A guerra na Venezuela

imagemPrepara-se um falso positivo na Colômbia? Sete premissas-chaves

Por María Fernanda Barreto

Em 15 de fevereiro de 1898, o encouraçado Maine explodiu nas costas havanesas, causando 266 mortes e justificando a entrada dos Estados Unidos na luta pela independência cubana da Espanha com a única finalidade, rapidamente alcançada, de apoderar-se de Cuba. Este é o primeiro registro de uma operação de bandeira falsa pensada e executada pelo então nascente império.

Desde então até agora, durante mais de um século, estas operações se tornaram comuns. Disfarçar de algoz a futura vítima, para justificar o realmente injustificável, se tornou um método habitual para definir a geopolítica mundial a favor das nações poderosas e as corporações. No marco da “guerra fria” o péssimo ator de Hollywood e pior presidente norte-americano, Ronald Reagan, acusou uma pequena ilha de estar se preparando para auxiliar uma invasão da URSS aos EUA. Semeado o terror, os EUA invadem a pequena ilha de Granada em 1983 e assassinam seu presidente. Anos depois, a invasão do Iraque e da Líbia se sustentam nas mentiras que logo foram desveladas.

Todas estas notícias falsas serviram para justificar a entrada do aparato militar estadunidense e seus lacaios da OTAN, na guerra para controlar novos territórios, riquezas e mercados. O surpreendente já não é que o imperialismo recorra a estas práticas. O surpreendente é que ainda tenha credibilidade em amplos setores da população.

Segundo publicou Eva Golinger no ano de 2009, “um documento secreto do Centro Nacional de Inteligência do Exército dos EUA (U.S. Army National Ground Intelligence Center) recentemente desclassificado de forma parcial sob uma solicitação da Lei de Acesso à Informação (FOIA, sigla em inglês) nos EUA, confirma que a equipe de operações psicológicas mais poderosa do Pentágono está empregando seus esforços contra a Venezuela. O documento do ano de 2006, analisa a situação fronteiriça entre Colômbia e Venezuela. Sua redação está realizada pelo Grupo 4 de Operações Psicológicas (Ativa) do Exércitos dos EUA e o Centro Nacional Inteligência do Exército dos EUA, fato que afirma então que esta mesma equipe de guerra psicológica está trabalhando na região contra a Venezuela”.

Sem dúvida, as operações psicológicas (opsic) desenvolvidas por esses laboratórios contra a Revolução Bolivariana fracassaram em seu objetivo estratégico, porém conseguiram avanços táticos, graças ao fato da modalidade de guerra não convencional que desenvolvem contra a Venezuela ter se centrado em construir um ótimo cenário para seu desenvolvimento. Este cenário ideal é descrito no Manual 33-1-1 dos EUA. Caracteriza-se pela carestia de comida, alojamento, roupas e outras necessidades, corrupção entre os líderes inimigos, carestia de efetivos no serviço militar inimigo, inflação, intolerância racial ou religiosa, falta de unidade política e desconfiança dos líderes, perda de comunicações internas (rádio, televisão, telefones, redes de computador) e falhas nos sistemas de transporte.

1. Falsos positivos contra a Venezuela

O governo colombiano, como lacaio do norte-americano, protagonizou várias operações deste tipo contra a Venezuela. No ano de 2001, o então presidente Andrés Pastrana fez uma armadilha para o presidente Hugo Chávez para tentar vinculá-lo às FARC, infiltrando Diego Fernando Sierra numa reunião de ambos presidentes na Colômbia.

No ano de 2002, assume a presidência colombiana o narcoterrorista, pai do paramilitarismo e promotor dos falsos positivos, Álvaro Uribe Vélez. Durante a presidência de Uribe, milhares de jovens colombianos inocentes, em um número ainda não determinado com exatidão, mas que se suspeita ser superior a 3 mil, são assassinados pelas Forças Armadas colombianas e, posteriormente, apresentados ante a opinião pública como guerrilheiros mortos em combate para demonstrar “eficiência” e obter os benefícios de recompensas oferecidos pelo governo belicista de Uribe. Surge o termo “falsos positivos”.

No ano de 2004, o maior falso positivo preparado até então por Uribe Vélez, em conivência com a direita venezuelana, é descoberto: 150 paramilitares colombianos portando uniformes da FANB que se dirigiam a Caracas com a finalidade de perpetrar uma ação terrorista para acabar com a vida do presidente Chávez e executar um massacre contra o povo.

