Encontro dos Bálcãs 2011
Janeiro de 2011
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Fala de Giorgios Marinos, membro do BP do CC do KKE, no Encontro dos PCs dos Bálcãs em Thessaloniki, sobre:
“O desenvolvimento nos Bálcãs e do Mediterrâneo Oriental e as tarefas dos comunistas”
Queridos Camaradas,
Gostaríamos de agradecer aos partidos comunistas da nossa região por aceitar o convite do KKE e participar do nosso encontro hoje a fim de examinar o desenvolvimento da situação nos Bálcãs e no Mediterrâneo Oriental e contribuir para o desenvolvimento do movimento da luta dos movimentos dos trabalhadores e dos povos na luta anti-imperialista.
A importância desse encontro surge da crise capitalista, do ataque em grande escala do capital, da intensificação da agressividade e das contradições imperialistas na região.
Para que os nossos esforços sejam efetivos devemos criar uma base de modo a atingir um nível superior no exame coletivo dos acontecimentos, contribuir para o fortalecimento da luta político-ideológico e de massa dos partidos comunistas da região, para dar os passos apropriados que levarão ao fortalecimento do movimento comunista na direção revolucionária.
A crise capitalista, que se manifestou nos seus centros imperialistas, nos EUA, na UE e no Japão, ocorreu de maneira sincronizada e abarca um grande número de Estados capitalistas, é profunda e prolongada.
O encolhimento da economia não se manifestou, apenas, na UE, onde o PIB, em 2009, reduziu-se em 4%. Ele teve um caráter generalizado. Por exemplo, houve 5% de redução do PIB na Romênia 7%, na Turquia 4,7%, e, na, Sérvia 3%. Na Grécia houve uma redução de 2% na manufatura e, de forma generalizada, na indústria, no comércio e no turismo. A redução do PIB continuou em 2010 na Grécia, na Romênia e na Bulgária, ao passo que a recuperação observada em muitos outros Estados é caracterizada como instável e incerta.
A Turquia teve uma grande taxa de desenvolvimento capitalista em 2010 e é previsto que, apesar da redução do ritmo, o aumento do PIB continuará, ainda que caracterizado pelo aumento da taxa de desemprego e pela intensificação geral dos problemas do povo.
Os centros de comando do capitalismo estão preocupados porque, apesar de milhões de Euros terem sido dados para apoiar os bancos e outros negócios capitalistas, a ajuda é pouca e marcada pela instabilidade, ao passo que o curso da economia se mantém com o aumento do desemprego e o congelamento do consumo privado.
As contradições do sistema causam sérias dificuldades nas sua administração. A alocação de grandes montantes de dinheiro para apoiar os negócios levou à divida e ao aumento dos déficits, e as políticas restritivas aprofundam a recessão. A dívida pública tem uma tendência de aumento na Grécia, Bulgária, Romênia, Turquia, Sérvia e outros países da nossa região.
A definição cientifica das causas da crise, com base na análise Marxista-Leninista, é de grande importância para os comunistas. O KKE aponta que a crise capitalista reflete a intensificação da contradição fundamental entre o caráter social da produção e do trabalho e a apropriação privada capitalista de seus resultados.
As posições que atribuem as causas da crise às políticas administrativas, colocando a culpa somente na administração neoliberal, são irreais e perigosas, porque elas fazem vista grossa para a atividade das leis do sistema de exploração; eles escondem o fato de que a história das crises prova que elas irrompem ao longo do tempo, independentemente da forma de governo – social-democrata ou liberal –, como um resultado da intensificação das contradições do sistema, da anarquia e desigualdade que caracterizam a produção capitalista, da superacumulação de capital na fase de crescimento econômico devido à exploração da força de trabalho e que não pode encontrar uma saída que garanta uma alta taxa de lucros, em um quadro onde a situação dos trabalhadores e suas famílias deteriora em termos absolutos e relativos.
As posições da socialdemocracia e das forças oportunistas, tais como as do Partido de Esquerda Europeu, são especialmente perigosas porque insistem em colocar a culpa, somente, na administração neoliberal, buscando salvaguardar, conscientemente, o capitalismo, através de várias combinações de políticas de gestão que dizem respeito ao reforço dos investimentos do estado, à transformação de instrumentos imperialistas tais como o Banco Central Europeu e os bancos estatais em mecanismos que irão supostamente servir aos interesses do povo. Desta maneira eles confundem o povo, maquiam o caráter imperialista da UE e desassociam esse mecanismo do capital do Fundo Monetário Internacional.
Tanto antes como depois da crise, houve um ataque sistemático contra os direitos do povo e dos trabalhadores com o intuito de reduzir o preço da força de trabalho e aumentar a competitividade e os lucros do capital. Essa foi uma escolha estratégica elaborada em conjunto com a burguesia e seus representantes políticos, a linha mestra que caracteriza as decisões da UE e outras organizações imperialistas onde os governos nacionais participam.
