O AVANÇO DOS SETORES CONSERVADORES E AS LUTAS POPULARES DE 2013
Introdução
Foi uma honra ter sido convidada para falar durante ocupação da Câmara Municipal de Belo Horizonte. É como professora (aposentada na UFMG e hoje na Miltom Campos) e militante social desde os anos 1960 que venho falar aqui.
Desde a primeira manifestação em BH no dia 15 de junho, quando três convocações se unificaram: as mulheres contra o estatuto do nascituro, o COPAC e o Mov. Passe Livre, até a ocupação da Câmara pela redução da tarifa e pela diminuição do ganho dos donos de empresas de ônibus,o movimento fez historia! Lembremos que essas manifestações integram as manifestações populares em todo o Brasil[1], que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro (em algumas vezes reunindo mais de um milhão de pessoas!). Essas lutas, no entanto, ganharam forte apoio popular no país inteiro, depois da repressão violenta e desproporcional promovida pelas polícias dos governos estaduais e do governo federal contra as passeatas.
Na verdade, estamos assistindo e vivenciando a um incrível movimento popular de massas, que ocorre segundo uma lógica inovadora de relações sociais e políticas, de forma horizontal, com base em solidariedades diversas. Tudo isso com formas de expressão bastante simples, mas muito eficazes: pequenos cartazes com as reivindicações mais diferenciadas! Partiu de lutas e reivindicações já existentes e com o uso massivo da internet como meio de qualificar e massificar as ações de rua. O que então está nascendo é a criação de novas formas organizadas de se fazer política, ao contrário do que a grande mídia vem dizendo, ao afirmar que se trata de um movimento sem lideranças e desorganizado.
Ora, tais movimentos, sob a liderança de jovens, estão recuperando a capacidade de sonhar, a capacidade de ir alem do que está dado, de querer mais, de querer o impossível! Uma filosofa da Hungria (na Europa), chamada Agnes Heller, já dizia mesmo que “não há nada mais real que o impossível!”. A geração dos anos 60 e 70, que foi para as ruas, lutou pela punição para os torturadores que assassinaram militantes sociais durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1984); pelo direito de garantir as terras para quem nela trabalha; de garantir as terras para o povo que vivia neste país muito antes de ele ser invadido pela expansão do capitalismo europeu. Sonhamos e lutamos pelo direito à saúde, à educação pública gratuita e de qualidade; por transportes coletivos de qualidade e gratuitos; por melhores salários, por uma sociedade justa e igual. Para muitos, estas lutas incluíam o direito de fumar maconha; o direito das mulheres andarem vestidas como quisessem sem serem agredidas; ou pelo direito de escolherem fazer aborto ou não (imaginem quando ele é fruto de um estupro?). O direito de vender nas ruas o artesanato. Enfim, houve muita luta para vermos nosso povo livre e vivendo com dignidade!!
É claro que os atuais acampamentos, as manifestações de massas nas ruas, o enfrentamento com a repressão, atrapalharam o trânsito e a rotina de pessoas. E, em algumas vezes, tais ações incomodaram parte da sociedade. Mas acredito que estas manifestações vêm obrigando a muitos a olharem para dentro de suas próprias vidas e ver a “pobreza e mediocridade de seu dia a dia”. Ver uma vida com pouca qualidade e voltada para um consumo vazio, provocado pelas propagandas empresariais televisivas. Quem sabe o grande valor desses novos movimentos seja o de mostrar a muitas pessoas que elas desaprenderam a sonhar…..
Outra importante conseqüência política foi incomodar a muitos que já lutaram, que estão em partidos que se denominam de “esquerda” e que agora, nos governos federal, estaduais e/ou municipais, estão a serviço de um poder que na verdade pertence aos capitalistas. Estes ex-representantes dos trabalhadores e do povo pobre têm como discurso “os grandes avanços como o crescimento econômico, a propaganda da redução das desigualdades, por meio, por exemplo, do bolsa família, da expansão do consumo, da redução do desemprego; ou da democratização do educação básica, da ampliação do acesso ao ensino superior, da criação de conselhos e conferencias sobre todos os assuntos.” E propagandeiam que “nunca antes neste país” o povo esteve tao bem.
