Guia para realizar um interrogatório com torturas
Os EUA divulgaram um informe com as práticas da CIA para obrigar os suspeitos a confessar. Tudo estava estipulado, até as calorias diárias que devia receber cada preso
Carolina Bellocq @carobellocq – 10.12.2014, 05:00 hs
Entre as cerca de 500 páginas do informe divulgado ontem pelo Senado dos EUA sobre as torturas realizadas pela Agência Central de Inteligência dos EUA existem documentos classificados que detalham como devem ser realizados os interrogatórios com os “detidos de alto valor”, pessoas que se presume estarem vinculadas ao Al Qaeda e que podem revelar informações importantes.
Um desses textos, de 30 de dezembro de 2005, dá algumas orientações. Começa com o esclarecimento de que devem ser cumpridas três premissas básicas para iniciar as sessões:
Nudez: Ao começar qualquer interrogatório se desnuda o suspeito. Ele é vestido quando os interrogadores decidirem.
Privação de sono: O suspeito passa horas de pé e com algemas. Utilizam fraldas por motivos de sanitários.
Manipulação dietética: Dão Ensure Plus ou algo similar de tempos em tempos. Mantém uma dieta de 1500 calorias diárias.
Depois, sim, começam as perguntas por parte de um examinador. “Em geral, uma bofetada é dada apenas se o suspeito faz ou diz algo inconsistente com as instruções do interrogador”, esclarece o texto. É sugerido combinar os métodos de tortura e aumentar as reprimendas conforme passa o tempo.
O informe detalha dois tipos de tortura que se recomenda usar de modo combinado:
Técnicas corretivas:
Bofetada:
Com os dedos da mão levemente abertos. É o primeiro método físico que se aplica em interrogatórios, com para assustar, surpreender e humilhar.
Soco abdominal:
Similar ao anterior, com o abdômen como objetivo.
Chamado de atenção:
Consiste em tomar o suspeito com as duas mãos pelo pescoço em um movimento brusco e aproximá-lo do interrogador.
Rosto agarrado:
Com uma palma a cada lado do rosto, o interrogador mantém imóvel o rosto do suspeito. Pensada para intimidar.
Técnicas coercitivas:
Parede:
Coloca-se o suspeito de costas para uma parede especialmente construída que é macia, porém o contato com ela gera ruído forte. Quando não responde, o empurram para frente e depois contra a parede. As omoplatas são golpeadas, fazendo grande ruído – o que leva a pensar que está se machucando – porém, na realidade, não traz grande prejuízo.
Água:
Vertem água sobre o detido, com o objetivo de intimidá-lo e dar a sensação de afogamento.
Posições incômodas:
São várias, como estar sentado com as pernas estiradas e os braços levantados. O objetivo é criar incômodo e fadiga muscular.
De pé contra a parede:
Para induzir fadiga muscular: o suspeito é colocado frente uma parede, com os braços estirados e os dedos tocando a parede. Não podem afastar-se e nem mover-se.
Reclusão:
Consiste em manter o detido em um lugar fechado e escuro por até 18 horas ou em um lugar pequeno durante duas horas.
“O uso das técnicas de interrogatório combinadas são essenciais para a criação de um ambiente propício ao interrogatório. Os detidos de alto valor estão bem treinados, geralmente são terroristas curtidos na batalha e muito comprometidos com a Guerra Santa. São inteligentes, têm muitos recursos e podem resistir interrogatórios típicos”, detalha o texto.
Todas as técnicas foram aprovadas com a Lei Patriota, sancionada após os atentados de 2001.
Fonte: http://www.elobservador.com.uy/noticia/293778/guia-para-realizar-un-interrogatorio-tortuoso/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)