Apresentação de Giorgos Marinos, Membro do Birô Político do CC do KKE no XVI Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, no Equador
Novembro de 2014 – Partido Comunista da Grécia
Estimados camaradas:
Agradecemos ao Partido Comunista do Equador, que acolhe o 16° Encontro Internacional, e saudamos os Partidos Comunistas que participam.
Expressamos nossa solidariedade internacionalista com o povo do Equador, com os povos da América Latina, com os comunistas e os movimentos populares que enfrentam a repressão estatal, os ataques e as perseguições anticomunistas.
Declaramos nossa vontade de intensificar os esforços para a libertação dos três lutadores cubanos que, todavia, permanecem encarcerados nos EUA.
Estimados camaradas:
Os próprios acontecimentos demonstram que temos muito trabalho por fazer.
O capitalismo se coloca mais agressivo e perigoso contra os povos e se caracteriza pela ofensiva em grande escala contra os direitos trabalhistas e populares, pelas crises e pelas guerras imperialistas.
As tarefas dos comunistas são muito importantes e é imprescindível trocar experiências sistematicamente acerca do desenvolvimento da luta em cada país, intensificar os esforços para coordenar nossas atividades e sentar as bases para o fortalecimento do Movimento Comunista Internacional.
É certo que a crise de superacumulação e superprodução de capital, que estourou de maneira sincronizada em 2008 em muitos países, expressa a anarquia da produção capitalista, suas contradições, o aprofundamento da contradição fundamental entre o caráter social da produção e do trabalho e a apropriação capitalista de seus resultados, no terreno do poder dos monopólios e da propriedade capitalista sobre os meios de produção.
Ou seja, a realidade revela que a base da crise não é uma ou outra forma da gestão burguesa. A crise não é produto do “neoliberalismo” ou da “atividade incontrolada dos bancos”, como defendem as forças do oportunismo, como o Partido da Esquerda Europeia (PIE, sigla em espanhol), na Europa. Tais posições desorientam os povos, isentam o sistema capitalista e suas leis econômicas, fomentam ilusões de que existem formas de gestão do sistema favoráveis ao povo, e apoiam a opção socialdemocrata de gestão.
Na Grécia, durante a crise capitalista, se manifestou um ataque em grande escala contra a classe operária, os setores populares, os jovens, com consequências dolorosas para os salários, as aposentadorias, os direitos trabalhistas e de seguridade social.
O desemprego superou 30% da força de trabalho.
Durante a crise, o governo do PASOK socialdemocrata, em princípio, e depois o governo de coalizão do partido liberal da ND e do PASOK, impuseram medidas antipopulares duras, decididas na União Europeia e no “estado maior” do capital. Antes da crise, promovem a reestruturação capitalista com o fim de diminuir o preço da força de trabalho, o fortalecimento do antagonismo e da rentabilidade das grandes empresas.
É verdade que apesar da destruição de forças de produção e de capital, apesar das expectativas fomentadas, somos testemunhas do estancamento ou até da recessão da economia na UE, inclusive em Estados capitalistas fortes, como são a Alemanha, Itália, França.
A ofensiva antipopular se manifesta em todos os Estados europeus independentemente de seu déficit e dívida.
O estado maior burguês pretende imobilizar o povo na lógica de uma ou outra fórmula de gestão, na política econômica “restritiva” ou “expansiva”; recorrem novamente ao keynesianismo, apresentam como novas as mesmas doutrinas antipopulares já provadas. A conclusão básica é que cada fórmula de gestão burguesa, inclusive em condições de crescimento da economia, possui como critério os lucros dos monopólios. Em consequência, as medidas contra os povos vão continuar.
Na linha da gestão, para além dos partidos burgueses tradicionais, também funcionam os novos partidos socialdemocratas com raízes oportunistas, como SYRIZA na Grécia.
No estrangeiro, inclusive na América Latina, este partido tenta criar uma impressão positiva e se apresenta como uma força radical.
No entanto, na prática, apoia o desenvolvimento capitalista, a União Europeia imperialista e sua estratégia. Está a favor da permanência da Grécia na OTAN e de suas “credenciais” junto aos EUA e às forças do capital a nível nacional e internacional.
