Tragédia de Paris: uma desculpa para intervenção da OTAN na Síria
A nação francesa está, desde o começo do conflito na Síria, comprometida com a derrocada do presidente sírio, Bashar al-Asad.
Em um discurso feito nesta segunda-feira ao Parlamento francês por conta do recente atentado em Paris, o presidente francês Françoise Hollande manifestou que “a França está em estado de guerra”. A pergunta do milhão seria: quando não esteve?
Os serviços de inteligência franceses estão há cinco anos abastecendo os grupos insurgentes com armamento e logística no território. Porém, este fenômeno não é novo. Enquanto o mundo chora as vítimas dos atentados em Paris, a maioria se esquece – graças aos meios de informação ocidentais – que a França participou ativamente – em um precedente próximo no tempo – da destruição do país mais rico da África, a Líbia. O objetivo não era trazer um regime de liberdades ao país norte-africano, mas acabar com o líder da revolução líbia –Coronel Muamar Kadaffi – e implantar o terror em uma nação que se converteu inexoravelmente em um estado falido. Franco-atiradores de elite do Exército francês dispararam, em 2011, dos telhados da cidade de Bengazi contra manifestantes e forças de segurança líbia, dando início ao mito dos ataques do “regime” contra sua própria população, que não é mais que uma réplica fiel do que ocorreu durante as primeiras manifestações de Daraa, na Síria.
Os atentados de Paris levantaram inúmeras incógnitas acerca da ação dos terroristas, especialmente em se tratando da insistência em atentar contra aqueles que foram identificados por seus passaportes, como no caso de um dos terroristas que se sacrificou próximo ao estádio de futebol parisiense. Não ficou absolutamente nada do indivíduo por conta da explosão. Não obstante, seu passaporte sírio foi encontrado junto aos restos, totalmente intacto. Isso nos lembra os atentados do onze de setembro de 2001, onde o combustível dos aviões que se chocaram contra as torres gêmeas, alcançou tal temperatura que terminou derretendo a estrutura de aço das torres, provocando sua posterior queda. Neste caso e apesar das altas temperaturas após a explosão, foi encontrado intacto um passaporte de um dos terroristas que sequestraram o aparato. Mais recentemente, durante o ataque terrorista contra a revista Charlie Hebdo em Paris, em janeiro passado, imagens mostravam como um dos irmãos Kouachi – protagonistas do ataque – perdia seu tempo recolhendo um sapato esportivo caído na rua, mas, curiosamente, deixava sua carteira de identidade dentro do carro para que as forças de segurança francesas a encontrassem quando abandonaram posteriormente o veículo nas proximidades de Paris. Esta evidência levou a polícia francesa à identificação dos irmãos e à execução extrajudicial que ocorreu posteriormente.
Mas, o pior está por vir. A França já tem um longo caminho de sangue e destruição sobre nações muçulmanas, como a antiga colônia da Argélia, que durante sua guerra de independência nos anos sessenta, sofreu um dos mais sangrentos genocídios sobre sua população por parte de uma potência colonial, com um saldo total de um milhão de argelinos mortos pelas mãos da França. Porém, o objeto deste ataque sobre o solo francês poderia, na opinião de especialistas, ser um pretexto para envolver a OTAN totalmente no conflito sírio, no momento em que a Rússia tomou o controle da luta contra os grupos terroristas, já que se não o fizesse, muitos destes mercenários terminariam atuando em solo russo. Enquanto isso, os EUA investem tempo planejando uma atuação massiva em território sírio em conjunto com o governo turco, que até a data não frutificou. Nesta segunda-feira, o ISIS enviou um comunicado alertando os EUA como próximo alvo de seus ataques, apontando Washington mais concretamente. Contudo, a implicação estadunidense na formação, patrocínio e abastecimento de armas para os terroristas é tão evidente que a atuação de um terceiro – neste caso, a França – legitimará ainda mais uma operação coordenada na Síria. A recente publicação de um vídeo que mostra helicópteros dos EUA escoltando uma longa caravana do ISIS em território iraquiano, dá conta da implicação norte-americana em um conflito que tem como objetivo final a desestabilização e total fragmentação do Iraque, assim como a derrubada violenta do presidente sírio, Bashar Al Assad, para impor, como no caso líbio, iraquiano ou afegão, uma marionete submissa à agenda geoestratégica que o ocidente marcou para a região.
A força aérea francesa começou, neste domingo, a mais importante campanha de bombardeios sobre a Síria da história da aviação do país. Com a desculpa de bombardear a capital do ISIS, Raqaa, os jatos franceses atacaram alvos fora do perímetro das posições dos grupos insurgentes terroristas, provocando um importante número de baixas entre a população civil, ainda que isto não apareça como manchete em nenhum meio de comunicação. Agora, se a aviação síria é que tivesse provocado mortes civis, o mundo estaria chorando desconsoladamente no ritmo de novas sanções resolutas em algum Conselho de Emergência das Nações Unidas.
A França se atribui o direito de bombardear um país sem permissão da ONU, quebrando impunemente o direito internacional na base de sua suposta luta contra o terrorismo, porém se cala quando sua inteligência militar supre e abastece de meios e recursos a estes mesmos grupos mercenários, desde os primeiros dias da pretensa “primavera árabe síria”.
Alberto García Watson / Damasco-Síria
Fonte: http://www.patrialatina.com.br/tragedia-de-paris-uma-desculpa-para-intervencao-da-otan-na-siria/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)