Mas parece que a realidade da vida nua e crua foi sentida pela população jovem, o que fez com que enchessem as ruas do país. E não é para menos. Estudo divulgado em 2012 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação[2] mostra que jovens de 15 a 17 anos representam 42% dos 3,7 milhões de crianças e adolescentes que estão fora da escola no Brasil. E também se ufanam com a universalização da educação básica mesmo sabendo que o déficit de creches é na ordem de 19 mil, que a Presidenta Dilma em campanha eleitoral prometeu construir 6 mil, e que, em dois anos de governo, construiu apenas 7 no país inteiro. E o índice alfabetismo funcional? E na educação superior com o Prouni, financiando precárias escolas particulares. E, o Mapa da Violência no Brasil mostra que os mortos de forma violenta são jovens, negros e de baixa renda. Temos também acompanhado as manifestações dos indígenas, quilombolas, sem terra, ribeirinhos atingidos violentamente pelas mega obras e pelo agro negocio.
Apesar de toda a campanha midiática da redução das desigualdades, ela tem ocorrido de forma tao lenta, que não melhora a classificação mundial do Brasil pois os outros países tem melhorado de forma mais rápida Assim, apesar de ser a 6ª. Economia do mundo, na lista do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, ocupa o 85 lugar muito atras da Argentina (45 lugar), ou do México (61 lugar), ou da Venezuela (71). Direitos sociais, conquistados ao longo de nossa historia, foram retirados atingindo especialmente os idosos e mais jovens. E, como dizem os movimentos, tudo se transforma em mercadoria: saúde educação, cultura com a piora da qualidade de vida. Piora os serviços públicos. É histórico que a intensa desigualdade da renda em nosso país é um fator determinante que vai ser agravado pela intensificação do individualismo, transformando a vida em um vale tudo, estimulando a corrupção e a violencia.
E, a “esquerda”que governa o país acreditaram que a governabilidade seria conseguida fazendo alianças com os partidos fisiológicos e não com o povo. Ignoraram as lutas contra os avanços do projeto neo desenvolvimentista sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a condições de vida do povo. Outro resultado trágico foi a perda dos valores coletivos e da solidariedade, crescendo o fundamentalismo religioso e politico. E, quando o povo vai para as ruas, com suas dezenas de reivindicações, acusam o movimento de estar apoiando a direita.
A “esquerda” no poder e o aumento do conservadorismo
Meu objetivo aqui neste ponto é abrir uma discussão buscando entender como é possível que setores que se consideram esquerda, chegam ao poder no Governo Federal (a partir de 2002), realizam as políticas sociais focalizadas e, ao mesmo tempo, aumenta o intensamente o conservadorismo que é contrário a mudanças radicais ou revolucionárias que contestem um determinado marco econômico e político-institucional ou um sistema de crenças, usos e costumes de uma sociedade.
Nos anos 1960 e 1970 o inconformismo social balança o mundo inteiro. No Brasil, ainda tivemos a luta contra a ditadura. Nos anos 1980 houve as lutas pelas Diretas Já, e a eleição de uma assembléia constituinte, que teve como função reformar a Constituição Brasileira. E, em 1989 o Brasil teve, após a ditadura militar, a primeira eleição direta para presidente, quando então se confrontam o projeto “democrático popular”[3] e o “projeto neoliberal”[4]. Nesta eleição os movimentos sociais vão para as ruas na defesa de um projeto democrático popular e são derrotados.
