CAPITALISMO QUESTIONADO

A crise econômica do capitalismo europeu se transformou em crise política. Efeito desta crise é a queda do gabinete de Zapatero. E é, com toda certeza, o primeiro gabinete que cai. Depois virão outros países europeus.

Mas, o que significa a substituição de ministros e a aparição de rostos que ninguém tinha imaginado na Moncloa há alguns meses? A imprensa começou a especular – sem inocência, levianamente – de que se trata de um gabinete com “tendências de esquerda”. Em particular, chamou atenção a presença de Rosa Aguilar, ex-prefeita de Granada e que chegou a esta posição enquanto fazia parte da Esquerda Unida. Dizem que teve um bom desempenho em seu cargo e agora a levaram ao ministério de meio ambiente. Mas, uma andorinha só não faz verão. É sugestiva a mudança de Moratinos no ministério de relações exteriores; dizem que é o autor da retirada das tropas espanholas do Afeganistão. Um atrevimento desses o Pentágono não perdoa, como também não perdoa sua atitude equilibrada nas relações com Cuba, nem a forma comedida com que trata o assunto dos “dissidentes” libertados.

É preciso olhar com lupa essas mudanças e nunca parar de pensar que pode ser uma artimanha; estão maquiando a cara porque haverá eleições e, Zapatero, com seu partido socialista, que se chama “operário” (PSOE), está muito deteriorado. O melhor seria que anulassem as leis antipopulares de maio. Isso seria uma retificação e não um novo engano. Alguém disse com ironia: “são os mesmos cabelos grisalhos, com menos mulheres”

Na França, a luta continua e com grande tenacidade. Tiveram que recorrer à força para desbloquear uma refinaria perto de Paris. Em Marselha, um dos portos mais importantes continua sendo bloqueado pelos trabalhadores; 85 cargueiros estão parados desde o dia 27 de setembro, resultando em milhões de euros perdidos. A batalha proletária francesa tem seus objetivos claros. O encarregado de assuntos de energia da Confederação Geral de Trabalhadores (CGT) disse: “não retrocederemos, essa é uma luta até a vitória”. Por outro lado, Frederic Alpozzo, dirigente sindicalista dos trabalhadores dos estaleiros, expressou que a luta não é somente a questão da idade de aposentadoria, mas “que esta é uma questão do modelo social”. Ele representa 40.000 trabalhadores que estão contra a privatização paulatina do porto. A burguesia pretende substituí-los por trabalhadores estrangeiros e com salários inferiores. Marselha é um porto com muitas tradições especificamente anticapitalistas; é um dos pontos nos quais a CGT, que recobrou impulso, tem forças para resistir ainda mais. Embora tenha sido aprovada a lei, em primeira instância e com pequena maioria (177 contra 153), a luta continua.

A principal conclusão das lutas europeias é que não estão em meros assuntos sobre idade de aposentadoria: estão questionando o modelo neoliberal, questionam o capitalismo. As ilusões do “Estado de bem-estar”, do “Estado benfeitor” estão esfumaçando-se, etc. A exploração, o desprezo pelos trabalhadores, as migalhas que lhes são dadas, a repressão, a prática de extrair e exaurir dos trabalhadores a mais-valia, tudo continua igual. Cedo ou tarde estará mais clara a ideia de que é preciso derrotar o capitalismo e substituí-lo por uma nova ordem, mais justa, mais livre.

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