Obama e a sua nova diplomacia para a América Latina

O tom continua o mesmo de sempre: imposição dos interesses e métodos americanos.

De três em três meses o Centro Gumilla de Caracas, sob a coordenação de Francisco José Virtuoso, elabora uma Análise de conjuntura da América Latina e Caribe. O grupo de pesquisadores que elabora a análise é constituído por Jesús Machado, Carolina Jiménez, Hildebrand Breuer, Alfredo Infante, SJ e Demétrio Boersner.

Eis alguns trechos da análise:

Em seu discurso de despedida de 1961, o então presidente Dwight Eisenhower havia assinalado que não havia administrado um país senão um “complexo industrial militar” e advertiu que sua influência “econômica, política e até espiritual” se sentia em “cada cidade, cada Estado, cada oficina do governo federal”, até formar parte “da própria estrutura de nossa sociedade”.

Em princípios de fevereiro do ano em curso, o governo dos EE.UU disse que o gasto com defesa para 2011 será de US$ 750.000 milhões, US$ 31.000 milhões mais do que em 2010 e quase US$ 100.000 milhões mais do que em 2009. Em meio a uma tremenda crise econômica, e a um déficit recorde na história do setor público estadunidense, na ordem dos US$ 2 bilhões, nem o Nobel da paz pôde com o Pentágono. Coincidências ou continuidades entre o Rumsfeld de 2002 e o Obama de 2008? O que significa manter em postos-chave de segurança e defesa funcionários do Pentágono da passada administração Bush e repetir os discursos dos operadores do Pentágono? Por que não é possível reduzir o pressuposto do Pentágono em meio à crise? É Obama refém do Pentágono? O Pentágono dita a política exterior dos EE.UU ?

Em princípios de fevereiro do ano em curso o governo dos EE.UU disse que o gasto com defesa para 2011 será de US$ 750.000 milhões, US$ 31.000 milhões mais do que em 2010 e quase US$ 100.000 milhões mais do que em 2009.

O estadista dominicano Juan Bosch escrevera um livro em 1967, intitulado O Pentagonismo: substituto do imperialismo. Com tremenda clareza desenvolveu o modo como operava a forte diretriz do Pentágono no sistema da tomada de decisões na Casa Branca e a justificação ideológica de suas intervenções armadas. Tempos de releituras.

Os primeiros movimentos da política exterior norte-americana com a América Latina e o Caribe (ALC) se caracterizaram por uma série de atos ambíguos e atitudes contrapostas. Dos coquetismos iniciais do presidente Obama com países como Cuba e Venezuela, a declarações agressivas da parte de funcionários de diversos níveis contra vários países considerados adversos aos EE.UU. As ações e discursos iniciais que mostravam alguma flexibilidade produziram mais de uma inquietude negativa na opinião pública estadunidense e o ataque dos setores mais conservadores não tardou muito em se manifestar e boa conta dele deram editoriais de imprensa e vários representantes do partido opositor.

O subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos, Arturo Valenzuela, disse em roda de imprensa, uma semana antes da tomada de posse do recém eleito Presidente do Uruguai: “Esta viagem é uma continuação de nossos esforços para envolver-nos com os países do hemisfério numa multiplicidade de assuntos”.

Na visita que realizara o vice-presidente Biden ao México, enviara um sinal bem claro de que a administração Obama daria prioridade às relações com a ALC.

Em declarações dadas nas Bahamas pelo atual secretario de defesa Robert Gates, a propósito da conferência de segurança regional dos países da órbita do Caribe, em princípios de abril de 2010, ele dissera que se estava enviando um forte sinal de que “os Estados Unidos estão se reenvolvendo com esta região”.

