Pela retirada das tropas do Haiti

Montevidéu,3 de fevereiro de 2015

ALTA TENSÃO NO HAITI

O Haiti está desde segunda-feira, 02 de fevereiro, paralisado por uma greve geral convocada pelos movimentos sociais e a oposição política, que exigem a renúncia do ditador Martelly e o fim da ocupação militar da MINUSTAH. Dita greve foi iniciada hoje pelos motoristas do transporte público, porém a tensão continua e as atividades bancárias, escolares, de transporte, etc., permanecem bastante paralisadas.

O governo concedeu a redução do preço dos combustíveis, porém o mesmo é considerado insuficiente por grande parte dos motoristas autônomos de transporte. As ruas das cidades estão semidesertas, continuam as barricadas com pneus presos ao fogo, que dificultam a escassa circulação. Estão convocadas manifestações em todo o país.

O sindicato Batay Ouvryer denuncia a tentativa de assassinato de Yannick Etienne, uma de suas principais dirigentes, ao sair de uma negociação em uma fábrica em conflito com o patronato. Atacada com armas brancas e pedras, foi ferida, mas resgatada por seus companheiros a tempo.

Já são vários os incidentes protagonizados por desconhecidos, por paramilitares contra militantes sociais, que o governo quer fazer passar como disputas entre grupos rivais.

A isso se somam os feridos a balas e outros projéteis dos últimos dias pela polícia em manifestações pacíficas.

Por todas as reivindicações políticas e sindicais, o Batay Ouvryer convocou uma plenária em frente ao Ministério das Finanças.

NO URUGUAI

Em 30 de setembro de 2014, o Presidente Mujica recebeu uma delegação integrada por Adolfo Pérez Esquivel, Nora Cortiñas, mãe da Plaza de Mayo (Linha Fundadora), Beverly Keene, do Jubileu Sul, e Henry Boisrolin, do Comitê Democrático Haitiano, quase um ano depois de declarar que retiraria as tropas em 90 dias caso não ocorressem eleições no Haiti (29 de outubro de 2013).

Na audiência, deixou entrever sua vontade de retirar as tropas antes do fim de seu mandato na Presidência da República, em março de 2015, se a situação vigente fosse mantida no Haiti.

Em conhecimento da intensa mobilização social e política no Haiti, com manifestações massivas exigindo a renúncia do ditador Martelly e o aumento da repressão, o Poder Executivo acrescentou um inciso, o artigo 3 à lei votada em dezembro passado para a renovação de tropas, que autoriza o Presidente pela retirada total das tropas quando considerar pertinente.

No entanto, de maneira inesperada, quando se concretizou a situação como uma ditadura aberta de Martelly pelo Poder Executivo, (Mujica) mudou radicalmente sua posição, manifestando que apenas no caso de uma “ditadura descarada” sairá do Haiti.

Não sabemos quantos mortos mais são necessários, quantos presos, violações, estupros, massacres para que a ditadura seja “descarada”.

É PRECISO SABER

* A intervenção neocolonial no Haiti, que existe há 100 anos da parte dos EUA, fez retroceder seu processo democrático, promovendo crimes, ditaduras, invasões, massacres, exploração extrema de sua mão de obra, provocando estupros, a perda absoluta de sua soberania alimentar e política.

* A terceirização imperialista, já existente há dez anos, com a participação da MINUSTAH, que assume o papel de força de ocupação, de polícia militar, de repressor do movimento social.

O QUE NÂO SE PODE FAZER

* A autodeterminação do povo haitiano NÃO PODE SER sacrificada, comercializada como barganha para obter cargos e benefícios econômicos mercenários. Esse é um comportamento que repudiamos e exigimos mudar em nosso governo. São decisões que representam os interesses imperiais e não os do nosso povo.

Estas posturas também contradizem as do Fórum de São Paulo, que acabam de condenar a ocupação do Haiti, exigindo a retirada imediata das tropas da MINUSTAH.

ONDE FICOU NOSSA SOBERANIA?

O Presidente Mujica declarou que ele segue o Brasil.

O Brasil possui interesses próprios, investimentos privados de membros do governo no Haiti, aproveitando a mão de obra quase escrava e o “Haiti for BUSINESS”, posto em prática por Martelly.

O Brasil integra o CORE GROUP (Grupo Central) com os embaixadores dos EUA, Espanha, França, Canadá, UE e representantes especiais da ONU e da OEA no Haiti. O CORE GROUP emitiu em 12 de janeiro de 2015, dia em que se dissolveu o Parlamento, um comunicado de total apoio a Martelly “como presidente constitucional” e o instou a cumprir com o cronograma fixado pela embaixada dos EUA para “reinstitucionalizar” o Haiti, organizando as eleições de 2015.

Perguntamo-nos: por que o Uruguai segue o Brasil em qualquer circunstância? Em suas aspirações de subimpério?

Perdeu-se a sensibilidade acerca do que representa a soberania”, afirmou, em 2005, o então deputado Guillermo Chifflet.

JOGAM COM AS PALAVRAS E COM A VIDA DO POVO

É possível esperar de um pseudopresidente acusado de crimes e corrupção como Martelly, saído de uma fraude, organizar junto a um exército de ocupação e dirigido in situ pelas potências mundiais à espreita para roubar, com sua cumplicidade, o ouro, o urânio, todos os recursos e a vida de trabalhadores haitianos, trabalhadores violados, “eleições inclusivas, críveis e transparentes” como as exigidas?

* As missões de paz como polícia mundial militarizada de submissão à ordem imperial (o Uruguai com escola incluída) não têm nenhum componente democrático.

O GOVERNO URUGUAIO ATUAL, TODAVIA, AINDA TEM TEMPO DE CUMPRIR COM SUA PALAVRA e acabar imediatamente com esta agressão inqualificável contra o povo mais oprimido de toda Nossa América.

COORDENAÇÃO PELA RETIRADA DAS TROPAS DO HAITI

Fonte: http://haitinominustah.info/2015/02/03/uruguay-declaracion-de-la-coordinacion-por-el-retiro-de-las-tropas-de-haiti/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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