Atiçar o fogo: o escudo antimísseis
Obama chegou à presidência dos Estados Unidos com a promessa de abandonar os esquemas de confronto da guerra fria, mas o certo é que tanto o seu país como a NATO continuaram a aproximar o seu dispositivo militar das fronteiras russas, reforçaram a beligerância polaca e de outros antigos aliados de Moscovo, criaram novos quarteis generais no Báltico, na Polonia, e na Roménia e Bulgária, e o Pentágono orientou boa parte das suas forças para o Oceano Pacífico, com a China como objectivo. Resultado: desencadeou uma nova corrida aos armamentos.
Na reunião da NATO em Lisboa celebrada em 2010 os países membros da aliança militar decidiram aprovar o projecto de um “sistema balístico de misseis de defesa”, o escudo antimísseis norte-americano que seria progressivamente instalado na Europa. Países como Espanha, Polonia, Roménia e Turquia aceitaram que componentes do escudo fossem instalados no seu território. A retirada norte-americana do Tratado sobre Misseis antibalísticos, ABM, em 2002, para começar a construir o escudo, pressupôs por parte de Washington o perigoso início do desrespeito pelos acordos sobre armamento nuclear e o abandono do conceito de dissuasão entre as potências atómicas.
Assim, por exemplo em 2011, o presidente do governo espanhol Rodríguez Zapatero anunciava que a Espanha faria parte do escudo antimísseis norte-americano. Em finais de 2012, o ministro da Defensa Morenés assinava com Leon Panetta, secretário da Defesa norte-americano, o convénio para iniciar a instalação. Em princípios de 2014 chegava a Rota o USS Donald Cook, primeiro dos quatro destroyers norte-americanos do sistema antimísseis. Depois chegou o USS Ross e, em Abril de 2015, o destroyer USS Porter, da marinha de guerra norte-americana, segundo informava o próprio comando da Sexta Frota (U.S. Naval Forces Europe-Africa/U.S. 6th Fleet). Os destroyers, que contam com o sistema Aegis, completavam finalmente com o USS Carney a instalação na base naval de Rota como uma parte do escudo antimísseis. Elaine Bunn, conselheira para a política de defesa nuclear e de misseis do secretário da Defesa norte-americano, viajou a Espanha para a ocasião e supervisou a operacionalização do sistema.
A justificação norte-americana para instalar na Europa o escudo antimísseis havia sido a necessidade de se proteger contra um hipotético ataque iraniano: foi essa a desculpa esgrimida durante anos ante as chancelarias e nos organismos internacionais. Nos termos da argumentação diplomática de Washington não era relevante que o Irão não dispusesse de armamento atómico (nem então, nem agora), uma vez que, periodicamente, se lançavam alarmes sobre a sua suposta capacidade para conseguir fabricar bombas nucleares que, por vezes, situavam no prazo iminente de um ano e, nos círculos mais alarmistas habitualmente ligados à indústria armamentista e ao Pentágono e Tsahal, de seis meses. Ante os constantes protestos de Moscovo – que argumentava que o escudo antimísseis norte-americano estaria, na realidade, orientado para as suas forças nucleares, fazendo notar a incongruência de que se o inimigo a vigiar era o Irão, o escudo fosse instalado na Europa e não na Turquia – os Estados Unidos oferecia garantias verbais, sem se comprometer a assumir essas garantias num tratado diplomático. As reticências mostradas por alguns aliados na NATO, como a Alemanha, eram simplesmente ignoradas. A outra justificação norte-americana para instalar o escudo era a Coreia do Norte, embora a sua distância do teatro europeu e a sua evidente debilidade nuclear, apesar de algumas operações propagandísticas organizadas por Pyongyang, a convertessem num argumento débil e ineficaz.