Um claro exemplo da ofensiva política e diplomática dos EE.UU na região foi o recente episódio do golpe em Honduras. Como parte das contradições inter-burguesas na condução deste país, o derrotado presidente Mel Zelaya realizara alguns movimentos de alianças com os países que formam a ALBA. Entre outras coisas, também realizara declarações em torno de suas intenções de converter a Base Soto Cano num aeroporto destinado totalmente para atividades civis, coisa que não agradou ao Pentágono. Estes elementos fizeram supor às facções mais conservadoras de Honduras e aos analistas estadunidenses que se estava produzindo na região um avanço do comunismo na América Central. Uma vez produzido o golpe, a atitude estadunidense foi ambígua, contraditória e branda com o princípio de apoio à democracia liberal. Os funcionários que manifestaram a política exterior dos Estados Unidos nesse tema se mostraram mais eficazes em reconhecer eleições que legitimavam o golpe do que em colaborar com o restabelecimento da democracia nesse país.

Com o tema Cuba a administração Obama adotou uma política de tensão progressiva; num primeiro momento aplicou medidas como anulação de limites à quantidade de viagens desde seu território e o envio de remessas à ilha, porém progressivamente tem de novo aumentado a pressão ao governo insular e não se avançou sobre o tema do bloqueio.

As contínuas visitas ao continente de funcionários da Secretaria de Estado ou do Pentágono mostram parte dessa ofensiva: as visitas da Secretária de Estado, Hillary Clinton; do subsecretário de Estado dos EE.UU, James Steimberg; do subsecretário para Assuntos Políticos, William Burns; do subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos, Arturo Valenzuela; do Secretário de Defesa Robert Gates; e do chefe do Comando Sul, General Douglas Fraser.

Entre os países que receberam funcionários da diplomacia e do Pentágono se encontram Uruguai, Brasil, México, Chile, Guatemala, Haiti, Costa Rica, Equador, Peru. Além das reuniões com presidentes na América Central: Álvaro Colom, Porfírio Lobo, Mauricio Funes, Oscar Arias, Laura Chinchila, Leonel Fernández. Enquanto mantém relações tensas com alguns países considerados adversos, com outros estreita relações, como os casos de Colômbia, Peru, Chile, Panamá, Honduras, México.

A ação estadunidense tratou de moderar a postura do Brasil em relação ao tema iraniano. O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, havia declarado na Cúpula da América Latina e do Caribe, realizada no México, que a comunidade internacional não devia isolar nenhum país em nome da paz mundial, referindo-se ao Irã e à perspectiva de novas sanções. A posição do Brasil com respeito ao tema iraniano preocupa os Estados Unidos por duas razões fundamentais: a primeira é porque eles avaliam que o colosso do sul tem grande influência na região e pode ajudar a bloquear ou a moderar as posturas da Venezuela e Bolívia nas relações com o Irã: e a segunda, porque na atualidade o Brasil ocupa um dos postos rotativos no Conselho de Segurança da ONU e ante a discussão de eventuais sanções contra o Irã seu voto pode ser decisivo.

A agenda militar

A presença militar norte-americana na ALC é ampla: abrange múltiplos aspectos e formas. Encontram-se na região não menos de duas dezenas de bases militares sob seu controle ou com forte presença, operações militares conjuntas, presença de pessoal de tropa ou contratados (mercenários?).

O argumento mais recorrente que se utiliza por parte dos porta-vozes norte-americanos tem a ver com temas que deveriam concitar a aprovação universal nesses assuntos, tais como o combate ao terrorismo e a luta contra o tráfico de drogas. Em outros casos, quando esses argumentos não parecem ser os mais adequados, emprega-se um roteiro cujas linhas assinalam que a presença militar norte-americana se deve a um convite do governo local ou simplesmente se trata de cooperação. Sendo certo que a presença militar norte-americana seja para deter esses terríveis flagelos, como não se avançou no controle das drogas ilícitas? Após anos de detenção e tortura de presos em Guantánamo, a invasão e o desenvolvimento de guerras contra países sob o argumento da luta contra o terrorismo, a mesma se apresenta estancada. Que ameaça terrorista tão poderosa existe na ALC, que demande uma presença militar tão poderosa e extensa na região?

