Hiroxima…Nagasaki…Um duplo crime dos EUA contra a humanidade

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O lançamento de bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki permanece como o mais hediondo e injustificado crime de guerra até hoje cometido pelos EUA. Por muito que a sua propaganda tenha tentado ocultá-lo ao longo dos 70 anos passados, essas acções monstruosas tiveram um único objectivo: impedir a capitulação do Japão perante a URSS.

A 6 de Agosto de 1945, Little Boy é lançada sobre Hiroxima. A cidade inteira é arrasada, estima-se em cerca de 234 000 o número de mortos. Três dias depois o fogo nuclear americano é de novo desencadeado, em Nagasaki: mais 74 000.

A 15 de Agosto, o Japão capitula. Sob o efeito conjugado dos dois ataques, é o que costumamos ouvir dizer.

Para o historiador Peter Kuznick, professor de história e director do Instituto de estudos nucleares na universidade americana de Washington, o presidente Truman sabe então perfeitamente que a entrada em guerra da URSS será decisiva. Os “Japs” estão “arrumados”, diz na altura. Os serviços secretos americanos tinham interceptado mensagens japonesas provando que o próprio Japão se considerava perdido se Soviéticos interviessem. “Truman refere-se nomeadamente a um telegrama interceptado a 18 de Julho como “o telegrama do imperador jap pedindo a paz”, sublinha o historiador.

Porquê, então, ter utilizado a bomba ? Numa logica de pré-guerra fria, afirma Peter Kuznick. “Truman esperava que isso aceleraria a rendição japonesa. Queria acabar a guerra se possível antes que os Russos nela interviessem e viessem a obter aquilo que os Estados Unidos lhes tinham prometido em Ialta.”

Juntamente com o realizador Oliver Stone, Peter Kuznick escreveu em 2013 “Os Crimes ocultos dos presidentes” (publicado em francês pelas edições Saint-Simon). A 11 de Outubro do mesmo ano publicavam um texto no Huffington Post , intitulado “Os Estados Unidos e o Japão: parceiros na falsificação histórica”. O poder americano, afirmam, não cessou de impor a ideia de uma “boa guerra”, que teria permitido poupar milhares de vidas americanas, guerra ganha mais pelos Estados Unidos do que pela URSS. A versão contada aos jovens Japoneses é igualmente “falaciosa e desonesta”, acrescentam. Se conhecemos o massacre de Nanquim e a escravatura sexual imposta às Coreanas – as “mulheres de reconforto” –, continuamos efectivamente a ignorar em grande medida a brutalidade das conquistas nipónicas, “a morte de mais um milhão de Vietnamitas, as atrocidades cometidas na Indonésia, na Malásia, nas Filipinas, em Taiwan, na Birmânia”. “A própria rendição foi maquilhada numa compassiva vontade do imperador em se sacrificar a fim de poupar o seu povo.”

Após a capitulação, adiantam Peter Kuznick e Oliver Stone, os dois países tinham interesse em defender a mesma interpretação de Hiroxima: os Estados Unidos podiam justificar a utilização da bomba apresentando-a como uma viragem na guerra; o Japão, se reclamasse justiça, arriscava-se a ver os seus próprios crimes de guerra expostos perante os tribunais. 70 anos depois, a “parceria” continua a existir. Mas as línguas desatam-se.

Ward Wilson é um deles. Director do projecto “Repensar as armas nucleares” para o think tank British American Security Information Council (BASIC), combate a ideia, em parte apoiada no precedente Hiroxima, de uma eficácia sem igual da dissuasão nuclear. Já em 1965, recorda num artigo publicado pela revista Foreign Policy e traduzido pela Slate, o historiador americano Gal Alperowitz relativizava o impacto estratégico da bomba, e garantia que os “dirigentes japoneses tinham a intenção de capitular e tê-lo-iam provavelmente feito antes da data da invasão prevista pelos Estados Unidos, 1 de Novembro 1945″.

Por muito abomináveis que tenham sido as suas consequências, a utilização da arma atómica em Hiroxima não teve o efeito de choque que lhe é atribuído, afirma Ward Wilson. A Força Aérea dos Estados Unidos estava na altura “a efectuar uma das mais intensas campanhas de destruição de centros urbanos da história mundial. 68 cidades japonesas são bombardeadas, e todas são parcial ou integralmente destruídas.” A ofensiva fará no total mais de um milhão de mortos e de feridos – um tributo humano que o governo japonês há muitos meses dizia estar disposto a pagar. O general Anami Korechika, ministro da Guerra, afirma mesmo a 13 de Agosto que as bombas atómicas não são “piores” do que as bombas incendiárias que há semanas devastam o país.

A reacção do Conselho supremo qui dirige então o país parece confirmar esta tese. Os seus seis membros não encaram uma rendição senão a 9 de Agosto, algumas horas antes do bombardeamento de Nagasaki. No dia seguinte a Hiroxima, adianta historiador americano Tsuyoshi Hasegawa, a agenda era ainda a procura de uma saída mais favorável para os Japoneses do que a que fora preparada a 27 Julho pelo ultimato de Postdam, que ameaçava o país com uma “destruição rápida e total” se não capitulasse incondicionalmente. Desde o mês de Maio que os Japoneses procuram convencer Estaline, com quem tinham acordado em 1941 um pacto de não-agressão, a obter garantias para eles – nomeadamente no que diz respeito à sorte do imperador Hiroito. É ainda o caso, ao que parece, quando a 7 Agosto o ministro dos Negócios estrangeiros, Togo Shigenori, envia um telegrama urgente ao embaixador na URSS, Naotake Sato. “A situação torna-se cada vez mais urgente”, escreve. “Precisamos de conhecer de imediato a posição dos Soviéticos. Faça os maiores esforços para obter a sua resposta imediatamente.”

Como resposta, no dia seguinte 8 de Agosto, Sato ficará a saber que a URSS declara também guerra ao Japão. Na manhã do dia 9 o Exército Vermelho invade a Manchúria, na altura sob protectorado japonês. É este acontecimento, muito mais do que o pesadelo Hiroxima, que decide Tóquio a capitular, afirmam Tsuyoshi Hasegawa e Ward Wilson.

Fonte: http://www.collectif-communiste-polex.org

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