A principais políticas e medidas implementadas ao longo dos últimos anos, sob a égide da crise são os cortes nos salários e pensões, a abolição dos acordos trabalhistas conjuntos, a extensão do trabalho de meio-período e terceirizado, o aumento da idade de aposentadoria, as reformas reacionárias que reforçam a comercialização da saúde, bem- estar e educação, o reforço das relações capitalistas na agricultura e a deterioração da situação dos pequenos negócios que foram afetados pela competição monopolista.
Essa situação não é verdadeira, somente, na Grécia, onde o ataque é realmente brutal, mas também para os povos em todos os estados capitalistas, assim como para os povos nos estados da nossa região. As mesmas medidas ou medidas similares são implementadas em todos os países dos Bálcãs. Hoje, podemos esclarecer melhor esse fato com o exame do curso das lutas dos povos.
Em alguns países dos Bálcãs, na Grécia, na Romênia, na Bulgária, na Turquia, tem havido lutas importantes. Nós podemos discutir as significativas experiências dos nossos partidos no que diz respeito à orientação dessas lutas, à extensão da influência dos partidos comunistas, à maturação dos seus objetivos, ao aumento na organização da classe trabalhadora, ao avanço da aliança socialista.
Na Grécia ocorreram lutas de classe multi-facetadas contra o ataque do capital, contra a política do governo liberal anterior contra o povo, o governo do ND, e do atual governo social-democrata, que é apoiado por outras forças políticas burguesas e por lideranças comprometidos com o sindicalismo atrelado ao governo e ao patronato. Em 2010 ocorreram 15 greves gerais de sucesso, um número significativo de greves setoriais e em empresas, dezenas de ocupações de ministérios e outros prédios públicos, e uma variedade de outras lutas com a participação de centenas de milhares de trabalhadores e forças populares.
O KKE, PAME, o movimento classistas, as jornadas de luta militantes apoiadas pelo nosso partido no movimento de agricultores, autônomos, mulheres e jovens tiveram papel central nessas lutas. A linha que o KKE e os movimentos de classe expressaram, desde o início, apontou que a crise, o déficit e a dívida são um resultado do desenvolvimento capitalista, da estratégia que serve aos grupos monopolistas e que os trabalhadores não são os responsáveis, deu uma contribuição especial nesse conflito com o capital.
A plutocracia deve pagar pela crise. A luta que diz respeito a qualquer problema popular deve ser focar-se na organização, na concentração e na preparação de forças proletárias e populares mais amplas, não somente para criar melhores condições na venda da força de trabalho, mas, também, para superar o sistema de exploração, com o intuito de pavimentar o caminho para a economia do povo para o socialismo. Esse é um pré-requisito para conflito entre capital e trabalho, essa posição aproxima o povo e contribui para a sua libertação da influência da ideologia e política burguesas e da confusão criada pelas forças oportunistas.
As forças populares mais amplas que apoiaram nosso partido nas recentes eleições para o corpo político local, onde nosso partido alcançou uma grande percentagem de votos, reconheceram que a linha política do KKE expressa os interesses do povo, assim como suas lutas incansáveis nas fábricas e espaços dos trabalhadores num geral, suas lutas com os sindicatos.
Queridos camaradas: a região dos Bálcãs e do Sudeste do Mediterrâneo é uma região de grande importância estratégica. Contém linhas obrigatórias para o transporte marítimo, rotas importantes para a transmissão de energia proveniente das fontes de energia do Cáucaso e do Mar Cáspio, Oriente Médio e Nordeste da África para a Europa, e, também, para o Sudoeste da Ásia através de Suez. Há reservas de energia significativas e vantagens consideráveis para as operações militares para o controle de regiões mais amplas.
Esses recursos atraem forças imperialistas como ímãs e fazem da nossa região uma arena importante para a manifestação das contrações inter-imperialistas e seus objetivos estratégicos. A burguesia e as forças políticas burguesas nos estados da região são partes ativas dessas contradições; eles são parte do problema e apóiam as uniões imperialistas com o intuito de servirem os seus próprios interesses. Deste ponto de vista, devemos examinar a situação nos Bálcãs e no Sudeste do Mediterrâneo.
Nos Bálcãs, a UE promove um plano elaborado para esta expansão em uma região mais ampla com o intuito de servir aos interesses dos monopólios Europeus e seus objetivos estratégicos para a aquisição e o controle de novos mercados, recursos energéticos e rotas de energia. Depois da Grécia, Eslovênia, Bulgária e Romênia, promove a adesão dos países dos Bálcãs Ocidentais e de todos os países dos Bálcãs.
