Venda de armas à Arábia Saudita: uma bomba relógio

imagemRasoul Goudarzi*/Resumen Latinoamericano/Hispan TV, 3 de agosto de 2015 – Há dois dias, o departamento de Estado dos Estados Unidos deu sinal verde à venda de 600 mísseis Patriot PAC-3 à Arábia Saudita.

Um sistema impecável de mísseis com vista de águia que intercepta qualquer alvo que voe com uma velocidade de até 2 mil quilômetros por hora. Os EUA venderão 600 destes mísseis à monarquia árabe; um gordo negócio no valor de 5,4 bilhões de dólares.

O tema possui diferentes aspectos e não se limita apenas a uma simples compra de armas, ou seja, é preciso considerar a situação econômica saudita, sua guerra contra o Iêmen, a iranofobia, entre outros. Neste artigo, pretendemos, além de repassar o investimento saudita no âmbito militar, estudar os motivos ocultos por trás destes gastos militares por parte de países árabes, especialmente de Riad.

Arábia Saudita, reino das armas

A compra de armas constitui uma parte importante da estratégia defensiva da Arábia Saudita, em especial na última década, não obstante, mais que defensiva foi uma estratégia agressiva. Sua agressão ao país vizinho, Iêmen, é uma clara evidência, assim como seu apoio armamentista e logístico aos rebeldes na Síria, Iraque, entre outros países.

Neste contexto, cabe destacar que um informe apresentado pelos especialistas do IHS Janes, com sede em Londres, considera que o reino saudita foi o primeiro e principal importador de equipamento militar a nível mundial, superando a Índia, durante o ano de 2014, com uma compra no valor de 6400 milhões de dólares. A maior parte do investimento saudita em armas radica na compra de helicópteros, mísseis, sistemas de defesa aéreos, etc.

Riad experimentou um aumento de 54% em 2014, e se estima que, em 2015, tenha outro aumento de 52% para alcançar os 9800 milhões de dólares. Cabe mencionar que, neste ano, a Arábia Saudita emprega um a cada sete dólares na compra de armas, cujos principais provedores são os Estados Unidos.

Também digno de nota que o orçamento militar saudita, durante os últimos 10 anos, foi de 537 bilhões de dólares. Enquanto isso, em 2004, apenas dedicava uns 29 bilhões de dólares em assuntos militares. Esta cifra alcançou 81 bilhões em 2014. Ou seja, o orçamento militar saudita teve um aumento de 280% em apenas uma década.

Desta forma, o país árabe se encontra no quarto posto do ranking de países que mais investem no âmbito militar, atrás dos Estados Unidos, China e Rússia.

Este aumento do orçamento militar ocorre em momentos em que os indicadores da economia saudita falam de uma crescente taxa de pobreza, de desemprego e inflação. Um estudo a respeito assegura que mais de 60% da população saudita vive abaixo da linha da pobreza. Os meios de comunicação árabes defendem também que, atualmente, cerca de 60% dos cidadãos sauditas equivalente a uns 20 milhões de pessoas, vive em apartamentos alugados.

As cifras mostram o desnecessário investimento em assuntos militares, pois os países vizinhos da Arábia Saudita são pequenos Estados que não podem ameaçá-la e, além disso, o país nunca foi alvo de invasão alguma desde seu estabelecimento em 1930. São sobre estas questões que as vozes opositoras internas estão se levantando cada vez mais, apesar da massiva repressão à liberdade de expressão.

Iranofobia e o negócio das armas no Oriente Médio

Antes do Irã e o Grupo 5+1, formado pelos EUA, Reino Unido, França, China e Rússia mais a Alemanha, alcançarem a conclusão dos diálogos sobre o programa nuclear, as acusações do Ocidente baseadas em que Teerã buscava fabricar armas atômicas e desenvolver um projeto de mísseis, motivavam a preocupação dos países árabes da região e provocavam o aumento de seus investimentos no campo militar.

Agora, depois do passo importante do Irã e do G5+1 para um acordo nuclear que supõe maior interação entre Teerã e a comunidade internacional, como vemos no aumento de visitas de altas autoridades árabes ao país persa, assim como da França, Alemanha e da chefa da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, os árabes, especialmente Arábia Saudita que se considera o rival ideológico do Irã, se esforçam para continuar aumentando seu poder militar.

Não obstante, não se pode fazer caso omisso ao papel dos EUA, que atualmente leva a cabo um duplo jogo com estes temores, para fazer estourar uma corrida armamentista no Oriente Médio e beneficiar-se da venda de armas.

Neste sentido, podemos nos remeter às palavras do secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, em sua viagem a Riad, capital saudita, onde disse: “Continuaremos trabalhando com Israel e nossos parceiros na região para combater o perigo do Irã”. Não resulta ilógico supor que, em sua viagem, o secretário de Defesa tenha assegurado às autoridades sauditas que o país oferecerá os melhores e mais atualizados sistemas para aumentar seu poder frente ao Irã.

De um lado, Washington obtém o apoio de seus parceiros no Oriente Médio pelo acordo nuclear e, por outro, se beneficia da venda de armas.

Invasão saudita ao Iêmen

Além do comentado sobre a corrida armamentista na região do Oriente Médio, como principal motivo de negócio de armas, é preciso ver a outra face da moeda.

A guerra saudita contra o Iêmen segue vigente e a ONU colocou uma sanção contra este país, para que não possa comprar armas, enquanto o agressor permanece livre e comprando tudo o que deseja, como o sistema de defesa antiaérea. Quem está oferecendo estas armas é o país que, mais que qualquer outro, grita ser o defensor dos direitos humanos, ou seja, os EUA, que criticam e sancionam os demais Estados que, segundo seu critério, estão violando os direitos humanos. Um fato ao qual se somam os países europeus é a manutenção do silêncio ante o massacre de crianças e mulheres no país mais pobre do mundo árabe.

Com todo o exposto, é possível afirmar que a semente da discórdia e do horror na região do Oriente Médio foi sempre uma estratégia para favorecer o mercado de armas nesta região.

Além disso, é necessário considerar que é muito normal que, em um país com escasso desenvolvimento sociocultural, a quantidade de armas sob seu controle se converta em uma bomba relógio, que pode ser utilizada a qualquer momento, tal e como está acontecendo na guerra saudita contra o Iêmen e os conflitos na Síria, Iraque, Líbia, Líbano, entre outros, devido ao apoio com armas e dinheiro que oferecem alguns países aos terroristas.

*Jornalista e analista internacional, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Azad do Irã. Especialista em temas relacionados ao Oriente Médio e Irã. É colaborador de várias redes de notícias internacionais.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/08/03/venta-de-armas-a-arabia-saudi-una-bomba-de-tiempo/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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