Em Junho de 2015 Ashton Carter, secretário da Defesa norte-americano, visitava a Alemanha durante uma viagem por diversos países europeus, enquanto o Pentágono fazia chegar ao governo alemão a possibilidade de instalar novo armamento nuclear na Europa. O governo de Merkel (que tinha entre os seus objectivos nesse momento desactivar a “crise ucraniana”, através do processo de Minsk, e conseguir que Washington retirasse o armamento nuclear que ainda mantém desde a guerra fria na região da Renânia-Palatinado) assistia impotente à utilização pelos Estados Unidos da guerra na Ucrânia, no Donbass, como argumento para reforçar o dispositivo norte-americano e da NATO em todo o leste da Europa, apesar da evidencia de que a tensão afectava exclusivamente a Ucrânia, que não é membro da NATO, e não os países bálticos nem a Polonia, como filtrava o Pentágono na construção propagandística do novo “perigo russo”. Por sua parte John A. Heffern, subsecretário de Estado norte-americano para Europa, apesar de reconhecer que, após o acordo com Teerão, os misseis iranianos não poderiam transportar cargas nucleares (que, além do mais, o Irão não possui), anunciou que os Estados Unidos começariam a construir na Polonia, em 2016, uma rampa de lançamento do escudo antimísseis. O repetido esquema das reticências europeias ante os propósitos norte-americanos e de, depois de rodear nos bastidores as divergências, os Estados Unidos finalmente imporem as suas decisões na NATO cumpria-se de novo. A evidência de que esse escudo antimísseis viola os acordos subscritos entre Washington e Moscovo sobre a limitação da defesa antimísseis dos dois países, era ocultada sob o manto dos “novos perigos”, as guerras abertas (embora tivessem sido os Estados Unidos a iniciá-las!), e uma esmagadora desinformação nos grandes media jornalísticos e na televisão.
Entretanto quando, em Julho de 2015, se alcançou um acordo entre o Irão e o chamado Grupo 5+1 (as potencias com direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, Estados Unidos, Rússia, China, França, e Grã Bretanha; mais a Alemanha) que superou o bloqueio inicial do senado norte-americano em Setembro e entrou em vigor em Janeiro de 2016 as justificações norte-americanas perderam fundamento. Apesar disso, os porta-vozes da NATO insistiram em que o acordo com o Irão não alterava a situação. Putin, em Outubro de 2015, interrogava-se publicamente em Sochi acerca das razões de Washington para continuar a desenvolver o seu sistema antimísseis, afirmando que se a “ameaça” iraniana fora desactivada graças ao acordo sobre o seu programa nuclear, e o escudo antimísseis estava, segundo os Estados Unidos, dirigido contra o Irão, então as peças não encaixavam.
A engrenagem atlantista pôs-se a trabalhar freneticamente. Oana Lungescu, porta-voz da NATO, insistia em que o escudo não era dirigido contra a Rússia e assegurava, sem oferecer provas, que estava a aumentar no mundo a proliferação de misseis balísticos, apostando no equívoco de, sem o dizer, os equiparar a armas nucleares e, também, aumentado as ameaças para os países da NATO; declarações que foram contestadas por Serguei Lavrov e o governo russo e, de forma contundente, por Alexei Pushkov, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do parlamento russo, a Duma, assegurando que “as explicações norte-americanas sobre ameaças de Irão e Coreia do Norte são fábulas para idiotas”. Por sua parte, o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozin, considerava que o acordo com Teerão não faria os Estados Unidos abandonar o projecto de criação na Europa do sistema de escudo antimísseis pela simples razão de que “não é instalado por ameaça do Irão”. Era evidente que, descartada a hipotética “ameaça iraniana”, caía a justificação norte-americana mas, num mundo de mentiras e ficções aceites pela maioria dos aliados europeus, a argumentação do Pentágono e da NATO seguia o seu curso nas chancelarias do mundo e nos meios de comunicação. Ao mesmo tempo, os más agressivos membros europeus da NATO (Polonia, os países bálticos), estimulados pelo Pentágono pelo quartel general de Bruxelas, exigiam publicamente duras medidas contra a “agressividade russa” e a “política expansionista” de Putin. Por sua parte, Israel, que tinha criticado com dureza o acordo nuclear assinado pelo grupo 5+1 com o Irão, considerando que é um “erro histórico”, adaptava-se ao novo cenário, preparando-se para a nova fase de reforço militar norte-americano: assim, em Fevereiro de 2016, desenvolveu, juntamente com forças norte-americanas, exercícios militares conjuntos sobre defesa de misseis balísticos. Para culminar a campanha, os Estados Unidos levantaram algumas sanções ao Irão depois da assinatura do acordo sobre o programa nuclear, mas voltaram a impor outras sanções relacionadas agora com o programa iraniano de misseis balísticos.
