CUBA: “JAMAIS NEGOCIAREMOS SOB AMEAÇA”

imagemCobertura especial da Áustria. Texto: Laura V. Mor com colaboração especial de Alaen Cisnero Matos (fotos), para Resumen Latinoamericano Cuba.

Viena, 19 de junho de 2017 – Com o que poderão nos ameaçar hoje que não nos tenham ameaçado antes e fracassado?, perguntou o Ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, na coletiva de imprensa que ofereceu em Viena nesta manhã, a fim de tornar pública a posição do governo cubano ante os recentes anúncios das mudanças na política exterior dos Estados Unidos para Cuba.

Na sexta-feira passada, 16 de junho, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou o que chamou “Memorando Presidencial de Segurança Nacional”, em meio a um discurso hostil e desrespeitoso com Cuba. Porém, não o fez da Casa Branca, mas de um teatro localizado em Miami – lugar de residência da máfia anticubana responsável por sucessivos atentados contra Cuba –, que paradoxalmente leva o nome do Chefe Civil da Brigada 2506 na invasão imperialista a Praia Girón, Manuel Artime Buesa.

Trump, rodeado por “terroristas e politiqueiros” – segundo definição do próprio chanceler ao testemunhar sobre o histórico que contam aqueles que da Flórida cantam USA, USA, que apoiam mais uma vez uma política anexionista e plattista (1) que continuará prejudicando o povo cubano, deu seu discurso intervencionista.

Entre os personagens que acompanharam Trump, se encontrava, por exemplo, um dos detidos na Califórnia por tentativa de assassinato de Fidel Castro em 1997, um participante da infiltração armada a Cuba em 1974, o financiador da cadeia de bombas que atentaram contra o setor turístico em Havana e terroristas relacionados com o atentado ao voo civil CU-455 da Cubana de Aviação em 1976. O momento musical deste “grotesco espetáculo saído da Guerra Fria” – segundo palavras do Chanceler cubano –, vangloriado pelo próprio Trump, esteve nas mãos de quem é filho de Bonifacio Haza, assassino de Carlos Díaz e Orlando Carbajal, e participante do assassinato de Raúl Pujol, Frank País e seu irmão de tão somente 19 anos de idade. Com essa antessala, “ofensa que o Povo cubano não poderá esquecer”, se podia profetizar o que aconteceria depois.

Cinquenta e oito anos de agressões, bloqueio, guerra midiática e financiamento à subversão marcam a história.

As medidas concretas que marcam um retrocesso nos avanços que tiveram as relações entre Cuba e os Estados Unidos desde a retomada das relações diplomáticas em 2014, segundo explicou Rodríguez Parrilla, proíbem as relações comerciais e financeiras de companhias estadunidenses com empresas cubanas relacionadas ao Ministério do Interior e às Forças Armadas Revolucionárias; também proíbe continuar as viagens individuais de cidadãos estadunidenses a Cuba dentro do programa “Povo a Povo” e outorga uma maior vigilância sobre o resto das viagens, restringindo as liberdades civis dos próprios estadunidenses.

Bruno Rodríguez Parrilla – lembrando o fato de que Trump chegou à Presidência com o voto do Colégio Eleitoral e não com o voto popular – explicou como estas medidas afetam não só ao governo cubano, mas diretamente a cada setor da sociedade civil cubana. Os danos econômicos destas regulações alcançariam de ser aplicadas, não só às empresas estatais, mas às cooperativas e ao mercado negro, setor de grande interesse externo como meio de erodir pelo interior a Revolução Cubana.

O chanceler cubano esclareceu que “é equivocado dizer que (Barack) Obama fez concessões a Cuba”, já que “(Obama) manteve o bloqueio e tentou subverter a ordem constitucional do país”; porém, apesar disso, a diretiva presidencial assinada em outubro de 2016 reconhecia a soberania e a autodeterminação do povo cubano, sugerindo a igualdade de condições entre ambos Estados frente às rodadas de negociações, e qualificava o bloqueio como “uma política fracassada” (2). Ao abolir, se marca um retrocesso no caminho para a normalização das relações entre ambos os países, que “afetará as relações com a América Latina e prejudicarão a credibilidade da política exterior estadunidense”.