Mas não foi apenas uma vitória eleitoral do neoliberalismo no Brasil. Ele vai ganhar corações e mentes do povo brasileiro, a visão de que este é o único caminho. Temos de lembrar que também é nesta época o fim do que se denominava como “socialismo real” no leste europeu.[5] Este processo foi tao avassalador que, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) chega ao governo em 2002, também já havia incorporado a lógica da supremacia do mercado e da despolitização da economia. Ou seja, de acordo com Hayek “o ideário do neoliberalismo, que tem como ponto forte a diminuição do Estado (o “Estado Minimo”), promotor de liberdades individuais através da manutenção da lei e da ordem”, fomentando a liberdade e competitividade dos mercados”.[6] Até aqui, as forças conservadoras não tinham espaço para crescimento.
Mas, para a sociedade em geral, com a eleição de Lula para a presidência, houve a “vitória da mudança”. Entretanto, o PT e partidos aliados, assumindo o governo, aprofundam a lógica do capitalismo neoliberal e continuam seguindo as orientações dos organismos internacionais (como o Fundo Monetário Internacional/FMI e o Banco Mundial), que pretenderam ditar as normas para todo o mundo capitalista, através do Consenso de Washington (CW). Em 1998, em nova reunião do CW eles reavaliam e os efeitos da politica neoliberal no mundo e apresentam novas orientações – o Estado tem de ser forte para garantir a acumulação de capital e também para fazer as políticas sociais – orientação que cai como uma luva para um governo do PT, que tinha o respaldo das direções dos movimentos sociais. Iniciam-se assim as chamadas políticas sociais focalizadas, com o intuito de amenizar (não disse acabar!) a pobreza. E, simultaneamente, amortecem as lutas sociais reivindicatórias, ao levar para dentro do estado senão os próprios movimentos sociais, mas pelo menos boa parte de suas lideranças. Ao também ao financiar os movimentos, conseguem limitar as reivindicações e as lutas. E, as contradições entre as classes sociais antagônicas (capitalistas e trabalhadores) passam a ser tratadas com acordos e negociações “por cima”, por meio destas lideranças, agora preocupadas em manter a governabilidade e não conquistar vitorias para os trabalhadores.
Elimina-se a necessidade de mobilização na lógica de que o povo está no governo e que precisa de tempo. Quem não se lembra da frase do Lula: “quem corre muito come cru”?
Sobre desenvolvimento econômico deste período
O modelo chamado neo desenvolvimentista – que é o desenvolvimentismo da época do capitalismo neoliberal[7]– com poucas diferenças é o que vem desde governo FHC e que Lula e Dilma mantiveram – se sustenta nos seguintes pilares:
– meta inflação, o centro da politica econômica é diminuir e manter a inflação em níveis baixos. E, para isto vai trabalhar fundamentalmente com a politica monetária e os juros.
-taxa de juros do governo, a taxa selic, que remunera os títulos do governo e é referencia para as taxas de juros bancarias. Neste caso, estabelecer a taxa básica de juros do governo alta, significa a garantia de que o sistema financeiro vai ter altos lucros.
– câmbio flutuante, é quando as compras e vendas das moedas internacionais, em especial o dólar vai flutuar de acordo com a oferta e demanda do mercado, sem controle sistemático do governo.
– superavit primário [8]– em orçamento publico, o o superávit significa uma receita maior que à despesa em virtude de um aumento da arrecadação ou um arrefecimento dos gastos. Quando no inicio do período se define um superavit primário de, por ex., 3% significa que o governo já definiu a priori que vai reservar 3% do PIB para pagamento dos juros. Portanto, é uma definição a priori. O que implica em cortar aplicações em outros setores para garantir prioritariamente o pagamento dos juros e serviços da dívida.
No governo Lula o crescimento da economia internacional, em especial o da China e da Índia, garantiu um superavit na balança de pagamentos, aumentando sua capacidade de negociação devido ao aumento das reservas. O problema é que isto foi conseguido com a exportação das commodities (mercadoria)[9], produtos que exigem pouca tecnologia. A pauta de exportação volta ao perfil dos anos 50, usando a vantagem comparativa do Brasil: muita terra, daí a predominância do agro-negocio, com o passe livre para as sementes transgênicas da Monsanto e os agrotóxicos, bem como a exportação de recursos naturais, com a mineração e seus graves danos ambientais e sociais, pela expulsão de moradores tradicionais de suas terras. E, lançam mão de megas obras como a transposição do Rio São Francisco e as construções de hidrelétricas, deixando as empreiteiras felizes. As reivindicações do trabalhadores pelas minimas condições de trabalho, são tratados como caso de policia (veja Belo Monte que tem acampamento de policia dentro do canteiro de obras) e os problemas das populações tradicionais, que são “empurrados com a barriga” com as tais políticas focalizadas e o carisma do presidente (mesmo agora que ele é ex-presidente).
