Conflito diplomático com a Venezuela: a opção brasileira pela subserviência

Conflito diplomático com a Venezuela: a opção brasileira pela subserviênciaSecretaria de Relações Internacionais do PCB

O atual conflito diplomático do Brasil com a Venezuela foi iniciado com as críticas feitas recentemente pelo Brasil a um suposto caráter autoritário do governo Maduro, que estaria dificultando a participação da oposição nas eleições. As críticas provocaram uma declaração da Assembleia Constituinte da Venezuela, no último dia 23, proferida por sua presidente, Delcy Rodríguez, de que o diplomata Ruy Carlos Pereira era “persona non grata” no país, decisão confirmada pelo governo venezuelano, o que, na prática, significa a sua expulsão da Venezuela.

Na sessão da Assembleia que referendou a declaração, a presidente discorreu sobre os retrocessos recentes na política brasileira, citando a aprovação da cláusula de barreira pelo Congresso – que impede a participação de partidos de esquerda e de menor densidade eleitoral – e o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, processo este que qualificou como “golpe de Estado”.

No dia 26, em resposta à expulsão de Ruy Carlos, o governo brasileiro também declarou o encarregado de negócios da Embaixada da Venezuela no Brasil, Girard Antonio Delgado Maldonado, persona non grata. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que a decisão confirma o caráter “autoritário” da administração Nicolás Maduro e sua “falta de disposição para qualquer tipo de diálogo”.

A crítica feita ao governo Maduro, que vem de três significativos triunfos eleitorais – revela o caráter subserviente aos interesses dos Estados Unidos da política externa empreendida pelo governo Temer, que se distancia cada vez mais do padrão pragmático da diplomacia brasileira, consagrado historicamente, e da posição de relativa autonomia e busca de parcerias políticas e econômicas internacionais diversificadas e mais independentes que predominou em anos recentes, cujos melhores exemplos foram a aproximação com Cuba, o apoio de primeira hora ao governo Chávez e a criação do Brics. Ao contrário, o Brasil adota, hoje, como uma de suas prioridades nas Relações Externas, o ataque sistemático à Venezuela, o que confirma, também, a posição subserviente do país ao capital internacional, que não tolera quaisquer processos políticos que possam representar alternativas à plena dominação da economia mundial pelo imperialismo.

A movimentação do Itamaraty reveste-se, igualmente, de um caráter medíocre. O Brasil abre mão de seu potencial de liderança na América Latina e em boa parte do mundo em desenvolvimento, rejeitando qualquer movimentação no sentido da multilateralidade e da formação de alianças com diferentes blocos e países desenvolvidos, que possibilitem a geração de alternativas ao jugo das grandes corporações internacionais e dos países imperialistas que as apoiam.