É evidente que a presença militar norte-americana tem outras intenções, além do tema das drogas e do terrorismo. Talvez a explicação esteja relacionada com outros elementos geoestratégicos da política exterior norte-americana.

Os intentos regionais de reduzir a influência norte-americana em matéria militar se desenvolveram através de duas vertentes, sendo uma: acordos militares intra-regionais, que sempre existiram, porém com o acréscimo contemporâneo de que os mesmos são adiantados por governos cujas identidades político-ideológicas são de contestação e até de rechaço; e a segunda: aliança com outros países extra-regionais como provedoras de armamento.

As bases militares

A estratégia militar norte-americana ante a ALC não é novidade. No documento Instalações Militares de Ultramar e na Lei de Revisão de Estrutura de Distribuição de 2003 se criou a comissão sobre a revisão das instalações militares de ultramar e distribuição de estruturas dos EE.UU com o seguinte objetivo: 1) estudar as questões relativas às instalações militares e sua distribuição no exterior; e 2) dar informe de resultados da revisão ao Presidente e ao Congresso, incluindo uma proposta para uma estratégia de bases no exterior para satisfazer as necessidades atuais e futuras de missões do Departamento de Defesa.

Partindo das orientações de um memorando intitulado Presença Global Integrada e Estratégia Base, o Departamento de Defesa elaboraria uma estratégia a longo prazo sobre as bases no exterior. Nela se prevêem as decisões sobre o fechamento das instalações no exterior, caso se justifiquem, tomando um conta os esforços em marcha.

Isso se traduziu, na prática, numa modificação das dimensões das bases norte-americanas na ALC. A implementação inicial são as chamadas bases de localização cooperativa de segurança (Cooperative Security Location-CSL), que são centros instalados num país-anfitrião, com presença permanente, pouca ou nenhuma dos EE.UU, os quais requerirão manutenção periódica, por contratados e/ou apoio do país hospedeiro. Seu objetivo é facilitar o acesso de contingência e elas são um ponto focal das atividades de cooperação em segurança. Podem conter equipes. Estas são: de rápido acesso para uso tático, ampliáveis para convertê-las num ‘Forward Operating Site’ (FOS), como posto avançado e de explorações. Não têm um sistema de apoio para as famílias dos efetivos militares.

As bases de operações avançadas (FOS) se localizam num país anfitrião catalogado como sítio quente, com presença limitada de apoio militar dos EE.UU e, possivelmente, equipes militares pré-localizadas. Pode alojar as forças de rotação e ser um foco de formação bilateral e regional. Estas bases estão desenhadas para satisfazer as necessidades previstas e podem ser utilizadas por um período de tempo prolongado. São incumbidas de dar o apoio requerido às bases principais de operações (Main Operating Base-MOB).

Uma base principal de operações (main operating base, MOB) é uma base estratégica permanente estabelecida num país-anfitrião com forças de combate estacionadas de maneira permanente, sólida infra-estrutura, acesso estratégico, estruturas de comando e controle e serviços de apoio familiar. As MOB servem como pontos de ancoragem para a transferência, formação, participação e capacidade de apoio de FOS e CLS.

A reengenharia da presença militar estadunidense tem implicado em passar de grandes bases a pequenas unidades militares (CLS). Na medida em que uma situação vá se complicando em termos de segurança, se vai recorrendo a mecanismos de ampliação, até convertê-las em verdadeiras bases (MOB) onde se hospedaria o pessoal militar, além de equipes de guerra mais pesada e presença permanente. É a estratégia de flor de lótus. Na medida em que a circunstância o exija, vão se ampliando a capacidade e as funções.

