A imprensa do partido não apenas é o instrumento para agitar a classe, mas é em si mesmo o organizador coletivo

Publicado na terça-feira, 09 de setembro de 2014 00:55

Entrevista com a camarada Jazmín Padilla, Diretora do El Comunista e integrante do Birô Político do Comitê Central do PCM

“O jornal avançou junto e na mesma medida que o partido. Considero que este momento expressa fielmente o seu avanço: a virada trabalhadora e o desenvolvimento das organizações de massas e de juventude se veem claramente representadas. Além disso, passamos a dar conta de lutas que acompanhávamos de fora, transformando-as em lutas das quais o partido participa e dirige. É um bom sinal o fato de que as páginas sejam insuficientes, que a tiragem tenha que, pelo menos, duplicar, que agora se planeje aumentar sua periodicidade para estar à altura da luta de classes em nosso país, que cada vez nos cheguem mais pedidos de exemplares. É importante ressaltar que o periódico é uma tarefa coletiva, que envolve cada um de seus militantes, seja diretamente na elaboração, na distribuição no local de trabalho ou na captação de recursos”.

Camarada, como você passou a integrar-se à luta? Como foi esse passo da luta estudantil para a luta política comunista?

Desde menina estive ligada à luta, pois é algo que meus pais incentivaram. Minha infância se deu em meio às lutas populares por moradia ocorridas em Tepic, nos anos de 1980, nas quais meus pais ocupavam um papel dirigente. Cresci com a ideia do Che, de que ser comunista é a mais alta escala do desenvolvimento humano, porém era mero romantismo. E não digo isso porque penso que não seja assim, mas porque não tinha consciência do que era ser comunista e do que implicava. Desde pequena fui sensível às injustiças e, então, me convenci de que devia estudar Direito para acabar com elas. Estava totalmente perdida. Felizmente, um dia decidi levar a sério e me formar comunista. Comecei com o que estava ao meu alcance: alguns livros biográficos do Che, A Mãe, os Manuscritos Econômicos e Filosóficos de Marx de 1844 e várias tentativas de ler O Capital. Era frustrante não encontrar o Partido Comunista e nem sequer um coletivo comunista. Com a inquietação de começar a fazer algo, estando no ensino médio, me envolvi na luta estudantil. Certamente era uma luta limitada, pois não se encaixava em um objetivo mais geral, superior e eu estava nessa busca, na qual me sentia isolada. Conheci, vários anos depois, uma organização estudantil ligada ao que, no momento, era o processo de unidade entre o Partido dos Comunistas Mexicanos e o PRS. Isso me aproximou do partido, até que, finalmente, solicitei meu ingresso na juventude. Por isso, digo que minha formação e, portanto, minha convicção sólida da necessidade de passar à luta política para derrotar o poder da burguesia e construir o socialismo-comunismo foi adquirida no Partido.

Por isso, tem grande importância o fato de que, independente do grau de desenvolvimento do partido e de sua juventude neste momento, qualquer um que queira lutar, qualquer um que, de alguma maneira, tenha chegado à conclusão de que a única saída é a conquista do poder pela classe operária e dos trabalhadores, a socialização dos meios de produção, saiba que existe o partido comunista e que ele, sem titubear, caminha nessa direção.

Como você avalia o papel da organização juvenil comunista?

É indispensável contar com uma juventude que consiga canalizar o descontentamento, a raiva, a rebeldia própria da juventude, que a encaminhe, que a dirija à insurreição contra este sistema que não lhe oferece nada. Que o partido conte com uma organização forte, que forme e entregue quadros jovens à luta revolucionária, que lhe dê força e vitalidade.

Depois do congresso da Federação de Jovens Comunistas ficamos mais confiantes de que serão dados passos firmes rumo a esse objetivo, pois contamos com uma direção experiente no trabalho estudantil e juvenil, com audácia, ímpeto, coragem e, é claro, uma sólida formação que, seguramente, será capaz de desdobrar a política do partido para a juventude, para converter-se em referência da juventude trabalhadora e estudantil.

