A análise de James Petras em CX36, 17 de Outubro de 2016

imagem“Na Venezuela há uma guerra destrutiva da direita e uma incapacidade do governo em superar a crise económica”

Efraín Chury Iribarne

Eleições nos EUA, Venezuela, Médio Oriente, repressão e censura contra jornalistas e órgãos de informação, tópicos do panorama de uma actualidade sombria.

Efraín Chury Iribarne: Estamos com muito gosto dando as boas-vindas à Radio Centenário a James Petras. ¿Como estás James?

James Petras: Estamos bem, Chury. ¿Como andam vocês?

EChI: Muito bem. Petras, muitos temas para conversar mas em primeiro lugar queríamos abrir com informação face a tanta balbúrdia nestas eleições nos EUA, estamos a nada mais que três semanas.

JP: Sim, é certo, estamos por fim a aproximar-nos de umas eleições em que muitas pessoas estão já esgotadas com tanta publicidade, calúnias, insultos, propaganda cada vez mais crua para convencer um público muito céptico.

As últimas sondagens dizem que Hillary Clinton ganha, que está com 5 pontos de avanço em relação a Donald Trump. As notícias continuam a ser de escândalos. Por exemplo, na semana passada descobriram, entre outras coisas, que Trump tinha algumas relações, não exactamente sexuais mas que metem as mãos entre meia dúzia de mulheres, mais os outros casos anteriores, sem nenhuma prova, simplesmente acusações de diferentes mulheres …Receberam a máxima publicidade e circulação em todos os diários, não apenas na imprensa amarela, mas no New York Times ou Washington Post, todos os canais de televisão, etc.

E tiveram algum impacto, particularmente entre o voto feminino onde a margem de êxito para Hillary é de cerca de mais 25 pontos. Mas o que os media não estão a dizer é que Trump continua tendo a maioria entre os homens brancos, os votantes que não são hispanos ou afroamericanos.

Entre os afroamericanos e latinos Clinton tem também vantagem, mas está polarizado.
Trump tem maioria entre os homens e os brancos, e isso é algo de formidável porque os media estão dando a impressão de que as eleições já terminaram, que Trump perdeu, que não é possível que possa recuperar. Mas há factores que poderiam influir, por exemplo, entre os brancos e os homens, a percentagem dos que votam é bastante mais alta do que a percentagem entre afroamericanos e latinos.

Então, apesar de as distâncias terem crescido em alguns sectores demográficos, o confronto ainda não está resolvido. Temos poucos dias, como dizias, pouco mais de 3 semanas, mas há escândalos grandes com Hillary que poderiam prejudicá-la.
Por exemplo, agora recebemos outras cartas de Wiki Leaks que dizem que ela, em alguns discursos pagos por Wall Street, dizia que tem una enorme relação com Wall Street, que só com os banqueiros poderíamos resolver os problemas económicos. E estas coisas desprezando a democracia, desprezando o homem comum, atingiram muito a propaganda de que Hillary representa os trabalhadores, os cidadãos em geral. E as cartas que agora estão circulando mostram que é muito mentirosa, quando fala em nome do povo mas trabalha para os banqueiros.

E isso vai ter algum impacto, maior do que possamos pensar, ou do que dizem os meios de comunicação de massa. E muitos republicanos estão um pouco fartos dos escândalos que se passaram com Trump. Então, perderam uma percentagem e as cabeças do seu próprio partido.

Em fim, as coisas seguem iguais ao passado, muitos escândalos, nenhum dos dois candidatos tem uma imagem favorável, os votantes seguem com desgosto a caminho das eleições. O sentimento mais comum que encontramos é: oxalá que terminem as eleições para regressar à vida normal.

EChI: Bem Petras, aqui no sul choveram notícias sobre as ciber-ameaças entre os EUA e Rússia. ¿Isso por aí teve importância?

JP: Sim, vimos em muitos diários o facto de que Obama está ameaçando castigar a Rússia com uma ciberguerra. Mas é uma faca de dois gumes porque se os EUA começam a afectar os computadores da aviação, dos militares, a Rússia tem capacidade para responder na mesma moeda, pode criar-se um caos internacional.
As últimas noticias que temos, inclusivamente estão hoje reunidos, é adoptar juntamente com a União Europeia encabeçada pela Alemanha, França e Inglaterra maiores sanções, impor novas sanções contra os agentes e os factores económicos na Rússia e Síria. E, para os castigar não sei por quê, a ciberguerra.

Agora, há que dizer uma coisa muito clara, no há nenhuma prova da acusação de ciberguerra por parte da Rússia, não há nenhuma documentação, não há nenhum esforço para investigar quem é responsável por qualquer tipo de intervenção cibernética. Mas começa a propaganda de Hillary Clinton acusando a Rússia e desprestigiando Trump, dizendo que Trump trabalha com a Rússia, que consegue informação ou denuncias a partir da Rússia, etc.