Em 20 de agosto de 2015, três jovens soldados venezuelanos e um civil ficaram gravemente feridos ao serem vítimas de uma vil emboscada paramilitar quando realizavam trabalhos de inteligência contra estes grupos vinculados ao contrabando de extração na fronteira. Tão rápido a ação foi denunciada, o presidente Nicolás Maduro respondeu contundentemente fechando a fronteira comum por 72 horas. Os operadores soltaram seu material e se desatou uma onda de xenofobia e antichavismo nas empresas privadas de comunicação. A raiva e o medo mais uma vez sendo incitados para programar o povo colombiano contra a Revolução Bolivariana, a fim de sustentar o discurso da oposição venezuelana.

Desatada a feroz campanha midiática, os falsos positivos aumentaram. Versões de que soldados venezuelanos entraram disparando em território colombiano, denúncias do ministro de defesa da Colômbia acerca da violação do espaço aéreo em duas ocasiões, acusações de maus tratos e deportações que comparavam o Governo do presidente Maduro com o regime nazista, foram as falsas denúncias usadas. A aversão ao Governo Bolivariano e a xenofobia foram meticulosamente semeadas no povo colombiano através dos meios massivos de propaganda do país, dos quais por certo a família Santos é uma das maiores proprietárias.

Esta campanha fortaleceu-se nos últimos anos e começa a conseguir o envolvimento de agências multinacionais, como a ACNUR. Colômbia, o país com maior número de deslocados do mundo, diz estar preparando as operações humanitárias para receber a “grande onda” de pessoas venezuelanas que buscam refúgio nela.

2. “Não é dizer mentiras é colocar pimenta”: o fantasma do Estado Islâmico

De novo volta às “notícias” a infame acusação de violação dos direitos humanos da população colombiana residente na Venezuela e uma suposta ditadura que gera o deslocamento de sua população para outros países, quando na realidade a “diáspora” venezuelana é muito inferior à gerada ininterruptamente pela Colômbia durante as últimas décadas para a Venezuela, Equador e Espanha, entre outros. Porém, sob premissas como a de Claudia Cano, a CNN há meses tem tentado vincular o Estado Islâmico ao Governo venezuelano até o ponto de dizer em sua série “Pasaportes a la sombra” [Passaportes para a sombra], frases tão perigosas como que não seria raro que o autor do próximo atentado terrorista tivesse passaporte venezuelano. Ao mesmo tempo, o coronel Pedro Rojas, diretor do Centro de Doutrina do Exército da Colômbia declara: “Ameaças que vão chegar. Não é absurdo pensar que o Estado Islâmico possa chegar à América do Sul. É possível”. Não se sabe se advinham ou planejam.

3. A pressão sobre Santos

Uribe, o presidente dos paramilitares, dos falsos positivos, do bombardeio ao Equador, inimigo vigoroso do presidente Chávez e da Revolução Bolivariana, contou para todas suas ações com seu flamante ministro da defesa, Juan Manuel Santos.

Hoje, a poucos meses de entregar a presidência da Colômbia, depois de oito anos, a somente quatro meses das eleições presidenciais da Colômbia, o Prêmio Nobel da Paz não se interessa em encerrar sua presidência com uma ação militar contra a Venezuela, mas sim, em compensação, com a visita do Papa. Porém, Brownfield, o mesmo que comia reina pepiada [prato típico venezuelano] no Arepazo e que foi reiteradamente denunciado pelo Comandante Chávez quando exerceu o cargo de embaixador dos EUA na Venezuela, é agora “coincidentemente” quem está exercendo pressão sobre o governo da Colômbia como Secretário de Estado adjunto para Assuntos Internacionais de Narcóticos.

Através de William Brownfield, os EUA advertem sua insatisfação com a luta antinarcóticos da Colômbia – onde, segundo os informes do Departamento de Estado, os cultivos aumentaram uns 40% nos últimos anos e uns 60% a produção de cocaína –, ameaçando deixar de entregar os milionários recursos econômicos que fornece ao governo da Colômbia e, ao mesmo tempo, adverte sobre os supostos perigos que a Venezuela representa para sua estabilidade. Recentemente o Nuevo Herald citou as declarações de um importante diplomata estadunidense, ex-funcionário da USAID, José Cárdenas: “a Venezuela é um desastre para a Colômbia (…), um desastre absoluto”.