Em Dezembro de 2015 os Estados Unidos completavam a instalação do sistema antimísseis Aegis Ashore na Roménia, na base de Deveselu (criada pelo exército norte-americano próximo de Caracal, a duzentos quilómetros de Bucareste), após mais de dois anos de trabalhos: um dispositivo composto por um avançado radar e sistemas de comunicações, além dos equipamentos Standard-3 para interceptar misseis balísticos. No início de 2016 estava fazendo ensaios para ficar plenamente operativo em meados do ano. O sistema tinha já sido posto à prova em Novembro de 2014 e conseguiu interceptar um míssil de curto alcance e dois misseis de cruzeiro. Era outra evidente violação do Tratado sobre Misseis de médio alcance (INF, na sigla inglesa; Intermediate-Range Nuclear Forces). Em Fevereiro de 2016, na Conferencia de Segurança de Munique, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou que a aliança militar ocidental não ia renunciar ao escudo antimísseis na Europa, numa altura em que a aliança militar aumentava as suas tropas na proximidade das fronteiras russas, alcançando um nível sem precedentes desde os anos da guerra fria. Sem temor da evidente contradição, Stoltenberg manteve, de novo, que o escudo não está dirigido contra a Rússia e que o acordo sobre o programa nuclear do Irão tão pouco é razão para deter a sua instalação.
Enquanto isso ocorria no teatro europeu nas zonas do Médio Oriente, outras peças do novo dispositivo militar global norte-americano moviam-se na Asia. Em Maio de 2015, o vice-ministro da Defesa russo, Anatoli Antónov, denunciou que os Estados Unidos estava a deslocar navios com sistemas antimísseis na proximidade das costas russas do oceano Pacífico, com as consequências que isso podia ter sobre a segurança na zona e sobre as defesas russas. Os navios norte-americanos deslocados para a zona, equipados com o sistema Aegis , podem interceptar misseis balísticos, alterando dessa forma o equilíbrio estabelecido nos tratados nucleares. Os Estados Unidos tinham também previsto destinar dois navios à zona: em 2015, o USS Benfold e, em 2017, o USS Milius, que fazem parte do dispositivo do escudo antimísseis, a base naval de Yokosuka (na prefeitura japonesa de Kanagawa, mesmo à entrada da grande baía de Tóquio). Na mesma base, os Estados Unidos disporão do porta-aviões nuclear USS George Washington, para além das forças acantonadas na Coreia do Sul. Não é alheio a tudo isto que a Frota do Pacífico russa incorporasse, em princípios de 2016, o sistema de misseis costeiros Bastião, que pode proteger secções de seiscentos quilómetros de costa, e que está equipado com 36 misseis Yajont, destinado ao território de Primorie (região cuja capital é Vladivostok), ante as costas do Japão. O Pentágono tinha anteriormente anunciado a sua intenção de destinar ao Pacífico e ao Índico sessenta por cento das suas forças navais, com navios dotados do sistema Aegis para configurar o “escudo”, cuja instalação era, de forma paralela ao pretexto iraniano para o escudo na Europa, justificada com o “perigo” da Coreia do Norte. A nenhuma chancelaria escapava que o propósito do escudo asiático não era a Coreia do Norte mas a China e a Sibéria russa. Ante o protesto oficial de Pequim, que considera que essa instalação afecta as suas forças de dissuasão estratégicas, os Estados Unidos continuaram a insistir em que o escudo está dirigido contra a Coreia do Norte e o Irão.
Dessa forma, em Fevereiro de 2016, Estados Unidos e Coreia do Sul anunciaram o propósito de instalar na península coreana o escudo antimísseis THAAD (acrónimo do inglês Terminal High Altitude Aereal Defense), dotado do radar terra-ar maior do mundo, que já está operacional na ilha de Guam, no leste das Filipinas, orientado para as costas chinesas. O sistema é similar ao Aegis instalado em navios norte-americanos, e pode controlar os céus não só da Coreia do Norte como também da China e de uma parte da Sibéria russa. A justificação para a sua instalação foi o lançamento de foguetões por parte da Coreia do Norte. Na Asia, Washington vê-se obrigado a tecer um complicado equilíbrio entre a rejeição chinesa e russa a esse respeito, a aceitação do governo japonês de Abe, lançado no reforço militar e numa retórica nacionalista que levanta suspeitas em Pequim mas também em Seul; e nas divergências entre os seus aliados coreano e japonês.