Sua política se baseia no fortalecimento da competitividade e da rentabilidade do capital, não tem nada a ver com a satisfação das necessidades populares e com a recuperação das perdas dos trabalhadores durante a crise. Recicla o desemprego e gerencia a pobreza.
Por outro lado, o KKE tenta organizar a luta trabalhadora e popular, apoia a luta do movimento classista, da Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) e das demais organizações militantes dos camponeses, dos trabalhadores autônomos das cidades, das mulheres e dos jovens. Entra em conflito com as forças do capital e com a política antipopular dos governos e da UE. Contribui com a organização da resistência e luta para recuperar as perdas dos trabalhadores durante a crise. Luta pelo contra-ataque antipopular, pela aliança popular, contra os monopólios e o capitalismo.
A luta cotidiana do KKE nas fábricas, nas empresas, nos setores, nos bairros populares, não se limita à criação de melhores condições possíveis com relação à venda da força de trabalho.
Está vinculada ao esforço de reagrupar o movimento operário, fortalecer a orientação classista dos sindicatos, sua capacidade de reunir as forças operárias em conflito com o capital, seus representantes políticos e o sindicalismo patronal-governamental que constitui o veículo da colaboração de classes e do enfraquecimento dos trabalhadores, e tem grande responsabilidade pelo retrocesso do movimento operário.
Nosso partido está intensificando seus esforços para que a classe operária, a classe social dirigente, construa sua aliança com os setores populares, para que se reforce a luta antimonopolista-anticapitalista.
Recentemente, em 1° de novembro, milhares de trabalhadores, homens e mulheres, forças populares e jovens participaram da grande mobilização nacional organizada pela Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME), em Atenas, em cooperação com as demais organizações militantes dos camponeses, dos trabalhadores autônomos da cidade, das mulheres, dos estudantes, contra o ataque do capital e da política antipopular do governo e da UE.
Mais de 1.000 sindicatos e outras organizações do movimento popular tomaram a decisão de participar da manifestação e, entre eles, um número significativo de sindicatos onde a PAME não possui representação majoritária.
Estimados camaradas:
Durante a crise capitalista se intensificou a agressividade imperialista e se aprofundaram os antagonismos interimperialistas.
No Mediterrâneo Sudeste, a intervenção imperialista no Iraque e na Síria continua, agora sob o novo pretexto da luta contra o “Estado Islâmico” e os jihadistas.
A Turquia não apenas continua a ocupação de grande parte do Chipre, mas também questiona os direitos soberanos da ilha e da Grécia, viola as fronteiras, pisoteia os direitos soberanos. O antagonismo pelo controle dos hidrocarbonetos na região está se intensificando.
Israel continua seu ataque assassino contra o povo palestino e conta com o apoio dos EUA e da UE, que acusam a resistência popular de terrorismo, equiparam o agressor com a vítima.
Na Ucrânia, a intervenção da UE, dos EUA e da OTAN, o surgimento de forças reacionárias e até, inclusive, fascistas na liderança estatal e governamental do país, além do antagonismo geral das potências da UE e da OTAN contra a Rússia, criaram uma situação explosiva.
Estes acontecimentos, somados à intensificação do anticomunismo, à tentativa de proibir o Partido Comunista da Ucrânia e à proibição de partidos comunistas na Europa e em outras regiões do mundo, exigem aumentar a vigilância e a solidariedade internacionalista.
Cem anos depois da I Guerra Mundial e 75 anos depois da II Guerra Mundial, existe um grande risco de conflitos militares generalizados.
Qual é o fio condutor destes acontecimentos? Quais são as verdadeiras causas das intervenções imperialistas e das guerras?
No núcleo do imperialismo, que é a fase superior do capitalismo (não apenas uma expressão de uma política exterior agressiva), estão os monopólios e os grandes grupos empresariais que competem para expandir suas atividades empresariais, pelo controle dos mercados, dos recursos naturais e dos canais de energia, que também se expressam a nível interestatal.
Isto se manifesta nos novos e velhos focos de tensão e guerra. A guerra é a continuidade da política por outros meios violentos.
Os comunistas possuem grande responsabilidade em educar e guiar a classe trabalhadora e os setores populares, para que superem as diferentes armadilhas montadas pelas burguesias e pelas organizações imperialistas, conseguindo se organizar e mostrar sua força.