No processo de ruptura com o oportunismo em 2010, você se definiu rapidamente e sem titubeios, apesar de estar em uma entidade onde eles tinham maioria. Como você avalia aquela decisão?

Quando o processo de unidade começou a entrar em crise, por questões circunstanciais, eu me encontrava na entidade que eles consideravam seu bastião. Porém, a maior parte da minha militância se dava no centro do país, onde suas expressões oportunistas não tinham maior influência. Por isto, no curto período que estive com eles, as contradições no seio do partido foram sendo esclarecidas, assim como sua atividade fracionista e oportunista. Em que pese isso, eu não conseguia vislumbrar que o que ocorria ali desembocaria, finalmente, no fracasso do processo de unidade iniciado em 2003. Acreditava que o que ocorreria era uma luta ideológica no interior do partido para combater estas posições, que, certamente, eram um obstáculo, um impedimento que não permitia o avanço do partido e que também eles não estavam dispostos a abandonar. Finalmente me convenci disso quando tentaram rebaixar o debate político à crítica a aspectos da vida pessoal dos camaradas, à fofoca e à calúnia e isto foi o que terminou de convencer-me de que era um desgaste desnecessário. As contradições são intransponíveis quando não existe unidade ideológica, orgânica, programática. Dar o passo adiante foi uma necessidade imposta pela realidade caso quiséssemos continuar avançando no objetivo da revolução socialista.

Desde 2010, depois do IV Congresso do PCM, você assumiu a direção do órgão central, El Comunista, e de seu site web. Qual é o balanço?

O periódico avançou junto ao partido e na mesma medida. Considero que este momento expressa fielmente seu avanço: a virada trabalhadora e o desenvolvimento das organizações de massas e de juventude se veem claramente representadas. Além disso, passamos a dar conta de lutas que acompanhávamos de fora, transformando-as em lutas das quais o partido participa e dirige. É um bom sinal o fato de que as páginas sejam insuficientes, que a tiragem tenha que, pelo menos, duplicar, que agora se planeje aumentar sua periodicidade para estar à altura da luta de classes em nosso país, que cada vez nos cheguem mais pedidos de exemplares. É importante ressaltar que o periódico é uma tarefa coletiva, que envolve cada um de seus militantes, seja diretamente na elaboração, na distribuição no local de trabalho ou na captação de recursos. O periódico vai alcançar estes objetivos impostos pela realidade, contando com o comprometimento de cada um de seus militantes. Isto é uma necessidade.

É preciso uma equipe permanentemente dedicada ao jornal para tornar eficiente essa enorme tarefa de redação, projeto, obtenção de recurso, distribuição, etc, que até agora tinha recaído, principalmente, em uma equipe muito reduzida de camaradas, que acumulam outras tarefas dentro do partido. É algo que temos de superar. Estou confiante de que temos, neste momento, a capacidade de conseguir consolidar essa equipe e que o jornal dará esse passo seguinte.

O universo de leitores eletrônicos aumenta. No entanto, o Partido insiste na edição física de seu jornal e de suas publicações. Por que?

Claro, é certo que as mídias eletrônicas nos abrem uma infinidade de possibilidades para difundir nossas ideias, chegar a lugares onde, sem recursos, dificilmente poderíamos. Recebemos mais de 50 mil visitas mensais, o que seria difícil no caso de um documento impresso. Isso é muito positivo porque nos mostra a influência que alcançamos e o crescente interesse no que fazemos, no que favorece a luta de classes. É uma ilusão, é ingênuo pensar que com isso basta. Nosso objetivo não se dirige a isso, nossa tarefa fundamental é organizar a classe trabalhadora para que ela possa enfrentar seus algozes e, para isso, é fundamental dar-lhe rosto, entrar no local de trabalho e entregar o jornal, o panfleto, o cartaz, etc. É o que nos permite estabelecer um laço com o trabalhador de carne e osso, que está sendo explorado na fábrica e que necessita conhecer seu partido. Por isso, sustentamos que o periódico impresso continua cumprindo o papel formulado por Lenin, de propagandista, agitador e organizador coletivo. É o que nos tem dado resultado, é o que dá vida a este partido, o que dá força e certeza de que vamos avançando no caminho correto para a organização da classe operária. A imprensa revolucionária será o centro articulador de nossa política enquanto a classe trabalhadora for a aposta para a derrota do capitalismo, a tomada do poder, a construção do socialismo-comunismo.

