Honduras: os protagonistas da história atual
J. Donadín Álvarez / Resumen Latinoamericano
Honduras arde. A linearidade dos séculos de opressão, pobreza extrema, abandono dos governos, entre outros males que acorrentaram a nação, parece ter chegado ao fim. As novas circunstâncias atuais permitiram a oportunidade de reescrever a história nacional.
Nesse cenário, favorecido pela ditadura cachureca, há basicamente cinco protagonistas e, dependendo do papel assumido por cada um deles, a nova história hondurenha será moldada.
O primeiro protagonista é o governo ditatorial, fraudulento, cínico, astuto, neoliberal e narcotraficante, liderado por Juan Orlando Hernández. Suas ações foram marcadas pela violência em todos os níveis, exclusão social, corrupção e manipulação da vontade coletiva. Em face de tal comportamento, o descontentamento geral transbordou e a governabilidade da nação foi perdida. Tudo parece indicar que o fim do regime está próximo, já que seus eventos estão girando dentro de seu próprio vórtice.
O segundo protagonista constitui a Plataforma para a Saúde e Educação em Honduras. Com sua organização, coerência discursiva e pressão popular demonstrou a sua capacidade para conduzir uma proposta séria, crível e exequível, ao mesmo tempo em que vem denunciando a intransigência do regime de Juan Orlando Hernandez. Deve-se notar que seria interessante se esta plataforma fosse expandida e integrada por outros setores organizados. De todo modo, sabe-se que, embora a luta da Plataforma tenha começado como uma reivindicação sindical, dentro dela há uma pressão em direção à ditadura que implica implicitamente o desejo pelo desaparecimento da segunda.
A terceira protagonista é a oposição política liderada pelo Partido da Liberdade e Refundação (LIBRE). O papel desempenhado pelos deputados deste instituto político no Congresso Nacional tem sido interessante. Embora a política cachureca utilize os meios de comunicação alinhados com a ditadura para imputar-lhes falta de respeito para com o falso protocolo parlamentar, esses deputados têm demonstrado o modus operandi dos nacionalistas para aprovar leis, cujo processo de aprovação não é previamente socializado ou lido no plenário do legislativo, tampouco os votos dos parlamentares são considerados. Simplesmente um cachureco afirma: “aprovado”. Graças à insurreição legislativa, a estocada nacionalista diminuiu momentaneamente.
A quarta protagonista é a embaixada estadunidense, cujo respaldo ao ditador – porque é uma ferramenta útil para o capital transnacional – só prova a sujeira da política externa ianque, que mesmo sabendo de suas narcoandanças, continua a apoiá-lo, embora de forma condicional.
Finalmente, o quinto protagonista – e, sem dúvida, o mais importante – é o povo hondurenho. Sua consciência política foi abalada de repente e, de todos os protagonistas, é quem tem a última palavra, é quem pode determinar a direção da história hondurenha. Por ser aquele que sofre, está indignado por ter entendido a dinâmica da política vernácula e agora está nas ruas exigindo a todo pulmão a saída do tirano.
O povo sabe que a luta sindical da Plataforma para a Saúde e Educação em Honduras adquiriu novos tons na sequência da recusa do governo em dialogar, entende que seus direitos à saúde e educação estão sendo reduzidos para atender aos acordos do governo com o Fundo Monetário Internacional Internacional (FMI), intui que com um ditador não é possível dialogar. Não é para menos. Sabe-se que a aparente inocência com a qual o ditador fez o convite à Plataforma através da mídia é uma manobra impudente e aceitá-lo seria suicídio. Com o seu falso diálogo, o regime visa minar a luta e desmobilizar os cidadãos.
No entanto, nada e ninguém para o povo enfurecido. Hoje, mais do que nunca, o coro começa a ganhar força: “E vai cair e vai cair, aquele filho da puta vai cair”.
Radio Progreso
Tradução: Partido Comunista Brasileiro – PCB
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