Qualquer retrocesso dos partidos comunistas na luta política independente, qualquer participação nas contradições e nos planos interburgueses, ou a participação em governos de gestão burguesa, trazem consequências dolorosas para os povos.
A luta de massas contra os planos imperialistas deve seguir de mãos dadas com a organização da luta para erradicar as causas que geram as guerras, para derrotar a barbárie capitalista.
O KKE tem uma atuação multifacetada contra as guerras, as intervenções e as ameaças imperialistas, porém não se limita a isso.
A linha de luta resultante do XIX Congresso de nosso partido, ocorrido em 2013, tem uma importância mais geral. Assinala que, “no caso de envolvimento da Grécia em uma guerra imperialista, qualquer que seja a forma assumida por sua participação, o KKE deve estar preparado para dirigir a organização independente da resistência operária e popular, a fim de vinculá-la à luta pela derrota da burguesia, tanto a nacional como a estrangeira como invasor”.
Estimados camaradas:
É verdade que a estratégia dos partidos comunistas, a direção básica de sua luta, se determina pelo caráter de nossa época.
Isto determina o caráter da revolução e das forças motrizes, a linha de agrupamento, a política de alianças, o trabalho ideológico-político na classe operária, para que sua luta se oriente à derrota das causas da exploração.
O desenvolvimento social se move para um nível maior e não pode dar passos para trás por conta da contrarrevolução e da derrocada do socialismo na União Soviética e nos demais países socialistas.
Ao longo do curso histórico ocorreram grandes conflitos sociais, vitórias e derrotas das classes dirigentes em todas as fases. Produziram-se retrocessos, porém o elemento decisivo era a lei geral da substituição do sistema socioeconômico velho pelo novo.
O capitalismo se desenvolveu, a concentração e a centralização do capital criaram os monopólios. Os monopólios e as empresas acionistas amadureceram. Também amadureceram as condições materiais para a construção da nova sociedade socialista. Estes são os elementos básicos para a elaboração de uma estratégia revolucionária contemporânea, cuja questão central será o caráter socialista da revolução e a solução da contradição fundamental entre capital e trabalho.
A estratégia das “etapas intermediárias” entre o capitalismo e o socialismo opera no marco do sistema de exploração, posto que o poder e os meios de produção permanecem nas mãos da burguesia e continuam a exploração capitalista e a anarquia.
Esta estratégia causou um atraso na luta do movimento comunista. É um elemento de sua crise e conduz à participação ou ao apoio de governos burgueses, à busca de governos de “esquerda” de gestão burguesa com consequências muito negativas.
O fator subjetivo, o partido comunista e a classe trabalhadora “se educam” com base em uma solução encontrada no marco do capitalismo, com a qual se perde um tempo valioso.
Infelizmente, isto não é compreendido por alguns. Os defensores de tais percepções chegam ao ponto de acusar de sectária a posição com relação à vigência do socialismo de sectária.
Lenin, em sua obra “Sob uma bandeira estrangeira”, ao referir-se a “nossa época”, iniciada com a I Guerra Mundial e consolidada pela Revolução Socialista de Outubro de 1917, coloca a burguesia na “mesma situação” em que encontravam os senhores feudais, além de falar da época do imperialismo e dos choques imperialistas.
Vivemos nesta época de transição do capitalismo para o socialismo e precisamos discutir profundamente sobre a estratégia que corresponde a nossa época.
O XIX Congresso do KKE avaliou que nos últimos 20 anos se desenvolveram ainda mais as condições prévias já maduras para o socialismo na Grécia. As relações capitalistas na produção agrícola, na Educação, na Saúde, na Cultura, nos Esportes, nos meios de comunicação se ampliaram e se fortaleceram. Produziu-se uma maior concentração do trabalho assalariado e de capital na indústria manufatureira, no comércio, nas construções, no turismo. Após a abolição do monopólio estatal nas telecomunicações, em setores monopolizados de energia e de transportes, empresas de capital privado se desenvolveram.
Aumentou significativamente a taxa de trabalho assalariado no conjunto do mercado trabalhista.
Assim, o KKE chegou à conclusão de que o povo grego se libertará das correntes da exploração capitalista e das uniões imperialistas quando a classe trabalhadora com seus aliados levar a cabo a revolução socialista e avançar na construção do socialismo-comunismo.
