Descubra as diferenças*

imagemFilipe Diniz

Já foi amplamente feita a comparação entre os termos da cobertura midiática internacional às ações de guerra em Aleppo, na Síria, e em Mossul, no Iraque. São um exemplo antológico de dualidade e manipulação. Mas não é só a grande mídia que assim se comporta. Uma ONG de projeção mundial que se reclama independente não foge à mesma cartilha.

Um porta-voz da Anistia Internacional falava, em dezembro de 2016, sobre a situação em Aleppo. Não poupou nas palavras nem nas conclusões: “a chocante informação de que dezenas de civis têm sido executados extrajudicialmente pelas tropas do governo sírio […] aponta para crimes de guerra” […] “A informação de que civis – incluindo crianças – estão sendo massacrados a sangue-frio em suas casas pelas forças do governo sírio é profundamente chocante, mas não é inesperada, tendo em conta a conduta destas forças até a presente data.” […] “No decurso do conflito, as forças sírias, apoiadas pela Rússia, têm repetidamente manifestado um grosseiro desrespeito pelo direito humanitário internacional e um evidente desprezo pela sorte dos civis”.

Intensifica-se agora uma “ofensiva aliada” sobre Mossul, no Iraque. Há notícia de milhares de mortes de civis. A Anistia Internacional, que tão duramente e de forma tão conclusiva se pronunciara em dezembro sobre Aleppo, pronuncia-se agora sobre Mossul. A fórmula utilizada é um verdadeiro salamaleque: “o recente aumento de baixas civis […] sugere que a coligação encabeçada pelos EUA não está conseguindo tomar as precauções adequadas para evitar mortes civis”. Só falta pedir desculpa pelo atrevimento.

É certo que atribui a situação a “um padrão alarmante na utilização por parte da coligação encabeçada pelos EUA de ataques aéreos que têm destruído habitações inteiras com famílias no seu interior” . Mas agora não há crimes de guerra nem a tomada de civis como alvo, há apenas “incapacidade em tomar precauções”.

Tem diferentes lentes esta ONG. As tragédias de que fala – que resultam em milhões de mortos e refugiados e em países destruídos – são idênticas e foram desencadeadas pela mesma mão: os EUA, a OTAN e os seus aliados na região. Não têm fim à vista. Relativizar as suas consequências conforme as forças em presença é, antes de tudo, trair as vítimas.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2261, 30.03.2017

http://www.odiario.info/descubra-as-diferencas/

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