Apesar de todo esse quadro de contenção das lutas sociais, nascem novos movimentos de base e crescem outros, como a resistência dos atingidos pelas barragens, os indigenistas, os diversas lutas em defesa da terra, os movimentos ecológicos, os movimentos da juventude de periferias na luta contra a selvagem exploração capitalista.
Ao mesmo tempo nos centros urbanos também ocorrem as grandes obras da Copa, os programas nas vilas e favelas, o programa Minha Casa Minha Vida. Tais políticas governamentais são impostas sob a mesma lógica anterior: sem respeito e a participação dos que ali já estavam. São programas que dão “rios de dinheiro” para o capital através de isenções fiscais e empréstimos subsidiados a longo prazo pelo BNDES. E, atendem a alguma necessidade do povo, com as migalhas e sobre a forma de favores. Desta forma, todos ficam dependentes das benesses do estado. Alguns destes programas:
– PROUNI – para estudantes pobres
– REUNI – para as universidades federais
– Projetos de pesquisas para professores
– Bolsa família para os muito pobres
– Casas populares – Minha Casa Minha Vida
– Projeto cegonha (o foco passa a ser a mãe e não a mulher)
Para o empresariado, a redução de impostos localizados em setores específicos e o financiamento de grandes conglomerados. E, para completar, ha uma enorme sangria do setor publico, com o pagamento dos juros e serviços da divida que em 2012 consumiu 43,98% do orçamento enquanto para a saúde foi 4,17%; 3,34% educação e 3,15% assistência social.
Por que criticamos estas politicas públicas focalizadas?
Vou dar dois exemplos, o da educação e o da geração de emprego. No primeiro caso, cria-se o PROUNI que possibilitou o ingresso de milhares de jovens na universidade. Aí, há uma grande armadilha montada contra esses jovens: a oferta de ensino de precária qualidade, em faculdades com baixa avaliação. Ao mesmo tempo, os empresários da educação foram salvos de sua situação falimentar. Atende ao empresariado, atende aos jovens pobres, com uma educação precária. É claro que isto gera contradições As expectativas criadas nestes jovens e em suas famílias são frustradas. Estes jovens, ao chegar no mercado de trabalho, percebem que sua formação não os qualifica a postos de melhor remuneração.
Para as universidades públicas, cria-se o REUNI, ampliando a entrada de novos alunos e novos cursos. Mas sem as mínimas condições salariais para professores e funcionários e com uma precária e às vezes inexistência infra-estrutura. Os professores são estimulados a correr atrás de projetos e/ou consultorias para tentar recompor seus salários defasados. Simultaneamente, assiste-se à redução da capacidade de pressão do movimento estudantil, pois a UNE entidade máxima dos estudantes, faz agora parte da base do governo e, com acesso a recursos e projetos, retrae as suas lutas.
Para a geração de emprego o governo Lula e Dilma buscaram formas clássicas da politica keynesiana. De um lado, estimula a produção de automóveis, eletro domésticos por meio de isenção fiscal. De outro lado, dá rios de dinheiro para as empreiteiras com as megas obras da Copa. Acreditavam que o povo, que adora o futebol, ficaria satisfeito e ainda colocaria o Brasil no topo do mundo. Este processo trouxe enormes contradições: a privatização das agora “arenas”, os preços elevados das entradas, a construção de “elefantes brancos”, a “higienização” das cidades retirando populações inteiras de suas antigas moradias, para construir os acessos aos estádios, etc. De outro lado, com o estimulo a produção de automóveis com transportes coletivos precários e caros, as cidades ficam caóticas. E, como é muito dito “o bom transporte não é o pobre andar de carro mas é o rico andar de metrô.” A qualidade de vida nos centros urbanos fica cada vez mais precarizada. Há um estímulo alienante ao consumo, ao individualismo. Ser cidadão agora é aquele que pode consumir.