A mudança revolucionária na Grécia será socialista.
As forças motrizes da revolução socialista serão a classe trabalhadora como força dirigente, os semiproletários, os setores populares oprimidos dos trabalhadores autônomos da cidade e os camponeses pobres.
O KKE atua em vistas da preparação do fator subjetivo na perspectiva da revolução socialista, ainda que o período de sua manifestação dependa da situação revolucionária (quando os de cima já não podem governar como antes e os de baixo já não querem ser governados como antes), que é uma questão objetiva.
As direções básicas que respondem à necessidade da preparação do partido e do movimento operário e popular são o fortalecimento do KKE e da KNE, o reagrupamento do movimento trabalhador, a aliança popular.
A Aliança Popular expressa os interesses da classe trabalhadora, dos semiproletários, dos trabalhadores autônomos e dos camponeses pobres, dos jovens e das mulheres, dos setores populares na luta contra os monopólios e a propriedade capitalista, contra a assimilação do país às uniões imperialistas.
É uma aliança social com características de movimento em direção antimonopolista, anticapitalista.
Os partidos que possuem tal linha participarão nos organismos e nas fileiras da aliança com seus dirigentes e membros, com os membros de suas organizações juvenis, que são escolhidos nos órgãos do movimento e atuam nas organizações populares não como partidos, mas como componentes da aliança. Isto é certo para nosso partido também.
O movimento operário, o movimento dos trabalhadores autônomos das cidades e dos camponeses e a forma de expressão de sua aliança (Aliança Popular) com objetivos antimonopolistas-anticapitalistas, com a atividade dirigente das forças do KKE em condições não revolucionárias, constituem o germe para a formação da frente operária popular revolucionária em condições revolucionárias.
Estimados camaradas:
O KKE examina cuidadosamente os processos que estão em marcha na América Latina e o desenvolvimento do movimento operário e popular.
Apoia os esforços de Cuba contra o bloqueio dos EUA e contra a continuidade de todo tipo de ataques, condena o esforço de imposição de golpes de Estado e de soluções reacionárias.
Expressa sua solidariedade com os lutadores colombianos das FARC-EP.
Ao mesmo tempo, consideramos necessário tratar alguns assuntos, tomando parte na discussão que se iniciou no Movimento Comunista Internacional sobre assuntos de importância estratégica.
Na América Latina, amplas massas populares, indignadas com a política antipopular dos governos liberais e socialdemocratas, confiaram seu voto às forças políticas que promoveram o alívio da pobreza, falaram de independência e de soberania destes países, focando na confrontação das relações desiguais e na dependência aos EUA.
Como avaliamos esta situação?
Em primeiro lugar, não se pode silenciar o fato de que nestes estados o poder político e os meios de produção pertencem à burguesia, que os lucros são o critério do desenvolvimento, que se mantém o regime de exploração do homem pelo homem.
Este é assunto fundamental. Os governos do “progressismo”, com diferenças de país ou outro, gerenciam o sistema capitalista. Alguns tomam medidas para aliviar as forças populares da pobreza extrema e para assegurar um nível mínimo de serviços sociais para que se possa reproduzir a força de trabalho que continua sendo uma mercadoria. Alguns deles nacionalizam certas empresas privadas, sobretudo no setor da energia e dos recursos minerais.
No entanto, este elemento não constitui uma mudança radical; ocorre no marco das relações capitalistas gerais de produção e da propriedade estatal (o capitalista coletivo) sem mudar o caráter explorador do sistema.
Existiam empresas estatais e serviços sociais relativamente ampliados no período dos governos socialdemocratas em muitos países capitalistas da Europa, porém havia um alto grau de exploração da classe trabalhadora e as crises não foram evitadas.
Em segundo lugar, ao manter-se a base econômica capitalista, mantém-se a anarquia da produção, criam-se as condições para a manifestação da crise capitalista, aumenta-se o desemprego, a pauperização relativa e absoluta, a abolição dos direitos conquistados no período anterior.
A função das leis do capitalismo conduziu recentemente ao crescimento da inflação na Argentina, na Venezuela etc. a níveis muito altos, resultando a redução do poder aquisitivo das famílias populares. O vazio entre o crescimento da produtividade e os salários reais está aumentando.
