Haiti: Tropas de ocupação da ONU são denunciadas por maltratos, roubos e homicídios

As denúncias têm sido feitas por organizações de direitos humanos no país, como também por autoridades locais da fronteira e habitantes de bairros populares da Capital do país.

Estas denúncias fortalecem cada vez mais na sociedade haitiana o amplo movimento que exige a saída da missão de estabilização do país, missão esta que organizações sociais e estudantes da Universidade do Estado do Haiti qualificam como “força de ocupação”.

MINUSTAH é acusada de cometer atos de violência e de roubo em Cité Soleil No último dia 14 de agosto os responsáveis pela Federação de Praticantes do Vudú de Cité Soleil (FEVOCS) denunciaram aos meios de comunicação da Capital haitiana os atos de violência, e inclusive de roubo, que estariam cometendo os capacetes azuis da MINUSTAH no maior bairro de Porto Príncipe.

“Além do fato de que os habitantes de Cité Soleil são brutalmente abordados pelos capacetes azuis, sem razão aparente, e tendo o seu dinheiro roubado”, declararam dois altos membros da organização FEVOCS, sediada neste bairro, que é considerado um dos mais perigosos do país.

Revelaram, além disso, que os capacetes azuis entraram em uma casa de penhor, na mesma região e levaram jóias e outros objetos de valor.

Apesar de que a MINUSTAH “começou a realizar um bom trabalho, que contribuiu para restabelecer a tranquilidade em Cité Soleil”, reconheceram os membros da FEVOCS que ela já está se convertendo em uma força de ocupação, que “não prende ninguém, mas te golpeia sem que tenhas cometido algum delito”, realçaram. Acusada também de homicídio na cidade fronteiriça de Lascahobas Membros da MINUSTAH foram acusados também de terem assassinado, no último dia 5 de agosto, um jovem de 26 anos durante uma manifestação na cidade fronteiriça Lascahobas, na qual a população reivindicava o restabelecimento dos serviços de eletricidade.

Os capacetes azuis chegaram ao lugar do protesto e dispararam com armas de fogo contra os manifestantes, que revidavam atirando pedras, segundo os testemunhos de uma organização local de direitos humanos, a Red Fronteriza Jano Siksè (RFJS). Desse confronto entre os capacetes azuis e os manifestantes resultou a morte do jovem Ricardo Morette, apesar dos socorros dados pelo médico voluntário do Centro de Saúde de Lascahobas. Cerca de outros dez manifestantes, todos jovens, saíram feridos desta intervenção da MINUSTAH, vista como “desproporcional” pelos militantes da RFJS.

Num primeiro momento a MINUSTAH negou que houvesse um morto, logo após os incidentes em Lascahobas. Entretanto, quando o prefeito da cidade, Gérald Joseph, refutou a informação da MINUSTAH, confirmando que uma pessoa havia morrido e várias outras ficaram feridas durante a intervenção dos capacetes azuis. Integrantes da missão da ONU se dirigiram ao local onde estava o cadáver do jovem Morette para recuperá-lo e fazer uma autópsia, informou em um comunicado o Grupo de Apoio a Repatriados e Refugiados (GARR) que trabalha na fronteira dominicana.

Apesar da oposição das autoridades locais, frente à insistência dos integrantes da missão da ONU, os capacetes azuis conseguiram o cadáver. Entretanto, o Informe da autópsia foi negado ao advogado da família do morto, manifestou o GARR com indignação.

A MINUSTAH simplesmente informou aos pais do morto que nenhuma bala foi encontrada no cadáver de seu filho, contrariamente ao que havia revelado o médico voluntário que atendeu ao jovem antes de sua morte.

A partir disso o GARR pediu que seja feita uma investigação independente para esclarecer este caso e que se dê um acompanhamento legal e humanitário às vítimas das intervenções da MINUSTAH.

Numa conferência de imprensa dada na semana passada, a MINUSTAH afirmou que foi o comissário do governo que solicitou a autópsia. Esta foi feita por um médicolegista associado ao Instituto Médico Legal. A missão da ONU anunciou também que a Polícia Nacional do Haiti havia aberto uma investigação para buscar o autor desse crime para desmascará-lo diante da justiça.

Estes argumentos estão longe de convencer às organizações de direitos humanos e às autoridades locais de Lascahobas que seguem pedindo justiça e reparação para as vítimas.

Recordemos que há 3 anos um jovem de 17 anos morreu em Ouanaminthe, na fronteira Norte do Haiti, em circunstâncias semelhantes. O jovem participava de uma manifestação contrária a que enterrassem em uma fossa comum os cadáveres de 24 imigrantes haitianos que morreram em um caminhão quando tentavam entrar irregularmente na República Dominicana no dia 11 de janeiro de 2006. Os manifestantes pediam um pouco de respeito pela dignidade das vítimas, de suas famílias e do povo haitiano. Os soldados da MINUSTAH intervieram brutalmente na manifestação, causando a morte do jovem.

Num primeiro momento a MINUSTAH negou ter matado o jovem; mas em seguida, a força multinacional se apoderou do cadáver e realizou ela própria a autópsia. Até agora, a família do jovem, a população de Ouanaminthe e a opinião pública esperam pelos resultados da autópsia.

Este é o mesmo caso de Robenson Laraque, um jovem jornalista da rádio privada Tele Contact, da cidade de Petit-Goave, que morreu em 7 de abril de 2005 logo após ter recebido uma bala durante um confronto entre os capacetes azuis e os ex-membros das Forças Armadas do Haiti.

“As testemunhas disseram que foram os soldados da MINUSTAH que dispararam contra ele”, informou Guyler C. Delva, presidente da Comissão de Apoio às Investigações dos Assassinatos de Jornalistas (CIAPEAJ), que exige que “a MINUSTAH diga o que se passou, já que estava no lugar”.

Original em Socialismo ou Barbárie

(traduzido por Roberta Moratori)