Venezuela: lei contra o esquecimento saldará velhas dívidas
O jornalista e diretor do diário Últimas Notícias lembrou que os métodos de morte e tortura nasceram na Escola das Américas, no Panamá, e em seguida foram trazidos à Venezuela no início do governo de Raúl Leoni (1964-1969)
O jornalista e diretor do diário Últimas Notícias, indicou que graças à Lei contra o Silêncio e o Esquecimento, aprovada em primeira discussão na plenário da Assembléia Nacional da Venezuela, se começará a saldar velhas dívidas.
Em sua coluna, Os Domingos de Díaz Rangel, o jornalista e também docente universitário defendeu que para a aprovação dessa normativa foi necessária a chegada à presidência da Assembléia Nacional (AN) de Fernando Soto Rojas, que provém da geração da luta armada, conhecedor como poucos desse período de repressão.
Indicou que os métodos de morte e tortura nasceram na Escola das Américas, no Panamá e em seguida foram trazidos à Venezuela no início do governo de Raúl Leoni (1964-1969).
Também se referiu ao livro, Expediente Negro, de José Vicente Rangel, no qual se denuncia a violação sistemática dos direitos humanos, consumada pelos governos da “quarta república” na Venezuela.
Da mesma forma, mencionou outros textos como Desaparecimento Forçado, com a “lista parcial de sequestados, torturados e assassinados pelo regime do “Pacto de Ponto Fixo” (Puntofijista), de Yahvé Álvarez e Oscar Battaglini, com o apoio de María Teresa Tejero, Raquel Castro e Blanca de Vera. Além disso, ressaltou as investigações realizadas por Pedro Pablo Linarez, que demonstrou de maneira inequívoca que naquela época se fazia frente a uma política de Estado cumprida sistematicamente durante anos pelos corpos policiais e militares responsáveis pela repressão.
“No debate, a oposição objetou o período escolhido, desde a queda do ditador Pérez Jiménez até a eleição de (Hugo) Chávez, pretendendo que se alargue até o presente. É um contra senso. Leis semelhantes na Argentina e no Chile se limitam aos anos das ditaduras, quando não foram possíveis as investigações policiais desses crimes nem os julgamentos dos presuntos responsáveis. Aqui na Venezuela hoje não é possível ocultar acusações de torturas e menos ainda de eventuais crimes políticos. Não só o Ministério Público e os juízes se ocupam dos mesmos, mas os meios e os partidos opositores estão prontos para qualquer acusação e os cidadãos afetados o fazem publicamente”, escreveu o jornalista.
Em sua coluna, Rangel manifestou que Clodosbaldo Russián, que faleceu no dia 20 de junho passado, quando se encontrava em Cuba recebendo tratatamento médico depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), esteve até sua morte preocupado com a impunidade diante de tais crimes.
Finalizou sua costumeira coluna dominical com um fragmento de uma entrevista realizada com Russián e publicada no Correo del Orinoco, em 7 de fevereiro de 2011, sobre a impunidade dos crimes.
“Nós nos equivocamos todo este tempo ao não termos uma política de Estado para investigar e esclarecer todos esses casos de assassinatos e perseguições que houve aqui por razões políticas… Eu resisto a acreditar que aqui se tenha queimado todos esses expedientes e livros. Isso têm que estar disponível, mas é que nunca se interrogou ninguém dos corpos repressivos… Não se investigou para castigar quem cometeu esses delitos, nem se divulgou o que aconteceu”, expressou Clodosbaldo Russián naquela entrevista..