ENTRE A FARSA E A MENTIRA

“Preservar a memória é uma forma de se construir a história!”

ENTRE A FARSA E A MENTIRA

(Carta aberta ao povo brasileiro)

A Associação Pernambucana de Anistiados Políticos – APAP vem a público expressar profunda tristeza e grande indignação pelas palavras proferidas pelo atual ministro da Defesa, a respeito de documentos ainda em sigilo referentes ao período ditatorial.

O citado ministro Nelson Jobim disse, com total descaramento e em outras palavras, que “as Forças Armadas brasileiras não têm nada a esconder, pois toda a documentação relacionada com aquela época não existe mais”.

Aparentemente isso não deveria ter maiores conseqüências, desde que fosse dito por qualquer pessoa desinformada. Mas, ao contrário, a afirmação foi feita pelo principal responsável pelo ministério, querendo com isso nos dar uma falsa idéia de um acontecimento normal e também “nivelar” todos os outros integrantes das corporações militares como se estivessem a favor dessas ações ilegais.

Não foi por acaso que, antes dele, José Sarney e Collor de Melo, tivessem se pronunciado contra o fim do “sigilo por tempo indeterminado” dos documentos considerados “secretos” e “ultra-secretos” em poder de órgãos administrativos.

E, agora, eles “simplesmente” desapareceram?

Ora, tanto civis como militares, que de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, participaram ou apoiaram a ditadura imposta ao país e ao povo brasileiro a partir do dia 1º de abril de 1964, têm muito a esconder em relação a esse período de repressão sistemática (1964-1985). Todos eles são coniventes com os atos repressivos, sem nenhuma exceção.

Passados 26 anos do término da ditadura, tudo isso está sendo feito à revelia e no sentido inverso a da recente condenação do Brasil perante a OEA e da jurisprudência internacional de que “crimes de torturas são imprescritíveis”.

Não obstante, é preciso que se esclareça que para se “incinerar” ou se “triturar” papeis arquivados em agências públicas, que representam informações importantes da nossa história, e considerados como documentos relevantes, é preciso que se elabore uma ATA, na qual seja justificada a ação e se nomeie quem autorizou tal procedimento. E, neste caso, todos aqueles que praticaram esses atos, sem o devido respaldo legal, são passíveis de processo penal.

Durante longos 21 anos, gerações de militantes políticos passaram a ser perseguidos, presos, torturados e desaparecidos, em nome de uma falsa democracia. Nos porões da repressão, muitos deles foram torturados até morte e tiveram seus corpos escondidos, em locais até hoje ignorados, perpetuando uma incessante dor a seus familiares.

Mas, até quando vamos aceitar isso, passivamente?

Com efeito, temos que denunciar essa situaçãoe reafirmar sempre, em memória de todos os desaparecidos, principalmente, que não podemos mais conviver com a mentira e a farsa – independentemente do governo que esteja de plantão.

Passar a limpo o passado é preciso…

Pela abertura de todos os arquivos da ditadura!

Pela localização dos “corpos” dos desaparecidos políticos!

Pela punição de todos os agentes torturados!

Recife (PE), 29 de junho de 2011

Associação Pernambucana de Anistiados Políticos – APAP

apap.anistiape@bol.com.br

Recife – Pernambuco – Brasil