Ucrânia: Não à guerra e ao fascismo! Pela paz e a democracia!
O Conselho Português para a Paz e a Cooperação manifesta a sua extrema preocupação com a escalada militar e o autêntico massacre que as forças armadas ucranianas e grupos paramilitares nazifascistas ao serviço das autoridades golpistas de Kiev estão a levar a cabo no Leste da Ucrânia, nomeadamente em Donetsk e Lugansk.
Centenas de ucranianos foram já mortos e muitos procuraram já refúgio, designadamente na Federação Russa, como consequência das incursões militares e dos bombardeamentos, sem que a chamada «comunidade internacional» os denuncie, condene e faça algo para os impedir. Pelo contrário, a junta golpista de Kiev conta – também nos seus hediondos crimes – com o beneplácito e o apoio explícito dos EUA, da NATO e da União Europeia.
Estes cruéis bombardeamentos são o corolário trágico de um golpe de Estado que colocou no poder em Kiev os grandes oligarcas em aliança com tenebrosas forças que se reivindicam do fascismo e do nazismo – que funcionaram e funcionam como «tropa de choque» de poderosos interesses internos e externos.
Desde o primeiro momento, as forças golpistas não tardaram em pôr em causa, na Ucrânia, as mais elementares liberdades democráticas e direitos das populações de língua russa, largamente maioritárias no Sul e Leste da Ucrânia, assim como a acção das organizações políticas e populares que lhe resistem, nomeadamente através da intimidação, da agressão e da ameaça de ilegalização da sua actividade.
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As recentes «eleições presidenciais», que deram a vitória a Petro Porochenko, foram de facto tudo menos democráticas. Não só os eleitores de uma parte importante do país as rejeitaram, como não estiveram reunidas as condições mínimas para um escrutínio legítimo. Vários foram, aliás, os candidatos opositores do golpe que acabaram por retirar as suas candidaturas depois de terem sido objectivamente impedidos de fazer campanha livremente, sendo que alguns foram mesmo alvo de espancamentos e atentados por parte dos grupos nazifascistas que sustentam a junta de Kiev.
O apoio à junta golpista por parte dos principais oligarcas do país – entre os quais o recém-«eleito» Petro Porochenko, um dos homens mais ricos da Ucrânia –, deita por terra um dos argumentos centrais dos autores do golpe, isto é, que este correspondia aos legítimos anseios do povo ucraniano de pôr fim à corrupção e poder dos oligarcas. O objectivo desta brutal ofensiva contra as populações do Donbas visa esmagar toda e qualquer resistência ao golpe, procurando estender o domínio dos golpistas de Kiev a toda a Ucrânia.
A proclamação das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk (independentemente do juízo que cada um faça destes acontecimentos) foram, essencialmente, uma expressão de resistência popular perante a explícita declaração de guerra da junta fascista de Kiev contra as populações ucranianas de língua russa, maioritárias no Leste da Ucrânia. Recorde-se que uma das primeiras medidas assumidas após o golpe foi precisamente a proibição da língua russa – falada, há que lembrar, por uma grande parte dos ucranianos.
A natureza fascista do novo poder de Kiev – apoiado, nunca é demais repetir, pelas principais potências ocidentais – fica clara na sua própria composição, integrando forças assumidamente fascistas e neonazis, como o partido Svoboda (Liberdade) – até há pouco tempo denominado «Partido Nacional Socialista» –, e o Sector de Direita – organização paramilitar responsável por espancamentos, torturas e assassinatos, que se encontra actualmente a ser integrada na nova Guarda Nacional ucraniana. O massacre de Odessa, em que perto de uma centena de pessoas foram assassinadas – queimadas, espancadas ou executadas – na Casa dos Sindicatos daquela cidade, onde se encontravam refugiados activistas anti-golpistas, é um dos mais brutais crimes perpetrados na Ucrânia, com uma clara marca nazifascista.
Saliente-se ainda que são as forças que levaram a cabo o golpe, instigadas e apoiadas pelos EUA, a NATO e a UE, que, igualmente, são as primeiras responsáveis pela afirmação de auto-determinação da população da Crimeia e sua reintegração na Federação Rússia.
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O CPPC alerta para a ingerência dos EUA, da NATO e da UE que, manipulando reais e justos sentimentos de revolta do povo ucraniano para com o governo deposto de Ianukovitch – que se insere no processo de súbito empobrecimento do povo e longa pilhagem do país desde o desaparecimento da União Soviética, no início dos anos 90 do século passado – para colocar no poder forças leais e empenhadas em servir a perigosa agenda provocadora e aventureira dos Estados Unidos da América e da NATO de crescente tensão e confrontação com a Federação Russa.
Para se entender o problema ucraniano há que o inserir no cerco à Federação Russa há muito levado a cabo pelos EUA e patente: no alargamento da NATO para o Leste da Europa, no verdadeiro «anel de fogo» que representam as inúmeras bases militares instaladas na Europa e na Ásia Central; na destabilização da Geórgia ou na promoção e apoio às múltiplas «revoluções coloridas» protagonizadas em muitos dos países vizinhos; e no projecto do (mal) chamado «escudo anti-míssil» que se apresenta como pretenso dispositivo defensivo dos EUA, mas que de facto visa ameaçar a paridade nuclear dissuasora, agravando o risco de desenlace de holocausto nuclear.
O CPPC alerta ainda para a verdadeira «guerra mediática» em torno da situação na Ucrânia, repetida e amplificada pelos poderosos meios de comunicação à disposição das grandes potências ocidentais, que promoveram o golpe de Fevereiro e apoiam o novo poder oligárquico e fascista e os sucessivos massacres por ele praticados.
Campanha mediática com a qual se pretende apresentar o governo golpista de Kiev como «democrático» e «legítimo» (quando na verdade este é integrado por forças neonazis e fascistas e chegou ao poder através de um golpe de Estado preparado e financiado a partir do exterior, nomeadamente pelos EUA e a UE) e as populações do Leste da Ucrânia como «terroristas» e «separatistas pró-russas» e não, como seria correcto, antifascistas.
O CPPC apela de todos os que defendem a paz, a democracia, o progresso e a justiça social, para que, neste momento difícil, se solidarizem com o povo ucraniano para travar o passo ao fascismo e àqueles que manobram com as suas justas aspirações para cumprir agendas económicas e geo-estratégicas com consequências perigosas e imprevisíveis para a paz e a estabilidade na Europa.