Honduras: em perigo os temas acessórios

Preocupa que o retorno à ordem constitucional e o compromisso de sancionar os direitos violados, restituir os danos causados e colocar o ser humano à frente sejam somente acessórios na mesa de Cartagena de Índias.

Estamos entrando a uma nova fase da crise hondurenha agudizada com o rompimento institucional de novembro de 2009.

As opções não eram muitas antes de abril de 2011; segundo o Centro de Estudos para a Democracia, CESPAD, eram a negociação política entre as partes, a continuidade da crise ou seu aprofundamento.

Nos três cenários os direitos humanos são tema chave, para continuar suas violações ou freá-las.

A percepção geral e a realidade objetiva é que o conflito envolveu o princípio da progressividade dos direitos humanos em todas suas gerações.

Caminhamos para trás de forma vertiginosa e é preciso deter essa tendência ao abismo selvagem que acabe desenhando irremediavelmente um Estado falido, que é uma ameaça geral.

Os acontecimentos de Cartagena de Índias fizeram virar o conflito para a mediação política de baixo e alto perfil, em uma espécie de tabuleiro de xadrez complexo pela diversidade dos atores que jogam. E os ausentes.

Os Estados Unidos utilizam a Colômbia para convencer o presidente Hugo Chávez que convença Zelaya, e este que faça o mesmo com a Frente Nacional de Resistência Popular, e que esta faça o mesmo com suas bases, para flexibilizar posições.

Os interesses, entretanto, não são os mesmos.

Aos EUA importa reincorporar por unanimidade à OEA o Estado hondurenho golpeado pelo seu garrote hegemônico, para lavar o golpe com mais da sua democracia tutelada.

Para a Colômbia, importa fazer negócios com a Venezuela em vários campos, incluindo cooperação para dizimar a retaguarda das FARC.

A Chávez, a motivação é conter com sinais a fúria imperialista desde as sete bases militares da US Army em território colombiano, advertido de poder sofrer em sua provável reeleição uma operação similar à que lançam contra a Líbia, se não colabora.

Para Porfírio Lobo e seu grupo aliado, o importante é assegurar dinheiro da cooperação multilateral, incluindo Petrocaribe e USAID ao mesmo tempo, e aproximar de novo o povo das eleições. Assim o golpe pareceria uma bela democracia participativa.

Para Manuel Zelaya, como para a FNRP, existe a geral reclamação popular para que esteja presente na pátria para conduzir a um melhor destino a força social e política mais potente da história nacional.

Na mesa, estão os jogadores e as jogadas. Mas aos espectadores nos preocupa que o retorno da ordem constitucional e o compromisso de sancionar os direitos violados, restituir os danos causados e colocar o ser humano à frente sejam somente temas acessórios da mesa.

Ante semelhante risco, propomos com a seriedade de três décadas fazendo frente ao mesmo grupo de políticos e militares que causaram nossa existência organizada, que o Acordo de Cartagena tenha pés firmes e visíveis.

Um retorno acelerado do golpismo à Assembléia da OEA depois da anulação dos julgamentos políticos a Zelaya e uma mediação sem nova Constituição, deixaria a imagem de uma operação opaca e no meio da confusão a mesa ficaria de pés para o alto e, portanto, inservível.

Façamos com otimismo racional e transparência que este processo em sua fase política terminal seja uma lição à humanidade inteira de como um povo obriga às elites a negociar de cara ao sol, marcando calendário a seus consensos, sem transigir seus direitos.

Mas, enfim, também a casa pode cair por seu próprio peso ou ajudado pela força coletiva desta nova humanidade que produziu a barbárie.

Fnte: www.defensoresenlinea.com

Traduzido por Coletivo Paulo Petry, núcleo da UJC/PCB em Cuba.