19 de junho: 60 anos do assassinato do casal Rosemberg
Sexta, 21 de Junho de 2013
Vítimas da barbárie e uma demonstração de dignidade que jamais deverá ser esquecida.
Um pouco de história: com as bombas atômicas lançadas sobre o Japão já rendido, reafirmava-se a configuração de um Mundo Unipolar na época sob a hegemonia norte-americana. Surpreendentemente, em 1949 ocorre a Revolução Chinesa; no mesmo ano, a União Soviética detona a sua primeira bomba atômica. Em 1950, ocorre a Guerra da Coréia e, apesar da morte de 2,5 milhões de coreanos, houve entre mortos e desaparecidos 150.000 baixas norte-americanas, cifras inaceitáveis para a população.
O general MacArthur tenta obter a vitória, através do bombardeio atômico da China, que se envolvera diretamente no conflito, e de Moscou, que fornecia armas para a Coreia. Decisão que traz o impasse na cúpula do governo norte-americano, pois o presidente Truman tinha a noção da impossibilidade de ocupar e dominar militarmente regiões tão vastas como a China e a União Soviética juntas.
Diante do impasse, MacArthur teve que ser demitido por Truman por insubordinação. Gerando um paradoxo: a superioridade militar norte-americana não podia ser traduzida numa vitória política e diplomática, sendo obrigada a optar por uma saída pacífica ao conflito coreano. Esse pano de fundo favoreceu a ascensão das forças retrógradas da sociedade norte-americana.
O senador Joseph McCarthy atribui as derrotas diplomáticas ao fato de o governo estar infiltrado de comunistas, que corroíam a administração por dentro. No imaginário desses setores, os comunistas estavam prestes a invadir a Europa e os Estados Unidos, acabando com o chamado “mundo livre”. Na administração pública, em Hollywood, em todos os setores da sociedade forma-se a caçada às bruxas. Até o general George C. Marschall é acusado de colaborar com a União Soviética.
Nesse contexto, o casal Rosemberg é denunciado como espião, responsáveis por entregar à União Soviética o segredo da bomba atômica. O domínio da energia nuclear deixa de refletir os avanços “técnico-científicos” de uma nação, sendo rebaixado ao papel de mera posse de um segredo, de uma receita de bolo. O casal Rosemberg era assumidamente comunista e também judeu. Isso foi suficiente para a turba, intoxicada pelo fundamentalismo religioso e sedenta de sangue. O mito da superioridade da civilização anglo-saxônica estava em jogo. A verdade é o que menos importava: ninguém além deles teria a capacidade de fazer a bomba atômica, se o fizeram é porque a receita, o segredo, foi roubado.
Provas insuficientes, colhidas sob pressão de pessoas que depois se retrataram, não impediram Julius e Ethel de serem condenados à pena de morte na cadeira elétrica, na penitenciária de Sing Sing. O casal jamais admitiu a culpa, embora o juiz tenha proposto comutar a pena se confessassem. Opção que os transformaria em instrumentos e reféns da propaganda conservadora. Ao não aceitarem, optaram pela dignidade e por um mundo melhor. Fazendo do próprio martírio um ato de denúncia do “fascismo americano”, que transcende o tempo e permanece na história.
Na época, os meios de comunicação não eram sofisticados como hoje; mesmo morando no interior do Rio Grande do Sul, nos meus sete anos de idade, guardei para sempre o comentário ouvido na rua: ele morreu com duas descargas, e ela foi mais forte, precisou de três descargas elétricas para morrer. Crimes como esses mostram que a luta por um mundo melhor continua presente e necessária.
Referências: “A Formação do Império Americano”, Luiz Alberto Muniz Bandeira.
*Wilson Skorupski é operário aposentado.
Correio da Cidadania
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