O governo de Seul, dirigido pela presidente Park Geun-hye, que mantém boas relações e importantes projectos de cooperação económica com Pequim, tinha resistido até agora a dar novos passos na construção do escudo antimísseis, mas não pode resistir à pressão norte-americana que utiliza o hipotético perigo de Pyongyang para forçar a sua instalação. Park Geun-hye (filha do ditador Park Chung-hee, que foi assassinado pelo NIS, a CIA sul-coreana) mantém uma política pragmática, que procura um equilíbrio entre os seus dois grandes vizinhos, China e Japão, desconfia de Tóquio por razões históricas, e está imersa nos problemas da relação com o norte da Coreia (para quem pede mais sanções internacionais pelo seu programa nuclear) e das paralisadas negociações sobre a hipotética desnuclearização da península coreana. Como era previsível, Park Geun-hye não se atreveu a resistir às pressões do general Thomas S. Vandal, um veterano do Iraque, hoje comandante das tropas norte-americanas destacadas na Coreia do Sul, para instalar o escudo. Tanto Pequim como Moscovo consideram que a sua instalação aumenta a tensão na zona, e pode desencadear uma nova corrida aos armamentos. A resposta do governo chinês não se fez esperar: o ministro de assuntos exteriores, Wang Yi, que destacou o grande alcance do sistema norte-americano, capaz de monitorizar grande parte de Asia, declarou que o escudo antimísseis na Coreia do Sul, supostamente destinado a proteger o sul da península, era na realidade uma “ameaça para a China”. A cautelosa atitude de Pequim, que quer desactivar os motivos de confronto com os Estados Unidos, embora esteja consciente da gravidade da decisão norte-americana, levou-o a votar na ONU as sanções contra a Coreia do Norte pelo lançamento de um míssil, e pretende assim inutilizar o argumento do “perigo norte-coreano” para forçar a Estados Unidos a rever os seus planos de instalação do escudo. Ao mesmo tempo, Pequim mantem o principio de avançar no sentido da completa desnuclearização da península coreana, embora as negociações estejam paralisadas. A prova da relevância que Pequim outorga a este assunto é que Wang Yi transmitiu a posição do seu país no decurso da sua viagem aos Estados Unidos, em finais de Fevereiro de 2016, onde se reuniu com Obama e com Susan Rice, conselheira de Segurança Nacional.
Tal como os analistas tinham previsto, os propósitos norte-americanos iam desencadear uma nova corrida aos armamentos: a Rússia não ia aceitar passivamente os riscos que o escudo pressupõe para as suas forças de dissuasão nuclear, e está a preparar a sua resposta. O plano russo face à instalação do escudo antimísseis norte-americano contempla o estabelecimento de misseis Iskander-M (que podem transportar ogivas nucleares tácticas) na região de Kaliningrado, mísseis que poderiam inutilizar a instalação do escudo previsto pelos Estados Unidos para 2018 na Polonia. Em finais de Fevereiro de 2016, os militares russos realizaram os primeiros exercícios com os sistemas de misseis tácticos Iskander-M na região de Buriatia, na Sibéria. Para além disso, a Rússia poderia cobrir até dois mil quilómetros na Europa com os seus misseis de cruzeiro. Moscovo está também a modernizar o seu arsenal de misseis balísticos intercontinentais: os Topol-M e os Yars , cada um dos quais poderia transportar três ogivas nucleares. Também desenvolve o Sarmar que substituirá o R-36M (Satanás, no jargão da NATO).