As negociações para a adesão da Croácia entraram no seu estágio final. A Comissão Européia recomendou o inicio das negociações com a Antiga República Iugoslava da Macedônia e Montenegro; o Acordo de Estabilização e Associação entre a UE e Albânia está sendo implementado, ao mesmo tempo em que as relações com a Bósnia Hezergóvina estão se movendo para a mesma direção; o Acordo Interino com a Sérvia entrou em vigor no início de 2010, ao passo que o processo de ratificação do Acordo de Estabilização e Associação está em marcha.
Ao mesmo tempo, a burguesia na Turquia continua as modernizações necessárias com base no curso de adesão do país com o intuito de aumentar a exploração dos trabalhadores no país. Essa é uma caracteristica geral do processo de adesão. A burguesia de estado promove políticas de modernização e adaptação de suas economias para as necessidades modernas do capital buscando aumentar sua competitividade e lucros através de um plano de reestruturação capitalista que tenha a ver com a liberalização dos setores e ramos da economia, privatizações, abolição dos direitos trabalhistas e de seguridade social, cortes nos gastos em serviços sociais e reformas reacionárias na saúde e educação.
O KKE argumenta que a UE, como um império interestatal, tem interesses no capital como sua força motriz e se tornará cada vez mais perigoso para os interesses do povo, independentemente da sua estrutura e das formas de seu funcionamento, e do curso dos debates a respeito da economia de governo, a emissão de Eurobonds. A intervenção da UE na região não está restrita à adesão dos Estados dos Bálcãs. Ela se utiliza de vários caminhos para formar e melhorar as relações existentes com os países de maneira ampla no quadro de competição com a Rússia enquanto, ao mesmo tempo, as relações da Rússia com a Alemanha e a Itália se fortalecem.
Nós podemos sublinhar as seguintes linhas de expansão da União Européia:
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A “Parceria Oriental” com Armênia, Azerbaijão, Belarus, Geórgia, Moldávia, Ucrânia, a qual, de acordo com os acordos, “cria condições para a aceleração da associação política e a promoção da integração econômica”;
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A “Missão de Observação” na Geórgia e a “Missão de Observação Fronteiriça” da UE para Moldávia e Ucrânia, seguindo as intervenções no Bálcãs, ou seja, em Kosovo através da “Missão da União Européia pelo Estado de Direito” (EULEX).
A OTAN age de acordo com as mesmas motivações imperialistas. Depois da adesão da Croácia e da Albânia, ela insiste na adesão da Antiga República Iugoslava da Macedônia e cria condições para uma expansão geral que abranja a Geórgia e a Ucrânia, apesar das reações da Rússia. A atividade da OTAN na área de ampliação está sendo reforçada desde 1994 através da chamada “parceria pela paz”, que inclui as ex-republicas soviéticas, a “Cooperação OTAN-Russia”, a “Parceria Geórgia-Russia” e o “Conselho OTAN-Russia”.
As intervenções da OTAN serão reforçadas através da nova estratégia que foi adotada, recentemente, na sua Cúpula, em Lisboa. Essa estratégia foca no reforço das forças de ocupação do Afeganistão e no controle do Iraque, na expansão da presença e ação imperialistas, na ação contra estados e povos sob o pretexto do terrorismo, a proliferação de armas nucleares, a segurança energética, a segurança cibernética, as mudanças climáticas, as ondas de migração etc.
Com o intuito de seguir seus planos de guerra, a OTAN fortalece, ao lado das “Forças de Resposta Rápida”, a infra-estrutura geral militar que inclui o chamado “escudo anti-míssil”, que, ao que parece, será baseado, inicialmente, nas estações terrestres de radar na Turquia e Bulgária e nos navios de patrulha como sistemas de míssil similares ao “Aégis” nos mares Egeu e Mediterrâneo. Apesar das garantias reconfortantes e do convite à Rússia para que participe no sistema, é óbvio que esse mecanismo é baseado no “primeiro ataque nuclear” e não está restrito à realização dos planos de agressão contra o Iraque, mas opera dentro do plano da competição imperialista num geral.
Esse desenvolvimento é muito perigoso. Nós devemos nos opor às agressões imperialistas como um todo, reforçar a luta para separar a OTAN da UE, contra a adesão de novos países, levando em conta a posição perigosa dos oportunistas que alegam que a organização imperialista pode ser dissolvidas por elas mesmas.
As rivalidades imperialistas sobre o controle dos recursos energéticos, a aquisição de uma fatia maior do mercado, as rotas e destinos dos gasodutos são, também, uma questão crucial para o curso do desenvolvimento na região. No cenário de competição geral, em nível internacional, há um conflito entre os interesses econômicos de estado dos EUA-UE-Rússia, mas também da China, que já ratificou seus interesses na região.