Transporte publico: estopim das grandes manifestações 2013
É nesse quadro, quando o movimento contra o reajuste dos preços das passagens em Sao Paulo é violentamente reprimido que, para surpresa da maioria das pessoas e instituições tradicionais, eclodem os atuais movimentos nas ruas, denunciando a dura realidade social de milhões, e mostrando um enorme descontentamento com a economia, a política, e as cidades.
O importante a destacar aqui é o seguinte: sob o manto protetor do “crescimento com redução das desigualdades”(?) fermenta um modelo social que reproduz – agora em escala socialmente ampliada – o que há de pior na sociedade de consumo, individualista ao extremo, competitiva, ostentatória e com pouco espaço para a solidariedade. Para os governantes de “esquerda” já não importa a luta de classes e seus efeitos sociais. O que vai importar é a crença no mercado que mobiliza corações e mentes. É neste fermento político e cultural que se desenvolve a lógica fundamentalista.
O Fundamentalismo e o Estado Laico
Fundamentalismo representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista. Os fundamentalistas afirmam que a sua verdade é a única verdade. Desta forma, podemos entender como fundamentalista a pessoa que se fecha em sua própria concepção da verdade, não se abrindo para o diálogo, nem para outras visões de mundo, nem para outras construções de identidade. Quer impor sua maneira de compreender a “verdade” aos seus interlocutores.
Entendido desta forma, não podemos dizer que o fundamentalismo seja apenas religioso. Vamos encontrar em várias áreas posturas fundamentalistas, pois fechadas em si mesmas. Vou discutir aqui os dois fundamentalismos que cresceram e têm afetado a todos nos: neoliberal e o religioso.
O fundamentalismo neoliberal é o império do pensamento único como a única saída para as sociedades. É a lógica de que as leis do mercado resolvem espontaneamente as contradições sociais, de que se trata de um modelo econômico que pode ser aplicado em qualquer lugar e em qualquer época. Que não depende das condições históricas nem geográficas. E tem vida própria. Quantas vezes já ouvimos falar que o mercado está “nervoso”? E, quando aumenta a desigualdade, voltam afirmando ser necessário um “choque” de mais mercado, onde as questões são resolvidas de forma “mais democráticas” já que “todos são iguais”. E com o aumento da competitividade, ganha o mais capaz. O que vai diferenciar cada pessoa é sua capacidade individual (mérito pessoal). Neste sentido, leva ao paroxismo a competitividade e desestimula a solidariedade e a cooperação. Assim, divulga-se a ideologia de que se alguém não consegue ter um bom emprego é porque é incapaz. Esta lógica da meritocracia é artificialmente criada e extremamente perversa! E é repetida durante todo o tempo pelos meios de comunicação, ganhando corações e mentes.
Estamos vivendo assim sob um sistema político de democracia formal, não participativo e economicamente ditatorial, que parte da falsa premissa: a igualdade formal. O melhor exemplo deste fundamentalismo é o governo do EUA que se coloca como detentor da verdadeira democracia se sente autorizado a impor a sua verdade ao resto do mundo, mesmo à custa de bombas e destruição, ou penetrando em todos os meios de informação Dois exemplos emblemáticos: as guerras do Vietnã e do Iraque. E recentemente, impedindo que o avião do presidente da Bolívia usasse o espaço aéreo de países da Europa devido a suspeita de que Snowdem, que denunciou a invasão das informações em todo o mundo pelo Gov. EUA, estivesse a bordo.