Além disso, Moscovo trabalha no desenvolvimento de novos comboios Barguzín capazes de transportar cada um seis misseis balísticos intercontinentais RS-24 Yars e de percorrer diariamente mil quilómetros, convertidos de facto em plataformas móveis de lançamento, capacidade que lhes outorga uma grande ductilidade. Moscovo destruiu o seu sistema anterior de misseis balísticos em comboios Molodets na aplicação do tratado START II, assinado por Bush e Yeltsin em 1993. O tratado START III, assinado por Obama e Medvedev em 2010, e que limita o arsenal nuclear de ambas potencias a 1.550 ogivas nucleares, permite desenvolver novos comboios dotados de misseis balísticos, pelo que Moscovo não rompe nenhum acordo. As Forças de Misseis Estratégicos russas têm previsto completar o novo sistema Barguzín em 2018. Quanto aos misseis de médio alcance, Moscovo conta com o míssil balístico intercontinental Rubezh, capaz de atingir até 5.500 quilómetros. Também desenvolveu uma versão do míssil Sarmat que pode ser colocado em órbita sobre a Terra, com o que a Rússia poderia atingir objectivos em qualquer lugar. Os acordos subscritos entre Washington e Moscovo proíbem a instalação de armas nucleares no espaço, mas a agressividade norte-americana na instalação do seu escudo e a ruptura dos acordos que permitiam o equilíbrio estratégico abrem a inquietante possibilidade de uma corrida armamentista no espaço. O vice-primeiro-ministro, Dmitri Rogozin, encarregado da industria de defesa, advertiu que em 2020 a Rússia terá modernizado por completo as suas Forças Nucleares Estratégicas. Por sua parte, a China pretende reforçar as suas forças navais, conta com o míssil balístico DF-21D, de médio alcance, para atacar navios em movimento, e moderniza as suas forças nucleares e o seu arsenal de misseis balísticos de médio alcance e intercontinentais.
Obama chegou à presidência dos Estados Unidos com a promessa de abandonar os esquemas de confronto da guerra fria, mas o certo é que tanto o seu país como a NATO continuaram a aproximar o seu dispositivo militar das fronteiras russas, reforçaram a beligerância polaca e de outros antigos aliados de Moscovo, criaram novos quarteis generais no Báltico, na Polonia, e na Roménia e Bulgária, e o Pentágono orientou boa parte das suas forças para o Oceano Pacífico, com a China como objectivo. Esses passos só podem despertar inquietação em Moscovo e em Pequim e, perseguindo o predomínio planetário, Washington só consegue desencadear uma nova corrida aos armamentos: perante a resposta de Rússia e China, em princípios de Fevereiro de 2016, o secretário da Defesa norte-americano, Ashton Carter, reclamou que para 2017 Estados Unidos deviam quadruplicar o orçamento das tropas norte-americanas na Europa para responder à “agressão russa”.
Angela Merkel já tinha advertido, em 2007, sobre os perigos que suporia instalar na Polonia sistemas antimísseis norte-americanos, e sugeria que a opinião de Moscovo fosse tida em conta. Não foi ouvida em Washington. O governo dos Estados Unidos não analisou com rigor nem previu a resposta de Moscovo e Pequim à sua perigosa decisão de instalar os escudos antimísseis: prisioneiro da soberba imperial que, com Clinton e Bush, dirigiu a sua política na última década do século XX e nos primeiros anos do século XXI, acreditou que, ainda que muito contrariadas, China e Rússia acabariam por aceitar a instalação dos escudos. Não foi assim e, tal como tinham advertido os peritos e os países contrários à sua instalação, a sua criação trouxe como consequência a modernização dos arsenais e dos sistemas de defesa russo e chinês.
Hoje, os riscos mais graves para a paz e a estabilidade internacional são a possibilidade de um confronto na Europa oriental, depois do golpe de Estado impulsionado pelos Estados Unidos na Ucrânia, que deu lugar a uma guerra civil, e do reforço da NATO na proximidade das fronteiras russas; a situação no Mar da China meridional, onde Estados Unidos e China se vigiam mutuamente; a evolução na península da Coreia, e a hipotética perda do controlo da situação no Médio Oriente, onde as guerras norte-americanas e a actuação de Israel, frequentemente imprevisível, criaram uma situação que pode degenerar num confronto entre as grandes potencias. Para além disso, a altivez imperial turva a vista de Washington e atiça o fogo da desconfiança e os confrontos, porque não há duvida de que os escudos antimísseis e o risco de uma nova corrida armamentista, se os Estados Unidos continuam empenhados em conseguir vantagens nucleares estratégicas sobre China e Rússia, são um dos perigos mais graves que o mundo tem de enfrentar.
Análise norte-americana: http://www.defense.gov/News/Special-Reports/BMDR
Rebelión publicou este artigo com autorização do autor mediante licença de Creative Commons, respeitando a sua liberdade para o publicar em outras fontes.