Estes anúncios criam uma fissura no próprio interior dos Estados Unidos, onde 73% do povo, 63% dos cubanos residentes e 62% dos republicanos apoiam a suspensão do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba em 1962. Considerando também que 75% dos estadunidenses e 69% dos cubanos residentes nos Estados Unidos legitimam a melhoria das relações entre ambos países, Trump está ignorando o sentimento popular no interior das fronteiras do país que dirige, ao proclamar a revisão dos programas subversivos contra Cuba, financiados desde a USAID para obter uma mudança de regime em Cuba; que tal como afirmou o chanceler, “não tem nada de criativo, é regressar a dez presidências anteriores”.

Rodríguez Parrilla reiterou que “Cuba está disposta ao diálogo, à cooperação e à negociação dos assuntos pendentes de natureza bilateral, da mesma maneira que recusará negociar qualquer assunto inerente à soberania, à independência, à autodeterminação do povo cubano”; enfatizando que “Cuba não realizará concessões de soberania, nem negociará princípios, nem aceitará condicionamentos”.

“As mudanças que sejam necessárias em Cuba serão decididas soberanamente pelo povo cubano: unicamente pelo povo cubano, como sempre o fez. Não pediremos a ninguém opinião nem permissão”, ressaltou o Chanceler, respondendo às palavras intervencionistas do Presidente Trump que manifestou que “rapidamente teremos uma Cuba livre”, acusando o governo cubano de violações aos Direitos Humanos.

Rodríguez Parrilla marcou a diferença na forma de fazer política, deixando claro que embora o governo não esteja de acordo com, por exemplo, os assassinatos e a brutalidade policial, a desigualdade de salário com as mulheres, a falta de cobertura de saúde, a marginalização das minorias e a repressão a imigrantes ocorridos nos Estados Unidos – algo que não ocorre em Cuba –, e apesar das “profundas diferenças entre ambos governos”, jamais tentaria imiscuir-se em assuntos internos desse país.

O chanceler cubano se mostrou confiante de que “a história, o tempo, obrigará o governo dos Estados Unidos a colocar fim ao bloqueio a Cuba”, enfatizando “como no passado, as medidas não cumprirão os objetivos que se proclamam”; pois de Cuba se continuará resistindo e avaçando nas relações diplomáticas em benefício do povo cubano, ainda que deixando claro que “jamais negociaremos sob ameaça”.

Cuba reiterará, por 25 anos consecutivos, a reivindicação pela suspensão do bloqueio ante as Nações Unidas, intensificado com esta “nova” política da administração Trump, como “uma violação sistemática aos Direitos Humanos do povo cubano”, que provoca há 55 anos danos humanos e privações a todas as famílias cubanas.

Notas:

1. Faz-se referência à Emenda Platt, um apêndice ao projeto de Lei dos Orçamentos do Exército aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, e imposto como parte do texto da primeira Constituição da República de Cuba, elaborada pela Assembleia Constituinte de 1901, sob a ameaça de que se não a aceitasse, Cuba continuaria ocupada militarmente.

2. Desde sua apresentação pela primeira vez em 1992 ante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o projeto de resolução cubano recebe o apoio quase unânime dos Estados membros, que exigem a suspensão das sanções unilaterais dos Estados Unidos. Na última votação, em outubro de 2016, Cuba conseguiu 191 votos a favor e nenhum contra e, pela primeira vez, com a abstenção dos Estados Unidos e Israel.

Vídeo: https://youtu.be/CQxgllNpqc4

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/06/20/cuba-conferencia-del-canciller-bruno-rodriguez-parrilla-jamas-negociaremos-bajo-amenaza/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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