De outro lado, o fundamentalismo religioso tem sido mais enfatizado no Brasil, pela campanha midiática feita pelos EUA contra os regimes teocráticos do mundo islâmico, ao enfatizar que os mesmos significam uma ruptura com a visão moderna do poder político com o divino. E com isto, o governo dos EUA abstrai, o seu fundamentalismo. Por outro lado, o fundamentalismo religioso avança no Brasil, articulando religião e política, fazendo acordos com o governo, ocupando representações importantes. Buscam assim, uma forma de impor sua concepção teológica conservadora, que é completamente avessa a uma sexualidade livre. Para esta concepção o sexo é para gerar filhos. Daí avança sobre os direitos sexuais e reprodutivos, afetando radicalmente os direitos das mulheres e dos setores Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTT).
Assim, tanto o fundamentalismo neoliberal quanto o fundamentalismo religioso estão fundados em seus “textos sagrados”: o mercado e os textos religiosos. O fundamentalismo neoliberal é mais sutil, vai entremeando a sociedade civil, ganhando novos espaços, procurando igualar a tudo e a todos com uma campanha trapaceira feita pela imprensa, pelas grandes empresas e pelo estado.
Já o fundamentalismo religioso é mais visível e agressivo, e afronta um principio histórico das sociedades modernas, que foi a separação entre Estado e as Igrejas, governo civil e as religiões, para garantir a liberdade religiosa e proclamar a isonomia de toda a coletividade. É o Estado laico que deve garantir a liberdade religiosa. Nas sociedades modernas, a laicidade é a forma institucional da relação política entre o cidadão e o Estado e entre os próprios cidadãos. E no espaço publico nenhum cidadão ou grupo de cidadãos devem impor as suas convicções aos outros.
Uma questão polemica é dos símbolos religiosos. Isto para mim não é uma questão de principio como é a laicidade. A laicidade do estado não se expressa na eliminação dos símbolos religiosos. Estes símbolos foram incorporados ao longo da história do Brasil, por mais criticas que tenhamos a esta história. Para mim, os símbolos podem ou não existir. Não devem incomodar. O que a meu ver tem de ser combatido, e é inaceitável, é a discriminação religiosa, é o desrespeito à fé de cada pessoa e até o seu direito de não professar nenhuma religião, o desrespeito a visão de mundo diferente. Fico pensando se este comportamento, de eliminar os símbolos religiosos, se levado ao extremo, não significaria eliminar os feriados religiosos, os nomes de ruas e de cidades. E, em tal eventualidade, não poderíamos gerar ódios religiosos e sentimentos de vingança daqueles para quem estes símbolos são sagrados, provocando desnecessárias fraturas na combalida sociedade brasileira? Certamente, não é isto que queremos quando lutamos por liberdade religiosa e estado laico.
A luta por direitos e por uma sociedade sem exploração e opressão
Os direitos estão sempre situados em uma determinada sociedade. Não existem pairados abstratamente, mas somente quando as pessoas os exigem, ou se elas estão conscientes de sua falta. Nossa sociedade é extremamente carente de direitos os mais elementares, que são ignorados e desprezados a todo instante. Por exemplo, os direitos dos trabalhadores a um salário digno sempre foi negado.
Os trabalhadores das fabricas são as pessoas mais desfavorecidas no capitalismo. Por isto, os movimentos operários sempre tiveram de se preocupar com a exigência de proteção individual e social dos seus integrantes, desempenhando, com isso, um importante papel no desenvolvimento dos direitos humanos, individuais e coletivos.
No final dos anos 1960, e em especial, a partir da década de 1980, os movimentos das chamadas minorias têm crescido e adquirido um progressivo reconhecimento. Nos anos mais recentes, com o recuo dos movimentos sociais, o conservadorismo e o fundamentalismo econômico e religioso avançam sobre os direitos e conquistas dos trabalhadores e dos setores discriminados.
E, também acaba repercutindo sobre o povo brasileiro, as mobilizações pelo mundo contra as explorações e opressões. Além disto, o projeto neo-desenvolvimentista brasileiro, vai encontrar limites nas duas pontas que o sustentavam: de um lado, a crise econômica que dificulta a continuidade das concessões focalizadas; e, de outro lado, a ausência da liderança carismática que centralizava todo o poder.