Em que medida o desenvolvimento do Partido está ligado à distribuição e rede de leitores do El Comunista?

Como mencionava anteriormente, a imprensa do partido não é só um instrumento para agitar a classe, mas é em si mesma a organizadora do coletivo. Ela tem atuado sobre a rede de distribuição e sobre as necessidades apresentadas por nossas células sobre o que redigir, onde levar, como obter finanças, etc. Dizemos que o El Comunista é o termômetro para avaliar o desenvolvimento partidário dentro de nossa estrutura.

Qual é a diferença do jornal e a Revista El Machete?

Têm objetivos diferentes. El Machete é uma revista teórica, é uma ferramenta partidária de frente ideológica, busca demonstrar a plena vigência do marxismo-leninismo, de expor a experiência acumulada e desmontar as correntes ideológicas que levaram a classe trabalhadora à letargia, ao imobilismo e a buscar em “novos” sujeitos a semente da revolução gerando apenas confusão. Por isso, a El Machete, desde seu primeiro número, se lançou contra o oportunismo, o revisionismo e o reformismo. Por sua parte, o jornal, que também é uma ferramenta ideológica, se diferencia da revista já que sua principal função é a de agitação, a propaganda e organização da classe. Seu objetivo é ativar as lutas da classe trabalhadora, elevar sua consciência de classe e vinculá-las à luta revolucionária.

Camarada, o El Comunista faz parte do Conselho de Redação da Revista Comunista Internacional. Fale sobre essa experiência.

A Revista Comunista Internacional (RCI) é uma tentativa de dar os primeiros passos para a reconstrução de uma internacional comunista, que dote nossa classe de uma tática unificada. Ela é elaborada pelos melhores cérebros de nossa classe. Cabe destacar que na RCI não só se trocam opiniões. Os participantes enviam seus artigos por meios eletrônicos e uma equipe os recebe e imprime, entregando-os para o conselho. A definição do conteúdo da revista dos partidos comunistas é feita pelos que constituem o conselho da RCI, que se reúnem fisicamente através de seus representantes e discutem cada um dos textos que serão incluídos nela. Desta maneira, se dá um passo para a reconstrução da Internacional Comunista. O debate no Conselho Editorial é de rigor científico, visando garantir a exatidão das teses propostas. Até agora a RCI dedicou números à questão da crise, do socialismo, da classe operária, da luta contra o oportunismo e está em pronto o quinto número, dedicado à guerra imperialista.

Camarada, quais livros marcaram sua vida como militante e quais você recomendaria a todos os camaradas para leitura?

Como disse inicialmente, os livros que abriram meu caminho foram “A Mãe”, de Máximo Gorki, a biografia do Che, de Paco Ignacio Taibo II, e “O Estado e a Revolução”, que li na adolescência. Recomendaria, além dos que já vem no programa de formação política e que me marcaram como militante, me vem à mente “Dez dias que abalaram o mundo”, de John Reed, “Reportagem ao pé da forca”, de Julius Fucik, “A história do partido bolchevique” e “Por quem dobram os sinos”, de Ernest Hemingway.

Fonte: http://www.comunistas-mexicanos.org/index.php/partido-comunista-de-mexico/1978-la-prensa-del-partido-no-solo-es-el-instrumento-para-agitar-entre-la-clase-sino-que-es-en-si-misma-el-organizador-colectivo

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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