” massiva.

A direita venezuelana chega a estas eleições vinda de duas derrotas consecutivas, a de 7 de outubro e a de 6 de dezembro. Na primeira, perderam para Chávez por 55 a 44 por cento; na segunda, só conseguiram quatro governos de um total de vinte e quatro. Dividida em dois blocos e por sua vez fragmentada em pequenos partidos e ONGs, a unidade da chamada Mesa da Unidade mantém um equilíbrio precário e meramente instrumental. Em sua linha de frente estão partidos tradicionais que governaram a Venezuela alternadamente durante a IV República, COPEI e AD, de tradição respectivamente social-cristã e social-democrata. Na segunda linha, uma série de partidos novos de uma direita com um discurso menos duro, mas fundamentos mais neoliberais, como o Primeira Justiça e o Novo Tempo. Capriles vem deste segundo grupo, com um discurso que apela à confusão, se definindo como centro-esquerda e admirador de Lula, o que contrasta com seu passado como membro do grupo Família, Pátria e Propriedade, e participante ativo do Golpe de Estado de 2002. Estes grupos contam com os principais meios de comunicação privados de rádio, TV e jornais, somando mais de 60% dos meios de comunicação da Venezuela, além de uma ampla rede internacional de aliados da direita dirigida a partir dos EUA, que não teve nenhum escrúpulo em financiar diretamente estes setores em prol da “democracia”, arma predileta da ultradireita norte-americana para recuperar sua ingerência no grande negócio do petróleo e derivados.

Nicolás Maduro, candidato de Chávez e das forças revolucionárias agrupadas no Grande Polo Patriótico (PSUV, PCV, MEP, REDES, UPV, TUPAMAROS, PPT, PODEMOS e outros coletivos revolucionários e anti-imperialistas), teria, segundo todas as pesquisas, uma vantagem folgada em termos de intenções de voto em relação ao candidato antichavista Capriles, com pelo menos 10 a 20% à frente, cifra que, segundo todos os institutos de pesquisa, pode variar de acordo com a capacidade de cada comando de levar seus partidários a sufragar no próximo domingo. Se prevê que a percentagem de abstenções pode rondar os 30%. Em 7 de outubro ficou em 20%, a mais baixa de toda a história venezuelana, e daí a grande importância de que cada comando assegure a participação de seus votantes. É pertinente recordar que a única eleição que o chavismo perdeu em sua história, a votação do referendo sobre a Emenda Constitucional do ano de 2009, foi vencido exatamente pela abstenção e  não pelo voto majoritário de direita.

Diante deste cenário se poderia argumentar que se está frente a um contexto favorável e sem grandes contratempos para obter uma nova e contundente vitória para o chavismo e as forças progressistas venezuelanas. Entretanto, não podemos esquecer que este triunfo porá a direita nacional e internacional frente a um novo beco sem saída. Durante anos acalentaram a ideia de voltar ao poder com a desaparição física de Chávez, dando por líquido e certo que com a morte do líder se abriria uma brecha na unidade e na tenacidade de seus partidários, sem que percebessem a capacidade e o nível de consciência alcançados pelo povo venezuelano, a transcendência e profundidade da unidade civil e militar e a confiança dos chavistas no projeto revolucionário para além de seu líder. O triunfo iminente de Maduro poria por terra a tese de que “o chavismo não funcionaria sem Chávez”. Levando em conta isto tudo, temos de nos perguntar: quais são, então, as saídas visualizadas pela direita para este período? Porque disto dependem os cenários possíveis que teremos de enfrentar a partir do 14 de abril, tão logo se tornem conhecidos os resultados eleitorais.

Durante a campanha, os sinais dados pelo Comando antichavista não foram alentadores. Sua campanha vem sendo recheada de provocações diretas, como se toda ela tivesse como grande objetivo criar um clima de confrontação incitando os chavistas a atirar a primeira pedra, fato diante do qual Nicolás Maduro foi muito direto e claro em seu discurso, chamando seus partidários a não cair em provocações que levem água ao moinho da estratégia da direita.

Por outro lado, e como tem sido típico nas últimas eleições, os estratos de classe dos grandes empresários jogam sem pudor produzindo escassez de produtos básicos em mais de 20%, aproveitando-se da incapacidade fiscalizadora do Estado de desarticular todos estes planos desestabilizadores. A sabotagem elétrica foi outra cara deste mesmo plano que busca gerar descontentamento entre os cidadãos.

Mais preocupante ainda é a interceptação, por grupos de inteligência internacionais e venezuelanos, da entrada de dois grupos de mercenários centro-americanos, que respondem a militares da reserva do exército salvadorenho (criadores dos esquadrões da morte que executaram, entre milhares de outros, ao Monsenhor Romero), que ingressaram na Venezuela no mês de março com o objetivo de implementar ações de sabotagem, desestabilização e inclusive um possível assassinato do presidente.

Tudo isto se soma à guerra incessante de quarta geração levada a cabo pelos principais meios de comunicação massiva dentre os quais se destaca o grupo PRISA.

É evidente, frente a todos estes fatos, que a oposição, ou pelo menos parte dela, como vem fazendo nos últimos 14 anos, joga em dois campos, mantendo a todo momento, sob a máscara de democratas, um jogo oculto onde sua aposta segue sendo, como em 2002, a derrubada do governo revolucionário de qualquer maneira possível… por bem ou por mal, tendo nisso como aliados os Estados Unidos da América.

A Venezuela não está sozinha, o que foi mais uma vez amplamente demonstrado dia 05 de março quando, em centenas de cidades do mundo, homens e mulheres cheios de solidariedade, amor e compromisso demonstraram seu apoio, reconhecendo em Hugo Chávez o grande líder revolucionário latino-americano que deixou sua marca no continente e no planeta, entregando seu legado de unidade dos povos, de dignidade e esperança, na construção de outro mundo possível e necessário, que rompa com a larga noite neoliberal. A encruzilhada histórica que vive este povo exige que hoje, mais do que nunca, não permitamos que a corja imperialista e oligárquica ponha em risco aquilo que foi construído com a sabedoria heroica de um povo unido e consciente.

Desde a terra de Guaicaipuro, Bolívar, Girardot, Zamora, Sucre, Miranda e Hugo Chávez conclamamos a unidade internacionalista a desmentir as matrizes midiáticas difundindo as informações divulgadas por meios alternativos não comprometidos com as transnacionais da comunicação, à solidariedade internacional mantendo um estado de alerta diante dos acontecimento durante os próximos dias ou meses e, antes de tudo, ao compromisso com esta terra de homens e mulheres livres que iniciaram um caminho sem retorno em direção ao socialismo e à conquista de sua verdadeira independência.

Com Chávez no coração, mil vezes venceremos!

M. Fernanda Cautivo Ahumada, Carlos Casanueva Troncoso

Internacionalistas Chilenos na Venezuela

Caracas, terça-feira, 09 de Abril de 2013

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)