Nos casos da Colômbia e do Panamá se utilizou o mesmo discurso, no qual se sustenta que as bases, nas quais mantêm presença militar os norte-americanos, são dos países anfitriões e que sua presença é pequena. Nisso há uma dose de verdade, porém não toda a verdade. O que ocultam é que esses convênios de cooperação militar estão sob a lógica militar de escalamento das bases militares até convertê-las em verdadeiras bases, desta vez, totalmente controladas pelos norte-americanos: CLS>FOS>MOB.

Por outra parte, esta nova reengenharia permite aos EE.UU descentralizarem sua presença militar no continente, porém não eliminá-la, e assim tratar de minimizar as rejeições que suscitam as grandes bases.

Bases militares norte-americanas na ALC

Os Estados Unidos têm 865 assentamentos militares fora de seu território, dos quais entre 45 e 49 estariam na América Latina e Caribe ou em suas proximidades.

– Colômbia (10); trata-se de três bases da Força Aérea: Malambo (norte), Palanquero (centro) e Apiay (leste); duas do Exército: em Tolemaida (centro) e Larandia (sul); e duas navais: Cartagena (norte, sobre o Atlântico) e Málaga (oeste, no Pacífico). A base aérea de Palanquero tem uma posição estratégica de grande importância para os Estados Unidos. A partir desta base “em torno da metade do continente pode ser coberta com um C-17 sem reabastecimento. Tendo subministração adequada de combustível no destino, um C-17 pode abarcar todo o continente, excetuando a região de Cabo de Hornos no Chile e a Argentina.”

Arauca: esta instalação se utiliza para a vigilância da infra-estrutura petrolífera, o que inclui o oleoduto Caño Limón-Coveña. Lugar de treinamento para militares colombianos, estação de monitoramento da zona fronteiriça com a Venezuela.

Forte Militar Larandia: serve como base de helicópteros dos Estados Unidos. Possui uma pista de aterrissagem para bombardeiros B-52, uma capacidade operadora que ultrapassa o território colombiano e permite uma cobertura para ataques em quase todo o sul do continente.

Base militar Três Esquinas: nesse lugar funciona a Rede de Radar de la Cuenca del Caribe (Caribbean Area Radar Program (CBRN) e o Centro Conjunto de Inteligência. Serve, além disso, para operações terrestres, helitáticas e fluviais.Esta instalação é receptora permanente de armamento, logística e serve para o treinamento de tropas de combate.

– El Salvador (1): Base Militar Comalapa. Esta base é conhecida como uma FOL; é uma base pequena que se utiliza para o monitoramento de satélites e para apoiar as bases grandes, com pessoal que tem acesso a portos, espaços aéreos e instalações do governo. O acordo autoriza o ingresso de tropas estadunidenses, naves, aeronaves, transporte terrestre e armamentos.

– Aruba (1): Base Militar Rainha Beatriz. Utilizada para o monitoramento de satélites e como apoio para o controle de vigilância no Mar Caribe.

– Curaçao (1): Base Militar Hatos. Utilizada para o monitoramente de satélites e como apoio para o controle de vigilância no Mar Caribe.

– Panamá: Em fins do ano passado se dava como fato a instalação de duas bases. Estas seriam instaladas na Baía Piña, na província de Veraguas (300 kms. ao sudoeste da capital). Mencionou-se que o presidente Martinelli teria firmado um acordo com os Estados Unidos para a instalação de quatro bases. Além das duas já mencionadas, as restantes se localizariam uma na Ilha Chapera e outra em Rambala, província de Bocas del Toro.

– Porto Rico (14): Inclui uma ampla gama de instalações militares para diferentes funções. Haveria umas 14 instalações militares, a partir das quais se desenrolam atividades de patrulhamento, treinamento, zona de tiro, estações de radar. Têm assento as forças do exército, bem como navais, de aviação e guarda nacional.

