Para os Estados Unidos, o bombardeio do hospital dos Médicos sem Fronteiras (MSF) não foi um crime de guerra

imagemLe Monde com AFP – 30/04/2016

O bombardeio de um hospital operado pelos Médicos sem Fronteiras (MSF) executado pela aviação americana, em Kunduz, no ano passado, no Afeganistão, não foi um “crime de guerra”, mas uma sucessão de erros, concluiu o relatório de uma investigação militar apresentado em 29 de abril último pelo Pentágono.

Quarenta e duas pessoas foram mortas e 37 outras ficaram feridas na destruição do estabelecimento em 3 de outubro na cidade do norte do Afeganistão. “A investigação concluiu que alguns membros do pessoal (militar) não tinham respeitado as regras de compromisso e o direito dos conflitos armados. Enquanto isso, a investigação não conclui que essas falhas representaram um crime de guerra“, declarou à imprensa o general Joseph Votel, comandante do Centro Operacional do exército americano (Centcom).

O oficial explicou que não se tratava de um crime de guerra porque nenhum militar sabia que um hospital estava entre os alvos. Segundo as conclusões das investigações, o incidente foi causado por “erros humanos não intencionais, erros de procedimento e falhas de equipamentos“. O relatório acrescentou a fadiga e “um elevado ritmo de operações” como outros fatores explicativos.

“Incompreensível”

Reagindo à publicação do relatório, a presidente dos MSF, Meinie Nicolai, declarou ser necessário reconhecer “que uma operação militar fora de controle foi realizada sobre uma área urbana densamente povoada, durante a qual as forças americanas não foram capazes de obedecer as regras fundamentais da guerra“. “É incompreensível que nas circunstâncias descritas pelo exército americano, o ataque não tenha sido abortado“, acrescentou ela.

Na véspera da divulgação do relatório, o governo americano fez saber que dezesseis militares, inclusive um general, tinham sofrido sanções disciplinares, indo da suspensão às cartas de advertência. O MSF considerou que essas sanções não eram suficientes, “sendo desproporcionais à destruição de uma instalação médica protegida“.

É impensável para nós reenviar nossas equipes – inclusive os colegas que sobreviveram ao ataque – ao trabalho em Kunduz sem ter obtido das partes em conflito um compromisso de por em vigor tudo para evitar a repetição desse tipo de acontecimento“, declarou a presidente dos MSF. Considerando que “uma investigação realizada pelo exército americano não é suficiente“, a organização continua demandando uma investigação independente.

Tradução A. Pertence