Apesar do fato de as escolhas principais serem óbvias, as decisões finais, a formação de alianças, eixos e anti-eixos são caracterizados por uma relativa instabilidade. Isso também é refletido pelos obstáculos estabelecidos pelo governo Búlgaro à realização do acordo entre Rússia-Bulgária-Grécia a respeito do gasoduto de óleo Cáspio-Burgas-Alexandroupolis. A Rússia atribuiu esse desenvolvimento à promoção dos interesses de companhias norte-americanas na região e escolheu servir aos interesses do gasoduto Samsun-Ceyhan.
Por enquanto, parece que a realização do plano para o gasoduto do Fluxo do Sul está em andamento. Esse gasoduto é apoiado pela Rússia, que fornece gás natural para a Europa, ignorando a Ucrânia. Grécia, Bulgária, Itália, Sérvia, Hungria, Croácia, Eslovênia, França, Áustria fazem parte deste plano, enquanto a participação da Romênia está em discussão.
A Turquia desempenhará um papel importante no que diz respeito ao gasoduto que passará pela Zona Econômica Exclusiva da Turquia através do Mar Negro. Por outro lado, os preparativos para o gasoduto NABUCCO de gás natural, que é apoiado pelos EUA, se desenrolam no esforço de reduzir a dependência energética da UE da Rússia.
Turquia, Bulgária, Ucrânia, Hungria e Áustria fazem parte do NABUCCO, que começa no Azerbaijão. Não obstante, de acordo com as análises há um problema sério no que diz respeito ao fornecimento do gasoduto com gás natural. Nós mencionamos que os fatores principais que, objetivamente, têm relevância no desenvolvimento dos Bálcãs e da região mais ampla, sem subestimar as atividades da China, a função da Turquia e da Grécia – que desenvolvem atividades econômicas significativas – é a transferência de milhares de companhias para os Bálcãs e o investimento de bilhões de dólares.
Mais ainda, devemos mencionar a parceria entre a China e a Bulgária para a criação de uma zona industrial Chinesa. Uma joint-venture para a produção de carros chineses está sendo criada. Em 2010 a China e a Turquia assinaram um acordo para transações comerciais que devem alcançar 50 bilhões de dólares em 2011 e 100 bilhões de dólares em 2012, enquanto as relações militares entre os dois países aumentam, como foi demonstrado pelas manobras militares conjuntas de Setembro de 2010.
O acordo de “cooperação estratégica” com a Sérvia, em 2009, está no quadro da penetração Chinesa na região, que inclui um projeto de infra-estrutura e o desenvolvimento da indústria automobilística, entre outras coisas. Os acordos comerciais com a Grécia têm o mesmo caráter, a entrada da transnacional COSCO no porto de Piraeus, o maior porto Grego, e a criação de uma grande base para os seus contêineres.
QUATRO PROBLEMAS CRUCIAIS
Primeiro: a independência de Kosovo, que estava programada para depois da intervenção da OTAN na Iugoslávia, em 1999, como o apoio dos EUA e da União Européia e foi “legitimada” pela decisão do Tribunal Internacional de Haia, em Julho de 2010, abriu um “caixa de Pandora” e criou uma situação muito perigosa a respeito das mudanças na fronteira, com conseqüências para além da nossa região, em particular, como foi demonstrado pela independência da Ossétia do Sul e da Abcásia, que foram reconhecidas pelo governo Russo.
Os comunistas mantêm uma posição de principio que é definida pelos interesses gerais da classe trabalhadora, “o movimento internacional do proletariado”, que é sustentando pelo internacionalismo proletário contra o cosmopolitanismo da classe burguesa, decepções nacionalistas, a política de “dividir e legislar” que é imposta pelos imperialistas na cooperação com a classe burguesa, através da utilização dos movimentos nacionalistas e irredentistas, os quais eles criaram e apoiaram com o intuído de promover seus interesses. Esses são projetos e planos que não tem nada a ver com a posição Leninista que de “auto-determinação nacional”, e estão ligados aos planos e às suas rivalidades imperialistas.
Devemos lembrar a nós mesmos que, em Kosovo, que foi formado dentro do protetorado Americano-OTAN, uma das maiores bases Americanas em terra ainda está operando. O Campo de União do Aço, nas fronteiras de Kosovo-ARIM, em Urosevac, com mais de 7000 pessoas e uma moderna infra-estrutura militar, está pronto para uma guerra para apoiar os planos dos imperialistas.
Segundo: a agitação em torno de problemas não existentes das minorias é, igualmente, uma questão perigosa, como a utilização das minorias para que os projetos de agressão imperialistas possam ser servidos em cooperação com as classes burguesas da região.
