Os ‘Países de Merda’ respondem a Trump de Honduras

Os 'Países de Merda' respondem a Trump de HondurasPor Dick & Miriam Emanuelsson,
Resumen Latinoamericano

“Trump e JOH, homens de merda!”, diz o cartaz que carrega o manifestante e hondurenho José Espinoza. Ele e os centro-americanos se sentem ofendidos pela declaração do senhor Donald Trump que, ante a imprensa norte-americana, disse que os salvadorenhos, haitianos e alguns africanos eram “Espeluncas de Merda”, de “países de merda”.

– O verdadeiro homem de merda é ele [Trump]!, disse Espinoza quando pedimos que comentasse a frase do mandatário norte-americano, que está sentado em cima do maior arsenal de bombas nucleares do mundo, que acusa a todos os governos e personalidades progressistas e de esquerda de violar os direitos humanos enquanto ordena suas próprias forças policiais a arremeter contra sua população negra nos EUA e aplaude e reconhece os governos de direita no continente.

A manifestação saiu da Universidade Pedagógica. A Aliança Opositora contra a Ditadura neste dia retomou os protestos contra o que considera uma fraude eleitoral o pleito de 26 de novembro de 2017, no qual o Supremo Tribunal Eleitoral declarou JOH, Juan Orlando Hernández, como ganhador três semanas depois das eleições.

Um novo sentimento anti-imperialista

O hondurenho comum não agiu como um chauvinista. Muitos tiveram a confiança e esperança de que o gigante do Norte poderia respaldar o país mais pobre e violento do continente americano para sair do subdesenvolvimento.

Porém, as coisas estão mudando. O povo se deu conta, defende Espinoza, que as administrações estadunidenses só têm interesses, nada de amizade.

– Para nós é insultante o desprezo que o governante dos Estados Unidos tem com relação a todo o sul do planeta, contra a América Latina, África e o Caribe e que manifestou não só de fato, mas por palavras. Só temos que dizer-lhe de novo que o verdadeiro homem de merda é ele.

Você também coloca “JOH” ao lado de Trump como um igual. É uma coincidência que o governo de Honduras, junto com oito outros governos do mundo [de um total de 200 países] votou contra a resolução na ONU, que condenava a decisão de Trump de transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém?

– Sim, é claro. O povo de Honduras está consciente. Assim como o de toda América Latina e do hemisfério sul, sabe que tipos como Juan Orlando Hernández e todo seu grupo de poder somente são receptáculos, porta-vozes e atuadores da vontade do próprio Império. E, portanto, não há nada que pensar, somente replicar os sentimentos, atuações, interesses e as necessidades do governo dos EUA.

128 hondurenhos por dia vão para os EUA sem documentos

Segundo a estatística oficial de Honduras, uma média de 128 hondurenhos por dia saíram de seu país durante 2017. Arriscaram sua vida passando ilegalmente pelas fronteiras guatemaltecas, mexicanas e dos EUA para, assim, conseguir a sobrevivência para o migrante e sua família. Chegando aos EUA, trabalham muitas vezes em 2-3 trabalhos, sendo explorados por patrões cruéis.

Há uma semana, Donald Trump e o Departamento de Estado tomaram a decisão, no caso de El Salvador, de cortar o famoso TPS (Status de Proteção Temporária) a partir de 2019, o que significa que 200.000 salvadorenhos serão deportados de volta a seu país, entrando em uma sociedade com poucas possibilidades de trabalho e educação.

– Na realidade, é uma contradição. Porque por sua própria conta, os latino-americanos não necessitariam ir ao hemisfério norte, a nenhum desses países. O que ocorre é que a situação e o empobrecimento provocados justamente por estas nações em nossos países geram uma expulsão permanente de cidadãos para os EUA.

– Além disso, nós somos conscientes de que a metade do povo estadunidense que lá reside também manifesta um desprezo importante por esse governante, porque na realidade ele desconhece as raízes históricas e a situação das causas do empobrecimento desses países, que são provocadas por seu próprio país.

Quem exerce ingerência em Honduras, Venezuela ou EUA?

Segundo o governo hondurenho, o governo da Venezuela influenciou os assuntos internos de Honduras, como por exemplo nas eleições mais recentes. Como você caracteriza a atuações dos EUA aqui em Honduras quando a própria encarregada de negócios da embaixada estadunidense em Tegucigalpa esteve no Superior Tribunal Eleitoral durante a contagem dos votos, dando recomendações ao Tribunal?

– Na realidade, a Venezuela possui problemas suficientes para se ocupar dos problemas dos estados centro-americanos. A única coisa que a Venezuela fez desde o tempo do comandante Chávez é somente ser solidária, para que estes povos, de uma vez por todas, decidam libertar-se, porém sem ingerência, como a ingerência que têm os EUA em todo o continente. Nós consideramos que existem coisas que precisam mudar desde a raiz, especialmente essa falta de democracia que você está assinalando que existe no Supremo Tribunal Eleitoral e em toda institucionalidade do Estado.

Ilustração: O trem ‘La Bestia’ [A Besta], onde anualmente centenas de centro-americanos perdem suas vidas entre os vagões ou quando caem do teto. Cada dia saem de Honduras uma média de 128 pessoas para buscar uma nova vida nos EUA. No ano passado foram deportados mais de 49.000 hondurenhos.

Vídeo (entrevista com José Espinoza): https://youtu.be/HGsznEQ7CG8

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2018/01/14/los-agujeros-de-mierda-responden-a-trump-desde-honduras/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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