Mesmo sem atividades massivas, os movimentos espalhados por todo o Brasil, continuaram se organizando de forma autônoma estudando e denunciando o que os afetavam diretamente. É a contradição do projeto, levando à organização popular. São lutas localizadas, e se vistas cada uma isoladamente, parecem fragmentadas: pelo metrô, pelo passe livre e meio passe; movimento estudantil com diversas bandeiras; movimentos dos atingidos pela copa; atingidos por barragens; luta dos sem terra; dos sem teto; os ecológicos distribuídos em dezenas de entidades a partir das agressões locais ao meio ambiente; movimentos de mulheres; movimentos LGBTT; movimentos contra a violência policial; e vários outros. E, também os trabalhadores retomam suas lutas por salários e condições dignas, fazendo de 2012 o ano de maior numero de greve dos últimos 15 anos.
Já era visível em 2012 o crescimento da participação popular, tanto em greves quanto em manifestações; e que continuaram no inicio de 2013. E, em 2013, os acordos políticos do governo com sua base dos partidos do congresso, levam a presidência da comissão de direitos humanos o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), um fundamentalista político religioso. Também para exemplificar o avanço do fundamentalismo no Congresso cito o andamento de dois projetos – o do estatuto do nascituro e o da “Cura Gay”. O do estatuto do nascituro retira direitos já conquistados e avança rumo a retomar o controle sobre a mulher, chegando ao limite de impor a ela o seu estuprador como “genitor”. E o da Cura Gay, confronta a postura do Conselho Regional de Psicologia, e passa a impor aos profissionais tratar os Gays como uma doença. Tudo isto deixa a militância e todas as pessoas com o mínimo de consciência, indignados.
Os problemas vêm há anos se acumulando! E a indignação “explode” nas manifestações após a repressão aos movimentos contra o aumento das passagens em São Paulo e no Rio de Janeiro. É a transformação da quantidade em qualidade. Os movimentos tomam as ruas, cada um trazendo toda a sua indignação nos milhares de cartazes estampados nas manifestações.
É pelo trabalho político, na luta pela conquista de novos direitos, pela transformação da realidade social, política e econômica que se estabelece as relações de solidariedade. Limitando e construindo alternativas à ideologia da competitividade. É neste relacionamento que o ser humano novo vai sendo gestado. É nas lutas que as relações de exploração opressão e discriminação vão construindo uma relação mais igual e uma sociedade solidaria.
Sigamos juntos, construindo a sociedade do futuro, a sociedade que as ruas já começaram a erguer!
[1] Aqui há muitas informações importantes sobre o movimento: https://pt.wikipedia.org/wiki/Protestos_no_Brasil_em_2013
[2] Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-08-31/jovens-de-15-a-17-anos-sao-maioria-dos-excluidos-da-escola-brasileira.html
[3] Exemplo explicativo do termo pode ser visto aqui: http://www.enfpt.org.br/node/80
[4] Para saber mais sobre neoliberalismo ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo e para o caso do Brasil aqui: http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4060727.pdf.
[5] É chamado de socialismo real o socialismo posto em prática na Rússia, em países do Leste Europeu. Existe uma grande discussao sobre esta experiencia.
[6] Fonte e mais explicações aqui: http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm e http://www.infopedia.pt/$neoliberalismo;jsessionid=-Sh3U9dRUfesgLVvJLYrRQ__
[7] Bem esclarecedor é este artigo de Armando Boito Jr: http://eesp.fgv.br/sites/eesp.fgv.br/files/file/Painel%203%20-%20Novo%20Desenv%20BR%20-%20Boito%20-%20Bases%20Pol%20Neodesenv%20-%20PAPER.pdf
[8] Fonte: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2065:catid=28&Itemid=23
[9] Commodities é um termo de referência de produtos de base em estado bruto, considerado “matéria-prima”. Além do nível de matéria-prima, é aquele produto que apresenta grau mínimo de industrialização.