A referência à dissimulação da taxa de pobreza não pode esconder o problema da pobreza generalizada, as causas que a geram e a regeneram, os capitais acumulados nas mãos dos capitalistas.
De qualquer maneira, em muitos países capitalistas são implantados programas de redução da pobreza para evitar as erupções, para manipular a classe trabalhadora.
Em nossa opinião, os partidos comunistas são obrigados a trabalhar persistentemente, firmemente com a finalidade de armar a classe trabalhadora, para que ela seja capaz de reclamar a riqueza que produz e que lhe pertence.
O Brasil é a sexta potência capitalista do mundo.
Tem uma indústria forte e produção agrícola, infraestrutura significativa, recursos minerais, recursos energéticos. Tem uma classe trabalhadora numerosa.
O capital monopolista amplia suas atividades particularmente na América Latina, na África, em muitas regiões do mundo; participa da competição interimperialista, utilizando também a participação do Brasil no grupo BRICS.
Cem grupos empresariais predominam na indústria, na extração de minerais, no setor agrícola e alimentício, no sistema financeiro, no comércio, nos serviços, com alta rentabilidade.
Neste Estado, 53 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza e 23 milhões na extrema pobreza absoluta.
5% das pessoas mais ricas tem uma renda que supera a de 50% das pessoas mais pobres.
Além disso, os acontecimentos na Argentina ensinam a utopia que é fomentar ilusões de uma política favorável ao povo no marco do capitalismo.
Importantes grupos monopolistas nacionais e estrangeiros controlam todos os setores dinâmicos da economia, por exemplo, a indústria siderúrgica, de automóveis, de processamento de alimentos etc.
Os governos da Argentina reestruturaram a alta dívida que aumentou durante (e depois) da crise de 2001. O povo, que não tem nenhuma responsabilidade com isso e nenhum benefício, pagou e está pagando está dívida.
A linha política básica do governo é o respaldo e o fortalecimento do capital da Argentina ante seus competidores na América Latina e no sistema imperialista internacional, além do aumento do grau de exploração da classe trabalhadora.
O governo promove importantes acordos econômicos com a China, Rússia, assim como com grupos monopólicos nos EUA, como a conhecida “CHEVRON”, para a exploração dos ricos depósitos de xisto (vaca morta).
Estamos falando do Brasil e da Argentina, destacando que a situação da classe trabalhadora e dos setores populares em outros países da América Latina que ocupam uma posição inferior na pirâmide imperialista, onde também existem governos de “esquerda”, é pior ainda.
A confrontação destes problemas duradouros e a salvaguarda do direito ao trabalho, aos serviços gratuitos de saúde e de educação conquistados por Cuba, no curso após a Revolução, destacam a necessidade do socialismo, do poder popular.
O argumento acerca da mudança positiva da correlação de forças a favor dos povos e dos partidos comunistas na América Latina não expressa a realidade. A participação ou o apoio dos governos de “esquerda”, enfraquecem os processos radicais, fortalecem a posição da socialdemocracia, têm um impacto negativo nos partidos comunistas.
Na Europa, partidos que levam o título de partido comunista, como na França e na Itália, participaram de governos de “esquerdas” e de “centro-esquerda”. Esta experiência foi dolorosa e impactou negativamente o movimento operário. Estes governos exerceram uma política antipopular dura, participaram de intervenções imperialistas e o movimento comunista foi acusado de responsabilidades e falta de confiabilidade.
Estes “experimentos” levaram a cisões, se converteram na ponte para o ressurgimento de forças conservadoras e de partidos da direita no poder, que utilizaram a negação das expectativas do povo, para impor uma política antipopular dura.
A ideia do “progresismo”, assim como a análise que embeleza o caráter das uniões interestatais, se integra ao chamado “Socialismo do século XXI”, através do qual pretendem manipular os povos (sobretudo) da América Latina.
Trata-se de um veículo de promoção da posição oportunista da “humanização” do capitalismo, enaltece o parlamentarismo, enfraquece a luta revolucionária. Desde o primeiro momento de sua aparição, tentou caluniar o socialismo científico e a construção socialista na União Soviética.
A utopia da democratização-transformação do estado burguês, do poder dos monopólios e da promoção da economia capitalista “mista” se apresenta como o novo “modelo” do socialismo.