Devemos estar mais preocupados porque esses fenômenos, que são necessários para o imperialismo, estão aumentando. Estudos e relatórios dos mecanismos da UE e EUA estão se multiplicando, assim como círculos nacionalistas nos Bálcãs, que fabricam e agitam problemas minoritários com o intuito de criar a base para a tensão na região e para mudanças fronteiriças nas quais os povos da nossa região pagaram um preço muito alto.
As forças políticas da burguesia estão mais interessadas, geralmente, em usar as minorias religiosas e nacionais nos seus planos, até mesmo povos com dialetos. As teses que são promovidas pelo Ministro de Relações Exteriores da Turquia, Sr. Davoutoglou, que é um quadro do partido do governo, AKP, são particularmente, perigosas. Ele analisou o dogma de uma política exterior “neo-otomana” no seu livro “Estratégia Profunda” (Deep Strategy): “A fundação da influência política da Turquia nos Bálcãs é a população muçulmana, remanescente do Império Otomano… a Turquia, no momento, parece ter oportunidades significativas nos Bálcãs. Isso é provado pela acumulação histórica, que é baseada na legalidade Otomana”.
Primeiro de tudo, o desejo de transformar sua acumulação histórica comum em uma aliança natural já se tornou aparente em duas instâncias, onde os muçulmanos são aliados naturais da Turquia e são maioria (Bósnia, Albânia). Um importante elemento da política Turca nos Bálcãs é a existência das minorias muçulmanas na Bulgária, Grécia, Macedônia, Santzak, Kosovo e Romênia.”
Terceiro: o KKE nadou contra a maré que foi criada no início dos anos 1990 na Grécia e, decisivamente, se opôs ao nacionalismo fomentado pelas relações da Grécia e da ARIM e condenou a obsessão, no que diz respeito ao nome desse país, como perigosa e fútil. A posição do nosso partido é baseada em princípios e apóia a questão para uma aceitação mútua da solução – no caso onde isso inclua o nome “Macedônia”, ou um derivativo disso, deve ser esclarecido que há uma definição exclusivamente geográfica. A posição do KKE foca no cassar de toda propaganda irredentista, no reconhecimento explicito do caráter inviolável das fronteiras, na integridade territorial e na soberania dos dois estados.
Nós consideramos a posição estável e inflexível do princípio dos comunistas contra o expansionismo burguês, que é fomentada pelos “nacionalistas” que defendem “uma Grécia maior”, absolutamente necessária. Nosso partido, nos seus 90 anos de história sem se dobrar perante as dificuldades se opõe, enfaticamente, ao expansionismo. Hoje estimamos que os movimentos de propaganda da chamada “Albânia maior ou natural” sejam, particularmente, perigosos, o que prevê alterações de fronteiras nos Bálcãs e ameaça os povos da região com novos conflitos e derramamento de sangue.
Quarto: em particular, nós devemos lidar com os problemas dos imigrantes e refugiados políticos como uma importante questão que requer atividades conjuntas dos trabalhadores locais e estrangeiros contra o capital, o inimigo comum, contra as alianças de comércio de escravos que infestam nossa região. Devemos trabalhar para que o critério de classe prevaleça e para evitar que os imigrantes sejam envolvidos em planos perigosos que visam explorar seus conhecimentos nacionais e visões religiosas.
Medidas repressivas, incluindo a cerca que o governo Grego está preparando para erigir no rio Evros, agravam a situação e são combinadas com a criação de uma atmosfera racista e xenófoba como parte das políticas responsáveis pelo surgimento desse sentimento nos imigrantes, as causas pelas quais podem ser fundadas as guerras e intervenções imperialistas, o desmembramento de estados e pobreza.
Desenvolvimentos no Egeu e no Sul do Mediterrâneo Oriental
É fato que a trama das contradições inter-imperialistas e a rivalidade das classes burguesas, que se manifestaram na região do Sul do Mediterrâneo e Egeu diretamente interdependentes do desenvolvimento dos Bálcãs e da região mais ampla, se tornou, recentemente, ainda mais complicado nas condições da crise capitalista.
Esses acontecimentos portam sérios perigos, que são relacionados ao controle do Egeu, à exploração dos depósitos de óleo e gás natural na região mais ampla marítima, à história dos problemas Cipriota e Palestino e aos desenvolvimentos generalizantes no Oriente Médio.
Nós avaliamos que a burguesia Turca, devido à posição do país no sistema imperialista, sua força econômica e militar e sua posição geopolítica que possibilita esse estado a jogar o papel de força regional, pode aumentar o alcance da atividade dos seus interesses capitalistas para obter vantagem dos levantes que a crise capitalista provocou na pirâmide imperialista e alcançar uma posição mais forte, através do reforço de sua influência geopolítica nos Bálcãs, no Oriente Médio, na região da Eurásia e, também, reforçando a presença do estado Turco no cenário internacional de acordo com o intensamente discutido novo dogma Otomano.