Mas não há provas, é simplesmente para desprestigiar Trump, envolvem a Rússia nas eleições e a partir disso estão as políticas de Obama para ameaçar a Rússia.

Mas é uma cosa muito perigosa meter-se com a ciberguerra, é afectar todos os sectores económicos e todos os países que estão ligados com internet e os diferentes instrumentos económicos e políticos.

EChI: ¿Como vês o que se passa na Venezuela? Há algumas notícias cruzadas no sentido de que a direita terá tido alguns desaguisados nas últimas semanas, estaria preparando outra espécie de cruzada para golpear a Revolução Bolivariana e o governo de Maduro.

JP: Sim, há expressões de frustração entre a direita. Estão frustrados porque já estão perdendo o seu apoio sem conseguir nenhum dos pontos que queriam alcançar. Quer dizer, eles pensavam, depois das eleições parlamentares, primeiro que podiam derrubar o governo na rua e fracassaram. Depois foram para os referendos para derrubar o presidente Maduro, que igualmente não avançam. Terceiro, agora voltam outra vez, cada vez com menos gente, menos ímpeto, voltam a algumas marchas e protestos.
Mas a ideia de derrubar de uma forma ou outra o governo perdeu relevância para as grandes maiorias entre a direita. O que é certo é que a economia continua sendo um grande problema sem um acordo entre a oposição e os governantes, não têm nenhum plano para coordenar algumas coisas graves que poderiam fazer. Por outras palavras, há uma guerra destrutiva da direita e uma incapacidade do governo em superar a crise económica, a inflação, a escassez de mercadorias, as polarizações económicas, sociais e políticas.

Então, se é certo que a direita perdeu a capacidade de golpear o governo, digo golpear no sentido exacto, de um golpe de Estado. Mas do outro lado a paragem ou a derrota da direita não deu uma oportunidade para os governantes com Maduro de lançar um novo projecto para superar a crise económica que pudesse pelo menos chegar ao povo.

EChI: Bem, Petras, como sempre fazemos, escutemos outros temas actualmente na tua agenda.

JP: Sim, um eram as eleições norte-americanas.

O segundo tema que quero tocar é que os turcos estão a avançar na Síria sob o pretexto de que estão a golpear o ISIS. Entretanto a última noticia que temos é que os terroristas que Turquia apoia tomaram o controlo de uma cidade 10 km no interior da Síria.

Quer dizer, o governo de Erdogan já ocupa mais de 10 km dentro da Síria e chama a isso território libertado pelos turcomanos, mas realmente são os militares turcos que estão a encabeçar este tipo de colonialismo e apropriação de terras de Síria.

O outro ponto que quero tocar é sobre o assalto a Mossul. Mossul está no Iraque, é a maior cidade que os do grupo terrorista ISIS controlam, mas lançar uma guerra agora tal como está montada pelos EUA depende muito das forças aéreas e do bombardeamento, porque as tropas curdas, turcas e iraquianas não têm capacidade para tomar Mossul. Vão a depender muito da destruição catastrófica de Mossul, com cerca de 2 milhões de cidadãos que vão a ser afectados. E é uma nova catástrofe para o povo do Iraque.
E finalmente quero tocar um tema que me interessa e que deve interessar muito os jornalistas e outros no Uruguai, temos três noticias que devemos registar. Primeiro, as contas bancárias de RT, a cadeia independente apoiada pela Rússia, receberam comunicação dos bancos em Inglaterra de que as suas contas vão ser congeladas, de que vão suspender financiamento de RT e encerrá-la. É uma forma de censura de um programa que circula em inglês entre milhões em todos os sectores do mundo. E é um acto de repressão sobre os meios de comunicação.

Entretanto nos EUA temos uma jornalista famosa, Amy Goodman, que tem um programa que circulando entre milhões de norte-americanos e agora está sob processo judicial em Dakota simplesmente porque estava ali preparando um programa com vídeo sobre os protestos dos indígenas de Dakota contra um projecto petrolífero que vai destruir os seus territórios. Então, estão-se preparando para encarcerar Amy Goodman, que representa a voz mais activa, e com maior circulação em todos os EUA.

E temos também Julian Assange que recebeu noticia de que a internet que utiliza, a única fonte que tem para comunicar com o mundo exterior, vai sofrer um novo corte por parte de um funcionário do Estado de Inglaterra e vai limitar a sua capacidade de comunicar com o resto do mundo. Há que recordar que Julian Assange está a apoiar Wiki Leaks e Wiki Leaks está a fazer circular documentos que implicam Hillary Clinton em muitos escândalos.

Por outras palavras, os três casos que menciono, RT, Amy Goodman e Julian Assange sofreram repressão e não são figuras menores, são figuras que são parte destacada das vozes críticas contra o imperialismo anglo-americano. E é uma indicação, quando a guerra não corre bem para os imperialistas, recorrem à repressão contra vozes com importância no universo anti-imperialista.

http://www.odiario.info/na-venezuela-ha-uma-guerra-destrutiva/

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