Em lugar da classe trabalhadora, da classe de vanguarda, cuja missão histórica é derrotar a exploração capitalista, aparece como “sujeito revolucionário” uma mistura de movimentos com posições socialdemocratas, de gestão keynesiana do sistema. Em lugar da política de alianças necessária dos partidos comunistas, que contribuirá para a concentração e preparação das forças operárias e populares em direção anticapitalista-antimonopolista, aparece a cooperação de partidos comunistas com a socialdemocracia (de esquerda).
Estimados camaradas:
Há muito anos o KKE luta contra a OTAN, que é a aliança política e militar, o braço armado do imperialismo europeu e estadunidense, responsável por dezenas de intervenções, guerras e golpes de estado. Nosso partido luta no sentido de desvinculá-la do povo como dono de seu próprio país.
As posições que falam de “dissolução” da OTAN, desconectadas da luta pela desvinculação de cada país, enfraquecem a luta contra este mecanismo assassino.
O KKE luta contra a UE, a união imperialista interestatal na Europa, por sua desvinculação, com o poder e a riqueza nas mãos do povo, com o desenvolvimento de relações de benefício mútuo com outros estados e povos.
Nosso partido tem uma frente aberta contra as forças burguesas e oportunistas que embelezam o papel da UE e a apoiam, como faz o Partido da Esquerda Europeia (PIE).
O problema não é apenas uma ou outra linha política antipopular da UE, mas sua essência classista como uma união dos monopólios contra os povos.
Alguns camaradas nos perguntam por que o KKE se retirou do “grupo da esquerda” do GUE/NGL.
A estes camaradas, dizemos que o Comitê Central de nosso partido avaliou que este grupo se transformou no grupo parlamentar do PIE, que apoia a UE e que algumas de suas forças apoiam intervenções e guerras imperialistas, por exemplo, na Líbia e na Síria. Partidos como o Die Linke alemão, SYRIZA, entre outros, promovem o anticomunismo, participam do ataque contra a União Soviética e sua trajetória histórica, participam de eventos que alimentam os ataques contra Cuba.
O KKE não está integrado a nenhum grupo político; seu grupo euro-parlamentar possui uma atividade ampla dentro e fora do parlamento europeu. Realizou várias intervenções e está à disposição dos Partidos Comunistas e Operários. Os que predisseram o isolamento do KKE e tentaram caluniá-lo, ficaram expostos mais uma vez.
Estimados camaradas:
Foi iniciada uma discussão acerca dos BRICS e é necessário responder uma questão chave.
Qual é a base objetiva, os critérios que determinam o caráter dos BRICS, da cooperação interestatal entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul?
Seus próprios dados demonstram que se trata de estados capitalistas, elos importantes no sistema imperialista, com fortes monopólios que controlam a economia.
Um elemento básico é o desenvolvimento desigual e as relações díspares. O antagonismo dos BRICS, por exemplo, com os EUA e a UE, está combinado ao antagonismo entre os próprios estados dos BRICS porque, por exemplo, são diferentes as capacidades e os objetivos políticos, econômicos e militares da China e dos outros estados. Inclusive, as forças que apoiam os BRICS se preocupam a respeito da desaceleração destas economias e isto é apenas um aspecto dos acontecimentos, pois continuam gestando o estouro da crise que é inerente ao capitalismo.
Estimados camaradas:
Também foi iniciada uma discussão sobre o caráter e o papel dos organismos interestatais na América Latina. Por exemplo, sobre a “União das Nações Sul-americanas” (UNASUL), o “Mercado Comum do Sul” (MERCOSUL), a “Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos” (CELAC) e outras uniões.
A realidade demonstrou que se trata de organismos de estados capitalistas que, independentemente de se participam delas, são estados com governos que se autoproclamam de esquerda, se baseiam nos grandes grupos monopolistas e seus interesses. Este é o ponto de partida das transações comerciais e financeiras promovidas entre os estados membros e em suas relações com outros países capitalistas ou uniões imperialistas.
Ao mesmo tempo, a formação de uma rede cada vez mais densa de organismos interestatais capitalistas reforça os mecanismos de cooperação entre os estados burgueses em um processo que, em última instância, se dirige contra a luta popular.