A Turquia formou novas alianças com a Rússia e a China para servirem seus objetivos, fortaleceu suas relações com o Irã e os estados do Oriente Médio em geral, entrou em um conflito (provavelmente temporário) com aliados tradicionais, tais como Israel, e, ao mesmo tempo, continuou no processo para sua ascensão para a União Européia, apoiada pelos EUA, perante a oposição declarada da França e da Alemanha, que apóiam a posição de uma “relação especial” UE-Turquia. Nessa base, a burguesia Turca intensificou suas reivindicações sobre o Egeu, apoiou uma posição a respeito dos “interesses vitais” e das “zonas cinzentas” utilizando seus interesses comuns com os EUA e a estratégia da OTAN, que trata o Egeu como uma “área conjunta operacional” na qual os interesses da aliança imperialista predatória são predominantes.
A burguesia Grega, assim como a Turca, deseja aumentar a posição geoestratégica da Grécia, expandindo seus interesses nos Bálcãs e na área ampla, usando sua posição na UE e na OTAN e sua vantagem geoestratégica para cumprir um papel de uma junção importante de transporte e energia para o resto da Europa. Deste ponto de vista, os governos Gregos formam novas alianças, desenvolvem novas relações econômicas com a China e a Rússia, relações econômica e político-militares com Israel, que aumentou suas relações com a UE e almeja a criação de um gasoduto que irá distribuir gás natural para a Europa, reforçando sua posição econômico-militar e agressão contra os Palestinos e os povos do Oriente Médio no geral.
A cooperação que foi desenvolvida entre a Grécia e a Turquia inclui o elemento de renúncia aos direitos soberanos no Egeu para que os interesses da burguesia sejam atendidos e para que o desenvolvimento capitalista seja reforçado, através da expansão das atividades econômicas e comerciais capitalistas da Grécia na Turquia e vice-versa. Eles procuram empreendimentos conjuntos e os benefícios da gestão conjunta de exploração dos recursos naturais do Egeu e a promoção dos “interesses e preocupações comuns” das classes burguesas dos dois estados. Essa é uma posição que foi categoricamente expressa pelo Sr. Papandreou durante sua recente visita ao Erzerum, onde ele afirmou que “em muitas instâncias nós temos uma presença conjunta e interesses comuns, como acontece no Oriente Médio, nos Bálcãs e no Cáucaso”.
O KKE condena as políticas que foram implementadas por muitos anos pelos governos do ND e do PASOK e tem uma posição muito clara que foi expressada durante a visita do Erdogan à Atenas em maio passado: “Os povos dos dois países não têm nada a ganhar com a formação do ‘Alto Conselho de Cooperação’ e com o memorando 21 e as declarações que foram assinadas pelos dois governos […] por causa de todos esses objetivos de exploração dos trabalhadores assalariados da Grécia e da Turquia e a não satisfação mútua de suas necessidades sociais”. A política Greco-Turca de cooperação vai de mão em mão com a competição entre as duas classes burguesas, além do papel pelo qual as duas estão brigando na região, pela promoção de seus interesses e suas relações dialéticas de competição e cooperação em desenvolvimento.
É fato que a retirada de direitos soberanos e a participação nos planos imperialistas não negam as causas reais dos problemas que podem se desfazer a qualquer momento com grande intensidade e levar a um conflito. O estudo da situação adquire particular importância por causa dos importantes acontecimentos na região – que estão relacionados aos depósitos de gás e óleo no Mediterrâneo Oriental e no Egeu.
A existência de depósitos de gás natural no LEVIATHON entre Israel, Chipre, Líbano, Síria e o Sinai Peninsular já foi confirmada – assim como a existência do depósito de “TAMAR”, no mar entre Chipre, Egito e Israel; os termos da Zona Exclusiva Econômica (ZEE) entre Chipre e Egito já foram acordados, assim como Chipre e Israel vem provocando uma reação da Turquia. Ao mesmo tempo, o Líbano declarou, unilateralmente, sua própria ZEE e afirmou que irá defender seus direitos soberanos. Esses são fatos que expressam as contradições de forma nítida e constituem um grave perigo potencial de confrontos militares. Certas conclusões podem ser desenhadas a partir dessa situação e, consequentemente, os PCs estão de frente com novos objetivos importantes na nossa região.
Primeiro: o desenvolvimento capitalista, seja em condições de crescimento econômico, ou como na fase da crise, beneficia o capital e seus lucros, fortalece o processo de concentração, intensifica a exploração da classe trabalhadora e oprime as massas; o capitalismo não pode assegurar o direito de tempo e estabilidade de trabalho para todos.
