Joaquin Perez Becerra. Ainda é tempo de abrir a janela

Passou quase um mês desde que Joaquín Pérez Becerra foi entregue pela Venezuela ao Governo colombiano, um fato com que sacudiu muitas consciências e trouxe à reflexão centenas que despejaram suas ideias em declarações de todo tipo: algumas analíticas, carregadas de emotividade, outras mais ou menos veementes, balanceadas, profundas, radicais ou apaixonadas. Todo um leque de reações espontâneas.

Só no site Aporrea, na primeira semana após o acontecimento, produziram-se mais de 150 artigos de opinião. Diante do silêncio oficial, os espaços livres foram enchendo-se de vozes que pediam respostas, que recusavam o que consideravam algo impróprio para um Governo revolucionário. Mais tarde, e timidamente, surgiram alguns que tentavam justificar o fato, baseados principalmente em uma irrestrita incondicionalidade com as decisões tomadas pelo Presidente Hugo Chávez.

A solidariedade nacional e internacional não demorou a chegar; até o momento mais de 180 organizações de todo tipo e de diferentes nacionalidades enviaram seu alento e apoio; centenas de pessoas se pronunciaram, não só pela imediata libertação do comunicador sueco-colombiano, mas também assumindo a necessidade urgente de garantir que isto não volte a ocorrer em nenhum recanto do planeta… muito menos na Venezuela… JAMAIS UM PERSEGUIDO POLÍTICO DEVERIA SER ENTREGUE A SEUS CARRASCOS!

Não seria exagerado dizer que há um antes e um depois da entrega de Joaquín, algo que talvez só possa ser vislumbrado nas intersubjetividades dos que aspiram esse outro mundo possível e necessário; comprometidos com uma ética vital e diferente, algo que alguns qualificaram como “a fratura da confiança”, mas que poderia chegar transformar-se em algo mais paralisante e derrotista: “a perda da esperança”.

Por isso, resulta preocupante a demonstração, dentro desse contexto, de uma espécie de guerra declarada de epítetos e desqualificações que, lamentavelmente, conseguiram deslocar a discussão original e de fundo, entorpecendo e rareando cada vez mais a necessidade de debater com altura e profundidade um tema tão transcendente.

Estamos convencidos de que as desqualificações e os insultos só servem para turvar os argumentos, obstruir o diálogo e nublar a razão. No nosso entendimento, não é possível realizar um intercâmbio frutífero de ideias, uma polêmica baseada em conceitos e critérios de valor, um debate franco em prol da verdade e da certeza, se uma parte qualifica à outra de “burocratas pragmáticos e medíocres” ou de “renegados e traidores” ou ao contrário, acusa a parte contrária de “intelectuais marxistas-leninistas defasados” ou de movimentos “infiltrados pela CIA”, portadores de muita teoria “mas fracassados em seu ultraesquerdismo ultrapassado”.

Dessa maneira, os espaços para um debate esclarecedor fecham-se, pois a partir do momento em achamos que as ideias de nossos interlocutores carecem de validade, desde o instante em que entendemos que são merecedores de tais desqualificações, não os consideramos o suficientemente dignos de ser escutados e considerados como partes meritórias de um processo diverso e contraditório.

Tal tratamento das contradições e diferenças entre setores que compartilharam posições anti-imperialistas e enfretamentos com as direitas impenitentes, e que caminharam um longo e frutífero trecho juntos, ainda mantendo diferenças, é evidentemente inadequado e infecundo. Porque não se trata de uma briga até a morte, onde ganha o mais forte, o que tem mais poder ou o que grita mais; muito menos é questão de abrir as portas do inferno para cobrar velhas dívidas acumuladas e fazer revanche por cada uma das discussões e críticas censuradas ou autocensuradas.

Trata-se do futuro da Venezuela, de sua posição diante do mundo e, especialmente, diante dos revolucionários e revolucionárias que teceram sua esperança em torno desta pátria bolivariana, que atualizou as mudanças revolucionárias e o projeto socialista, catalisando um belo processo continental. Ou, por acaso, tinha que vir Joaquín para que descobríssemos, alarmados, que a composição histórica deste processo é um enorme mosaico político-ideológico, para não dizer uma enorme e colorida salada?

Queremos pensar que, não obstante a porta na cara das “ razões de estado” e o sabor amargo e ácido da censura, continua existindo a possibilidade de abrir a ampla janela da crítica e autocrítica, da discussão sincera e do debate frente a frente – e sem intermediários – em torno da política internacional da Venezuela e do seu relacionamento com os povos irmãos e com os movimentos populares do continente e do mundo; reafirmando por essa via a ideia do internacionalismo, cuja vigência adquire uma importância estratégica para a defesa de nossos povos oprimidos e agredidos, de suas lutas heróicas e suas conquistas, no duro combate contra um inimigo comum cada vez mais perverso e voraz, contra um império militarizado, ultraexplorador e depredador, sempre acompanhado de aliados servis e Estados canalhas.

Nosso compromisso com o projeto do socialismo bolivariano, com a Venezuela, em trânsito para o mesmo, com os países da ALVA e com a revolução continental, hoje é mais forte que nunca, bem como nossa plena convicção com respeito ao valor incomensurável e a transcendência da liderança popular do comandante Hugo Chávez Frias, o qual pensamos que saberá aquilatar e analisar em seu momento a justeza de nossas propostas a favor de um diálogo franco e sincero que possibilite ao mesmo tempo a confrontação das ideias e o fortalecimento da unidade, reconhecendo sempre a diversidade de atores e papéis neste processo transformador em escala nacional e continental.

Estamos convencidos de que a solidariedade, a ética e os princípios revolucionários são o coração de qualquer processo de libertação. Uma ética que impulsione os povos dessas terras promissoras à conquista do bem-estar coletivo, à frágua de novos seres humanos e ao amanhecer do continente e de toda a humanidade.

LIBERDADE A JOAQUIN PEREZ BECERRA!

LIBERDADE A TODOS Os PRESOS POLÍTICOS!

Comitê Venezuelano de Solidariedade a Joaquín Pérez Becerra

Fonte: http://www.pcv-venezuela.org/index.php/nacional/8417-joaquin-perez-becerra-aun-es-tiempo-de-abrir-la-ventana