4. O fim do petrodólar e a reordenamento mundial

A política de sanções econômicas do tempo do Império prepotente terminou por isolá-lo e precipitar a união dos países sancionados e suas economias. Rússia, Irã, Síria e Venezuela se somaram nos últimos anos à lista de países sancionados, que inclui há décadas Cuba. A China já anunciou que começará a comprar petróleo em iuanes e com isso, a Rússia, que é seu principal provedor de petróleo bruto, evadirá as sanções do mesmo modo que o Irã, e outro tanto fará o país com maiores reservas petrolíferas do mundo: Venezuela.

Com isto, o petrodólar se encontra diante de uma grave ameaça, se recupera o padrão ouro e o poder econômico do dólar e todo seu aparato corporativo desmorona. Porém, o imperialismo todo não se sustenta apenas sobre essa pata, lhe ficam seus mecanismos de dominação extra-econômicos, ou seja, a maquinaria cultural e o poder militar. Para apoiar-se nestas patas é preciso fortalecê-las, pelo que acabar com suas agonias pode custar grandes guerras à humanidade. Fazer uma previsão lógica sobre a reação de um rato encurralado quando o domina o instinto de preservação e a raiva, é bastante ousado. Por isso, a lógica do que “convém” ou não, o que “podem” ou não os EUA, é, sem dúvida, limitada e a teoria da guerra infinita regressa ao tapete.

Max Keiser, do programa “Keiser Report”, lembra que dois presidentes de países provedores de petróleo se atreveram a dizer que venderiam petróleo em outra moeda diferente do dólar: Saddam Hussein e Muammar al-Gaddafi. O assassinato de ambos líderes foi quase imediato.

6. O assassinato de jovens e a desmoralização do chavismo

As operações paramilitares da direita na Venezuela durante o ano de 2017 – cuja gravidade se aliviou com o termo “guarimbas”, que pretende vinculá-las a um jogo – se ocultaram atrás da cumplicidade das “corporações internacionais da desinformação” e deixaram o terrível saldo de 159 pessoas falecidas, segundo informou o Minci. Alguns detalhes importantes destas operações ainda parecem passar despercebidos e não foram suficientemente analisados.

O primeiro fato preocupante é que do total de pessoas que morreram durante as ações violentas empreendidas pela direita venezuelana neste ano, mais de 60% eram homens entre 18 e os 35 anos.

O segundo fato é que além de 10 assassinatos, foram reportadas várias centenas de feridos entre os corpos de segurança do Estado venezuelano que estoicamente conseguiram suportar, inclusive, ser atacados com excremento humano sem dar uma resposta violenta, a fim de manter a paz no país. O acompanhamento moral por parte da institucionalidade, porém sobretudo de parte dos movimentos sociais, tem sido insuficiente.

7. Exercício militar América Unida

Em um artigo anterior, se alertava sobre o perigo que representa o exercício militar “América Unida”, que se desenvolverá no Brasil no mês de novembro e que obriga a colocar à vista uma fronteira tradicionalmente pouco atendida: fronteira sul com a Colômbia e Brasil pelo Amazonas, ainda que este exercício ocorra na tríplice fronteira Colômbia-Peru-Brasil, e tenha como sede a cidade de Tabatinga.

O traslado até a fronteira com a Venezuela é possível e o pretexto de que a motivação é a luta contra a mineração ilegal é pouco convincente. O ponto de encontro destas forças hostis à Revolução Bolivariana se encontra a vários quilômetros. No sul sob a fronteira de Venezuela-Brasil, justo entre Tabatinga e Venezuela, se tornou público esta semana o massacre de indígenas da tribo Warikama Djapar, no município São Paulo de Olivenca. Os primeiros assassinatos denunciados ocorreram entre maio e junho, o que coincide com as datas de anúncio do exercício militar. Seus supostos perpetradores não são militares e sim paramilitares. Porém, como toda coincidência, incita suspeitas que deveriam ser investigadas como prováveis indícios de uma ação que se avizinha.

Desnudar o inimigo, sua estratégia e suas táticas é fundamental para defender nosso direito de viver em paz.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/09/19/la-guerra-en-venezuela-se-prepara-un-falso-positivo-desde-colombia-siete-premisas-claves/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)