– Peru (3): em Iquitos funciona o Centro de Operações Ribeirinhas. Administram-se cursos de adestramento a soldados peruanos. É, ademais, uma base de monitoramento com radar. A base de Chiclayo serve fundamentalmente para operações aéreas. Pucalpa: funcionou aí a Escola de Sobrevivência na selva e é uma base aérea utilizada por pessoal do Comando Sul e da DEA. É uma base anti-narcóticos. O governo dos Estados Unidos diz que estas bases pertencem às forças armadas peruanas, porém foram construídas e são utilizadas por soldados estadunidenses que operam na zona fluvial Nanay, na Amazônia peruana.

– Cuba (1): Base naval de Guantánamo.

– Paraguai (1): Base Marechal Estigarribia. Em maio de 2005 o governo dos EE.UU firmou um tratado com o Paraguai para instalar a base militar na cidade de Marechal Estigarribia, província de Boquerón, no chamado Chaco Paraguaio. Tem capacidade para alojar 20 mil soldados estadunidenses, uma enorme pista de aterrissagem e se encontra a 200 quilômetros da Argentina e da Bolívia e a 300 quilômetros do Brasil. Seu aeroporto é maior que o de Assunção, a capital paraguaia. A base está estrategicamente localizada perto da tríplice fronteira Paraguai, Brasil, Argentina, e próxima ao Aqüífero Guarani, que é a maior reserva de água doce do mundo. A partir dali também se vigia o Altiplano boliviano e a Venezuela.

– Honduras (2); Base Soto Cano em Palmerola; usa-se como estação de radar e proporciona apoio para treinamento e missões em helicóptero, que monitoram os céus e as águas da região e são chaves nas operações militares. Base Naval no departamento norte-oriental de Gracias a Dios. Conta com um edifício multifuncional e um centro de operações que contribui para o aumento da capacidade de albergar mais pessoal e um cais para a ancoragem de lanchas de patrulhamento.

– Ilhas Turkos e Caicos (1): Base de Operações para o Apoio de Esforços Internacionais (OBAT).

– Bahamas (1): Base de Operações para Apoio de Esforços Internacionais (OBAT).

– Ilha Ascensão: embora não faça parte da ALC, encontra-se frente às costas orientais do Brasil. É uma estação de seguimento de mísseis.

– Costa Rica (2): Base Militar Libéria. Estação de radar. O Subcomandante do Comando Sul do exército norte-americano Paul Trivelli informou também sobre a inversão de 15 milhões de dólares numa base naval que já está sendo construída na localidade de Caldera, da província de Puntarenas.

– Antígua (1): base localizada próximo à cidade de Saint Johns.

– Jamaica (1): estação de radar e estação da aviação.

– Ilha Granada (1): estação de radar.

Os Estados unidos possuem bases militares nas ilhas Santa Cruz e Santo Tomás, que, embora não formem parte da América Latina, estão na região caribenha.

Foram reveladas 17 estações de radares operadas por pessoal dos Estados Unidos. Na maioria dos casos, os pontos de radar encontram-se num país-anfitrião. Um destacamento operacional típico se compõe de 36 a 45 pessoas. As bases conhecidas dessas estações de radares são: na Colômbia (6): Leticia (sudeste da Colômbia); Marandúa (leste, na fronteira com a Venezuela); Rohacha (noroeste, na costa do Caribe); San Andrés (ao leste da Nicarágua e no Mar Caribe); San José del Guaviare (sul do centro da Colômbia); Três Esquinas (sudoeste, perto da fronteira do Equador). No Peru (3): Iquitos (no rio Amazonas, perto da fronteira com a Colômbia); Andoas (norte do Peru, entre Colômbia e Equador); Pucallpa (sobre o rio Ucayali, perto do Brasil). As restantes estações de radar são móveis ou estão situadas em lugares secretos.

De igual maneira, os Estados Unidos tem pretensões de instalar futuramente quatro bases adicionais: uma em Alcântara, no Brasil. Recém obtiveram acordo em matéria militar com o governo de Lula, porém sem instalações militares. Outra base seria na zona de Chapare, na Bolívia, onde a forte oposição ao presidente Evo Morales torna difícil, de imediato, que a mesma se concretize; mais uma em Tolhuin, na província de Terra do Fogo, na Argentina; e a última na zona conhecida como a tríplice fronteira, situada entre os limites do Brasil, da Argentina e do Paraguai.

