Honduras: 60 comunicadores assassinados impunemente e o jornalista Ellner sob ameaça
Por Andrés Figueroa Cornejo, Resumen Latinoamericano / 24 de outubro de 2015 – Começa a Campanha Internacional pela Liberdade de Expressão em Honduras
‘Na bandeira da liberdade bordei o maior amor de minha vida’
Federico García Lorca
‘O jornalismo é livre ou é uma farsa’
Rodolfo Walsh
Honduras é o país mais violento da América Latina e sua capital, Tegucigalpa, uma das mais violentas do planeta. Desde o golpe de Estado contra o Presidente constitucional José Manuel Zelaya, em 28 de junho de 2009, as taxas de crime e o horror recrudesceram. Segundo a Organização Mundial de Saúde, diariamente são assassinadas cerca de 20 pessoas.
Atualmente e desde sua investidura, em 27 de janeiro de 2014, o membro do direitista e pró-norte-americano Partido Nacional, Juan Orlando Hernández, é o primeiro mandatário de Honduras. No entanto, o principal partido opositor, Liberdade e Refundação (Libre, sigla em espanhol), junto ao Partido Anticorrupção, assinalam que as eleições que levaram Hernández ao Executivo foram uma fraude e, em consequência, Honduras padece de
uma ditadura “de novo tipo”, profundamente autoritária no político e ultraliberal e antipopular no econômico.
Dois milhões de pessoas de um país de 8 milhões e meio de habitantes foram expulsos pela violência e pela miséria do narco-Estado hondurenho (de acordo com o Fundo Social da Dívida Externa, o narcotráfico explica 30% do PIB do país). 35 mil meninas e meninos foram jogados na rede do tráfico e da prostituição infantil na tentativa de fugir do terror. 80% da população sobrevive na linha da pobreza, enquanto apenas um punhado de famílias oligarcas é proprietária de todo o território. Como se fosse pouco, a 86 quilômetros de Tegucigalpa encontra-se a base militar norte-americana de Palmerola, a mais poderosa plataforma bélica dos interesses dos Estados Unidos pela subordinação do país e de toda a região. Tanto o armamento, como as centenas de militares altamente especializados que se encontram em Palmerola, representam o creme e a nata da indústria da morte e a submissão ao Estado norte-americano contra a castigada soberania da América Central e dos povos da Península do Yucatán.
‘Quanto a você, filho da puta, vamos cortar sua língua’
Um dos grandes direitos sacrificados pelo pesadelo hondurenho é a Liberdade de Expressão, de Opinião e de Imprensa. Até hoje são 60 jornalistas e comunicadores assassinados.
Em começos de outubro, o jornalista profissional hondurenho e correspondente das agências internacionais, Ricardo Ellner (32 anos), publicou o artigo ‘Honduras: Expressão de Liberdade na ditadura’ (http://www.rebelion.org/
Em contato direto, Ricardo narrou a relação dos acontecimentos: “Na terça-feira, 20 de outubro de 2015, entre as 15:00 e 15:30 horas da tarde, parti em meu carro para tomar um café, para continuar trabalhando em um informe no computador. Então, fui surpreendido. Estacionei em um pequeno centro comercial no Boulevard Suyapa, em frente à Universidade Nacional Autônoma de Honduras, a 10 minutos da Casa Presidencial do país. Quando desci do carro, dois motociclistas de ruidoso motor pararam abruptamente junto de mim. Ambos se vestiam da mesma forma, com jeans, camiseta e jamais tiraram os capacetes. Um deles era pele morena e olhos escuros. O primeiro me disse ‘Ei, você, filho da puta. Você fala muito’. E o segundo continuou a mensagem com um ‘Sim, filho da puta, vamos cortar sua língua’. Imediatamente depois, arrancaram em suas motos. Após o impacto inicial, me reuni com o diretor da TeleSur para América Central em sua versão inglês, meu amigo Gerardo Torres, que se encontrava na região. No caminho, fui pensando em meu amigo e colega Erick Martínez, estrangulado e assassinado na periferia de Tegucigalpa. No dia seguinte, 21 de outubro, fiz a denúncia ao Comissionado Nacional dos Direitos Humanos, uma instituição estatal. Meu número de expediente ali é 08-01-2015-10-21-88”.
À raiz do ocorrido e devido ao sinistro contexto que se apresenta, comunicadores sociais e jornalistas do Chile e Argentina, em princípio, iniciaram a Campanha Urgente pela Liberdade de Expressão em Honduras e pela vida das e dos Comunicadores Hondurenhos. Solicitamos a adesão de organismos de Direitos Humanos do mais amplo espectro; Colégios, Grêmios e Sindicatos de Comunicadores Sociais, Jornalistas e Trabalhadores de todo o mundo; de organizações camponesas e de povos originários; de meios de comunicação de qualquer formato e cujo objetivo seja a melhoria da condição humana; de personalidades e pessoas amantes da justiça, da paz e da liberdade; e de todos aqueles agrupamentos sociais, políticos e econômicos, como das mulheres e homens que brigam pelo estabelecimento dos Direitos Fundamentais cunhados na Carta Internacional de Direitos Humanos em todos os povos e sociedades do globo.
Ricardo Ellner afirma que ‘As e os comunicadores nos povos de Honduras, como em todos os povos do mundo, acreditam na liberdade de expressão, lutam para se libertar da opressão em que vivem por anos, são realmente aqueles que constroem ou reconstroem a historia que a hegemonia apagou através da brutalidade, genocídios, ditaduras, sangue, terror. Porém, são os olhos daqueles que, todavia, não podem ver. Assim é como se movem em Honduras’.
Com Ricardo e tantas e tantos mais, dizemos: Liberdade de Expressão em Honduras Já! Basta de crimes e perseguições contra os comunicadores e jornalistas do país de Morazán! Fim agora imediato à barbárie narco-estatal, à impunidade, ao horror assassino em Honduras!
Adesões: Livre Expressão Honduras libreexpresionenhondu
Foto: Ricardo Ellner jornalista hondurenho.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)