Todos os problemas populares estão se agravando, a pobreza está aumentando, privações absolutas e relativas estão aumentando, o que engloba uma grande percentagem da população dos países dos Bálcãs; a crise capitalista demonstrou os limites do sistema de exploração e destaca a necessidade de determinação da estratégia e das táticas que irão ao encontro com as demandas da luta de classes, que será orientada para a superação do capitalismo.
Essa é a realidade e as tarefas para as nossas atividades diárias que são determinadas por esse objetivo, levando em conta que a nossa época é a era da transição para o socialismo – porque o capitalismo entrou na sua fase final, o estágio imperialista. Grupos monopolistas estrangeiros ou domésticos dominam todos os estados dos Bálcãs, a contradição básica entre trabalho e capital está se aprofundando e só pode ser resolvida por uma revolução dentro do cenário do estado-nação, que permanece a arena principal da luta de classes. O desenvolvimento desigual favorece a desigualdade nas relações internacionais. Essas relações são determinadas pelos poderes econômicos, militares e políticos de cada estado capitalista, sua posição na cadeia imperialista.
Essa abordagem está enraizada na realidade objetiva; protege-nos de posições equivocadas que apresentam estados capitalistas como uma posição intermediária e subordinada no sistema imperialista como colônias ou países que estão, alegadamente, sob “ocupação” do FMI e da UE. Esse é um objetivo vital. A postura em relação às classes burguesas, o caráter das alianças, a luta de classes e suas perspectivas estão todas definidas para nós.
A estratégia que é orientada para a luta para o socialismo requer uma linha de luta e organização que irá contribuir para a concentração de forças anti-monopólios e anti-imperialistas, dando especial ênfase na organização da unidade de classe da classe trabalhadora, na sua aliança social com pequenos e médios fazendeiros e os pobres autônomos na cidade. Nosso partido adquiriu uma rica experiência da política de alianças e salienta que acordos temporários com forças social-democratas com o intuito de servir, por exemplo, a objetivos eleitorais, confundem o povo, impedem a atividade independente do PC e seu desenvolvimento.
A vida por si só provou a importância do confronto com as forças oportunistas que pretendiam ser “amigas do povo” e trabalhar, sistematicamente, para a assimilação da classe trabalhadora de seus objetivos de uniões capitalistas e imperialistas. O SYN/SYRIZA, na Grécia, faz exatamente isso, assim como os grupos de extrema esquerda, nos seus caminhos que confundem a população, os quais deram apoio ao sindicalismo atrelado ao governo e ao patronato por anos, recorrendo ao anti-comunismo e tendo uma atitude hostil em relação ao socialismo que foi construído no século 20.
É preciso haver um elevado nível de disponibilidade e uma atitude decisiva para o Partido da Esquerda Européia (PEE) nos Bálcãs e na Europa, mais especificamente, já que ele lidera um papel de importante na tentativa de corromper e democratizar os PCs através da criação de redes e formações (que chamam a eles mesmos de “esquerda”) e a utilização de partidos oportunistas, tais como o Die Linke, da Alemanha. O KKE defende o socialismo que foi construído na União Soviética e em outros países socialistas. Luta contra as calúnias, aproximações anti-históricas – incluindo aquelas que foram intencionalmente ressuscitadas como “anti-Stalinismo” com o intuito de denegrir as principais conquistas do povo Soviético durante o período em que os fundamentos sólidos da construção socialista foram definidos.
O objetivo de defender o socialismo e destacar as vantagens do novo sistema está definido na realidade objetiva e experiência histórica porque os problemas eternos do capitalismo foram resolvidos nele, em poucos anos. Ninguém pode duvidar da importância de salvaguardar o direito de trabalho para todos e o desaparecimento do flagelo do desemprego. Ninguém pode duvidar do progresso tremendo que aconteceu na política social, serviços modernos, atualizados e gratuitos nas Saúde, Bem Estar, Educação, Cultura e Esportes. Ninguém pode colocar em questão sua contribuição na solução de problemas nacionais na luta contra o imperialismo, o colapso do colonialismo e a grande vitória anti-fascista dos povos.
Nós podemos confrontar o anti-comunismo com as conquistas acima mencionadas, tomando a responsabilidade de disseminá-las amplamente entre o povo e a juventude, identificando o anti-comunismo com as tentativas de criminalizar o desenvolvimento social, abertura de uma frente com a barbaridade capitalista e com os estados capitalistas que proíbem a atividade dos PCs e dos símbolos comunistas, perseguem comunistas com a assistência da União Européia e outros mecanismos imperialistas.
O estudo e a atitude crítica do KKE, os quais foram gravados na decisão relevante do 18º Congresso, focam nas causas e fatores que levaram ao retrocesso histórico, à contra-revolução e à restauração do capitalismo. Ele destaca os problemas da corrupção oportunista dos PCs, a violação do direito da formação do socialismo-comunismo e construção do socialismo.