As localizações das bases têm assinaladas áreas de cobertura. O raio de ação de algumas delas seria: Aruba-Curaçao (para operações no Caribe Oriental e na região norte da Venezuela); Comalapa em El Salvador (para as operações no Pacífico Oriental, no Caribe Ocidental e América Central). A base Soto Cano de Honduras, que provê apoio e resposta mediante helicópteros em missões do Comando Sul na América Latina e no Caribe. As bases na Colômbia, com capacidade de monitoramento e intervenção com equipes e tropas, em toda a parte norte da América do Sul, em parte do Cone Sul e na América Central, além de outras tarefas encobertas: lutar contra os insurgentes colombianos; controlar os fluxos de petróleo e minerais, os recursos em água doce e a biodiversidade. Porém, desde o princípio seus principais objetivos foram: vigiar a Venezuela e desestabilizar a revolução bolivariana.

Presença de tropas na ALC

A terrível tragédia sofrida pelos irmãos haitianos foi um pretexto oportuno para que os EE.UU pusessem em solo haitiano uns 20.000 homens, pessoal de tropa da 82ª Divisão. Os mesmos tomaram o controle do principal porto e aeroporto de Porto Príncipe e exerceram ações de controle à população. A situação acabou sendo tão escandalosa que várias chancelarias latino-americanas se pronunciaram sobre o fato e até o Secretário de Estado francês para a Cooperação, Alain Joyandet declarou: “Trata-se de ajudar o Haiti, e não de ocupar Haiti”. Ante este fato há muitas perguntas: por que a presença de tantas tropas? Não teria sido de mais ajuda colocar pessoal médico nessas mesmas proporções? Por que assumir o controle de aeroportos e portos sem contar com a anuência da Minustah? Quem lhe outorgou essas funções? Foi um exercício de ocupação militar a um país da ALC?

A reativação da 4a Frota

Em julho de 2008 a armada estadunidense reativou a IV. Frota que havia sido dissolvida em 1950, e começou a patrulhar os mares da América Latina e do Caribe, respondendo às ordens do Comando Sul dos Estados Unidos (o Southcom), cujas bases se encontram em Miami. A IV. Frota conta com o porta-aviões nuclear George Washington, fragatas com mísseis, 120 aviões, entre eles bombardeiros F-14, tanques, submarinhos nucleares e 12 navios d escolta (cruzeiros ou caça-torpedeiros).

A reativação da IV. Frota implicou em pronunciamentos de vários presidentes latino-americanos. Ao que um funcionário de Assuntos Públicos do Comando Sul replicou dizendo que esta frota concentrará seus esforços na luta contra o tráfico ilícito de drogas e em prover ajuda humanitária e socorro em casos de desastres.

Conclusões

A nova política exterior norte-americana com respeito à ALC se expressa no momento atual numa ofensiva político-diplomática, por um lado, e militar, pelo outro. Trata-se de estreitar relações com governos da região catalogados como aliados, enquanto se hostiliza e se implementam táticas para o desgaste interno e externo de governos catalogados por eles como hostis. Paralelamente, desenvolve-se o componente militar sob a responsabilidade do Comando Sul, que inclui a obtenção de acordos para instalação de bases com diferentes finalidades, como monitoramento por radar e satélite, postos de controle e supervisão de áreas geográficas, treinamento de tropas dos países anfitriões, exercícios militares conjuntos, etc. Esta nova ofensiva norte-americana ocorre num contexto em que o continente latino-americano experimenta governos discursivamente de esquerda ou progressistas.

IHU OnLine é uma publicação da Unisinos de São Leopoldo, RS

Fonte: http://www.domtotal.com/especiais/detalhes.php?espId=776

A tradução é de Benno Dischinger