No marco do desenvolvimento desigual e das relações interestatais díspares se destaca o papel dominante do Brasil e da Argentina, que utilizam estas uniões para promover mais adiante seus interesses monopolistas.
As relações entre as uniões da América Latina, EUA e da UE são relações de antagonismo pelo controle dos mercados e, concomitantemente, são relações de cooperação econômica e política.
Alguns camaradas estão refletindo sobre o caráter da “Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América” (ALBA), da qual participa Cuba.
Nossa opinião é que o elemento básico que determina o caráter da ALBA é ser uma organização interestatal, onde predominam os estados capitalistas, e a participação de Cuba não muda isto.
Após a derrocada do socialismo na União Soviética, promoveu-se a posição de “mundo multipolar” como contrapeso aos EUA, ressaltando os BRICS e outras uniões interestatais.
Objetivamente, trata-se de uma posição baseada em uma aproximação não classista do caráter de estados capitalistas poderosos, velhos ou “emergentes”, em que predominam os monopólios. Estes estados cumprem um papel essencial na exportação de capitais, desempenham um papel protagonista na região e mais amplamente, além de ocupar uma posição importante no sistema imperialista.
O enfoque que defende um “mundo multipolar” como meio de assegurar a paz e os interesses populares é errôneo. Na realidade, esta aproximação trata o adversário como um aliado, induz as forças populares a escolher entre imperialistas ou uniões imperialistas, impacta o movimento operário.
Estimados camaradas:
Desde o primeiro momento em que ocorreu a contrarrevolução, o KKE contribui com toda sua força com o reagrupamento do movimento comunista, com sua unidade na base revolucionária e na coordenação de sua luta.
Vinte anos depois da derrubada contrarrevolucionária, a crise do Movimento Comunista continua.
Percepções burguesas e oportunistas impactam ou são adotadas por partidos comunistas, regenerando a crise.
Caso não seja produzida uma ruptura, se a estratégia do movimento comunista não for ajustada à concentração e à preparação das forças trabalhadoras e populares na luta pela derrota do capitalismo, se não for reforçada a luta contra o oportunismo e não ficar claro que o socialismo é a única solução que pode satisfazer às necessidades populares, a situação se deteriorará nos próximos anos.
A lógica das particularidades nacionais tem sido o veículo do “eurocomunismo” para renunciar às leis científicas da revolução e da construção socialista. Hoje em dia, o problema se manifesta com os mesmos ou similares argumentos.
Naturalmente, todos os partidos comunistas em seus países devem estudar o desenvolvimento do capitalismo, da estrutura social e adotar as medidas necessárias para ajustar sua estratégia e a tática, com a finalidade de desenvolver a luta classista com maior eficácia.
Porém, isto é algo muito diferente de utilizar as “particularidades” para justificar a substituição do caminho revolucionário pelo parlamentarismo, pela degradação do socialismo com algumas mudanças governamentais de gestão burguesa, como faz, por exemplo, o Fórum de São Paulo e outras forças.
A construção socialista é um processo unificado que começa com a tomada do poder pela classe trabalhadora, para que se crie um novo modo de produção, que predominará com a plena abolição das relações capitalistas, da relação capital-trabalho assalariado.
A socialização dos meios de produção e a planificação central são leis científicas da construção socialista, as condições necessárias para a satisfação das necessidades populares.
Estimados camaradas:
As diferentes aproximações em assuntos graves requerem uma discussão mais profunda. Isto é inegável. É claro, ao mesmo tempo, nos vemos obrigados a participar e apoiar decisivamente a luta da classe operária, dos setores populares, dos jovens, utilizar todas as possibilidades para coordenar nossas atividades.
Neste sentido, propomos examinar conjuntamente algumas atividades comuns para o próximo período.
Entre elas, queremos mencionar as seguintes:
- Apoio das lutas operárias pelos direitos trabalhistas, sociais e democráticos dos trabalhadores. Atividades coordenadas para o Primeiro de Maio. Destacar o 70° aniversário da FSM.
- Campanha contra o anticomunismo, no dia 9 de maio de 2015, Dia da Vitória Antifascista.
- Intensificação da luta contra as guerras imperialistas. Solidariedade com os povos que enfrentam ameaças, intervenções e ocupação imperialista, campanha contra a OTAN etc.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)