O Plano Colômbia sobrevoa a América Central

Caracas, 16 Fev. AVN (Leandro Albani).- O secretário adjunto da Agência de Assuntos Narcóticos Internacionais e Aplicação da Lei do Governo dos Estados Unidos, William Brownfield, foi claro em sua proposta: a Casa Branca visa aplicar um programa similar ao Plano Colômbia na América Central.

Na semana passada, durante sua visita à Guatemala, El Salvador, Honduras e Colômbia, o funcionário participou de reuniões com os governos e prometeu ajudas milionárias para combater, de maneira contundente, o que denominou como “rota do narcotráfico”.

Denunciado como um plano de forte caráter intervencionista e com resultados precários, o Plano Colômbia foi implementado na Colômbia durante o governo de Andrés Pastrana, em 1999.

Na apresentação da proposta norte-americana para 2011, na terça-feira passada, o presidente Barack Obama anunciou que o dinheiro destinado a esse programa será reduzido em 15%, restando 64 milhões de dólares.

No entanto, o anúncio da Casa Branca parece contrário às propostas apresentadas pelo “czar” antidrogas norte-americano.

E mais, ele afirmou que este possível programa será complementar aos utilizados na Colômbia e México.

“Depois de percorrer a região e, se ainda assim, tivermos uma coincidência de perspectivas”, da parte do governo norte-americano se espera “elaborar uma nova estrutura que poderá surgir do intuito de fomentar mais colaboração entre os países da região mesoamericana e também dos demais países do hemisfério que queiram apoiar”, explicou o funcionário norte-americano.

Para não deixar dúvidas a respeito do objetivo de Washington, Brownfield não permitiu que as promesas ficassem soltas pelos ares e anunciou que seu país contribuirá com 200 milhões de dólares no reforço da luta contra as drogas e a criminalidade na região.

A iniciativa de um novo Plano América Central foi festejada pelos governos das nações que visitou, principalmente pelo regime hondurenho.

O Ministro de Segurança de Honduras, Oscar Alvarez, não escondeu sua emoção e declarou que “temos feito coisas maravilhosas sem muito apoio e faríamos mais se tivéssemos o respaldo de Washington”.

Porém, um Plano Colômbia dirigido à América Central não estaría apontado diretamente à luta contra o tráfico de drogas, fato demonstrado em diversas ocasiões.

Em 2001, o sociólogo norte-americano James Petras, alertou que o programa imposto no territorio colombiano “é, ao mesmo tempo, uma política ‘nova’ e a continuação da antiga intervenção dos Estados Unidos” no país.

O intelectual recordava que, a partir da década de 60, o governo do então presidente John F. Kennedy “lançou seu programa de contra-insurgência, treinando forças especiais criadas para atacar” o que qualificavam como “inimigos internos”, em referência às organizações guerrilheiras.

Um ano antes, a revista uruguaia Brecha denunciou que o Plano Colômbia permitia as fumigações de plantações de coca com o herbicida glifosfato, produzido pela multinacional Monsanto, afetando as províncias equatorianas fronteiriças, situação que despertou vários protestos.

Em 2008, o diretor de Políticas de Droga do Instituto de Estudos Políticos de Washington, Sanho Tree, recordou que o Congresso norte-americano reconheceu o fracasso do Plano Colômbia, devido ao fato da quantidade de coca ter aumentado na região desde o início do programa.

Entrevistado pela Telesur, o especialista afirmou que “a produção de cocaína não baixou. Esse são os indicadores objetivos que mostram que este plano não é um êxito”.

Tree explicou que tanto o Plano Colômbia quanto o Plano Mérida, no México, são similares “ao programa de treinamento dos Estados Unidos no Iraque”.

Essas tropas adestradas por Washington terminaram sendo as mesmas que “executaram os massacres no Iraque”, disse.

Um plano financiado e dirigido pelos Estados Unidos na América Central se transformaria numa nova ameaça para os membros da Aliança para os Povos de Nossa América (Alba), como é o caso da Nicarágua, e satanizaria como terroristas os seus simpatizantes, como a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), de Honduras.

Uma iniciativa deste tipo não surpreende, considerando a consolidação das bases militares norte-americanas no Panamá, Honduras, El Salvador e Costa Rica.

Como ficou evidente no caso hondureño, a base de Palmerola não é utilizada para simples “exercícios militares”, mas sim como ponto estratégico, como foi o caso da derrubada do presidente Manuel Zelaya, em junho de 2009.

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

Fonte: AVN

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