Essa experiência é valiosa para examinar, por exemplo, o desenvolvimento na China, onde as relações capitalistas de produção predominam, para expressar nossa posição no que diz respeito ao chamado socialismo de mercado, para estudar, com criticidade, os desenvolvimentos em Cuba e no Vietnã. Nós damos especial atenção a esta questão porque uma tentativa coordenada de substituir as leis da luta de classe e construção do socialismo com a fabricação oportunista de “socialismo no século 21” está em progresso em nome das peculiaridades nacionais. “Socialismo no século 21” não tem nada a ver com o socialismo científico, poder da classe trabalhadora, socialização dos meios de produção e planejamento central; ao contrário, ele promove a perspectiva utópica de um capitalismo humanizado.
Segundo, a agudização das contradições inter-imperialistas, a competição entre as classes burguesas nessa região e o perigo de guerra significam que os comunistas tem tarefas importantes – que eles devem informar aos povos e desenvolver uma luta anti-imperialista consistente contra todas as uniões e organizações imperialistas, prevenindo o aprisionamento na lógica do chamado “mundo multi-polar”, a aceitação que conduz os povos à submissão de um ou outro imperialismo.
Nossa preocupação em relação ao curso do desenvolvimento está baseada na realidade, ou seja, que o desenvolvimento desigual leva à uma mudança na correlação de forças. A crise capitalista acelera os processos e os levantes na pirâmide imperialista às custas dos EUA, em favor das chamadas forças ascendentes com economias capitalistas fortes (China, Índia, Brasil, Rússia), com a UE mantendo sua força. Uma luta violenta está sendo travada entre os poderes imperialistas no que diz respeito aos interesses de seus monopólios, que nunca deixaram de precisar de uma base nacional, de um estado-nação.
Nessas condições, a posição de Lênin é, particularmente, importante, pois alerta que “Sob o capitalismo, não existem outros meios de restauração do equilíbrio periodicamente perturbado que não sejam as crises industriais e as guerras na política. Claro, acordos temporários são possíveis entre capitalistas e entre estados”.
Terceiro, nós gastaríamos de reiterar que a força dos PCs encontra-se na formação de uma estratégia revolucionária, a aquisição de uma posição não-negociável que os PCs determinam como suas posições guiadas pelos objetivos da abolição da exploração do homem pelo homem e a satisfação das necessidades do povo – o que torna o socialismo pertinente e necessário contra a barbaridade capitalista.
Essas posições podem ser reforçadas e criar uma nova qualidade nas obrigações político-ideológicas com a classe trabalhadora e o extrato popular, podem abrir o caminho para a presença dos PCs nas fábricas, nos negócios, no movimento de trabalhadores, nos sindicatos de modo que até mesmo o menor núcleo revolucionário possa adquirir substância e aumentar seu prestígio.
Com o objetivo de reforçar os PCs na nossa região, devemos desenvolver nossa atividade conjunta para o próximo período baseada nos objetivos que foram definidos pelo Encontro Internacional dos PCs na África do Sul para concentrarmos nossas atenções.
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Atividades conjuntas das forças classistas, apoios para a FSM (Federação Mundial de Sindicatos), que fará seu congresso na primavera deste ano na Grécia, para outras organizações anti-imperialistas, o desenvolvimento de iniciativas de apoio e solidariedade para a classe trabalhadora e lutas populares nos Bálcãs, em atividade pelos direitos das mulheres, dos jovens e dos imigrantes;
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Desenvolver uma atividade conjuntas contra a OTAN, a UE e agressão imperialista;
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Estudar e utilizar a experiência do centro anti-OTAN dos Bálcãs para que as iniciativas contra a presença militar imperialista na nossa região sejam reforçadas, assim como contra as bases militares e exércitos estrangeiros , contra a participação de forças militares dos países dos Bálcãs nas missões da OTAN e da UE em outros países e o regresso das forças que já foram instaladas nessas missões;
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Pela atividade coordenada contra o Anti-comunismo para que o movimento de massa seja criado em defesa do socialismo e sua contribuição histórica para o progresso social, para responder à equação anti-histórica de igualar o comunismo com o fascismo, para exigir a não-proibição de PCs e símbolos comunistas;
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Para reforçar a solidariedade com os povos Palestino e Cipriota, buscar uma solução justa e viável, lutar pela libertação dos 5 Cubanos militantes;
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Os partidos comunistas e de trabalhadores dos Bálcãs podem ter sua própria contribuição positiva para o sucesso tanto do Encontro Europeu de PCs, quanto do 13º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e de Trabalhadores, que acontecerá em Atenas, em 2011.
Fonte: KKE