Venezuela: a direita realiza plebiscito ilegal contra Maduro
Resumen Latinoamericano – O fascismo venezuelano promoveu, neste domingo, 16 de julho, um plebiscito ilegal contra o legítimo Presidente Nicolás Maduro e contra a Assembleia Nacional Constituinte. O plebiscito ilegal contou com o cúmplice apoio da Igreja Católica, Nações Unidas, Organização dos Estados Americanos (OEA), Estados Unidos e vários governos da América Latina e Europa.
Chegaram a Caracas os ex-presidentes Vicente Fox (México), Andrés Pastrana (Colômbia), Laura Chinchilla e Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica) e Jorge Quiroga (Bolívia), como observadores de uma consulta que não conta com nenhum aval constitucional. A direita montou em torno de 2 mil centros de votação na Venezuela e mais de 50 mesas em diferentes países (Roma, Madri, Miami, Toronto, Lima, Costa do Leste, Santiago de Chile, Buenos Aires, Montevidéu, etc.).
Venezuela: a oposição dobra a aposta
Por Atilio Borón
Só espíritos ingênuos podem desconhecer que a oposição venezuelana está instrumentando uma estratégia em duas frentes para derrubar o presidente constitucional desse país. Um setor optou por desatar a violência em suas variantes mais absurdas como forma de instalar a imagem de uma “crise humanitária” – produto do desabastecimento planificado de produtos de primeira necessidade e a orgia de ataques, saqueios, “guarimbas”, incêndios de pessoas vivas e atentados com “bombas molotov” a escolas e hospitais – para que sirva de prelúdio a uma invasão não menos “humanitária” do Comando Sul e, aplicando a receita utilizada na Líbia para derrubar e linchar Gaddafi, produzir a ansiada “mudança de regime” na Venezuela. Existe um setor da oposição que não concorda com essa metodologia porque suspeita que o final pode ser uma guerra civil na qual as massas chavistas, quietas por agora, saiam para batalhar e coloquem fim ao enfrentamento, infringindo uma esmagadora derrota aos golpistas. Porém, esta parte da oposição (vamos chamá-la de institucional ou dialoguista, ainda que na realidade não seja nem uma coisa nem outra) esteve durante meses submetida à intimidação ou à pura e simples extorsão da fração violenta, que julgava como inqualificável traição somente o fato de sentar-se para negociar com o governo uma saída não violenta para a crise.
Agora as coisas parecem mudar, e para pior. Por quê? Porque, ao que parece, as estratégias de ambas as frações se unificaram sob a batuta dos Estados Unidos, através do Comando Sul (o binômio terrorista formado pelo Almirante Kurt Tidd e a ex-embaixadora no Paraguai e no Brasil em tempos de golpe de estado, Liliana Ayalde). Devido a isso, os setores “dialoguistas” convocaram, para o domingo passado, dia 16 de julho, um plebiscito ou “consulta soberana”, que não é outra coisa que a antessala de um golpe de estado, já que em dito exercício se perguntará ao povo se quer ou não uma mudança total de governo e, simultaneamente, decretar a ilegitimidade da legal e legítima convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte programada para o dia 30 de julho e que já registrou mais de cinquenta e cinco mil candidaturas em todo o país. A oposição não quer esperar todo esse tempo e muito menos competir em uma eleição com todas as regras. Por isso montou este exercício absolutamente informal, sem nenhum tipo de garantias nem registros, nem padrões eleitorais nem normas de contagem e fiscalização pública, em um país onde, segundo assegurou o ex-presidente James Carter, o sistema eleitoral é mais transparente e confiável que o dos Estados Unidos. Além disso, segundo afirmou Julio Borges, presidente da Assembleia Nacional, uma vez que as improvisadas mesas receptoras de votos terminarem sua contagem e se proclamar o resultado do plebiscito – que obviamente daria a vitória àqueles que votaram por derrubar de imediato o governo de Maduro –, as atas seriam queimadas para evitar futuras represálias do chavismo e, é claro, qualquer tipo de verificação independente. Também disse que “o único requisito para poder emitir sua opinião na consulta popular é apresentar sua cédula de identidade, vencida ou não, em qualquer um dos pontos soberanos” e, sem dizê-lo, deixou entrever que os cidadãos poderão votar quantas vezes quiserem e onde desejem. Escusado será dizer que o governo bolivariano, como qualquer outro, desconhecerá esta patética pantomima que provocará o furioso protesto dos antichavistas que, atiçados pela propaganda da direita golpista, se sentirão desiludidos em sua vontade, alcançando novos níveis de violência o confronto que já assola o país.
Os autoproclamados defensores da democracia e da república em nossos países (assim como o não apresentável Secretário Geral da OEA) expressou sua simpatia a esta explosão atômica que celebram como se fosse um venturoso florescimento do protagonismo da sociedade civil na Venezuela, sendo que não é mais que uma sinistra manobra para desatar uma crise que abra a porta para uma invasão do Comando Sul, eventualidade reconhecida explicitamente por alguns personagens mais moderados da MUD, como o já mencionado Ochoa Antich. Será preciso ver a repercussão dos acontecimentos na Venezuela e em nossos países. Aqueles que manifestaram sua complacência para com esta iniciativa golpista da oposição antichavista – políticos do establishment latino-americano e a “imprensa corrupta”, como a designara o ex-presidente Rafael Correa – fariam bem em pensar duas vezes. Podem aparecer aqueles, inspirados no exemplo venezuelano, que decidam também convocar uma “consulta soberana” para perguntar ao povo, ante a grave crise que afeta nossos países, se Mauricio Macri, Michel Temer ou Enrique Peña Nieto devem ou não continuar exercendo a presidência. Se os guardiões perenes da democracia e das instituições republicanas na Argentina, Brasil ou México convalidarem – seja abertamente ou com seu silêncio cúmplice – a palhaçada que se encenou domingo passado na Venezuela, não deveriam se surpreender caso, ao cabo de um tempo, uma iniciativa similar fosse proposta para ser levada à prática nestes países. Para ninguém é mistério que a legitimidade de seus governos está profundamente questionada – a desilusão pós-eleitoral do macrismo, o golpe da cleptocracia no Brasil, a abismal crise política e social no México – e que a crise econômica e as políticas de ajuste intensificaram a tal extremo a exploração e os padecimentos das massas populares, que seria temerário descartar uma violenta irrupção de rebeldia plebeia, a mesma que encontraria em uma “consulta soberana” como a que se pretendeu realizar na Venezuela, o pretexto ideal para tentar colocar fim, antes do tempo, a governos repudiados pela grande maioria de seus cidadãos.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)